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domingo, 21 de abril de 2013

Austeridade e doenças


Aumenta o número de relatos por suicídio em Portugal. A par desta realidade, que ocorre igualmente noutros países da União Europeia, também se observa um crescendo preocupante das depressões e outras patologias que merecem ser analisadas. Na Grécia existem dados segundo os quais as infeções por VIH estão a aumentar entre os toxicodependentes num valor explosivo em apenas dois anos. Há suspeitas de que neste país algumas pessoas se infectam deliberadamente para obterem vantagens em termos de cuidados de saúde. Mas os casos não ficam por aqui, o stresse prolongado, devido à austeridade, perda de emprego, ameaça de insegurança e diminuição dos proventos, desencadeia reações a nível dos genes bastante complexas entre as quais o surgimento de inflamações crónicas que podem aumentar o risco de ataques cardíacos, depressão e cancro. Alguns dos fenómenos ocorrem de imediato, enquanto outros só irão aparecer ao fim de dois, três ou muitos anos depois do período de recessão. Os mecanismos despertados pelo stresse social e económico começam a ser compreendidos. É muito provável que os efeitos venham a ocorrer mais tarde. Sabe-se desde há muito que os que nasceram em períodos de crise vivem menos e sofrem patologias graves. O caso das grávidas é particularmente preocupante, porque a gestação sob o efeito do stresse provoca modificações na expressão de muitos genes com consequências graves para o futuro da criança. Numa altura em que nascem poucos portugueses, muitos, dos que irão nascer neste período tão crítico, adoecerão no futuro por fatores desencadeados aquando da sua gestação. Mesmo que venhamos a ultrapassar esta fase, as consequências em termos de saúde irão continuar a manifestar-se daqui a muitos decénios, ou, quem sabe, tudo leva a crer que sim, mesmo nas próximas gerações. 
As políticas e o comportamento dos seres humanos têm de tomar em conta estes aspetos, não é só o bem-estar que conta, mas também a saúde de muitos de nós e sobretudo dos que irão nascer, os quais sofrerão de todas as maneiras, até na saúde, devido a "causas" que não são da sua responsabilidade.
O homem é um ser louco e irresponsável. Não aprende, apesar de querer compreender, mas há algo, talvez também genético, que o impele a cometer sempre os mesmos erros. Não tem solução.

6 comentários:

Jorge Lucio disse...

Caro Prof. Massano Cardoso,

Ao ler este seu post recordei-me de um relatório já de 2009 de um watchdog no Reino Unido ("Audit Commission"): http://archive.audit-commission.gov.uk/auditcommission/sitecollectiondocuments/AuditCommissionReports/NationalStudies/whenitcomestothecrunch12aug2009REP.pdf

O Relatório dirigia-se especialmente aos "Local Councils", frisando a necessidade destes tentarem intervir socialmente, atendendo às mais que prováveis consequências sociais dramáticas, a nível de exclusão social, violência doméstica, alcoolismo, provocadas pela crise financeira. Isto no Reino Unido onde o que sucedeu nada, mesmo nada, tem a ver com o que se verifica hoje na Grécia, Espanha ou Portugal.

O homem é também louco e irresponsável como diz, porque às vezes até é capaz de antecipar as consequências dos seus actos, mas segue "alegremente" a caminho do abismo.

Massano Cardoso disse...

Obrigado, Jorge Lúcio, pelo relatório. Acabo de o descarregar.

Tavares Moreira disse...

Caro Professor,

Ocorre-me perguntar-lhe, caso seja possível provar, com precisão, que uma dessas enfermidades que menciona tem mesmo origem nas políticas de austeridade: não poderia essa enfermidade passar a ser designada por Austerite? Súbita, aguda ou crónica consoante o diagnóstico?
Faço-lhe esta pergunta por curiosidade, por ter vivido toda a vida rodeado de médicos, inclusivé na Família (Pai médico, Irmão médico, Sobrinho médico, este último recentemente seu aluno em Epidemiologia) e saber que a cada enfermidade pode ser atribuída uma designação, muitas vezes relacionada com a origem da mesma.

Bartolomeu disse...

Seja qual for a designação, sabe-se com precisão a origem do virus; chama-se Vitor Gaspar e apesar de pertencer a uma estirpe altamente perigosa, resistente a todos os tratamentos e vacinas que até agora a "ciência" tem tentado aplicar-lhe, para além de não o destruir, tem conseguido irrata-lo fazendo com o estado clínico dos infectados se agrave a cada dia!

Massano Cardoso disse...

Não creio que se possa criar uma nova entidade. Construir uma doença é dar-lhe uma "personalidade". O que acontece são fatores diversos que através de vários mecanismos comuns a outras situações provocam certo tipos de doenças. No caso concreto da "austerite" o que se passa são fenómenos de imunodepressão, de estimulação inflamatória (útil em situações agudas e concretas e maléficas em caso de estimulação contínua) e efeitos ditos epigenéticos, ou seja, modificação da expressão de certos genes, uns passam a estar "calados" (não funcionam) e outros "põem-se" a falar e a fazer disparates. Uma descoordenação que se prolonga pela vida e até pelos descendentes. Um aborrecimento que pode pagar-se muito caro. Estes são apenas três mecanismos, mas há ainda outros focalizados a nível do cérebro com consequências graves para o próprio e não só. Deste modo, constituem fatores que podem promover e desencadear vários fenómenos a nível oncológico, cardiovascular, mental, para focar os mais importantes

Paulo Pereira disse...

caros,

o estado português gasta 5% do PIB em saude, e grande parte é custo interno em pessoal que é quase totalmente reciclado em impostos.

o valor economico de uma população muito saudável é enorme pelo que é um sector , a par com o ensino (4% do PIB em despesa), que deveria ter o seu orçamento aumentado proporcionalmente em relação à despesa burocrática.