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domingo, 1 de agosto de 2010

Esse povo que ainda somos


O Expresso (lamento mas não consegui fazer o link) inclui hoje um interessante caderno sobre Portugal e o Japão, a propósito da celebração dos 150 anos da assinatura do tratado de Paz e Comércio entre os dois países, quando o Japão pôs fim ao isolamento a que se tinha votado desde meados do séc. XVII. O “Encontro das duas culturas” título do texto da capa, conta-nas as reacções de cada um dos lados perante os estranhos que chegavam ou que encontravam. Do lado japonês, os portugueses foram descritos como “bárbaros do sudoeste, comerciantes, que até certo ponto compreendem a distinção entre superior e inferior”, mas sem que se entendesse bem se chegava a haver regras claras entre eles. O que mais os surpreendeu foi que os portugueses “mostram os seus sentimentos sem nenhum rebuço (...) mas no fundo são gente que não faz mal”. Os nossos descobridores ficaram muito bem impressionados com a gentileza e a suavidade dos japoneses, que “estimam mais a honra que nenhuma outra coisa” e que “tem uma linda conversação, que parece que todos elles se criaram em paços de grandes senhores (...) murmuram pouco dos seus proximos e a nenhum teem inveja”. É curioso ver como no que descobrimos de estranho nos outros nos retratamos a nós...
A história documentada do encontro destes dois povos e destas duas culturas e religiões tão diferentes é uma maravilha da capacidade de ver para além das aparências, da curiosidade e da vontade de entender em vez de impor ou desprezar.
A entrevista do embaixador do Japão recupera de forma notável a memória dessa empatia que houve há séculos e reconhece com simplicidade a importância que os portugueses tiveram no Japão e de que hoje ainda há vestígios nítidos, incluindo nalgumas palavras comuns, como bolo e pão. Nas escolas japonesas aprende-se a história da passagem dos portugueses e da sua importância para a evolução do Japão na época. “Vocês deviam fazer o mesmo”, diz o embaixador “ensinar a cultura e ahistória dos paises por onde passaram, como a Índia e China. Estão aperder a vossa memória”.
Hoje, como no século XVI, podemos aprender a gostar mais de nós através do olhar dos outros, que nos lembram o povo que fomos e somos capazes de ser.

4 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Excelente apontamento, Suzana. Ainda não li o caderno sobre Portugal e o Japão.
Achei muito importante o que disse o Embaixador do Japão sobre a importância de nas escolas ensinarmos e aprendermos a cultura e a história dos países com que nos cruzámos no passado e que moldaram e marcaram o nosso percurso enquanto povos do mundo.
Este conhecimento recíproco permite um melhor entendimento não apenas das nossas histórias enquanto tais, mas pode ser uma vantagem para um relacionamento mais vasto num mundo globalizado.

just-in-time disse...

Três lembranças, três achegas:
- em 1976 assisti na Unesco à exposição dos biombos sobre a chegada dos portugueses ao Japão e à cerimónia do chá, com toda a gentileza que os caracteriza.
- em 1980 estive na apresentação do livro do Embaixador Martins Janeira sobre o Japão, em que ele insistia sobre a celeridade do processo de modernização do Japão: afinal 150 anos!
- em 1988 presenciei, nos EUA, como é que os japoneses, no Japão, reagiam a baixa do US$: produzindo os automóveis destinados aos EUA durante a noite, para aproveitaram a baixa das tarifas eléctrica.
Aqui temos 3 achegas para reflexão.

Pinho Cardão disse...

Oprtuno texto, cara Suzana e excelente apontamento, car just-in-time.

jotaC disse...

O embaixador tem toda a razão, mas nós por cá estamos mais preocupados em evitar que os mocinhos fiquem com os olhos em bico de tanto estudarem...