É uma teoria filosófica, dirão alguns. Outros dirão, é uma visão pessimista. Enfim, presta-se a várias interpretações. O que quer que seja, a questão tem muito a ver com a "política". Vivemos num país, ou parte dele, do sempre à espera. Uma espera anémica. Um país que está sempre à espera acaba por não se concentrar em nada e de pouco ou nada encontrar. Vive em estado de instabilidade. Não há ou é reduzida a previsibilidade. À espera invariavelmente das mesmas coisas. Agora, à espera do orçamento, à espera das eleições legislativas, à espera de saber se a crise e a austeridade acabaram ou não, à espera de saber se a Europa nos vai ou não ajudar, à espera de saber se os cortes nos salários e nas pensões são ou não definitivos ou afinal temporários, à espera do crescimento económico, à espera do emprego, à espera de saber o que vai acontecer ao BES, à espera que não apareçam por aí mais más notícias, à espera de encontrar em quem confiar, à espera de mudança sem saber qual...É um sinal de falta de confiança. Evidencia alguma desorientação colectiva. Um país assim não aproveita plenamente os seus recursos - que são muitos e muitos de qualidade - não se mobiliza para a obtenção de resultados. Pelo meio, a vontade de fazer fica como que em suspense à espera. Um estado de coisas que precisava de ser alterado, não deveríamos ficar à espera. Que fazer?
6 comentários:
"Vivemos num país, ou parte dele, do sempre à espera. Uma espera anémica." É de facto esta a realidade do nosso país e de uma parte significativa dos que aqui vivem. E este estado de anemia, de desconfiança de inação deve-se à falta de confiança nos governantes deste país. Desde a revolução de Abril, constata-se que os casos de corrupção, de má gestão e de promessas não cumpridas, se multiplicaram vertiginosamente. Apesar de todos crermos que dentro da classe política existem pessoas sérias, bem formadas, bem intencionadas e desejosas de "concertar" este país, de o reabilitar, de restaurar e reconquistar a confiança dos cidadãos, de os motivar e mobilizar, sabemos também que essas pessoas não encontram no panorama politico os apoios e o espaço necessários que lhes permitam colocar em prática os seus princípios as suas ideias e projetos.
Supondo que Madrinha tem razão quando afirmou:
Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:
[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]
O que é que a minha amiga acha que deve ser feito?
Eu talvez defendesse uma reacção violenta e pessoalmente dirigida contra os responsáveis.
E a Margarida? Vai ignorar este comentário e sugerir alguma patetice inútil?
Caro Bartolomeu
A bem dizer, o sempre à espera mais não é do que um estado de falta de confiança. Como muito aponta, está falta de confiança arrasta tudo o resto. Mas, também, acho que os portugueses não têm confiança neles próprios. É muito mau.
Margarida, esse estado crónico de "estar à espera" também é uma forma de se evitar compromissos com o que se está a fazer ou avaliar conscientemente o que foi feito. Esses insatisfeitos profissionais na verdade não dispostos a apoiar coisa nenhuma, não há nada mais seguro e confortável do que desdenhar de tudo desconfiar de todos embora, na verdade, estejam sempre à espera de um D. Sebastião que chegue aqui e nos dê de uma penada o que cada se julga que é a perfeição nos outros países. E, como nunca chegamos a valorizar o que temos, também não resistimos a que destruam o que existe na mira de "esperar" que venha a ser melhor.
Daquilo que observo em termos de comportamento de alguns políticos, empresários, organismos públicos e sociedade em geral, cara Drª Suzana, leva-me a uma conclusão; a que, o maior mal que nos pode ter sucedido, foi... termos ganho uma democracia , como quem ganha uma herança de um tio que nem suspeitava que existia. A nossa democracia não é resultado de um processo de formação cívica, de conquista de direitos com conhecimento pleno de deveres. Foi um acontecimento que sucedeu de um dia para o outro e para o qual ninguém estava preparado, nem para perceber, para aceitar ou para se integrar. E quando refiro "ninguém" estou a pensar em toda a gente, mesmo.
Dir-me-à que os sucessivos governos têm tentado cimentar e dar sentido ao regime político em que vivemos. Não nego que em momentos maiores tenha havido esse empenho e que os sinais de que isso é verdade, são evidentes. Mas é verdade também que se passados 40 anos, fizermos um balanço, concluímos que a coluna do "deve" apresenta um total superior ao da coluna do "haver". É esse saldo, e a falta de consciência cívica e democrática que a meu ver ditam a insatisfação a inação e sobretudo a desconfiança de que os portugueses padecem. Estou certo que não serão as cores nem as maiorias políticas capazes de alterar este estado de espírito nacional. É muito provável que a faísca tenha de ter como origem, um milagre, algo que atue na sociedade de forma demolidora, ou, de preferência, consciencializadora, aglutinadora e motivadora. Aquilo que esperávamos que no início de funções deste governo tivesse sucedido entre o partido do governo e todos os que têm assento na Assembleia e que, a meu ver, o Presidente da República não teve a atitude necessariamente firme para promover e exigir. O momento era o certo, porque a situação do país o exigia e justificava, mas, as cabeças emplumadas do nosso governo não o souberam "ler" e não tiveram a humildade suficiente para o colocar em prática.
Caro Bartolomeu, 40 anos é muito tempo, por um lado, mas ê pouco para tão grande e profunda aprendizagem como a que pretende, mesmo assim progredimos muito, basta lembrar que tínhamos muito pouca educação política e muito pouca qualificação para aprender depressa e fazer rápido e bem. Custa-me ver desprezar o muito que se fez, como se as brilhantes e corajosas cabeças ainda estejam todas a nascer agora ou ainda por nascer. Se a insatisfação nos faz progredir, o descontentamento crónico desmoraliza-nos.
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