Quando José Manuel Fernandes fala de uma “cultura política que, no domínio da economia, é iliberal” não tem que se surpreender. A economia portuguesa viveu 150 anos (desde 1837) sob um dos regimes de maior protecção aduaneira e uma das mais reduzidas taxas de abertura ao exterior. Nem a adesão à EFTA conseguiu romper o autêntico muro que se levantou em torno da indústria e da agricultura portuguesas. Foram décadas de crescimento económico sem competitividade, sem concorrência, de baixa propensão à inovação tecnológica e de aproveitamento máximo dos baixos salários de uma mão-de-obra sem qualificação. Tudo isto para um país e uma economia que viveram até final da década de 60 com o peso esmagador de uma população activa empregue numa agricultura de subsistência, de baixíssima produtividade e de elevado analfabetismo. Ainda não refeita do primeiro impacto da integração na CEE a globalização comercial e financeira passou a ditar as suas leis.
Não é só no domínio da economia que a cultura política é iliberal. É na própria organização social. Sem uma estrutura de cidades médias e com um território bipolarizado entre o norte e o sul, as classes médias tenuemente se desenvolveram e raramente se afirmaram. Sublevaram-se no 5 de Outubro, apanharam a boleia dos militares no 25 de Abril, mas nunca superaram o velho poder das oligarquias na definição de um rumo para o país. As novas classes médias que polvilham os subúrbios das duas grandes cidades, cresceram à sombra do novo Estado Social da 3.ª República, vivem do engrossar da despesa pública e dos empregos directos e indirectos por ela criados. Como poderão ser sensíveis ao discurso liberal?
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