1. Foi ontem notícia uma primeira emissão do Tesouro Espanhol ao prazo longuíssimo de 50 anos – vencimento em 2064 – tendo sido colocados, em oferta privada, € 1.000 milhões à taxa de juro de 4%.
2. Este tipo de dívida emitida a prazos muito longos, tem sido utilizada por exemplo pelos Tesouros Americano e Inglês, encontra um mercado preferencial em investidores institucionais como os fundos de pensões e as companhias de seguros de vida, instituições que têm necessidade de encontrar coberturas adequadas (em prazo e rendimento) para responsabilidades de muito longo prazo que assumem, nomeadamente com planos de pensões.
3. Não existe, para já, qualquer indicação de o Tesouro Português vir a emitir dívida a prazos tão longos, apenas se ouviu anunciar, há poucas semanas, a possibilidade de uma emissão de dívida a 15 anos (o que nem é novidade, no caso português).
4. Devo admitir que a emissão de dívida a 50 anos seja uma ideia muito simpática, tanto para Crescimentistas como para Reestruturacionistas...trata-se de dívida que se poderá classificar como “a perder de vista”, que não causa preocupações por algumas décadas...
5. ...embora tenha consciência de que se encontra ainda longe do tipo de dívida pública que seria ideal para aqueles dois grupos de Patriotas – dívida PERPÉTUA e sem JURO (ou de cupão ZERO, tanto faz), que a generosidade implícita nos corações dos nossos credores ainda haverá de tornar possível, um dia...
6. Mas enquanto esse belo dia de inspiração misericordiosa dos nossos credores não chega, porque não emitir dívida a 50 anos (e com juro, obviamente)?
13 comentários:
Dr. Tavares Moreira
Como refere no seu post, há um mercado natural para as emissões de muito longo prazo, no qual aliás nunca estivemos, mesmo no tempo em que tínhamos uma mercado de fundos de pensões de dimensão a necessitar de cobrir a longa maturidade das suas responsabilidades. Este mercado nacional perdeu peso com a transferência de parte das responsabilidades com pensões do sistema bancário para o Estado.
Emissões conta esta profundidade teriam que ser colocadas no mercado internacional. Portugal ainda tem uma yield curve com prazos de maturidade muito curtos. Não sei se não teremos primeiro que a alongar para ser possível fazer o preço. Seja como for, terá o país um bom perfil de risco para emitir a cinquenta anos sem pagar um prémio demasiado elevado?
Caro Tavares Moreira
Suponho que conhece as previsões (os vários cenários) do INE para a demografia portuguesa em 2060.
Um potencial interessado, irá, com certeza, consultar esses dados e, naturalmente, retirar as necessárias conclusões.
Parafraseando Sá de Miranda: juro baixo não é.
Cumprimentos
joão
Porque não, sim? Embora ache que é produto para dois tipos de investidor, o "adivinho" que acaba por vender sempre três dias antes dos eventos e o "otário" que anda sempre de lixo na mão sem perceber, se os espanhóis conseguiram o milagre de meter esse lixo na rua, então os portugueses também conseguiriam. Agora, espero que as minhas pensões não sejam metidas nisto, porque isto são basicamente "munies" em EUR. O emitente tem zero de influência na taxa de juro e na emissão de moeda o que significa um risco de crédito e de mercado relativamente altos. 4%?? Como dizem os meus filhos, LOL!
Talvez eu seja realmente muito cauteloso mas é coisa em que não poria o meu dinheiro. Investir a 50 anos num instrumento de dívida em euros? No me piace...
Inversamente, um certo investimento contra o euro demorou mas por fim está a pagar.
Cara Margarida,
Como terá entendido, esta sugestão de emissão de dívida a 50anos, pela República Portuguesa, é feita com um "pinch of salt", sendo especialmente dirigida a Crescimentistas e Reestruturacionistas que, patrioticamente, tentam convencer-nos de que os nossos credores investem de olhos vendados...
Na verdade, e tanto quanto sou capaz de adivinhar, a taxa de juro que o mercado exigiria para uma tal emissão, era capaz de nos fazer corar...e recuar...
Caro João Jardine,
Tecnicamente, nada obstaria a que o cupão de tal emissão ficasse indexado a parâmetros demográficos, em ordem a reflectir o risco, maior ou menor, que a evolução desse parâmetros representasse para o reembolso da dívida...
Caro Pires da Cruz,
Já deu para entender que o ilustre Comentador, na melhor linha Crescimentista/Reestruturacionista, dari preferência a uma emissão co maturidade PERPÉTUA e Cupão ZERO...
Fico todavia na dúvida se estaria disposto a investir seus fundos disponíveis em tão precioso instrumento financeiro...
Caro Zuricher,
Se essa dívida, como sucede com a boa tradição anglo-saxónica nesta matéria, for transaccionável em mercado secundário e dotada de razoável liquidez, o seu problema ficaria, em boa parte seguramente, resolvido.
Mas os meus fundos são obrigações perpétuas de cupão zero, caro Tavares Moreira. O emitente é que não é um delinquente, como no caso da república portuguesa... E 4% a 50 anos para a pública portuguesa, ni hablar!!
Caro Tavares Moreira
Tenho a consciência que, no que toca a criação de dívida a resiliência dos locais é única.
Se e quando, (aproveitando uma pequena parcela da misericordiosa dos nossos credores que alude) ensaiarmos a emissão a 50 anos quero ver que utilizaremos como argumento para demonstrar que, nos próximos 50 anos seremos diferentes dos últimos.
Naturalmente que a misericórdia dos credores jogará um papel importante para a eficácia desse argumento de venda. Não acredito em milagres mas que existem, existem.
Cumprimentos
joão
Caro Pires da Cruz,
Dá para entender que tem os seus fundos em muito pouca conta...equiparando-os a obrigações perpétuas de cupão zero!
Será que o ilustre tem vindo a aplicar suas poupanças em valores mobiliários emtidos pela distinta Republica Bolivariana e pela sua equivalente africana, com sede em Harare e cujo vetusto presidente regressou há dias de Pequim com as mãos a abanar?
Caro João Jardine,
Olhe que é relativamente pouco arriscado demonstrar, mesmo admitindo prova em contrário, que nos próximos 50 anos seremos melhores que nos últimos...como dizia Keynes, no longo prazo já cá não estaremos para prestar contas!
Caro Tavares Moreira
Tem toda a razão mas,...
a esperança de vida na época de Keynes era, sensivelmente, 20 anos menos do que a presente.
Cinquenta anos passou de uma eternidade a uma fase da vida ou para ser mais preciso, de muito longo prazo a médio.
Vamos mesmo ter de emitir a 100 anos, assim asseguramos que estaremos mortos, senão além de sermos escravos da demografia, seremos servos da memória dos credores.
Cumprimentos
joão
Não, caro Tavares Moreira, são notas de euro. Títulos de dívida perpétuos de cupão zero. A questão é se troco estes emitidos pelo BCE e "backed" pela economia europeia, por títulos a 50 anos a 4% "backed" pelas volatilidades cavaquianas, ortodoxias joaquinianas e as dezenas dos "melhores de entre nós" que andam sempre a publicitar as virtudes do calote.
Caro João Jardine,
Emissões de dívida a 100 anos? Mas isso é quase música celestial para Crescimentistas e Reestruturacionistas!
Não o fazia tão aliado destes simpáticos Patriotas!
Caro Pires da Cruz,
Notas de Euro, se me permite, são títulos à vista e sem cupão (sendo à vista...).
E estando "backed" pela economia ueropeia, com todos os defeitos que esta tenha, que tem, ainda estão muito confortavelmente "backed"...
Daria muito menos por títulos equivalentes, "backed" por economias como a do Crescente Vermelho, a de Simão Bolívar, a do Czar Wladimir, etc, etc...
Não querendo ser chato, são perpétuas, tanto que perdem valor todos os dias. E gosto tanto delas, mesmo sem juro que não as troco por OT's da Rep. Portuguesa.
Se há coisa que se pode excluir liminarmente, é o qualificativo de "chato" para os seus comentários.
Os seus comentários poderão não agradar a A ou a B (categorias em que não me incluo), mas "chatos" é que nunca serão...
Embora discorde da perpetuidade que atribui às suas notas de Euro, pois até fisicamente o não são, terão que ser substituídas ao fim de certo tempo de circulação.
E que são "títulos" à vista, é inerente ao seu poder liberatório...
Quanto à sua aversão às OT's lusas, nada a opor, é uma preferência pessoal que não tenho nada de contestar.
Enviar um comentário