A Suzana Toscano já se referiu ao fenómeno aqui.
Retomo o assunto porque me faz impressão a publicidade dada ao que, para ser eficaz, pensava eu que exigiria a máxima discrição.
Depois de assistir nos primeiros telejornais da manhã à descrição das operações que as autoridades portuguesas e espanholas pretendem levar a cabo na investigação de eventuais bases da ETA estabelecidas em território nacional, constatei que não existia estação de rádio com serviço noticioso que se não referisse ao tema, nalguns casos com análises, daquelas sempre muito profundas, de alguns entre os muitos e sábios especialistas portugueses em inteligência e em investigação criminal. Esses a quem Deus agraciou com um espantoso poder de dedução, dos que dão cartas a qualquer investigador dos agora famosos telefilmes das séries CSI!
Ora eu, que nada percebo de serviços de informações ou de investigação da criminalidade organizada, ingenuamente pensava que as operações de prevenção e combate aos crimes mais sofisticados eram planeadas no maior dos segredos para que se garantisse a obtenção das informações que permitisssem desmantelar as organizações que se dedicam ao crime. Pelo menos com o mesmo nível de sigilo e discrição com que são preparados esses crimes.
Aprendo que não é assim. O Estado democrático, para se defender e para garantir a segurança e tranquilidade dos cidadãos, não precisa afinal de investigações sigilosas ou mesmo discretas. Isso deve ser próprio, pelos vistos, dos Estados policiais, que investigam longe de câmaras e microfones. Em democracia exige-se que as diligências investigatórias estejam aí, denunciadas e às claras, explicadas pelas polícias, pelos magistrados e mesmo pelos membros do Governo em prime time. Sujeitas à discussão e ao escrutínio popular sobre o que deve ser a boa opção operacional das polícias, o melhor plano de acção do SIS, tudo nos concorridos "foruns" de discussão nas rádios e TV!
Um Estado com paredes de vidro e uma opinião publicada que celebra a vinda do juiz Garzón como a do xerife que vai por ordem no saloon, acompanhado do comentário em off de que deveremos perder esta mania de que somos um País de brandos costumes, desprezado pelo terrorismo. Não somos! Não temos de ser!
Dizem-me os mais discretos entendidos que isto são manobras de contra-informação, pensadas para despistar os bandidos, criando-lhes a convicção de que em Portugal existe capacidade operacional para combater à séria o terrorismo.
Rio-me, apesar de ser assunto sério, mas desejo que seja como me dizem. Sendo certo que, tendo assistido à divulgação pela mão de um transparente governante dos nomes dos operacionais da nossa prestimosa e eficaz "Secreta", visto num jornal uma maqueta com a organização funcional da sede do SIS e ouvindo todos os dias citadas "fontes da judiciária" esclarecendo (?) passos de investigações em curso de crimes mediáticos, permito-me duvidar.
É que, parece-me, a força da ribalta provoca em polícias, magistrados e outros actores da investigação criminal, uma heróica sensação CSI a que é dificil resistir...
7 comentários:
Sir Humphrey Appleby, o secretário permanente que dizia "Sim, sr. primeiro ministro", dizia que o objectivo da política inglesa de segurança não era defender a Inglaterra dos russos mas fazer pensar os ingleses de que estavam defendidos dos russos. A razão era que os russos, esses, já sabiam que a Inglaterra não estava defendida, com política ou sem ela.
Passando para este caso os ensinamentos do grande manual de política, o objectivo do combate ao terrorismo e crime organizado não é combater os terroristas. Esses já sabem que a PJ não vai conseguir apanhá-los. É fazer com que nós pensemos que a PJ os vai conseguir apanhar. Assim, a publicidade já faz sentido, certo?
Caro tonibler, vistas as coisas nesse prisma...Mas que é elaborado, isso é.
É por isto, por todos estes textos que por aqui vão ficando, que fiz deste blog um dos meus preferidos. Digo-o com toda a sinceridade. Parabéns a todos os que deixam aqui os seus textos tão abrangentes: desde política à economia, passando pela medicina, e o desporto e, também, o humor, que tanto nos ajuda a deixar de ser,ainda que por momentos, menos cinzentões! É de facto um blog muito abrangente! Obrigado.
Dito isto, permito-me comentar:
Acho que o autor deste post sintetiza, brilhantemente no seu último parágrafo, o cerne da questão:
Muitas da pessoas que ocupam ( ou julgam ocupar), cargos que por natureza das funções poderão ser mediáticos, ao invés de procurarem manter-se nos bastidores, saltam para o palco e gritam: Sou eu!!!
Belo post, caro Ferreira de Almeida e belos comentários do Invisível e do Tonibler. Concordo com todos.
E a Suzana creio que também, apesar do seu reticente comentário...
Exagerada bondade a Vossa, expressa nos elogios...
José Mário
Também nada percebo de serviços de informação. E acho que não perco nada se continuar a não perceber. Penso que não seria mau sinal!
Já não há assuntos secretos. A novela continua, os pseudo especialistas de serviços de informação e de secretas encontraram neste caso ETA uma oportunidade para mostrarem as suas "inteligências" e a comunicação social decidiu "empenhar-se" na investigação de pistas...
Parece que já ninguém consegue resistir ao fascínio do mediático!?
É mesmo assim, Margarida.
Assisto agora mesmo a intervenções na Tv ainda sobre o assunto. O entusiasmo, o gozo com que falam do assunto impressiona, de facto!
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