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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Morte lenta dos Certificados de Aforro prossegue...

1.Um dos temas que há cerca de 3 anos mereceu bastante discussão e agora quase caiu no esquecimento (eu não esqueci), é o da agonia dos Certificados de Aforro (CA), depois de o Governo em funções em 2008 lhes ter dado uma brutal “machadada”.
2.Essa “machadada” consistiu na alteração, para muito pior, das condições de remuneração dos CA em geral, com a agravante de abranger aqueles que já estavam emitidos (da série B) em condições de remuneração assumidas pelo Estado que assim não honrou um compromisso em que os aforradores haviam baseado a decisão de aplicar as suas poupanças...MFL bem se insurgiu na altura, mas sem qq resultado...
3.Começou aí uma hemorragia que nunca mais parou até aos nossos dias, como se pode concluir dos dados sobre a dívida pública para Agosto último: de um total de € 17.648 milhões em Janeiro de 2008 (15,84% da dívida directa do Estado) - valor mais elevado registado - o saldo dos CA caiu em Agosto último para € 12.466 milhões (7,38% da dívida directa do Estado), uma hemorragia de € 5.182 milhões ou seja quase 30% do saldo de Janeiro de 2008.
4.Entretanto em Julho de 2010 começaram a ser emitidos os Certificados do Tesouro (CT), que o mesmo Governo entendia serem os substitutos "perfeitos" dos CA: o total de CT emitidos desde Julho de 2010 até Agosto último totalizou € 1.267 milhões, enquanto que no mesmo período o saldo dos CA baixou € 3.835 milhões - quer isto dizer que os CT terão substituído os CA em apenas 1/3, os outros 2/3 terão ido para outras aplicações...
5.Como tive oportunidade de comentar em Posts passados, esta política revelou-se dificilmente compreensível, um absurdo mesmo, uma vez que implicava prejuízo para os aforradores, obviamente, mas tb para o próprio Estado que foi obrigado a substituir dívida interna por dívida externa com um custo muito mais elevado...
6.As explicações “esfarrapadas” que na altura foram divulgadas por um membro da equipa do Min. Finanças deixaram-me estupefacto pois no essencial consistiram em dizer que o Estado não podia estar a subsidiar os investidores!
7.Quer dizer que para deixar de subsidiar investidores o Estado se foi financiar a taxas ainda mais elevadas?! Mas como entender tal raciocínio? E como entender que os novos financiadores, beneficiários de taxas de juro bem mais elevadas, já não caibam no conceito de subsidiados?
8.Neste ponto ocorre fazer duas perguntas:
1) Se tanto o Estado como os aforradores perderam com este negócio, quem é que terá ganho com o mesmo?
2) Será que toda a gente se resignou e vamos continuar a assistir à morte lenta dos CA, com o Estado sempre a perder?
9.Responda quem sabe...

6 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Dr. Tavares Moreira
Não encontro uma resposta satisfatória para as suas interrogações. A hemorragia vai continuar e outra coisa não será de esperar se o governo não alterar as condições de remuneração dos CA.
Seria de esperar que o fizesse, num momento em que é necessário estimular a poupança interna, reduzir o financiamento externo e desonerar os elevados custos do serviço da dívida.

Buíça disse...

Muito bem visto. Alguma "hemorragia" será natural numa altura de crise em que as pessoas estão endividadas e precisam de recorrer às suas poupanças. O resto suspeito que seja pressão dos bancos para que esta alternativa de poupança não seja demasiado "competitiva"...

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Perguntas muito pertinentes, sem sombra de dúvida. Curioso, também, a não ser que eu tenha andado distraído - o que desde já peço desculpas, sendo o caso -, o absoluto silêncio do actual Ministro das Finanças sobre este assunto.

Gonçalo disse...

Desta forma se garantem as fugas de capitais do País. Para colocações no exterior, menos remuneradas, mas mais seguras.
Capitais que depois voltam travestidos em apoios do FEEF ou do BCE a taxas bem mais altas.
Acabamos por pagar nós. Através das imposições da troika para que esse dinheiro (necessário) possa vir (voltar).

Anthrax disse...

Mmmm, quero dizer uma coisinha...

Não percebi nada!

Dos detalhes, isto é. Os detalhes, são conversa para todos os outros, que percebem de pesca, menos eu.

No entanto, do ponto 6 para baixo, acho que percebi.

O Dr. TM está, por acaso, a dizer que o Min. das Finanças disse que não podia estar a subsidiar os investidores portugueses e depois opta por ir subsidiar os investidores estrangeiros a uma taxa de juro mais elevada?

É que se for isso, eu não consigo perceber qual é a lógica (se é que há uma, porque assim de repente parece-me algo bastante irracional até).

Tavares Moreira disse...

Cara Margarida,

Vamos então esperar para ver...só espero não ter de ficar à espera indefinidamente...
Compreendo que não vai ser fácil, agora com os novos Certificados do Tesouro a complicar e a competir, mas parece-me de elementar necessidade a revisão desta situação.

Caro Buiça,

Está a abrir uma pista de explicação para a patética decisão da política de financiamento do Estado que o anterior Ministério das Finanças protagonizou...

Caro Eduardo F.
Não me custa admitir que o actual Ministro tenha outras prioridades até à aprovação do OE/2012...
Mas depois disso, será tempo de olhar para esta situação e adoptar algumas providências, parece-me...

Caro Gonçalo,

Nem mais, isto que aparentemente é apenas uma questão de política de financiamento do estado acaba por contribuir para o processo geral de empobrecimento...
É uma componente eminentemente voluntária do empobrecimento...

Cara Anthrax,

É isso mesmo, o seu reaciocínio está certo: acabar com a tal "subsidiação" mediante a oferta de um "subsídio" mais elevado a 3ºs...brilhante, não acha?