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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A equidade fiscal

Era uma vez dez amigos que se reuniam todos os dias numa cervejaria para beber e a factura era sempre de 100 euros. Solidários, e aplicando a teoria da equidade fiscal, resolveram o seguinte:
• os quatro amigos mais pobres não pagariam nada, o quinto pagaria 1 euro, o sexto pagaria 3, o sétimo pagaria 7; o oitavo pagaria 12; o nono pagaria 18 e o décimo, o mais rico, pagaria 59 euros.
Satisfeitos, continuaram a juntar-se e a beber, até ao dia em que o dono da cervejaria, atendendo à fidelidade dos clientes, resolveu fazer-lhes um desconto de 20 euros, reduzindo assim a factura para 80 euros.
Como dividir os 20 euros por todos? Decidiram então continuar com a teoria da equidade fiscal, dividindo os 20 euros igualmente pelos 6 que pagavam, cabendo 3,33 euros a cada um. Depressa verificaram que o quinto e sexto amigos ainda receberiam para beber.
Gerada alguma discussão, o dono da cervejaria propôs a seguinte modalidade que começou por ser aceite:
• os cinco amigos mais pobres não pagariam nada;
. o sexto pagaria 2 euros, em vez de 3, poupança de 33%; o sétimo pagaria 5, em vez de 7, poupança de 28%; o oitavo pagaria 9, em vez de 12, poupança de 25%; o nono pagaria 15 euros, em vez de 18.
• o décimo, o mais rico, pagaria 49 euros, em vez de 59 euros, poupança de 16%. Cada um dos seis ficava melhor do que antes e continuaram a beber. No entanto, à saída da cervejaria, começaram a comparar as poupanças.
-Eu apenas poupei 1 euro, disse o sexto amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10!... Não é justo que tenhas poupado 10 vezes mais…
- E eu apenas poupei 2 euros, disse o sétimo amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10!...Não é justo que tenhas poupado 5 vezes mais!…
E os 9 em uníssono gritaram que praticamente nada pouparam com o desconto do dono da cervejaria. “Deixámo-nos explorar pelo sistema e o sistema explora os pobres”, disseram. E rodearam o amigo rico e maltrataram-no por os explorar.
No dia seguinte, o ex-amigo rico emigrou para outra cervejaria e não compareceu, deixando os nove amigos a beber a dose do costume.
Mas quando chegou a altura do pagamento, verificaram que só tinham 31 euros, que não dava sequer para pagar metade da factura!...
Aí está o sistema de impostos e a equidade fiscal.
Os que pagam taxas mais elevadas fartam-se e vão começar a beber noutra cervejaria, noutro país, onde a atmosfera seja mais amigável!...
David R. Kamerschen, Ph.D. -Professor of Economics, University of Georgia (tradução livre de A. Pinho Cardão)

8 comentários:

Suzana Toscano disse...

Ontem uma empresária que tem uma média empresa que funciona bem e emprega cerca de 30 pessoas contou que recebeu aviso de penhora por causa de uma dívida de 1400 €. Outro, que tem uma empresa de turismo habitação no Portugal profundo, foi intimado a apresentar prova de que a casa do monte, que tem mais de 100 anos, e as casitas recuperadas na herdade, que eram as casas dos pastores que agora aluga a turistas, têm em ordem o teste de resistência à sonoridade, sendo que cada teste (as casitas são espalhadas pelos campos)custa 450 €. Não sei o que acontece se não fizer o tal teste ou se o teste der que as casas da herdade deixam passar o ruído dos chocalhos das vacas, mas quando perguntei a resposta foi:sou obrigado a ter prova de que fiz o teste senão não posso alugar as casa para fins de semana.

Carlos Monteiro disse...

Cara Suzana,

Compreende-se a dificuldade que muitas das burocracias causam aos empresários, mas agora não nos vamos escandalizar de cada vez que lhes peçam alguma coisa.

Se por exemplo queremos turismo de qualidade, que se imponham regras que conduzam à qualidade.

Caso contrário voltemos à casa da ginjinha que tinha água suja pelos tornozelos e cujo encerramento escandalizou tanta gente.

Pode não ser aplicável ao caso que se refere, mas há que elevar a fasquia.

Suzana Toscano disse...

Caro cmonteiro, completamente de acordo, a qualidade é, além do mais, uma condição de sobrevivência e não podemos confundir o "típico" ou o rural com falta de qualidade. Acontece que às vezes pecamos por excesso e caimos em exigências absurdas que, sendo tão nocivas como a bandalheira, devem ser combatidas, geram uma falsa economia que é a dos serviços inúteis e caros a coberto da "exigência" sem sentido. Pelo menos, pareceu-me o caso, por isso o relatei.Mas andamos sempre a hesitar entre dois extremos...

Anónimo disse...

Caros Suzana e cmonteiro,

O problema não está na necessidade de qualidade mas sim em quem a define ou impôe. Será que o conhecido da Suzana é burro e não sabe qual o nível de serviço que deve prestar?

Tenho assistido nos últimos anos à proliferação de regras que pretendem impor níveis de qualidade em muitos sectores de actividade. Na minha opinião tem sido uma das razões do estado de penúria das empresas. A qualidade é um conceito associado à satisfação das necessidades dos consumidores e não daquilo que o estado pensa ser as mesmas necessidades. É mais um mecanismo de regulação da oferta e procura que o estado pretende viciar.

Suzana Toscano disse...

Caro Agitador, temos que reconhecer que sem essas exigências também não haveria o esforço de qualidade pelo menos nos segmentos que não são de luxo. O problema é que os absurdos estragam tudo e levam a que se legitime que não se cumpra nem o que é a mais nem oque era devido. Se os empresários reconhecessem as vantagens e a sensatez dessas exigências não esperariam pela multa para as realizar.

Bartolomeu disse...

Glosa

Compreende-se sem esforço
Que em tudo o que é fiscal
Tendo em conta este esboço
A equidade é fatal!

Rompe-se qualquer amizade
Estando na causa do mal
Estar sujeito à equidade
Aquilo que fôr fiscal

O remédio para este mal
Que causa grande debilidade
É não conferir ao fiscal
Qualquer tipo de equidade

Ou então para se manter
A velha e pura amizade
Ha que beber p'ra esquecer,
Mandar a conta à fiscalidade
Deixar a vida correr,
Com toda a tranquilidade!
;)

Tonibler disse...

Se os impostos fossem justos não eram impostos. Por isso existe o dever patriótico de não os pagar.

gopher disse...

Contado assim, até parece tudo certinho. O problema é que, na vida real, acontece algo completamente diferente. O que acontece é que o rico vai-se embora, sim senhora. Mas o dono da cervejaria exige que continue a ser pago os 80 euros de sempre porque tem despesas que têm de ser pagas. E os mais pobres têm de pagar porque não têm mais cervejarias para onde ir.