Um dos diários publica hoje uma notícia que me chamou a atenção por antecipar nela mais uma prova da recorrente hipocrisia da opinião publicada. Trata-se da contratação de um médico condenado a prisão efectiva e em cumprimento de pena (neste momento em regime aberto), para satisfazer necessidades de atendimento clínico num certo centro de saúde.
Comecei a ler imaginando recriminações e lamentos levados à página do jornal por pessoas que não autorizariam a divulgação da autoria dos depoimentos. Surpreendido, leio que os sindicalistas se não opõem e até aplaudem; a população não se queixa; os responsáveis consideram uma boa solução contar com a colaboração de um técnico numa zona do País em que escasseiam. Quando me preparava para concluir que o algodão às vezes engana, eis um pouco mais abaixo o esperado protesto. Vozes indignadas por se ter dado emprego a quem escorregou na vida? Não. Por uma atitude essa sim fora do comum, e por uma reacção nem por isso inesperada. O jornal explica assim:
"Contudo, a contratação criou mal-estar na unidade depois [do médico] ter prescindido do subsídio de deslocação previsto na lei e que era atribuído aos profissionais de fora que asseguram o atendimento permanente [naquele centro de saúde]. Ao prescindir destas verbas, abriu um precedente e a direcção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde a que pertence a unidade deixou de pagar as deslocações aos outros médicos como era feito até então".
Apesar da prosaica malandrice do médico condenado e da reacção corporativa acentuarem o materialismo extremo que marca os nossos tempos, não deixa de ser um sinal de esperança e de avanço civilizacional observar que se verbera a perda da alcavala, mas se concorda com a oportunidade de reinserção social.
Comecei a ler imaginando recriminações e lamentos levados à página do jornal por pessoas que não autorizariam a divulgação da autoria dos depoimentos. Surpreendido, leio que os sindicalistas se não opõem e até aplaudem; a população não se queixa; os responsáveis consideram uma boa solução contar com a colaboração de um técnico numa zona do País em que escasseiam. Quando me preparava para concluir que o algodão às vezes engana, eis um pouco mais abaixo o esperado protesto. Vozes indignadas por se ter dado emprego a quem escorregou na vida? Não. Por uma atitude essa sim fora do comum, e por uma reacção nem por isso inesperada. O jornal explica assim:
"Contudo, a contratação criou mal-estar na unidade depois [do médico] ter prescindido do subsídio de deslocação previsto na lei e que era atribuído aos profissionais de fora que asseguram o atendimento permanente [naquele centro de saúde]. Ao prescindir destas verbas, abriu um precedente e a direcção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde a que pertence a unidade deixou de pagar as deslocações aos outros médicos como era feito até então".
Apesar da prosaica malandrice do médico condenado e da reacção corporativa acentuarem o materialismo extremo que marca os nossos tempos, não deixa de ser um sinal de esperança e de avanço civilizacional observar que se verbera a perda da alcavala, mas se concorda com a oportunidade de reinserção social.
3 comentários:
Nunca percebi porque razão nos nossos estabelecimentos prisionais há centenas de reclusos e reclusas que não fazem NADA (em maiúsculas), mesmo NADA.
Passam o tempo a fumar, a ler revistas e a ver televisão.
Não se pode obrigá-los a trabalhar (dizem)
Quantos de nós, muitas vezes, vamos trabalhar com pouca vontade de ir... ?
Mas vamos... Porque temos compromissos perante terceiros.
Há muita coisa que tem de mudar .... Muita !
Cumprimentos Caro Dr.
Possuo o exemplar de um fac-simile da obra "Medicina Theologica", que me foi oferecido pelo grande amigo que o editou.
Este exemplar, termina no catítulo XXII, com o título "A Confissaõ frequente he o remedio moral, e fysico mais util para curar as enfermidades da lascivia, colera, e bebedice"
Acho que nunca antes a nossa sociedade foi tão lascívia, colérica e... bêbeda.
Será que a sua (da sociedade) salvação se encontra na confissão?
José Mário
Com efeito, mal se compreende que os reclusos não trabalhem e não sejam úteis à sociedade. O trabalho dignifica e contribuiria nestes casos para a reinserção social. Segundo sei, o trabalho é opcional, isto é, os reclusos não são obrigados a executar um trabalho ou a desenvolver uma actividade profissional. Nunca percebi muito bem o que diz a lei a este respeito.
Os médicos abrangidos pelo Agrupamento de Centros de Saúde que despachou no sentido referido é que não devem ter achado muita graça!
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