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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A aula de dança


A jovem ficou muito contrariada por não poder ir àquela aula na Escola de Dança que frequentava em Roterdão. Tratava-se de um único seminário que seria dado por uma professora, já com mais de 60 anos que, nos seus tempos áureos, tinha sido bailarina de dança moderna, uma referência para todos os que a conheciam e tinham podido aprender com ela.
Hesitou uns dias, receando não ser bem recebida, a sua área era a dança oriental, será que ela ia levar a sério o seu interesse?, mas depois ganhou coragem e mandou-lhe um mail, tive muita pena de não ter podido ouvir a sua aula, gostava tanto que me ensinasse o que perdi, pode dar-me uma aula individual? A senhora respondeu-lhe prontamente, manifestou-se encantada por encontrar uma jovem tão interessada, o que mais pode desejar uma professora? E marcou-lhe uma hora, dizendo ainda que tinha muita curiosidade pela dança oriental, ela só tinha feito dança moderna mas estava na altura de aprender, também ela, as técnicas e os segredos dessa dança que fascina as jovens de hoje. E brincou, dizendo que nunca tinha tido coragem de pedir a uma aluna que lhe desse uma aula de dança oriental…
Começou aí uma colaboração fantástica, a bailarina de sessenta anos e a jovem estudante de dança oriental. Numa das aulas, a professora disse-lhe qual era, a seu ver, a maior dificuldade da aluna, e que essa dificuldade era que ela se fixava nos defeitos em vez de desenvolver as qualidades, que essa atitude era redutora e não a deixava progredir. A aluna espantou-se. "Mas então não tenho que trabalhar para que os pontos fracos se atenuem ou deixem de o ser?" -" Não", disse ela, "tens que te concentrar no que são as tuas qualidades, essas é que te vão dar o brilho e fazer a diferença, senão gastas energias, não te aperfeiçoas e tudo fica apenas no plano médio. E, se tens ambição, acabas por desistir. Pelo contrário, se trabalhares bem as qualidades, os pontos fracos vão perdendo importância, ganhas confiança e aprendes a defender-te deles. Não tomes isto como uma facilidade, pelo contrário, é um caminho de grande exigência e humildade, porque se te fixares nas qualidades não tens desculpa para não progredir. Temos que saber quais são os nossos pontos fracos, sem dúvida, mas para que eles não nos traiam, para que não se sobreponham às qualidades e as abafem. Defende-te deles, mas o que tens que trabalhar são os pontos fortes, se queres ser excelente no que escolheres fazer na vida".

5 comentários:

Bartolomeu disse...

Começam a observar-se sinais desta aproximação intercambial, entre professores e alunos.
É discutível se este é efectivamente o caminho do progresso, se o reflexo dos sinais dos tempos, ou se a globalização e o facto da intercomunicabilidade conduzem a um estado de fragilidade, que faz com que ambos percebam a necessidade de se apoiar mútuamente.
Para além dos conhecimentos académicos, sabemos por experiência, que o intercâmbio de conhecimentos e saberes, enriquecem as capacidades de cada um e a comunidade só ganha com sua prática efectiva.
Conhecer as próprias fraquezas e consolidar os ponto fortes, é indubitávelmente um exercício que todos nós devemos praticar diáriamente, na minha opinião, sem ter como finalidade a supremacia, relativamente aos da nossa espécie.

Ana Rita Bessa disse...

Grande sabedoria :)Díficil sobretudo quando a "lente" auto e socialmente imposta incide sobre o que ainda falta. Mas certamente uma atitude a por em prática. Já hoje.

Pinho Cardão disse...

Boa lição de vida!...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
A história que nos conta mostra-nos uma cultura positiva de viver a vida, uma mentalidade diferente de nos encararmos a nós próprios e encararmos os outros. É uma lição de liderança e tolerância.

Suzana Toscano disse...

É um caminho de aperfeiçoamento pessoal, caro Bartolomeu, não tem nem deve ser determinada para qualquer supremacia sobre os outros.Já se lê nos Evangelhos,"que fizeste tu dos talentos que te dei a guardar?"
Cara ARB, já tarda :)
Também me pareceu, caro Pino Cardão, por isso a contei. Mas não é só para as pessoas, os países também podem experimentar a receita, a começar pelo nosso.
Margarida, para nós realmente parece estranho, a abertura a quem quer melhorar, a simplicidade no modo como se encara o que parece diferente, a oportunidade a quem quer progredir, enfim, uma cultura positiva, como diz, que faz toda a diferença.