Ontem "caí", como que de paraquedas, na Praia da Areia Branca!
Correspondendo a um simpático convite de um grupo de amigos que, há variadíssimas gerações, dedicam a esta simpática terrinha atlântica o seu período de férias balneares.
Sentí-me regressar aos tempos de juventude; eu-- que nunca tive poiso certo quanto a banhos, oriunda de umas gentes transmontanas que não morriam de amores por mar, areias e praias...e que nos "orientavam" as inesquecíveis férias lá mais para Setembro, época das imperdíveis vindimas--sempre saltitei, nos vários Agostos, pelas várias praias onde tinha os meus amigos que generosamente me convidavam para as suas casas!
Entre S. João da Caparica e a Foz do Douro parece-me que por muitas fui passando, com a capacidade de adaptação aos típicos hábitos de cada uma delas, com a alegria e a expectativa de que cada Verão seria um verão novo...com os meus amigos e outros amigos, com regras da casa sempre diferentes, com rituais de horários e de passatempos que só duravam aquele ano.
Nunca, portanto, vivi um ano lectivo a pensar que aí vinham as férias na praia, com o mesmo ritual dos anos anteriores!!!
Ritual, ritual...era o das vindimas e de toda a imaginação saudável que o verdadeiro campo nos suscitava.
Por isso, ontem, a Areia Branca trouxe-me à memória toda uma semelhança que vivi na Ericeira, em S. Martinho, em S.João, na Praia das Maçãs, em Miramar, na Granja...praias onde havia um "Clube".
O convite de ontem foi, exactamente, para uma das muitas noites de festa que o Clube da Vigia está este ano a organizar, no âmbito das comemorações dos seus 50 anos.
As várias gerações de sócios foram, sucessivamente, passando pela direcção do Clube e foram-lhe dedicando um trabalho "sem carga", um trabalho de férias, que se vai fazendo sem se dar conta, quase que no intervalo de cada mergulho, mas um trabalho fruto do qual se vê uma estrutura mantida mas renovada, simples, com gosto e no respeito da traça original.
Ao fim da tarde alí estavam os entusiastas da canasta, do king, das damas ou do xadrez;
noutra sala, os mais novos empolgavam-se com os matraquilhos mas, alguns, bem pequenos, saltavam até à sala das cartas...e lá vi jogar ao "burro em pé", ao eleven ou à bisca;
um grupo já mais velho estava silencioso na sala do snooker, concentrados na sua tacada bem certeira;
outros grupos olhavam o mar (ontem lindíssima maré baixa de fim de tarde...praia enorme) na varanda abrigada pelo toldo, com o inconfundível cheiro a maresia e os primeiros sinais de gaivotas na praia, liam os jornais ou continuavam as inacabadas "conversas entre toldos", olhando Peniche e as Berlengas...prevendo o dia seguinte de praia, se incoberto ou não, pela experiência que já trazem e lhes é ditada pela visibilidade das ditas Ilhas!
Debandada geral à hora do jantar: tomar banho, jantar e arranjar...para "tornarmos ao Clube", hoje grande noite, vem aí a Cátia Guerreiro cantar o Fado, ela própria se ofereceu, num gesto de cortesia para com as comemorações dos 50 anos do Clube, desta praia, onde ela própria disse que tantas férias passou.
Às 22,30h lá estávamos todos, mais de 200 pessoas, em silêncio, sem fumar...a ouvir uma voz que achei extraordinária, um conjunto de fados lindíssimo com letras desde Homem de Melo, a Lobo Antunes, Ary dos Santos a Amália, uns músicos excelentes, na guitarra, na viola e no baixo, um ambiente sentido e animado, simples e quase que improvisado...mas que juntou, com magia, na mesma sala, QUATRO GERAÇÕES!
Tão bem se portaram os Bisavós, quanto os Bisnetos!
Só mesmo num Clube das nossas Praias...oxalá se mantenha este "ritual" por muitas e muitas mais gerações.
ADOREI!
5 comentários:
Querida Clara
Ao ler a sua história, que me fez tão bem, também fiz uma viagem ao passado. Tem graça, pela coincidência, que quer os meus Pais quer depois os filhos, e eu própria, nunca tivemos uma casa de praia. No tempo de crianças os meus Pais achavam importante passarmos um mês na praia porque fazia bem à saúde. E então os meus Pais alugavam no mês de Agosto uma casa de praia. Foram variando as praias e as casas, um pouco em função de combinações que envolviam a família mais próxima ou amigos mais chegados. Passei férias na Ericeira, São Martinho do Porto, Arrábida, na Areia Branca e em São Bernardino. Nunca fomos para o Algarve! Deve ser coisa única, mas foi assim...
O nosso ritual era o das férias de Setembro, passadas na nossa quinta na Beira. Estávamos sempre à espera daquele mês no campo, que programávamos todos os anos; embora muitas das actividades se repetissem – as feiras, os passeios no rio, as festas dos Santos Padroeiros das freguesias e vilas redundantes, a apanha das amoras e dos figos, as compras nas mercearias ambulantes e muito mais – mesmo assim havia sempre algo de novo que nos fazia contar todos os dias os dias que faltavam para partirmos.
Não sei se terei alguma vez um convite para festejar os tempos antigos de praia mas tenho a certeza que também adoraria porque são ocasiões para reviver os bons tempos do passado, recordando as mesmas tradições e os mesmos hábitos, vivendo-os da mesma forma, nos mesmos sítios e com as mesmas pessoas. Mesmo que a paisagem tenha mudado, e certamente que mudou, é a presença das pessoas que faz o presente virar, por momentos, passado… Continuação de excelentes comemorações, com muita alegria!
Cara C.C., suspeito que descobriu antes de Dieter Eisfeld, o buraco negro no cosmus, que permite as viagens no tempo. Foi excelente a forma como nos transportou por uma época ainda pouco distante em que se valorizavam as amizades e em que os clubes eram os polos aglutinadores e pontos de encontro dessas sociedades sazonais.
A título de curiosidade, lembrei-me agora que ha uns 2 ou 3 anos estive na Areia Branca em passeio e encontrei no posto de turismo um livro sobre o concelho, que adquiri. Já fui à procura dele, mas não o encontrei, lembro-me porem de um relato naquele livro, acerca de um episódio passado no tempo de D.João IV se não estou em erro (precisava de encontrar o livro para atender ao pormenor). Muito rápidamente, o relato que vem descrito, tem a ver com uma petição das mulheres dos pescadores daquelas praias, ao rei, queixando-se do desaparecimento dos maridos,levados pelos cantos encantatatórios das sereias que frequentemente apareciam por lá.
Que pena estes acontecimentos não terem chegado aos nossos dias...
Magnífica narrativa a sua, Clara, que também por um momento me transportou aos tempos de rapaz - 14 aos 18 anos -, em que o Verão/férias era passado entre a praia e o campo, em infindáveis e saudáveis tertúlias de amigos...
No meu caso, a praia significava a Povoa de Varzim - tal como a Areia Branca uma das quais se diz ou dizia escolhidas pelo Inverno para passar o Verão...
Clara, o seu relato entusiasmado é contagiante, deve ter sido um dia bem animado!E é giro ver como as pessoas respondem a essas iniciativas e vão encontrar-se longe quando muitas vezes morando perto estão anos sem se verem. É o que dá ter boas recordações!
Margarida, achei mta graça ter dito k nunca foi ao Algarve na sua infância...sabe k eu não tive "coragem" de o dizer explicitamente; mas o facto é k eu só conheci o Algarve depois de me casar! Parece anedota!!!
Caro Bartolomeu, eu não descobri "o buraco negro do cosmus"...mas lá k fiz uma viagem no tempo, isso fiz!
Quanto às sereias...de facto não chegaram até nós; veja k as mulheres dos pescadores já nem as culpam a elas!
Dr Tavares moreira, olhe k a Póvoa, onde também brinquei bastante, tb esta escolhida como "inverno para ir passar o verão"! Ainda hoje recordo como saía "roxa" da água!!!!
Susana, ainda bem k gostou! Mas olhe k eu estou a anos-luz das suas maravilhosas descrições...de k tenho usufruído graças a esta 4R!
Obrigada.
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