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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Política económica: caminho sem saída e sem retorno?

1. Apesar dos “apelos” do 4R, o pior cenário de resposta à crise financeira que nos avassala concretizou-se: vem aí um (1º...) agravamento generalizado de impostos, tanto impostos directos (IRS e IRC) como impostos indirectos (IVA, I. Selo...).
2. Volto a referir, tal como nos últimos Posts aqui editados, que estas decisões só aparentemente são decisões nacionais – na verdade elas são ditadas do exterior (se de Bruxelas, de Berlim ou de Paris ou de todos, pouco interessa).
3. Com efeito, a autonomia na condução da política orçamental em Portugal (tal como na Grécia e em parte em Espanha) acabou...e não regressará tão cedo, provavelmente não regressará nunca mais.
4. Tendo a noção de que este “Plano de Austeridade” não resulta de uma decisão autónoma das autoridades nacionais, isso não é motivo para que nos devamos resignar perante o erro fundamental de política que lhe está subjacente e, muito menos, que calemos a divergência em relação a esta política.
5. A grave situação financeira que Portugal enfrenta deriva de um problema económico como temos chamado a atenção, vezes sem conta: o enorme desequilíbrio entre a despesa e a produção, que nos obriga, ano após ano, a aumentar o nosso endividamento ao exterior em valores próximos de 10% do PIB.
6. Este desequilíbrio entre a despesa e a produção só pode ser resolvido com dois tipos de medidas: (i) fomentando a produção dos sectores de bens transaccionáveis, com estímulos fiscais e financeiros pelo menos e (ii) contraindo, de forma drástica, o formidável volume de recursos que são postos à disposição dos múltiplos sectores públicos, Administrativo e Empresarial, nos planos central, regional e local bem como das empresas que actuam em mercados protegidos da concorrência.
7. É impossível ignorar que o grande desequilíbrio entre a despesa e a produção resulta do facto de a multiplicidade dos sectores públicos e protegidos consumir muito mais do que gasta, enquanto que o sector de bens transaccionáveis vai definhando dia a dia perante os nossos olhos esbugalhados...
8. Aumentar impostos, directos ou indirectos, significa afectar cada vez mais recursos aos sectores públicos, para que estes continuem a “garantir” o enorme desequilíbrio entre a despesa e a produção...
9. Aumentar impostos, sobretudo os directos, significa impor custos crescentes e competitividade decrescente ao já tão fragilizado sector produtor de bens transaccionáveis, conseguindo mais um contributo para “garantir” a perenidade do enorme desequilíbrio entre a despesa e a produção...
10. Da combinação destes dois ingredientes resulta que o processo de endividamento externo do País não tenha mais solução...até ao dia em que as fontes de financiamento encerrem de vez...
11. Não estaremos assim metidos à força num caminho sem saída e sem retorno?

8 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

A única certeza é que a voz nos continuará a cansar, por repetidamente afirmar-mos a mesma evidência.
Mas será que há quem queira ver?

Tavares Moreira disse...

No ponto 7,onde está "consumir muito mais do que gasta", deve ler-se "consumirem muito mais do que produzem"...obviamente!
As minhas desculpas pelo lapso.

Manuel Brás disse...

Escamoteando os mexilhões

De olhos esbugalhados
e carteiras definhadas
são efeitos retalhados
por acções mal amanhadas.

É tal a perenidade
das contas descontroladas,
mostrando insanidade
nas decisões propaladas.

A governação declinável
de argumentos coerentes
tem um carácter entranhável
de verborreias referentes.

São distorcidos muitos milhões
em vis políticas amorais,
escamoteando os mexilhões
com argumentações viscerais.

Tonibler disse...

Há um factor adicional que reforça a minha completa desconfiança "nesta" gente.

Não é o balanço deste ano que é deficitário. Nem o do ano anterior. Nem daquele de há dez anos. Todos os balanços do estado são deficitários. Todos. Isto significa que é o sistema que é deficitário. Meter mais dinheiro num sistema deficitário, não o vai tornar menos deficitário, apenas se vai gastar mais dinheiro. Será isto demasiada física para ser percepcionada pelos nossos governantes? Eu compreendo que para os personagens envolvidos, entre engenheiros duvidosos e professores de economia, a literacia científica não deve imperar mas, bolas, é pedir muito que consigam ser um pouco mais que imbecis?

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Leio um jornal espanhol, por exemplo este, e o que vejo detalhado é um plano de reduções de despesa.

Mas, lendo um jornal português, este, por exemplo, o detalhe está nos aumentos de impostos. Quando à redução da despesa, ela é anunciada sem «cortes quantificados».

Há algo de profundamente errado. Connosco.

Fartinho da Silva disse...

Caro Tavares Moreira,

Não sendo economista, levanto aqui algumas questões e solicito, por favor, que me corrija se encontrar algum disparate técnico ou alguma imprecisão. Tenho aprendido imenso neste espaço de liberdade e reflexão.

Infelizmente, duvido que estas medidas sejam suficientes.

É bom não esquecer que a dívida no sector privado (empresas e famílias) é bem maior, em percentagem do PIB, que a dívida do Estado.

Temos, por isso, uma situação, que no meu entender, é muito mais grave e de mais difícil resolução que aquilo que os media nos têm vendido! A dívida total de Estado, empresas e famílias ultrapassa os 235% do PIB.

Com esta dívida, como pode haver investimento e como consequência crescimento económico? Por outro lado, com esta dívida se se reduzirem salários, como podem as famílias honrar os seus compromissos? Se se aumentarem os impostos, como podem as empresas pagar as suas dívidas? No meio disto tudo como podem os bancos apresentar resultados? E, como pode a banca obter financiamento externo?

Julgo que este número é ou será conhecido por quem tem apresentado dúvidas em relação à nossa capacidade de honrar os compromissos assumidos.

Julgo, ainda, que desta vez as soluções fáceis não nos desenrascarão, como tem sido habitual. Teremos que arregaçar as mangas e deixar de cantar como as cigarras e trabalhar como as formigas para fazer aquilo que todos sabemos que tem que ser feito e que aqui tenho exposto por diversas vezes.

José Meireles Graça disse...

Mesmo que Portugal já não tenha independência (nem sequer a gestão hábil de dependências que está reservada a pequenos países pobres) não parece que as exigências de restauro de um módico de confiança na solvabilidade do nosso País implicassem um aumento de impostos. E aqui mora um mistério: porque razão o PSD não aproveita para impôr, em troca do seu apoio, esta oportunidade histórica para reformar o Estado, e pelo contrário dá cobertura a escolhas que penalizam a capacidade de investimento do sector privado, esmagam a já exangue parte da classe média que não está protegida pelo Estado e mantêm o papel central do mesmo Estado na vida económica? Não sou, nem nunca fui, freguês dessa agremiação, mas tenho sobre a natureza dela, como qualquer cidadão eleitor atento, uma opinião. E não imaginava que o PSD se pudesse comportar como uma versão ligeiramente menos econòmicamente analfabeta do PS do nosso descontentamento.

Tavares Moreira disse...

Caro maioria-quase-silenciosa,

Há que continuar, insistir, persistir, não desistir...denunciando o erro e a incompetência (pelo menos)...

Caro Manuel Brás,

É isso mesmo - "de olhos esbugalhados e carteiras definhadas" - sempre a palavra certa na rima isnpirada!

Caro Tonibler,

Eu creio que é mesmo pedir muito, acho que deve ser bem menos exigente...
Convém não esquecer, todavia, a necessidade de guardar uma pequena reserva para as comemorações da República...viva a República e os seus notáveis feitos, avultando a falência financeira do regime, pela 2ª vez! É obra!

Caro Eduardo F,

Os espanhois pelo menos dão mostras de perceber melhor o que pasa...ou então ainda gozam de alguma liberdade de escolha nas suas políticas!

Caro Fartinho da Silva,

A temática em questão é de grande complexidade, sem dúvida...
Dir-lhe-ei que nas actuais condições, nomeadamente com este "Pacote de Austeridade", não pode haver investimento nem crescimento...
Para haver investimento produtivo e não do tipo improdutivo ou destrutivo, como referi, é indispensável criar condições para que o sector de bens transaccionáveis se sinta estimulado a produzir!
O que se está fazendo, penalizando cada vez mais esse sector, impede qualquer crescimento sustentável...
Se pensamos que vamos crescer através do aumento precário do consumo de duradouros, pela venda venda de automóveis, é melhor esquecer tudo!

Caro JMG,

Temo ter de lhe dar razão!