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terça-feira, 5 de junho de 2007

O papagaio da Baixa

Aqui estou a fazer concorrência ao nosso Ilustre companheiro de Blog Professor Massano Cardoso, contando uma história que hoje me ocorreu a propósito do lamentável episódio do Prof. Charrua, vítima de uma tristíssima delação e de uma não menos triste cegueira política de uma superiora hierárquica - com a deplorável complacência dos responsáveis governamentais.
Só não percebi, neste caso, como é que aquela superiora hierárquica não usou o argumento de que a conduta do Prof. Charrua “atentava contra a segurança do Estado”.
Porque aí sim, aí havia motivo para levar o Homem a tribunal militar, se necessário.
Mas vamos à história.
Conta-se com sendo verdade que, há pouco mais de 50 anos, por volta de 1950, havia na baixa de Lisboa uma piedosa senhora que tinha um papagaio, muito falador, a quem alguém ensinou a dizer “Morra Salazar”.
O bom do papagaio repetia a expressão a cada passo, para gáudio ou indignação das muitas pessoas que passavam por baixo da janela onde o papagaio era visível.
Convém notar que naquele tempo só circulava um automóvel de vez em quando pelo que a voz do papagaio, mesmo na baixa de Lisboa, era bem audível para os peões.
Acontece que andava por ali um polícia de giro que começou a ficar incomodado coma situação, receando até que algum delator – do tipo daquele que agora denunciou o Prof. Charrua – fosse fazer queixa, não do papagaio mas do polícia por deixar passar aquela grave ofensa ao Presidente do Conselho e nada fazer para acabar com aquela incómoda voz.
Então o polícia resolveu tirar-se de cuidados e falar à senhora que tinha o papagaio, recomendando-lhe que levasse o papagaio para outro sítio.
A senhora, que era bastante devota, teve a ideia de ir falar com o Prior da Igreja dos Anjos, que conhecia bem, e a quem pediu se podia guardar o papagaio durante algum tempo, para ver se este perdia aquela mania de dizer “Morra Salazar”.
O Prior, que era uma excelente pessoa acedeu, e o papagaio lá ficou em sua casa durante uns bons 3 meses.
Passado esse tempo, voltou para a casa da senhora e à janela onde antes era visto a “blasfemar”.
O polícia, que já não via o papagaio há bastante tempo, ficou admirado por o ver regressar. Mas mais surpreendido ficou quando, ao passar debaixo da janela, verificou que o papagaio estava calado - ou curado se quisermos.
O polícia passou 2, 3, 4 vezes e o papagaio nada.
Até que o próprio polícia, mordido de curiosidade e verificando com cuidado que não estava ninguém por perto, se abeirou da janela e sussurrou “Morra Salazar”.
Sabem qual foi a reacção do papagaio? Muito simples, respondeu alto e bom som: “Se Deus quiser!”
O bom do Prior dos Anjos era também uma pessoa de bom humor...

1 comentário:

Massano Cardoso disse...

Uma boa sugestão!
Que tal comprar um papagaio e ensinar-lhe umas frases valentes? Depois queria ver se aparecia algum delator...