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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dá-me licença, por favor? Obrigada.


Segundo o Diario de Noticias, as transportadoras resolveram publicar um manual de bom comportamento nos transportes públicos, com regras tão fáceis de apreender como a de não ficar parado junto à porta de entrada, dar o lugar às pessoas idosas, não falar ao telemóvel aos gritos, enfim, coisas que pareciam evidentes mas que têm que ser editadas para todos se lembrarem de cumprir. Não vejo nada de mal nisto, pelo contrário, há realmente muita gente que nem se lembra do conforto dos outros e que se porta nos espaços públicos, transportes ou não, como se fossem os donos exclusivos do acesso e usufruto. Uma tentativa de ensinar o civismo é bem vinda e pode até aumentar a censura social em relação a comportamentos que passaram a ser tolerados como uma fatalidade e que muitas vezes resultam simplesmente no facto de não se ter ensinado a pensar e respeitar os outros. A entrevista a um motorista da SCTP, que exerce a sua profissão há 22 anos, é esclarecedora quanto ao retrocesso cívico que ele identifica: as pessoas hoje são menos humildes e têm a mania de que tudo lhes é devido, “estão sempre a reclamar, acham que têm direitos, mas esquecem-se de que também têm deveres”, diz. E dá vários exemplos de como uma profissão de que gostava e lhe dava prazer se transformou “essencialmente numa necessidade de ganhar dinheiro”, fazendo-o sonhar com a reforma. Simples, mas ilustrativo de como a falta de civismo afecta a vida de todos, em especial dos que são obrigados a conviver com quem não sabe as elementares regras de vida em sociedade, seja nos transportes, seja nas escolas, nos hospitais, nas praias ou até nos condomínios. Um pouco de “etiqueta”, como lhe chamam os publicitários da medida, pode tornar a vida bem mais agradável…e sem custos, por enquanto um sorriso ou um gesto amável ainda não pagam imposto!

6 comentários:

Catarina disse...

Também li esse artigo hoje e o respectivo manual para me certificar se haveria algo de novo. Mas não. Tudo o que lá está é o habitual do que não se deve fazer... ou fazer. As pessoas têm que ser lembradas, tal como os garotos. Que exemplos poderão estas pessoas dar aos seus filhos...

Bartolomeu disse...

É verdade, cara Drª. Suzana Tosacano. A forma alienada como hoje se invade o espaço alheio, é revoltante, sobretudo para aqueles que receberam uma educação, no sentido de respeitar e auxiliar o seu semelhante e que sempre pautaram as suas vidas com base nesses princípios.
Mas, se olharmos em redor, conseguimos identificar inúmeros motivos que influenciam as atitudes humanas mais degradantes.
No(s) nosso(s) emprego(s), por exemplo, onde são verificadas atitudes discriminatórias por parte das chefias, as quais resultam em prejuízo psicológico e material, para aqueles que são vítimas dessa forma alienada de "mandar".
É fácil, hoje em dia, depararmo-nos com pessoas desmotivadas, amarguradas, sem alento, sem objectivos, que tal como o condutor da SCTP, aguardam feitos Zombi, pelo dia da reforma e que se mantêm nos empregos, porque daí retiram a sua forma de sustento.
E... cara Drª. Um país onde as gentes perderam a capacidade de sonhar e onde os objectivos se esfumam em encolher de ombros, um país onde cada um olha o outro como um obstáculo... é um país sem futuro, um país de mortos-vivos.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Para um Manual que pretende ser um guião de comportamentos de boa "etiqueta" o termo "peixeirada" é desadequado:
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Evitar peixeirada

Quando se gera uma discussão, as outras pessoas devem manter-se caladas, senão cria-se uma "peixeirada" que pode causar mais desacatos.
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Talvez que o público a quem se destina o Manual seja o da "peixeirada", mas convenhamos que também há terminologia que deveria ser banida de uma linguagem que se quer, a meu ver, cuidada.

Catarina disse...

Também reparei, cara Margarida, no termo “peixeirada”, mas até pensei que fosse algum neologismo ... : )

Suzana Toscano disse...

Esse termo não vi, está visto que resolver recorrer ao realismo radical da linguagem figurada para serem entendidos...