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segunda-feira, 9 de março de 2009

Vilcabamba

Vilcabamba
Num lindo vale do Equador encontra-se uma localidade denominada Vilcabamba, caracterizada pelo facto de aí ocorrer um fenómeno que faz inveja à maioria de nós, ou seja, uma verdadeira e apreciável longevidade que atinge, quase de forma epidémica, os seus habitantes, muitos dos quais ultrapassam os 110 anos, e têm consciência disso! A pergunta sacramental é como conseguem lá chegar. O que é fazem? O que é que comem? Qual é o segredo? Sempre as mesmas perguntas! Pois! Mas o melhor desta história não é chegar apenas aos 110 anos, é que esta rapaziada tem hábitos alimentares próprios. Poderão antecipar, claro, devem ter muito cuidado com o que comem, muito pouco, apenas alimentos biológicos de elevada qualidade sem pesticidas, sem conservantes... Qual quê! Exageram no consumo do sal, bebem álcool, fumam que nem uns desalmados e até utilizam a “erva do diabo”, alucinogénica, que é considerada altamente tóxica, além de praticarem sexo sempre que podem, mas aos 100 anos tenho muitas dúvidas! Sendo assim, deverá ser um problema genético, ao transportarem bons genes que aguentam tudo e mais qualquer coisa. Não parece, porque quando vão viver para fora do vale morrem nas mesmas idades que os demais. Os habitantes de Vilcabamba, que não necessitam de óculos nem de próteses dentárias, atribuem a sua longevidade a uma vida serena. Eu acredito que deve ser isso mesmo. Não me parece que tenham vendido a alma ao diabo, nem mesmo são capazes de o ver quando usam a erva do mesmo nome. E, além disso, o que é que o diabo ia lá fazer, quando tem clientes com fartura por esse mundo fora?
Ponho-me a pensar o que é que aconteceria aos habitantes daquele vale sereno se tivessem acesso às campanhas dos nutricionistas aconselhando-os a comer “bem”. Não iam ganhar mais anos de vida, porque já andam nas bordas da duração máxima da existência, o que poderia acontecer era “perderem” uns bons anos ou décadas de vida. Não é que esteja contra a necessidade de informação e esclarecimentos sobre o quê, como e quando devemos comer, mas sim com algumas atitudes que podem ser perniciosas. Uma delas tem a ver com a classificação dos alimentos em “bons” e “maus”, os de maior e menor qualidade, forma errada de os definir. Um maniqueísmo nutricional que deve ser evitado a todo o custo. Ainda gostava de ver as reações dos nossos tetravôs do Paleolítico Superior se ouvissem classificar os alimentos em “bons” e em “maus”. Talvez não reagissem, porque não deveriam ter ainda a noção do mal e do bem, mas se já tivessem deviam pregar uma boa mocada na cabeça do entrevistador, e com toda a razão. Somos nós que fazemos bom ou mau uso daquilo que comemos.
É preciso ter muito cuidado com as campanhas alimentares e com os cursos dedicados aos mais novos. Começam a ser relatados casos verdadeiramente anedóticos de crianças que, aos oito anos, já debitam o seguinte discurso: “O sódio faz com que o coração bata mais depressa o que pode originar situações muito graves”. A pressão dos pais e educadores criam ansiedade nos miúdos ao ponto de pensarem na morte ou que vão ficar muito doentes. Tanto é assim que, em certas reuniões infantis, caso de aniversários, crianças com apenas cinco anos! recusam comer certos alimentos porque fazem mal à saúde. Uma ortodoxia alimentar, denominada ortorexia, que pode ser fonte de graves problemas ao ponto de comprometer gravemente o seu futuro. Começam a avolumar-se muitos casos altamente comprometedores da saúde física e mental de crianças devido a técnicas menos adequadas e atitudes ultraortodoxas de muitos pais que, na ânsia de quererem o melhor para os seus filhos, acabam por lhes dar cabo da saúde. Para estas crianças advogo, por analogia ao direito constitucional de desobediência civil, a prática da “desobediência alimentar” face à nova tirania que se está a desenhar, mesmo entre nós.
E, entretanto, que tal dar uma saltada até Vilcabamba? Desfrutar uns bons petiscos e umas boas pingas, numa atmosfera em que a vida é sinónimo de serenidade, não faz mal à saúde, antes pelo contrário, vide aqueles aspetos que julgava não poderem ser compatíveis com tamanha longevidade...

1 comentário:

Bartolomeu disse...

A velha máxima, "confundir para governar" aplica-se ao contexto da comercialização de produtos, alimentares, emitindo informações-avulso acerca das suas qualidades. Esta confusão, estende-se por vezes aos profissionais da nutrição, que tão depressa aconselham ao consumo de determinados produtos, como aconselham a sua eliminação das nossas dietas.
Na mesma linha, encontram-se as proibições e exigências de cumprimento de normas de higiene, manuseamento, confecção, embalagem, conservação e etc, etc, etc. que a ASAE, zelosamente faz cumprir, chegando ao exagero (no meu ponto de vista) de encerrar estabelecimentos de restauração se a vitrina dos refrigerantes não dispuser de aparelho leitor de temperaturas, se a tomada eléctrica estiver colocada 5 cm acima ou a baixo do local regulamentado, ou se o pobre cozinheiro, cortar o bife com a faca para cortar vegetais. Em contrapartida, o recurso a herbicidas, fertilizantes, pesticidas e fungicidas na agricultura, continua a ser utilizado sem controle nem restrições, causando o envenenamento dos solos, dos lençóis de água freáticos, dos rios e das espécies cinegéticas, chegando aos oceanos, envenenando as espécies marinhas, sobretudo aquelas cujo habitat se localiza junto às costas.
“Confundir para governar” foi a descoberta que proporciona aos aproveitadores, gerir a seu bel-prazer o consumo daquilo que mais proveito lhes pode dar.
Em Bavilcabam, ou Bamvilcaba, ou Cabamvilva, ou Vilbacabam, os naturais criaram uma outra máxima “Sex, drug’s, and natural food”. Haverá melhor combinação para garantir uma longevidade sã?
;)))