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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

As revelações no WikiLeaks vistas por Umberto Eco

"...vejamos a natureza profunda do que aconteceu. Outrora, no tempo de Orwell, podia-se conceber todo o poder como um Big Brother, que controlava cada gesto dos seus súbditos. A profecia orwelliana confirmou-se plenamente desde que, controlado cada movimento por telefone, cada transação efetuada, hotéis utilizados, autoestradas percorridas e assim por diante, o cidadão se foi tornando na vítima integral do olho do poder. Mas quando se demonstra, como acontece agora, que mesmo as criptas dos segredos do poder não escapam ao controlo de um pirata informático, a relação de controlo deixa de ser unidirecional e torna-se circular. O poder controla cada cidadão, mas cada cidadão, ou pelo menos um pirata informático – qual vingador do cidadão –, pode aceder a todos os segredos do poder.
Como se aguenta um poder que deixou de ter a possibilidade de conservar os seus próprios segredos? É verdade, já o dizia Georg Simmel, que um verdadeiro segredo é um segredo vazio (e um segredo vazio nunca poderá ser revelado); é igualmente verdade que saber tudo sobre o caráter de Berlusconi ou de Merkel é realmente um segredo vazio de segredo, porque releva do domínio público; mas revelar, como fez o WikiLeaks, que os segredos de Hillary Clinton são segredos vazios significa retirar-lhe qualquer poder. O WikiLeaks não fez mossa nenhuma a Sarkozy ou a Merkel, mas fez uma enorme a Clinton e Obama" - Umberto Eco, no Liberation.

4 comentários:

Catarina disse...

Alguém que quis imitar Michael Moore mas que ultrapassou e abusou do seu direito de liberdade de informação de maneira irresponsável e por razões infames?

Francisco disse...

Os documentos publicados tem informação séria que está em desacordo com a postura anunciada publicamente pelos autores dos documentos.
Enquanto os media, comentadores e políticos consumirem o tempo discutindo o mensageiro as notícias são esquecidas.

Tonibler disse...

Eu fiquei muito surpreendido por saber que os alemães elegeram um chanceler chato e que o Berlusconi faz festas selvagens. É que tirando as primeiras páginas dos jornais todos, nunca ninguém tinha dito isso.

Suzana Toscano disse...

Caro Tonibler, mas os jornais ficaram radiantes por terem agora documentos "secretos" a provar que essas "acusações" eram todas verdadeiras. O que quer? Tudo isto acaba por ser uma enorme feira de vaidades...