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terça-feira, 15 de junho de 2010

Organizar ou castigar? Faz toda a diferença.

Confesso que me irrita um bocado o modo como a questão dos feriados é trazida à praça pública, associada a mais um “sacrifício” que é necessário fazer em nome da crise e da maior produtividade. Assim, colocada como uma retirada de “benefícios”, ainda por cima cheia de entrelinhas sobre as “pontes” abusivas e mais umas quantas apreciações negativas sobre este povo de preguiçosos que têm que ser metidos na ordem, é evidente que só pode suscitar animosidades e má vontade.
Na verdade, a origem dos feriados não resultou de actos de bondade patronal ou da decisão política de adoçar a boca do povo com uns diazinhos de descanso extra. Concorde-se ou não com os critérios que elegeram as datas como merecedoras de festejo ou de respeito, o facto é que todas elas estão associadas a rituais com um sentido de celebração. Daí a dispensa de ir trabalhar, a vida também é feita de marcos e de rituais e não se resume tudo a umas contas mais ou menos fiáveis sobre o que se perde ou ganha em riqueza nacional com essas folgas.
Coisa bem diferente é considerarmos que essas mesmas datas podem ser celebradas de um modo muito mais prático, sem perturbar de modo significativo, haja ou não haja crise, a vida das pessoas e do País, até porque algumas delas são convencionais e não perdem especial significado se foram atendidas num dia ou noutro da semana em que calhem. Conheço de perto o que se faz noutros países, como a América ou o Reino Unido e não me parece nada pior que os feriados passem a transferir-se sempre para a segunda feira mais próxima, calhem ao dia de semana ou calhem ao domingo, isso permite que eles sejam usufruídos plenamente, sempre em blocos seguidos de 3 dias de descanso, em vez de andarmos aos soluços. Se há feriados a mais, e quais, já não sei dizer nem me parece nada importante, é uma questão completamente diferente e associar essa avaliação só vem atrasar uma boa solução para a questão principal, que é a organização lógica e cómoda da vida económica e laboral.
Por mim, já que agora a ideia pode ser posta em cima da mesa sem provocar gritarias indignadas como já aconteceu quando a ideia veio de outros, acho que seria um benefício. Pena é que estes temas sejam sempre atirados como punições justiceiras, como se fossemos um bando de idiotas que só percebem as coisas quando são impostas pelos moralizadores de serviço.

6 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Totalmente de acordo com a sua abordagem, em particular com a sua última conclusão. Mas não me venham com a argumentação de que cortar (uma expressão que hoje em dia é utilizada a torto e a direito!) nos feriados é fundamental para melhorar a nossa produtividade. O problema de falta de produtividade é outro...

Pinho Cardão disse...

De facto, os feriados nada têm a ver com produtividade. É uma demagogia insana ligar uma coisa a outra. Como são perfeitamente canhestros e sem qualquer base os cálculos normalmente apresentados sobre os seus efeitos negativos sobre o PIB. Tal só aconteceria se a capacidade de produção, no seu sentido mais lato, estivesse esgotada, o que está longe de acontecer.
Os feriados estão ligados a tradições e hábitos que fazem parte da cultura do país. Seria bom deixar os feriados em paz e usufruir deles à vontade, e trabalhar bem e com produtividade nos dias destinados ao trabalho.
Muitos dos países mais ricos não têm menos feriados do que nós, antes pelo contrário. Mas têm melhores políticos e melhor organização. Organizemo-nos, pois.

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
Acho que os feriados no meio das semanas acabam por não serem tão bem fruídos como os que calham às segundas ou sextas-feiras, pois que, três dias de descanso seguidos dão para planear muita coisa, incluindo passeios de lazer pelo interior do país e outras actividades.
Numa altura em que todos nós, de um modo geral, estamos atónitos com a situação em que o país se encontra e nos pomos adivinhar as medidas necessárias para colmatar a situação, era bom que nos começássemos a organizar nas coisas mais simples, como esta dos feriados…

Bartolomeu disse...

A melancolia é coisa de gente civilizada, Drª Suzana Toscano. Portugal e os Portugueses, para que haja civilização que se preze precisa de mais melancolia, que funcione como um freio à risota que nos deixa sem destino. A melancolia acalma os sentidos, treinando-os e despertando-os, abrindo sulcos nas memórias e nas genealogias, perfumando de beleza as coisas que passam. Não precisamos de feriados, convites ao relaxe e ao desleixe, precisamos sim, de melancolia e, de martirizar os sentidos.
Abaixo os feriados!
Viva a melancolia!

Anónimo disse...

De acordo, Suzana, sobretudo com a parte em que defende a deslocação de alguns feriados, designadamente os de cariz religioso (os "dias santos de guarda" como se chamavam em tempos idos) marcados para dia certo na semana, e os municipais que a meu ver deveriam ser assinalados em dia de descanso semanal.
Também concordo que a crise nada tem que ver com o assunto, a não ser no plano em que chama porventura mais a atenção para a sucessão de paragens e para algumas das suas consequências.
Já não estou tão certo que os feriados não têm qualquer relevância na produtividade ou pouco impacto têm. Quem tem responsabilidades em organização que vive dos resultados que consegue obter, sente bem os efeitos de uma paragem a meio da semana com a consequente e inevitável ponte.

Fartinho da Silva disse...

Nunca percebi a questão dos feriados implicarem pontes. Para se ter ponte é necessária uma autorização e o respectivo desconto nas férias, ou será que a legislação mudou outra vez?

Quanto é assumimos que temos que nos organizar? É tanta a desculpa para justificar a nossa mediocridade e tanta falta de vontade para trabalhar de facto que me sinto fartinho da silva :)