Os últimos dias têm sido assinalados por grande turbulência nos mercados financeiros.
Fervilham as notícias, as opiniões e os comentários sobre o que está acontecendo, quais as razões desta crise e as suas consequências.
Papel central tem sido protagonizado pelos Bancos Centrais das economias mais desenvolvidas, com relevo para o Banco de Reserva Federal nos USA e para o BCE.
Curiosamente, sendo esta crise supostamente de origem americana – com início no mercado hipotecário, em especial num segmento de maior risco deste designado “sub-prime” - o BCE viria a notabiliza-se, ao injectar no mercado montantes de liquidez superiores aos injectados pelo seu congénere americano.
É caso para observar como uma forte constipação no mercado financeiro americano ainda é capaz de produzir uma gripe aguda na Europa, ou pelo menos assim parece tal foi a dose de antibiótico injectado pelo BCE.
Ou então que a tão discutida Globalização está ainda mais avançada do que se supunha.
Dos muitos comentários que fui apanhando na minha janela de observação, nos últimos dias, retive um, atribuído a um suposto Especialista Não Identificado (ENI), editado ontem no nosso conhecido DE.
Para mim o mais divertido comentário no meio da lamentação geral.
Segundo esse ENI, a injecção de fundos pelo BCE poderia ter ou poderia não ter consequências inflacionistas, embora o título da notícia sugerisse mais a primeira consequência.
Transcrevendo:
“O BCE já injectou mais de € 200 milhões no sistema financeiro da Zona Euro. Normalmente, um aumento da quantidade de dinheiro em circulação gera pressões inflacionistas, em particular quando se trata de montantes desta magnitude”.
A seguir “ Mas se a falta de liquidez existente no mercado devido aos problemas relacionados com a crise nos mercados de crédito permitir ao sistema absorver todo o dinheiro disponibilizado pelo BCE, então estas injecções de liquidez não terão impacto em termos de inflação”.
Isto é, se o sistema financeiro não for capaz de absorver a liquidez injectada pelo BCE – supõe-se que nesse caso parte dessa liquidez ficará derramada pelos corredores e outros espaços das instituições financeiras, com evidente risco físico para um incontável número de funcionários e clientes, vítimas de quedas aparatosas – a inflação subirá, admite-se que em resultado de um aumento em flecha dos preços dos cuidados de saúde aos acidentados, não encontro explicação mais plausível.
Se, pelo contrário, as instituições tiverem capacidade para absorver toda a liquidez, ainda que com o risco de ficarem inchadíssimas, tal problema já não se colocará.
Falta saber se toda essa liquidez é não alcoólica...Pois se for, pelo menos em parte, os riscos de acidente poderão ser ainda mais elevados.
Ficamos todos esclarecidos?
17 comentários:
Caro TM,
permita-me a corecção, não são €200 milhões, são €200 MIL Milhões.
Ou seja,
esperam-se breves aumentos dos prémios das apólices de acidentes de trabalho, e com muita sorte pode ser que ainda se econtre algum desses "montes" de notas pelos corredores da JAE, ou da REFER :)
Caro Vírus,
Tem toda a razão, são 200 mil milhões.
Nesta conjuntura, € 200 milhões não davam para a "cova de um dente"!
E não haveria qq risco de inflação!
Entre os ENIs e muitos dos EEIs (especialistas encartados e identificados),venha o diabo e escolha, e leve-os todos para o inferno!...
Se bem percebi existem uns fundos de investimento de alto risco, o que pressupõe alta rentabilidade caso corram bem os investimentos, que nos EUA fizeram os seus negócios, empréstimos e investimentos, mas a coisa correu mal. Aumentou o crédito mal parado e as garantias não cobrem os investimentos realizados. Logo, quem possuía títulos desses fundos, correu a livrar-se do mal e vai de vender o problema. Muita gente a vendar e poucos interessados na compra levam os mercados a problemas de liquidez. Há apelos à calma e os Bancos Centrais avançam com milhares de milhões para olearem os mercados e arrefecerem o clima. Como os Bancos Centrais emprestam muito dinheiro para este fim, resta menos dinheiro, o que faz com que o seu preço aumente (juro).
Como resultado de tudo isto o Sr. Manuel da Silva, que não sabe bem o que é um fundo de investimento de alto risco, e ainda percebe menos do que eu de tudo o que foi escrito antes, vê aumentar a prestação que tem de pagar ao seu banco, pelo T2 que comprou na Brandoa.
- Sr. Manuel percebeu agora o que é esta globalização?
- Acho que sim, mais ou menos…
- Explico-lhe de novo. Houve senhores que fizeram negócios de risco para rentabilizar o capital que detinham, tentando ganhar umas boas massas. Mas como a coisa não lhes correu bem criou-se um problema. Como o mercado é global, o problema é de todos, logo também é seu. Percebe? Também sairá qualquer coisa do seu bolso.
- Mas e se o negócio lhes corresse bem? Também eu ganharia?
-Bem, ganharia pelo menos não perder o que vai perder agora. Mas francamente Sr. Manuel. Então os homens investem o dinheiro deles, correm riscos enormes, e você que está aí sem mexer uma palha ainda queria uma parte dos resultados do negócio? Francamente.
Bruno Simão
Pinho Cardão,
Não vale a pena zangarmo-nos com estes Comentadores encartados, capazes de emitir os maiores disparates exibindo sempre a postura séria e empertigada dos grandes pensadores do mundo.
Mais vale levar o caso para a brincadeira, como procurei fazer neste post.
De facto, defrontado com tamanhos dislates, restavam-me basicamente duas soluções:
- Desancar o Comentador, pondo a nú as múltiplas incoerências e o absurdo do seu raciocínio;
- Aproveitar para de uma forma bem humorada de interpretar esse absurdo.
Vá lá, não os vamos mandar para o inferno Pinho Cardão - que ainda tornamos o inferno ingerível...
Ora aí está um comentador que percebe de economia e globalização ás resmas...
A explicar assim a globalização da economia ao Sr. Manuel da Silva tá-se mesmo a ver que o homem vai perceber tudinho...
Tou de acordo com o TM... nem vale a pena desancar... Quem perceber minimamente do que se está aqui a falar já percebeu tudo!
Caro Bruno Simão,
Interessante a sua rábula, envolvendo um ilustre mutuário, Manuel da Solva.
Não é exactamente assim, mas está lá muito perto...
Aoler o seu comentário, despertou em mim a ideia de que é preciso lançar em Portugal uma homenagem ao Devedor Desconhecido (DD), tal como há algimas décadas se fez com o Soldado Desconhecido.
Seria lançado um concurso para selecção do monumento a erigir ao DD, o qual ficaria depois colocado nos principais centros urbanos do País.
Aceitam-se sugestões para outros detalhes da iniciativa...
Com sorte quem ganha o concurso é o cutileiro e passeremos a ter um monumento de tema desconhecido. Mas creio que a verdadeira preocupação, tal como no caso do soldado desconhecido, é evitar que o devedor desconhecido morra em guerras tão distantes.
Tem razão o virus, percebi perfeitamente o que estava em causa no texto de Tavares Moreira, mas a economia não é o meu forte. “De mísseis teleguiados até comida para cão” só mesmo o Nuno Rogeiro. Mesmo, assim, entre os nossos compatriotas não serei o mais mal informado. E aí temos um problema. É claro que todas estas pequenas, médias ou grandes crises do sistema financeiro têm explicações claras, lógicas e verdadeiras, ainda que difíceis, não serão exotéricas.
A sua cada vez maior frequência, e as consequências negativas que elas têm sobre a vida das empresas e dos cidadãos é que constitui um real problema para todos os Manueis da Silva, em especial para os Manueis da Silva portugueses. Já pouca paciência eles têm para perceber as mecânicas e as subtilezas do sistema, a braços que têm estado em conseguir sobreviver às consequências desse mesmo sistema. O Manuel da Silva, como o seu T2 na Brandoa, viu o seu encargo com o empréstimo da sua habitação crescer quase 20% num só ano. O Manuel da Silva vive num país, cujas dificuldades orçamentais do seu estado lhe têm exigido golpes de rins vários, nas reformas das prestações sociais, na legislação laboral, na contenção salarial, mas ele têm-se mantido confiante, colaborante e resignado. Ao mesmo tempo, vão-no desgastando as notícias de que a equidade na distribuição da riqueza no seu país é cada vez menor. Vai percebendo que o golpe de rins longe de trazer resultados é só para os Manueis. O Manuel da Silva pouco percebe de Economia, mas exaspera quando pensa nas suas economias.
O mais grave que pode acontecer com o arrastamento ou o agravamento da situação, é os Manueis deixarem de acreditar no sistema, sobretudo no sistema democrático. Sentido que este não os beneficia, alhearem-se dele. Nada é mais perigoso do que este cenário.
Quanto à globalização, não existam dúvidas, é um movimento inexorável, não contrariável, irreversível, em todas as suas dimensões. Com milénios de existência. Correndo riscos direi mesmo, que é a fase última de um movimento humano que começou com o que designarei por localização, nas primeiras comunidades sedentárias organizadas, passando à regionalização com os primeiros impérios militares e comerciais, dando o salto definitivo há cinco séculos com a expansão marítima europeia. Podendo com facilidade isto ser consensual, seguramente já não o será no que respeita à actual dimensão económica desse mesmo movimento. Situações como as repetidas crises dos mercados financeiros ou as deslocalizações a nível regional de actividades, com consequências sociais gravíssimas impelem-nos para uma nova abordagem desta dimensão. A falta de enquadramento normativo ao nível global, ao contrário que foi possível nas experiências nacionais ou regionais, torna a economia global um cavalo à solta capaz de destruir tudo à sua passagem. Claro que não serão já hoje os estados a poder regular e controlar estes movimentos, serão quanto muito instituições regionais, como a EU, daí a necessidade de estabilização institucional da União, os EUA, a China, o Mercosul, etc… Independentemente, das diferenças que nos podem separar em relação as concepções doutrinárias acerca do papel dos mercados nas sociedades humanas, a partilha de objectivos mínimos comuns de qualidade e estabilidade desses mercados permitirá, estou certo, alguns pontos de convergência.
Rábulas como a do Manuel da Silva, são caricaturas, como tal sempre empobrecidas de rigor.
Bruno Simão
Muito a propósito esta sua exegese em torno das crises do sistema financeiro e das suas consequências para o cidadão comum, caro Bruno Simão.
E também a crítica dura mas certeira à filosofia política e social do regime democrático em que vivemos.
É particularmente certeiro quando põe a tónica nos desenvolvimentos claramente anti-sociais deste regime, bastante agravados nos últimos anos.
Curiosamente, continua-se a festejar com pompa e circunstância efemérides como o 25/IV...Talvez ( mas só) para compor as aparências...
Apreciei a provoca�o sobre a comemora�o do 25/IV. � verdade que comemoro, n�o por mera manuten�o das apar�ncias, mas por valoriza�o do que o momento significou para mim, no quadro das minhas convic�es e valores, esse momento da hist�ria portuguesa. N�o o vivi. Sou de uma gera�o posterior, cuja informa�o � mediada pela experi�ncia de outros, seja os satisfeitos seja os insatisfeitos. A partir da� a s�ntese � minha. Tal como voc� tamb�m eu terei uma exist�ncia aut�noma, n�o independente, mas com uma din�mica pr�pria, no campo da emo�o, que se manifesta na derme, um qualquer tipo se sensibilidade que em muitos aspectos se afasta da raz�o, mas que se sente no arrepio. � profundamente humana e gratificante, e nunca a transformei em experi�ncia espiritual.
Na pr�tica sou um profundo social-democrata, dos verdadeiros, daqueles que s�o mesmo sociais-democratas, quase um revolucion�rio, e por isso j� n�o t�m muito sitio onde estar a n�o ser onde estou. Que estas palavras n�o sejam usadas contra mim. Algumas destas afirma�es, feitas em espa�o aberto e descontextualizadas podem ser um problema bem grave. Lol
Bruno Sim�o
Caro Bruno Simão,
Pela minha parte esteja descansado que não vou contar a ninguém, muito menos à Directora da DREN, à Ministra da Cultura ou a qq outro oficial incumbido da defesa da virtude e da erradicação do vício.
Caro Bruno Simão,
como conclusão à sua resposta apenas posso dizer que na verdade até que estamos de acordo em muita coisa... por isso :)
A talhe de foice, depois da referência aos tiques persecutórios com que o governo vai pontuando os nossos dias, deixo aqui um link esclarecedor sobre o assunto, http://palaciodomarques.blogspot.com/2007/08/rato-azul.html . A Wikipedia desenvolveu uma nova ferramenta que permite identificar os IP´s de onde se acede e quais as alterações que são feitas às várias páginas deste sitio na rede. Pois bem, um trabalho de pesquisa, permitiu identificar o IP que durante a crise da licenciatura do PM, várias vezes acedeu à página do seu currículo, fazendo alterações. O IP é nem mais nem menos que o do Portal do Governo, mas especificamente do Gabinete do PM. Tantas foram as alterações e de tal calibre que o administrador assinalou esse IP como fonte de vandalismo.
Bruno Simão
Agradece-se a indicação e a pista, caro Bruno Simão, embora a PGR já tenha declarado que não tenciona abrir processo do "diploma rosa". Já lhe sobram os processos dos apitos azul, dourado, axadrezado e vermelho (este mais recente) para por a cabeça da Procuradora MJM em braza e, não tarda muito, de baixa prolongada por esgotamento.
Onde é que nós já vamos, tendo começado pela agitação nos mercados financeiros...
as conversas são como as cerejas...
Bruno Simão
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