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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

É curto para um Prémio Nobel

José Saramago afirmou que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”.
A Bíblia é formada num período histórico que se inicia cerca de 1200 a. C. e termina cerca do ano 100 d. C.. É constituída por vários livros definidos depois de enormes discussões, no Concílio de Hipona, no ano 393 d. C., mas não são unanimemente adoptados pelas várias religiões cristãs. O protestantismo reconhece 66 livros, a religião católica 73 livros e as religiões ortodoxas um número ainda superior. A discrepância está na fixação dos livros do período antes de Cristo, já que todas aceitam os mesmos 27 livros do Novo Testamento.
Também eu não gosto de alguns livros da Bíblia. Embora possam ser descrições fidedignas de alguns períodos históricos, como o confirmam recentes e menos recentes descobertas arqueológicas, não vejo razão para serem considerados como guia de uma religião. Jeová, deus como que “criado” para uso exclusivo e pessoal dos israelitas, aliado a quem se pede a destruição dos inimigos de Israel não é, com certeza, um Deus para toda a humanidade.
Porventura, só o período muito próximo da ruptura com o judaísmo pôde justificar a escolha de alguns livros como “cânone” a seguir na religião cristã. Parece ser esta uma matéria que as diversas religiões cristãs deveriam considerar para discussão nos suas reuniões doutrinárias.
Mas Saramago faz uma análise tendenciosa e tortuosa da Bíblia. Sendo uma obra que abarca um período de 1.300 anos, é também uma obra escrita por 40 autores. Como tal, os livros não têm um estilo de escrita, mas diversos tons consoante os autores, os temas e o período e as circunstâncias históricas em que foram escritos.
Entre os livros da Bíblia contam-se algumas das maiores obras- primas da cultura universal. O Cântico dos Cânticos atribuído a Salomão é uma delas. Por sinal, cantando o amor livre e até pelo seu evidente erotismo, foi um dos livros que mais discussão sofreu para ser integrado na Bíblia. E muitos temas da Bíblia tornaram-se clássicos da literatura universal, e muitos tipos descritos continuam a ser os ícones com que expressamos muitas das nossas ideias e as parábolas dos Evangelhos, poderosas alegorias que o tempo não destrói, são usadas por todos, crentes ou ateus.
Saramago continua vesgo. Os Dez Mandamentos, por exemplo, definem o mais poderoso código de boa conduta que, só por si, desmente a sua desgraçada afirmação. Saramago interpreta literalmente textos de há mais de mil anos. Não procura o contexto. Não conhece a história. Não vê mais do que os seus ódios de estimação. É curto para um Prémio Nobel.

19 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Dr. Pinho Cardão
Muito oportuno e educativo este seu post.
Quem se julga Saramago? Um ser superior a milhões de crentes que ao longo dos séculos e que por esse mundo fora professam uma religião?
A sua perseguição anti-católica é doentia. O que tem de ódio, raiva e violência de sentimentos falta-lhe em tolerância. Não é exemplo para ninguém. Não há Prémio Nobel que lhe valha!

Wegie disse...

Relativamente aos Dez Mandamentos, não esquecer a sua origem: O Livro dos mortos do Antigo Egipto.

António Transtagano disse...

Não gosto da escrita de Saramago, razão pela qual não lhe "teria atribuído" o Nobel com que foi galardoado.

Não sou marxista nem professo qualquer religião. Feita a declaração de interesses:

Saramago está no pleníssimo direito de criticar a Igreja Católica e as demais religiões.

Não é nada doentio. É tão doentio como fazer crer que Jesus Cristo nasceu por obra e graça do Divino Espírito Santo!

O dogma para os dogmáticos!

Era o que mais faltava que voltássemos aos tempos da Inquisição, a censurar livros ou a mandá-los para a fogueira!

E é curioso que a Mulher foi sempre o símbolo do pecado para a Igreja católica. Foi e continua a ser discriminada. Não tem acesso ao sacerdócio, vá-se lá saber porquê! Saber, sabe-se: para a Igreja Católica Apostólica Romana, ela representa a "impureza" e a "tentação da carne"! A serpente (o diabo feito réptil), a maçã, o fruto proibido que o pobre do Adão comeu!

Quem, no uso da sua razão e das sua faculdades, pode aceitar isto?

Não há ainda muito tempo que à mulher só era concedida a entrada nos templos desde que cobrisse a cabeça! Ainda hoje o tem que fazer se quiser ser recebida pelo Papa! Porquê?

As vestes das mulheres que professaram têm de se vestir com uma burga mais "soft" e de forma a que as formas do seu corpo passem despercebidas. E as orelhas tapadas. Em contra-partida, os sacerdotes deixaram de usar coroa e já se despiram da batina, da sotaina e do cabeção! Alguma Mulher do 4R será capaz de me explicar tamanha discriminação? O que é isto senão obscurantismo?

Bartolomeu disse...

Perfeitamente de acordo com a sua explanação, caro Dr. Pinho Cardão.
Em minha opinião, bastaria à(s) religião(ões) difundir e professar os divinos mandamentos, para que o nosso mundo fosse muito mais tolerante e humaísta.
Naquilo a que eu designo por "manual de instruções" para o ser humano, os 10 mandamentos, concentram-se as regras mais simples capazes de manter o ser humano impoluto, lubrificado e funcionante.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pinho Cardão disse...

Caro Paulo:
As matérias económicas e financeiras são interessantissimas, são a minha profissão e gosto delas. Mas a filosofia e a história (e também o grande FCPorto...) constituem derivativos interessantes e essenciais para quem queira perceber o mundo e a realidade. Nesse contexto, a história das religiões tem chamado a minha atenção, sobretudo no que respeita a muitos pontos comuns ou semelhantes, do hinduísmo ao cristianismo. Foi pois nesse contexto, e apenas nesse, que fiz o post, e não vinculado a qualquer religião.
Posto isto, quase que concordo consigo quanto ao juízo que faz dos livros da Bíblia.Nem seria necessário todo o Novo Testamento, os Evangelhos bastariam. Mas alguns livros do chamado Antigo Testamento como o Cântico dos Cânticos constituem uma maravilha da literatura.
E quanto à vida, ela é importante para todos. Mas não sei se para o Saramago saneador do DN a vida dos outros tinha qualquer importância.

Caro Bartolomeu:
Mais uma vez tenho que concordar com o meu amigo.

António Transtagano disse...

Há quem se "esqueça" dos célebres saneamentos na Faculdade de Direito de Lisboa, nos idos da revolução! E que, depois, seja capaz de servir a Nação sob a direcção política do ex-jovem saneador! Caprichos...

Catarina disse...

Há críticas e.... há críticas…
Ou seja, há várias formas de criticar...
Não, à censura, de certo...e não, à inquisição...
Todos nós, no mundo democrático, temos o pleno direito de expressar as nossas opiniões....mas, a meu ver, devemo-lo fazer com respeito, tendo sempre em consideração o impacto que a nossa opinião poderá ter ou como poderá ser interpretada, essencialmente, quando se trata de “algo” sagrado para tantos milhões e milhões de pessoas.

José Saramago esteve sempre rodeado de controvérsia... creio que sente um prazer especial em chocar com os seus comentários... Sim, talvez o prémio Nobel da Literatura o fizesse ou o faça sentir um ser superior a todos nós, “simples mortais”, que acreditamos num Ser supremo a quem chamamos Deus ou Allah....

Não posso dizer, com sinceridade, que gosto de “ler” Saramago. Com todo o respeito o afirmo.

Pinho Cardão disse...

Saramago tem opiniões definitivas sobre tudo e, julgando-se o dono da verdade absoluta, tenta ridicularizar e tratar como imbecis quem não comunga dessas suas verdades. Nele não existe qualquer respeito por opiniões diferentes da sua.
Nesse aspecto, não passa de um pobre coitado.

António Transtagano disse...

Catarina (17:22)

Se me autorizar, faço-lhe uma pergunta: já leu Guerra Junqueiro ?


Dr.Pinho Cardão (19:23)

Ia jurar que não é só ele...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Catarina disse...

António

O tema dos nossos comentários é José Saramago. José Saramago e o seu (dele) “comentário”! Estou apenas a expressar o meu desagrado. Desnecessário é acrescentar que ele não foi, não é e não será o primeiro a expressar as suas ideias de forma... como direi? ... desrespeitadora.

Há a considerar, igualmente, a extraordinária evolução/rapidez da comunicação... ou seja, em minutos (ou deverei dizer segundos?) as notícias propagam-se pelo mundo inteiro.. pelo menos aquele mundo que tem acesso a toda esta tecnologia... Qualquer pessoa proeminente (independentemente da área que o/a levou aos píncaros da fama) tem uma responsabilidade perante o mundo, perante aquilo que representa. Com isto, não quero dizer – de forma alguma – que o sr. José Saramago não possa exercer o seu direito de livre expressão – claro que não! Apenas que o faça de forma respeitadora. Afinal é um recipiente de um prémio Nobel!!!!!!! E isso acarreta certas responsabilidades.
Esta é a minha opinião.

E para responder à sua pergunta: sim, li Guerra Junqueiro... quando era estudante!

António Transtagano disse...

Catarina (21:12)

Leu Guerra Junqueiro...quando era estudante. Muito bem.

Supondo que leu "A Velhice do Padre Eterno", terá verificado que o ataque à Igreja Católica e ao obscurantismo é o maior libelo que conheço, em língua portuguesa, feito por um dos nossos melhores poetas. O que lhe acarretou, de resto, um honroso prémio: figurar no Índex!

Então, como agora, não faltaram os protestos, as indignações, os repúdios, o patriotismo bacoco(o eurodeputado do PSD, de seu nome Mário David, exortou mesmo Saramago a renunciar à cidadania portuguesa, tendo mesmo afirmado que estava envergonhado por ter aquele como compatriota...)!

Estes protestos, manifestações de repúdio, indignações mais não são do que formas subliminares da Santa Inquisição.

Dizer, Catarina, que "o tema dos nossos comentários é José Saramago" é uma forma demasiado simplista de encarar as coisas. Poderia ser Guerra Junqueiro! Mas o que é, sobretudo, objecto do tema é aquilo que por eles é dito e escrito: a blasfémia, a heresia! Agora, como há um século!

Apesar de tudo, a Terra move-se.

Catarina disse...

Caro António

É verdade.
Por vezes, olho o mundo de uma forma simplista. Faço comentários talvez simplistas.
Mas acontece que o comentário que aqui escrevi não é simplista. O tema do meu comentário (do seu e de muitos outros que aqui expressaram a sua opinião) foi José Saramago. Não foi sobre mais ninguém. Nem foi sobre Guerra Junqueiro, nem qualquer outro grande poeta ou escritor ou tão pouco o comentário que o merceeiro da esquina fez.

Antes e agora... Antes fui uma jovem estudante, sensata mas idealista. Hoje sou uma mulher madura que peso ou, pelo menos, tento pesar as consequências dos meus actos, das minhas atitudes, da minha forma de expressar as minhas opiniões. Nem sempre sou bem sucedido, admito! Mas tento.

Para além disso, caro António, não é minha intenção incutir em ninguém a minha forma de pensar sobre a “expressividade” do sr. Saramago. Dei apenas a minha opinião. E reitero: Não concordo como a forma como ele se referiu à Bíblia.

Por favor, seja democrático: aceite esta opinião... na sua opinião... simplista.

Os meus cumprimentos.
Catarina

António Transtagano disse...

Catarina (01:11)

Claro que aceito a sua opinião!

Quando qualifiquei de simplista a sua maneira de ver o que está em causa no tema posto à discussão pelo Dr. Pinho Cardão, queria com isso significar que deverímos entender o tema, não pela pessoa que proferiu umas tantas heresias e blasfémias para aqueles que professam a confissão católica, mas, justamente, por ter feito tal pronunciamento.

Como escritor, terá visto que não gosto da sua escrita, que no meu modo de ver, representa um estilo literário que pouco aprecio. A falta de pontuação ou mesmo uma pontuação desordenada; os imensos parágrafos, enfadonhos e desconexos estão longe daquilo que me habituei a ver na Literatura portuguesa de qualidade.

Mas não foi deste ponto de vista que os seus livros foram criticados. O que foi e continua a ser objecto de controvérsia são as teses que defende, tal como as defendeu Guerra Junqueiro: o ataque à Igreja, às confissões em geral, não apenas a católica.E é contra isso que os católicos convictos ou de fachada se insurgem, protestam, repudiam, excluem. Estão também no seu pleníssimo direito de o fazerem mas não têm o direito de invocar o "desrespeito" a milhões de seres humanos que acreditam num Ser superior, que pode ser Deus ou Alá, conforme disse em seu anterior post. E isto, Catarina, releva de intolerância. Como se pode, Catarina, pedir a um não crente ou a um ateu que não torne públicas as suas ideias? Ainda que heréticas e blasfemas?

Desrespeitar por isso os que acreditam numa confissão religiosa?

Eu bem sei que a Catarina, num registo mais abrangente, até se referiu ao tal SER superior, que poderia ser Deus ou Alá.

Poi bem: Quando há 20 anos, Salman Rushdie publicou os Versículos Satânicos, não vi ninguém escandalizado por estas bandas da ocidental praia lusitana! Verdade seja que a cobardia de muitos fez com que um manto de silêncio se gerasse em torno da obra do autor britânico. A "Inquisição iraniana" condenara-o à morte, a excutar no local onde se encontrasse!

De modo que isto do desrespeito para os crentes vale o que vale. E só vale segundo as conveniências. É o tal relativismo das coisas...

Creia que sou um democrata e que respeito a diversidade.

Em todo o caso, foi bom falar consigo!

Se o blog fosse meu, diria que aparecesse mais vezes!

Cumprimentos e boa noite!

Bartolomeu disse...

Subscrevo a afirmação/pedido deixado no final do comentário de António Transtagano, que é como quem diz "aquele que está para além do Tejo" mais comumente designado por "alentejano" trans-tagos, ou simplesmente alem-tagos.
Leio Saramago desde ha muito. De início não descortinei a sua escrita, por variadíssimas vezes iniciei e parei a leitura da "Jangada de Pedra". Depois, habituei-me à sua "irreverência", desquitando as suas visões políticas e religiosas, apreciava sobretudo as suas formas matiz de olhar a(s) sociedades.
Saramago é provocador, polémico. Se escreve bem? Quem sou eu, que mal sei escrever para avaliar a qualidade da escrita de um tipo que coloca pontuação onde lhe apetece e constroi frases que colidem com as regras gramaticais?
Tomara eu saber escrever, expôr ideias por escrito, como não sei, basta-me conseguir descodificar o sentido das frases, traduzindo as ideias.
Um dia, escrevi uma carta a Saramago, comentando um dos seus livros, o Memorial, foi a primeira de uma breve série que interrompi por achar ridiculo incomodar o senhor com as minhas reflexões e questões. Respondeu-me cordialmente às questões que lhe coloquei, do seguinte modo:(Dos diversos temas que toca na sua carta, permita-me que tome apenas um, quando diz encontrar um « fundo místico» em alguns aspectos do meu trabalho. Sem querer ignorar a importância do sentimento místico para um conhecimento mais completo da psique humana, confesso-lhe que há em mim como que uma rejeição instintiva de todo o intento de situar no misticismo a via de acesso a entendimentos superiores da vida. Julgo compreender o que quer dizer quando se refere a «algo que está e não está encoberto», mas a isso chamaria eu o «indizível da vida», a que as palavras não conseguem chegar, simplesmente porque não as temos todas: o idioma mais extenso e minucioso que exista não será suficientemente extenso nem minucioso para exprimir tudo...)
Quem esteja a ler este comentário deverá estar duvidoso daquilo que transcrevi e pensará: hmmm o Saramago a escrever com sujeitos, predicados, complementos directos e... pasme-se VIRGULAS.
Mas posso garantir-lhes que a carta existe e posso mostra-la a quem manifestar desejo.
Saramago é provocador, disse lá mais em cima. Todos conhecemos muitas formas de provocar, uma delas pode ter como finalidade espevitar a atenção e colocar as "gentes" a reflectir e a comentar, analisar, a considerar, a opinar «o idioma mais extenso e minucioso que exista não será suficientemente extenso nem minucioso para exprimir tudo», escreveu-me ele. Pergunto eu: Conhece algum de nós o idioma mais extenso que consiga abranger a totalidade do pensamento escrito?
Lembro-me da "Historia do Cerco de Lisboa" em que Saramago coloca um revisor literário a introduzir um "não" na frase original «os Cruzados ajudaram a sitiar Lisboa».
Como ele faz entender, bastaria um pequeno erro do cronista para fazer alterar toda a historia de uma nação.
;)))

Bela disse...

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

...E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão...

...O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...

Guerra Junqueiro

Bonito não!?

Mas vamos apenas pela matemática:
. Deus não existe - eu não ganho nada com isso o Sr. também não.
. Deus existe - o Sr. não ganha nada com isso eu ganho a salvação.

Quanto á escrita do Sr. Saramago...perguntem a qualquer professor de português.
Que também é natural que depois de tantas críticas ele ponha alguém a corrigir-lhe os textos.

Se gosta de "provocar"...bem para mim, com muito mau gosto.

( Exemplo: Não é preciso brincar com a pedofilia para as pessoas pensarem nisso.)

Deixa-me a pensar que tipo de critérios se utilizam para atribuir prémios NOBEL.


Bela

Bela disse...

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

...E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão...

...O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...

Guerra Junqueiro

Bonito não!?

Mas vamos apenas pela matemática:
. Deus não existe - eu não ganho nada com isso o Sr. também não.
. Deus existe - o Sr. não ganha nada com isso eu ganho a salvação.

Quanto á escrita do Sr. Saramago...perguntem a qualquer professor de português.
Que também é natural que depois de tantas críticas ele ponha alguém a corrigir-lhe os textos.

Se gosta de "provocar"...bem para mim, com muito mau gosto.

( Exemplo: Não é preciso brincar com a pedofilia para as pessoas pensarem nisso.)

Deixa-me a pensar que tipo de critérios se utilizam para atribuir prémios NOBEL.


Bela

António Transtagano disse...

Bela (09:13 do dia 27 OUT 2009)

Não queria desapontá-la mas já chegou atrasada a esta discussão, que teve, sim, continuação em outros editoriais posteriores por razões que a sua perspicácia certamente compreenderá.

O poema que agora transcreveu, Bela, já tinha sido postado pelo Dr.Pinho Cardão, em editorial do dia 22 de Outubro!

E não é pelo facto de agora o postar por duas vezes (duas), que o poema deixa de ser aquilo que é!

Deste modo, remeto-a, Bela, para os comentários que fiz no editorial do Dr. Pinho Cardão "Momento de Poesia - Guerra Junqueiro", em que explicava que a Fé também se perde e que o poema em questão mais não é do que a recordação da idade da inocência,em que o poeta "ajoelhava, orando, ao pé da mãe"..., que viria a perder aos três anos da sua infância.

Do seu exercício de matemática, retenho a conclusão: se Deus existe,... Bela ganhará a salvação!

Acredita, pois,em Deus como forma de se salvar a si! Como que uma espécie de "seguro de vida",ou, com mais propriedade, "um salvo-conduto para a sua salvação". À cautela, Bela, sempre é melhor acreditar para garantir o ambicionado prémio: salvar-se, não é?

Acho, contudo, que a questão não é propriamente um exercício de matemática, longe disso. É, sim, um exercício de fé. Como tal, nada a opor!

Quanto à escrita de Saramago, concordo parcialmente consigo, remetendo-a para o que disse no meu primeiro post sobre este editorial. Mas não é a "qualquer professor de português" que atribuo competência para certificar a qualidade,ou falta dela, da escrita de Saramago.

Por último, Bela, desculpar-me-á: que mau gosto o paralelismo que fez com a pedofilia: "Não é preciso brincar com a pedofilia para que as pessoas pensarem nisso"! A propósito de quê e "por alma de quem"?