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segunda-feira, 22 de abril de 2013

A futebolização da informação

Ia há pouco no carro, e dei por mim a ouvir o programa da Antena 1, dito serviço público, que se dedicava a recolher a opinião dos ouvintes sobre swaps de taxas de juro, matéria que terá provocado a demissão de dois Secretários de Estado. Independentemente de tal tema não ser passível de debate público sério, face ao perfil dos habituais ouvintes interventores, a senhora jornalista revelava-se absolutamente ignorante da natureza do produto que apresentava a debate. De facto, tudo denotava que a matéria lhe era absolutamente estranha, até a própria pronúncia da palavra swap, no início do programa. De tal modo que, quando um “especialista” lhe explicava que tais contratos, efectuados num tempo em que se perspectivava subida das taxas de juro, tinham como objectivo minimizar eventuais efeitos negativos dessas previsíveis subidas, substituindo taxas variáveis por taxas fixas, a senhora perguntou se isso não visava, antes, aumentar os prejuízos.
No meio de tudo isto, os contornos da operação não interessam; a conjuntura em que foi feita, irrelevante; que os prejuízos sejam reais ou potenciais, perfeitamente indiferente; ou que, no fim do contrato, os benefícios se possam tornar reais, sem significado. Não interessa o tempo, nem o modo, nem a maturidade, nem o montante, nem qualquer juízo de prudência ou imprudência face ao enquadramento global da operação.  
Enfim, mais um exemplo da desinformação que a discussão mediática de questões técnicas complexas nos traz diariamente. Toda a gente é capaz de ter palavra decisiva sobre tudo e mais alguma coisa. A futebolização da informação tudo abrange e tudo permite.

13 comentários:

jotaC disse...

Pois, até já dizem que a metro Porto perde 3 MIl Milhões!? Estes jornalistas têm de ser todos reciclados, só pode...

Tonibler disse...

Há uns dias diziam que as empresas públicas perdiam dinheiro porque se tinham metido no casino dos derivados. Imagino que eu ando a perder dinheiro com os seguros de vida, podia já ter morrido e não morri.... Mas olhem que eu ouvi à hora de almoço um suposto professor universitário a falar dos swaps e claramente percebia tanto disso como eu de cultivo de cebolas, pelo que devem andar a contratar os jornalistas nas faculdades de economia :)

Pedro disse...

Eu confesso que sobre os "swaps" que nos trousseram a este longo "swamp" onde nos encontramos pouco sei.

Pelo que, dáda a minha falta de conhecimento tecnico, me abstenho "violentamente" de discutir os profundos e intrincados detalhes tecnicos.

No entanto, se os supostos "responsaveis" foram substituidos, e ao que nos é dado saber pelas noticias (que julgo não terem sido desmentidas), parece-me que de facto terá existido alguma incuria (ou tlvz só muito azar).

Pelo que é dito nas noticias, as consequencias são de uma grandeza consideravel - o numero mais pequeno que li, foi algo na ordem dos 800 milhoes.

Continuo sem ter forma de debater os detalhes do "swap"...

...mas ainda assim consigo perceber bem as consequencias nefastas desses "swaps" neste nosso "swamp".

E sem ser tecnico...fico triste, por ver que lá se terão ido 800 milhoes de "sacrificios", e "lavar dentes com troneira fechada", e "bifes todos os dias -NÂO!"....por agua a baixo.

de pouco servirá o esforço colectivo, se depois é buraco aqui..."swap" ali...."PPP" acolá!

(há que pelo menos louvar a detecção e - pelo menos aparentemente - a prontidão e abertura com que o caso estará a ser tratado)

Elisiário Figueiredo disse...

Com toda a certeza que existirá uma explicação, como hei-de dizer, assim como "explica-me como se eu fosse muuuuiiito burro" sobre o que são swaps, eu não sei o que é mas não me quero abster de discutir, talvez o camarada Tonibler possa deixar aqui umas dicas.

alberico.lopes disse...

A ignorância de jornalistas e comentadores escolhidos a dedo é confrangedora!Falar em "swaps" sem saber mesmo como funcionam,e a que se destinam,agora virou moda!E no fundo é tão simples. Trata-se de uma precaução que muitas empresas tomam,com vista a não terem prejuizos com eventuais subidas da taxa de juro. E já não são de agora!Estes casos,ao que li,já vêm de 2006. Grosso modo,é como se se tratasse de um crédito à habitação em que,uma pessoa,com medo que as taxas de juro aumentem,em vez de contratar a taxa variável,optam pela taxa fixa. Quem tiver feito esta opção,por exemplo,a partir de 2009,estará a perder muito dinheiro. Tão simples,como isto!Mas já agra,sr.Pedro:"TROUSSERAM"? Lá que não se saiba de "swaps",não o desculpa não saber gramática!

Pedro disse...

Alberico, tem toda a razão! uma coisa não desculpa outra.

No entanto, a "escrita" nos comentários é algo que me sai em directo, e sem grandes revisões.
(não serve de desculpa, mas convenhamos que o "ambito, contexto e informalidade" deste meio...ajuda a aliviar o rigor!)

De todas as formas, só a titulo de exemplo, se revir o seu comentário encontrará por certo erros de gramatica. Pois que o facto do Alberico saber de Swaps e de gramatica, não o impedem de incorrer em erros. (vide: "em que,uma pessoa...optam")

Algo que me parece natural.

Pelo que todas as correcções e reparos só podem ser positivos ,o) !

Tonibler disse...

Camarada Elisiário,

Swaps são trocas de factores de risco.

Estes de que falam devem ser de taxa de juro. Imagine o camarada que tinha um empréstimo para a casa de 1 000 000 euros (toda a gente sabe que o pessoal do avental vive à grande!) tinha contratado com o banco uma euribor +1%. De que é que tinha medo? Que a euribor viesse por aí acima e começasse a tenir com os juros. Mas há quem tenha o problema contrário, quem tenha taxas fixas e tem medo da taxa fixa? Há, chamam-se bancos. Os bancos pagam taxa fixa aos depositantes a prazo e se a euribor desce eles não conseguem colocar o dinheiro no mercado ao preço que estão a pagar. Então o que se faz, põe-se o dinheiro da empresa a taxa fixa e a do banco a variável. Como? Faz-se um swap! Define-se um montante (o "nocional", no seu caso 1 000 000 euros) e o banco paga-lhe euribor (que corta com a do emprestimo) e o camarada paga ao banco taxa fixa. Ou seja, trocou a taxa variável que tinha pela fixa. É como se tivesse feito um seguro contra as subidas de taxa no mercado. Muito provavelmente, nas empresas públicas em questão, até foram obrigados a isso pelos consórcios que financiam as obras para que não hajam riscos adicionais no negócio.

Claro que com as taxas em baixo o swap está a favor do banco, mas o crédito está contra. Pelo crédito as empresas estão a pagar muito pouco.

jotaC disse...

Ora o nosso caro Tonibler atravessou-se e cá está a explicar o "fenómeno". Partilhar o conhecimento é um ato de grande elevação, sem dúvida...

manuel.m disse...

Estou plenamente de acordo que constitui um verdadeiro desaforo, um atrevimento, que pessoas ignorantes discutam coisas que deveriam ser deixadas ao elevado saber de reputados economistas que não tardarão a esclarecer a plebe,agora que R&R caíram do altar,o porquê que uma divida pública elevada não causa um menor crescimento da economia,mas é afinal exactamente o inverso.Tenhamos fé e far-se-á luz nas trevas.
manuel.m

Carlos C disse...

Pois! Já todos começamos a perceber o que é isso de SWAP. Só falta saber, com que responsabilidade alguém detem autoridade para assinar instrumentos financeiros quando os riscos dos mesmos vão ser suportados por terceiros. Neste caso, mais uma vez e sempre, o contribuinte. Até onde vai este regabofe é que já ninguém entende

Rui Fonseca disse...

Caro António,

Não vamos culpar o mensageiro, por mais ignorante que seja, para minimizar a realidade.

A notícia (das operações de swap) só é agora notícia porque sairam dois secretários de estado presumindo-se que haja correlação entre a saída e o seu envolvimento na negociação dos contratos. As perdas resultantes já tinham sido noticiadas na segunda semana deste ano em todos os media. Por que levou tanto tempo o apuramento de responsabilidades, que, segundo a imprensa de hoje, ainda não estão esclarecidas, é um mistério.

Porque, das duas uma: ou os administradores que negociaram os contratos estavam autorizados pela tutela a fazê-lo nos termos em que os realizaram, ou não. Se estavam, a responsabilidade transfere-se para quem autorizou operações que nunca deveriam ter sido realizadas por gestores que não tinham instrumentos para fazer o hedging com outras operações de risco contrário; se não estavam, devem ser pessoalmente responsabilizados por dolo e gestão danosa. Quando não há hedging há jogo, e o jogo, tanto quanto julgo saber,não é consentido quando as paradas são feitas com dinheiros dos contribuintes.

Tudo isto é susceptível de ser apurado em três tempos.
A demora só pode justificar-se pela tentativa, parece que infrutífera, para desculpabilizar os infractores. De qualquer modo, em cada dia que passa sem que o governo informe os portugueses do que se passou, sobem as suspeitas de conivência entre compadres.

Salvo melhor opinião

alberico.lopes disse...

Realmente,devia ter escrito "OPTA"!Obrigado,Pedro!

Pinho Cardão disse...

Caro Rui:
Percebeste já o que está em causa? Eu, não.
E a senhora da Antena 1 e os ouvintes opinadores também não.
Portanto, viva a informação objectiva!