Um breve período de efectivas férias e um alheamento tranquilo da querela que divide o PSD propiciaram alguma reflexão em torno do exercício da oposição política organizada em Portugal - da qual deixo aqui alguns breves apontamentos.
É uma evidência a enorme dificuldade em fazer oposição política hoje em Portugal.
Sobretudo a que habitualmente se chama oposição “séria e construtiva”.
Descodificando, oposição “séria e construtiva” é aquela de que o Governo mais gosta, por duas razões: (i) ninguém lhe dá ouvidos, os media ignoram-na sistematicamente; (ii) até se dá ao luxo, de quando em vez, de fazer acordos com o Governo em matérias consideradas “estruturantes”, reforçando desse modo a legitimidade da acção governativa por maior discordância que noutros domínios exiba (ou pretenda exibir).
Descontada a horrível gestão do dossier CML – em que o PSD exerceu feroz oposição a si próprio – pode considerar-se que a oposição exercida pelo PSD, nestes 2 anos e meio de governo PS, tem sido “séria e construtiva”.
O mesmo se pode dizer da oposição protagonizada pelo CDS-PP de Ribeiro e Castro.
Saliento que esta constatação não envolve qualquer juízo depreciativo.
Com os recursos de que dispunha e as heranças que recebeu, M. Mendes pouco mais poderia fazer.
Recordo-me bem da minha experiência de oposição, a partir de finais de 1999, como Vice de Barroso, já o Governo Guterres ia na segunda edição, com 5 anos de mandato.
Comecei então uma longa série de intervenções públicas durante mais de 2 anos, em edições mensais, denunciando os erros crassos da política económica e alertando para as suas consequências para o País.
Não posso esquecer a forma muito fria, às vezes mesmo hostil, com que a generalidade dos media (e não só...) recebiam essas críticas e chamadas de atenção.
Para eles, estávamos ainda no melhor dos mundos: o Guterrismo era um “sucesso”, tinha posto termo à “crispação do Cavaquismo”, tínhamos entrado no Euro, que mais poderíamos desejar?
Só com o tempo a situação se foi modificando, quando as pessoas começaram a perceber que o rei ia mesmo nu.
Depois, foi o que se viu.
Tenho por isso a maior compreensão por quem faz oposição, sei que é muitíssimo difícil na actual situação.
Só A. J. Jardim, catedrático do populismo, consegue actualmente fazer oposição a doer.
Há todavia um dado novo em relação a 1999/2000.
A política actual, pelo menos no tocante ao Menu de “medidas”, nada tem a ver com o Guterrismo.
É talvez o oposto do Guterrismo, está muito mais próxima do Cavaquismo, ultrapassa até a famosa “crispação” do Cavaquismo.
Porque será preciso muito tempo para que os efeitos das “medidas” se possam evidenciar pela positiva (se é que...), existe grande cansaço e rejeição social, embora os media os procurem disfarçar o mais que podem, até em sondagens inverosímeis como vimos na CML.
Estes factores levam-me a concluir que vamos passar para um tipo de oposição diferente, não tarda muito - Jardim já se antecipou com a sua “ratice” política.
Ribeiro e Castro foi afastado, para dar lugar ao velho populismo de Portas, que por certo se vai acentuar depois do sério desaire em Lisboa.
O Bloco acabou, passou para a situação e tenderá a diluir-se no PS.
O PCP ainda resiste, mas o seu campo de manobra é muito restrito.
Não sei o que se vai passar no PSD, mas não me surpreenderia muito uma vitória de Meneses, no actual estado de coisas, pese embora a importância (grande) dos votos da Madeira.
Mas, mesmo que não perca, M. Mendes terá que “mudar de agulha”, radicalmente.
O populismo vem aí em força?
30 comentários:
Não. Com a nossa conivência, não.
Entre A. J. Jardim e L. F. Menezes há uma diferença abissal. A. J. Jardim sabe fazer com que as massas se aproximem dele, o entendam e apoiem. L. F. Menezes tenta aproximar-se das massas e diz o que julga que querem ouvir.
Caro A. Madureira,
Porque fala em conivência ou, se me permite, de que valeria a nossa não-conivência?
Consegue encontrar antídoto para o cansaço e a insatisfação social? Consegue evitar o populismo de Jardim?
Consegue contestar com alguma eficácia o esmagamento mediático produzido pelo marketing oficial?
Consegue contrariar a tendência para uma crescente e "rampant" concentração da riqueza?
Então, meu Caro, como vamos de conivência? Vamos tapar o sol com uma peneira?
Serei das pessoas que menos aprecia o populismo, mas não é isso que está aqui em causa, entendamo-nos...
Caro Dr. Tavares Moreira, permita-me que discorde da sua opinião, quando refere que só Alberto João, consegue actualmente fazer oposição a doer (leia-se ao governo).
Na minha opinião, A.J.Jardim, defende os interesses da Madeira, ou da população madeirense, ou os seus próprios interesses (conforme seja o olhar dos analistas), dando, na sua forma peculiar de ser e de estar, algumas e pertinentes "agulhadas" ao governo de Sócratese e por tabela aos histéricos média, que sem pingo de isenção informativa, tentam manipular a informação. Ainda em minha opinião, a oposição terá um carácter nulo, se se resumir a lançar umas "bocas" ao governo, ou à figura do 1º ministro , mesmo que oportunas (prática muito ao gosto e na moda). Oposição, para merecer o título e executar a sua função, cumpre-lhe, para além de identificar e apontar os erros governamentais, apontar ainda soluções sérias de colaboração na sua resolução. O que, tal como refere, não agrada, nem a Gregos, nem a Troianos.
Boa tarde Dr. TM!
Bons olhos o vejam!... ou o leiam, consoante a perspectiva de cada um.
Gostei do seu post e particularmente da "descodificação" (dei comigo a acentir com a cabeça enquanto lia).
Por outro lado, sabe que (talvez por vicío de profissão) tenho a mania de olhar para tudo como se de um projecto se tratasse e quando olhamos para as coisas desta forma, costumamos ver o princípio, o meio, o fim e os recursos necessários para o levar a avante. Funciona como uma fotografia de raio X, não vemos o que está à volta mas vemos o esqueleto a partir do qual vamos construir o resto do corpo.
Ora, quando olho para a oposição vejo um esqueleto todo partido. A cabeça está em parte incerta, um braço foge para um lado, uma perna foge para o outro, um pézinho está virado para dentro, o outro pézinho está virado fora enfim... não sendo médico, parece-me que se trata de uma vítima politraumatizada. Quando se está todo partido não é possível fazer uma "oposição séria e construtiva", porque ninguém vai acreditar nisso quando se vê o resto dos membros a fugirem cada um para seu lado, ou a mexerem-se fora de tempo.
No caso do PSD isto é gritante, cada Maria berra para o seu lado e por muito democrático que se seja, há alturas em que se tem de dar uns murros na mesa e dizer claramente quem é que manda. A Raposa e o Leão sempre e mercenários nem vê-los.
Aqui há uns tempos atrás, estive a reler os princípios orientadores do PSD e cheguei à conclusão que os dirigentes do partido deviam lê-los e relê-los até serem capazes de os enúnciar, um a um, de cor e lembrar-lhes que eles estão ali para servirem aqueles princípios e para servirem o povo português, nunca o contrário.
Volto a repetir, todos os projectos têm um princípio, um meio e um fim. Para serem bem sucedidos têm de ter objectivos, uma estratégia, linhas de acção (vulgo tácticas) e recursos. Sem isto ninguém vai a lado nenhum, além de que nunca vai ser "vendável" a um público-alvo mais alargado.
Caro Bartolomeu,
1. Afirma discordar da m/ opinião quando refiro que "só AJ Jardim consegue actualmente fazer oposição a doer".
O meu Amigo tem todo o direito de discordar e nem é obrigado a dizer porquê.
Não dizendo, tento eu interpretar o sentido dessa discordância:
- Entende que AJJ não faz oposição a doer;
- Entende que AJJ faz oposição a doer mas que não será só ele a fazer essa oposição (desconheço quem mais, mas admito que seja falta minha).
Existe uma terceira interpretação que melhor corresponda a seu pensamento? Se sim, importa-se de a revelar?
2. Quando esclarece que " Oposição, para merecer o título e executar sua função, cumpre-lhe, para além de identificar e apontar os erros governamentais, apontar ainda soluções sérias de colaboração na sua resolução...".
Meu Amigo, não se ofenda com esta pergunta:está lendo os Contos de Hoffman (expoente do romantismo literário do século XIX)?
Caro Antrax,
Muito interessante a sua imagem do politraumatizado para caricaturar o actual estado da oposição organizada em Portugal...
E o problema agrava-se com as taxas moderadoras - o politraumatizado tem hoje de suportar custos superiores com o seu internamento.
Quanto aos princípios orientadores do PSD, creio que Antrax será neste momento a única pessoa a pensar neles, o que merece ser enaltecido e é digno da minha maior admiração.
Grande abraço.
Caro Dr. Tavares Moreira,
O facto de discordar da sua opinião, não significa que a descredibilize. Não me assiste esse direito, tão pouco o estatuto necessário. Aquilo que em minha opinião é a oposição que o Dr. A.J.Jardim preconiza, não ultrapassa as "fronteiras" do arquipélago. Quando ele se refere aos caciques do cuntenente, eu, entendo-o, como estando através de sinais de fumo, a fazer sentir que ali, é ele quem dita as leis e a sua vontade é suprema. É obvio que está sujeito aquilo que do governo central emana, mas já não é tão obvio que se submeta de bom grado aquilo que emana da direcção do partido. E deixe-me dizer-lhe caro Dr. Tavares Moreira, não sei se é possivel fazer uma oposição forte, ou a doer, numa posição de quase antagonismo partidário.
No que respeita à segunda parte do seu comentário, garanto que ele não me ofende mínimamente. Digo-lhe ainda que estou 100% em acordo com a sua opinião. É efectivamente necessário ser-se absolutamente crente nas intenções. Sobretudo nas intenções daqueles que ainda desejam ver o país recuperar a dignidade, fazendo uma oposição forte, coerente e séria. Direccionada para, como já referi, os problemas da governação. Pode considerar este meu "olhar", infantil, saloio, excessivamente inocente. Mas Caro Dr., garanto-lhe que a minha convicção absoluta, é precisamente esta: Enquanto não formos todos capazes de nos entendermos como usufrutuários de um coisa comum e deixarmos para segundo plano os interesses adjacentes às decisões e apoios políticos, não creio que em algum tempo deixemos este atoleiro político onde todos esbracejam e em que todos tentam afundar o naufrago do lado, convencidos que assim se salvarão individualmente.
Caro Tavares Moreira, boa tarde!
Leio as suas reflexões, e leio nelas os seus receios de no PSD se estar a armadilhar uma tendência que poderá comprometer o futuro do PSD a médio prazo.
Eu, que não me sinto sob a influência de Hoffman mas que me confesso não iniciado nas subtilezas políticas, comungo dos seus receios mas não da inevitabilidade que me parece angustiá-lo.
O populismo não será a via que o país precisa para a Oposição e fracturará o PSD.
Não me parece, por outro lado, que as funções de um líder da Oposição se encontrem bloqueadas pela maioria absoluta que suporta acriticamente o Governo, por um marketing político enganoso ou uma imprensa favorável e submissa.
Este Governo assumiu compromissos reportados num programa e reafirmados nos discursos. Cumpre à Oposição confrontá-lo com as não realizações.
Mas também lhe cumpre não meter golos na própria baliza, perdoe-me o prosaico futebolístico. E, do meu ponto de vista, tem feito demasiados autogolos.
O caso de Lisboa foi paradigmático: Coerentemente, Marques Mendes retirou a confiança a Carmona. Se o não tivesse feito para onde se teria arrastado a situação?
Uniu-se o PSD à volta do líder? Claro que não. A oposição interna apressou-se a empurrar o que já escorregava em plano inclinado.
É então que ressurge o Grande Líder, qual monstro Loch Ness no lago do embasbacamento.
Se em Setembro as opções forem entre um populismo assumido e um populismo de recurso, seguramente que a populismo será uma inevitabilidade.
Não há alternativa? Não há em todo o PSD uma equipa que tenha capacidade de liderança para desenhar um projecto de futuro e explicar a bondade das suas intenções aos portugueses?
1º Alguém tem de ter a vontade de ser lider.
2º À volta do candidato a lider tem de haver uma equipa.
3º O candidato a lider e a equipa têm de fazer o "circuito da carne assada".
4º Só o L M Mendes e o L F Menezes têm vontade.
5º Nenhum fez equipa, ou porque não querem ou porque não são capazes.
6º Ambos fizeram o "circuito da carne assada".
7º Não há 3ª via.
8º É preciso apoiar o L M Mendes.
Dr. TM...
Agora é que eu não pago as quotas! :)))
Um abraço. :))
Arnaldo Madureira,
Para se ser um líder, não basta ter vontade e fazer o percurso da "carne assada", é só mais uma tarefa das funções que se desempenha. Eu detesto carimbar contratos e tenho de o fazer, ossos do ofício, paciência.
Ter vontade e fazer o circuito da carne assada são as condições necessárias. Talvez não sejam suficientes, mas são as necessárias. É por isso que não há 3ª via.
Outras qualidades, como ter ideias, nem sequer são necessárias.
Não devia ser assim? Pois não, mas é. É a natureza humana, magistralmente descrita pelo grande Pessoa: "... o público não é capaz de seguir um raciocínio, e o público não é capaz de prestar atenção a uma análise... o público não quer ver a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade... o público não compreende ideias complexas... o público, movido intimamente por sentimentos e não por ideias, é organicamente parcial."
É improvável alguém ter a vontade de ser lider, ter uma boa equipa, fazer o circuito da carne assada e, ainda, ter bom carácter e ter boas ideias. Pode não acontecer, sequer, uma vez por geração. Contentemo-nos com as opções que temos e optemos pelo melhor. Não há dúvida nenhuma que é o L M Mendes.
A propósito de umas crónicas do Dr. Pinho Cardão sobre o último Congresso do PSD, incisivas e prenhes de um perspicaz humor, a roçar o talento das farpas queirosianas, atrevi-me a elaborar uma curta alegoria sobre a liderança, a qual aqui reproduzo parcialmente, atenta a conexão com o presente “post” do Dr. Tavares Moreira:
- Metáfora musical
O problema, agora, centra-se mais na harmonia e na melodia das propostas musicais. Há maestros que conseguem cumprir bem, com rigor, a pauta. Outros existem, porém, que são virtuosos. Estes últimos, raros, fazem a diferença, na medida em criam e inovam. Têm um bom ouvido, dominam a batuta na ponta dos dedos e conseguem que o conjunto dos músicos que interpreta os trechos musicais atinja, por vezes, a genialidade. Estes maestros são também, via de regra, bons compositores. A estes não há melómano que resista. E mesmo aqueles que não apreciam particularmente o género musical têm dificuldade em resistir a uma boa composição, bem interpretada.
Nesta metáfora, para que se atinjam os resultados pretendidos, são necessários: um bom maestro (o líder), uma excelente composição (a mensagem) e intérpretes de eleição (os mensageiros). Não é fácil, direi mesmo que é invulgar, mas é possível. Para tanto é necessário haver vontade, um forte espírito gregário, muito treino e, mais importante do que tudo, talento.
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O PSD, nesta fase, assemelha-se um pouco ao “deserto” da margem sul, visto pelos olhos do ministro Mário Lino. Parece não ter qualquer potencial competitivo, em face do poder instalado. Porém, com as sinergias certas no momento adequado, pode revelar-se uma portentosa reserva de alternativas reformistas à realidade virtual que tem governado o país.
Não me identifico com o bota-abaixo que caracteriza a alma lusa. Inúmeros têm sido os erros, especialmente nas áreas da educação/formação/ciência e no ordenamento/gestão do território. Não obstante, muito tem sido feito na linha da modernização social e económica. Temos, julgo eu, um problema de falta de consistência no rumo e no ritmo de crescimento. Há falta de sustentabilidade nas políticas. Mas, não creio que estejamos condenados ao limbo dos países em vias de desenvolvimento. Havemos de conseguir superar este momento menos feliz do nosso devir colectivo.
Para tanto recomendo ao Anthrax que se chegue à frente e pague as quotas! :)))
Ora aí está um bom conselho. Por mim, paguei as minhas.
E obrigado, caro Félix Esménio, por ter recordado as crónicas...
Há muitos anos, alguém referindo-se ao género musical pimba (antes de se chamar pimba), proferiu estas palavras que nunca mais esqueci: "Nunca ninguém ficou pobre por subestimar o gosto das pessoas".
Por isso, o populismo virá...
Amigo Félix,
Quotas à parte, nunca me chegaria à frente. Não sou um político, sou uma "besta", uma espécie de cão de fila. Metam-me um taco de baseball nas mãos e acaba tudo à paulada! Tenho um temperamento um bocado volátil :)))
Caro Rui Fonseca,
Permita-me que destaque, citando, 3 passagens do seu comentário:
1ª) " Comungo dos seus receios mas não da inevitabilidade que me parece angustia-lo..."
2ª) " O populismo não será o que o País precisa para a Oposição e fracturará o PSD..."
3ª) "Este Governo assumiu compromissos...Compete à Oposição confronta-lo com as não realizações...".
Quanto à 1ª, o que lhe posso dizer, meu Caro, é que não alimento qq receio e menos ainda qq angustia em relação aos cenários que tracei.
Limito-me a analisar a realidade que me cerca, com a vantagem de não estar envolvido nas querelas partidárias em curso, extraindo dela as conclusões que me parecem mais lógicas.
Relativamente à 2ª, do populismo ser ou não o que o País precisa, a sua nota transporta-nos para o conceito de "populismo". Fico com a noção de que alguns dos nossos comentadores identificam o "populismo" com uma prática regular de ditos mais ou menos desbocados para desancar o Governo.
Não sendo este o lugar para discorrer acerca do conceito, direi que o "populismo" não é nada disso.
Recordo apenas que a oposição que o PS fez durante o consulado de Barroso - em especial no ataque sistemático às medidas de consolidação orçamental de M.F. Leite - com o apoio expresso do Presidente Sampaio a partir do momento em que utilizou em plena AR a famosa expressão "há mais vida para além do orçamento", foi, no essencial, uma oposição de tipo populista.
Deu ou não resultado?
Finalmente quanto à 3ª, verifico que os Contos de Hoffman estão muito mais na moda do que eu seria capaz de imaginar...Não se ofenda, caríssimo Rui Fonseca, sabe bem da consideração que lhe tributo...Também eu já li parte dos Contos de Hoffman, mas noutra altura...
Talvez seja melhor dar a sua definição de populismo.
Na Wikipedia destaco:
"Chamam-se de populismo uma série de movimentos políticos que se propõem a colocar, no centro de toda a acção política, o povo enquanto massa, desqualificando a ideia da democracia representativa."
"A ideia geral é a de que o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo" para ser eleito e governar."
Seja como for, sim, receio a demagogia e o populismo, sim, angustio-me, sim, envolvo-me na querela partidária em curso.
Deu ou não deu resultado? Qual resultado? Se se refere à queda de Santana Lopes, julgo que os motivos foram outros, em resumo, erro político original dos conselhos nacionais do PSD de Julho de 2004.
Caro A. Madureira,
Muito bem, a sua pergunta contem a resposta, a saber: "A ideia geral é a de que o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o Povo para ser eleito e governar".
Quanto a recear, angustiar-se e envolver-se na querela partidária em curso, são opções suas que me cabe respeitar.
Quanto ao resultado e à eficácia da oposição populista do PS ao Governo de Barroso- em especial às medidas financeiras de MF Leite - meu Amigo vem lembrar S. Lopes.
Confesso que aqui já não o entendo, estamos em "registos" bem distintos.
Ok, agora estou a ficar um pouco baralhado...
Portanto, diz a Wikipédia que o populismo consubstância-se numa série de movimentos políticos que propõem colocar no centro da acção política, o povo enquanto massa, desqualificando a ideia da democracia representativa. Certo...
Pergunto, na minha inocência, o que é que é suposto colocar no centro da acção política? Já vimos que o "povo enquanto massa" não pode ser porque senão é populismo (além de que "povo/massa" soa a discurso ou um bocado avermelhado, ou um bocado nacionalista, tanto faz porque o tipo de discurso é o mesmo), então qual é o centro?
Hipótese A: Os cidadãos nacionais do estado em causa que, em exercício das suas liberdades democráticas, elegeram seus representantes. E neste caso o centro da acção política é apenas o conjunto de cidadãos que votaram no A, no B ou no C.
Hipótese B: Os representantes eleitos, democraticamente pelos cidadãos nacionais do pais em causa. E neste caso, o centro da acção política são os próprios representantes.
A definição carregada no Wikipedia não é minha. Qual deve ser o centro? E porque é que deve haver um centro? Que mal tem o populismo? Desqualificar a democracia representativa e privilegiar exageradamente um vínculo emocional sobre um vínculo racional. Estamos em registos distintos? Sim, valorizo o factor Santana Lopes mais do que o factor oposição socialista na dissolução da AR.
Caro Anthrax,
Só agora é que o Caro Comentador se confessa baralhado? Mas que admirável resistência a sua!
Já agora, quando que se começa a falar em massas e no exercício directo do poder político pelas massas, prefiro concentrar-me nas massas alimentícias que são cada vez mais recomendadas para uma alimentação racional,sem excesso de calorias e propiciando óptimas digestões.
O populismo, neste sentido, também pode ser associado a uma regra alimentar saudável e como tal recomendável.
Caro Arnaldo,
Não me interprete mal :), eu sei que a definição da Wikipédia não é sua e sei que qualquer pessoa pode escrever lá coisas.
Tirando isso, é claro que tem de haver um centro da acção política. Não haver um centro de acção política é a mesma coisa que ter um projecto sem público-alvo. Quando se faz alguma coisa, faz-se para alguém (o alguém é que varia substâncialmente).
O populismo não tem mal nenhum, quando utilizado com conta, peso e medida. E isto conduz-nos à questão dos vínculos emocionais e racionais. Priviligiar um vinculo emocional sobre um racional, nunca é uma boa ideia e o contrário também não.
Eu tinha o PSL em muito boa conta, lá empatia tinha ele. O problema é que chega a uma altura em que tem de se mostrar, efectivamente, o que se vale e a empatia aí só vai servir para explicar às pessoas o que é que se tem de fazer, como é que se tem de fazer e porquê. Além disso, tudo o que sair daquela boquinha tem que ser coerente com a atitude pessoal e com a postura política, porque não se pode estar a exigir dos outros aquilo que não se pratica.
Quando se exige alguma coisa de alguém tem, obrigatoriamente, que se saber o que é que se está a exigir e tem de se dar o exemplo, porque é a única maneira de se transformar num modelo, numa referência para outros. Críticas vão existir sempre, há que saber lidar com elas da melhor maneira possível. Eu deixei de ter o PSL em boa conta, simplesmente, pelo desfazamento que ele criou entre o seu discurso e a sua atitude. Independentemente de tudo, nunca se esqueça que grande parte das pessoas são conservadoras, são abelhudas e acima de tudo são invejosas (no mau sentido) só que são eles que votam. São eles que lhe dão um cargo político, portanto, se a comunidade lhe dá alguma coisa o minímo que se pode fazer é retribuir a oferta e fazer alguma coisa pela comunidade.
Isto foi o que o PSD (do continente, note-se, porque na madeira já não é assim) perdeu.
Dr. TM, pois só agora é que o vi!
Pois como eu disse, hidratos de carbono, com conta, peso e medida, nunca fizeram mal a ninguém. :)
Excelente, Caríssimo Anthrax, excelente.
Nesta busca incessante de elevação do nível das nossas reflexões em torno da magna questão do poder das massas e do seu exercício, faz muito bem em lembrar os hidratos de carbono.
Quanto ao populismo, desde que ministrado em doses contidas (de preferência com prescrição médica) pode constituir nesta altura dos acontecimentos um bom aditivo para a nossa dieta política e para o "animus populis".
Veja por exemplo o semblante saudável e sempre bem disposto do Dr. A.J.Jardim e das suas "gentes" ("massas" para usar a expressão do ilustre Comentador que nos inspirou).
Devo admitir que os serviços de saúde da Madeira têm vindo a colaborar com o Governo Regional no doseamento do grau de populismo a ministrar às tais "massas", para obter um efeito tão positivo.
E do que já ouvi neste últimos dias,tenho a noção de existem francas perspectivas de progresso também no Continente.
Alguma coisa tem de ser feita para contrariar o estado tristonho em que nos encontramos e que no essencial é consequência de uma política sem esperança.
Admito que a Regionalização também possa dar o seu contributo - desta vez estarei a favor, sem reservas.
Perfeitamente de acordo Dr.TM :)Só tenho algumas dúvidas quanto à questão do progresso.
Caro Dr Tavares Moreira: Pelas relações de amizade e consideração que me ligam a vários dos autores deste blog(que visito regularmente desde há muito),incluindo-o a si como é evidente e sabe bem,resolvi deixar aqui duas ou três reflexões á volta do "populismo".
Concentrando-me naquilo para que ele agora parece ser chamdo,ou seja,a disputa pela liderança do PSD.Naturalmente que o populismo na sua génese (dizer ao povo o que o povo quer ouvir)aplicado á governação só pode levar ao disparate.
O mundo esta cheio de exemplos disso.
Mas quando se fala dos candidatos á liderança é comum aplicar o termo a Luis Filipe Menezes enquanto para Marques Mendes se guarda a pose de homem de Estado.
É politicamente correcto pensar assim .
Mas vamos á realidade.
Menezes governa há 10 anos com enorme sucesso um municipio com quase 300.000 habitantes conquistando sucessivas maiorias absolutas.
Porque é populista ?
Não.
Porque tem obra feita.
Porque se assim não fosse,num municipio sociologicamente de esquerda como Gaia,há muito que teria perdido a Cãmara.
Em Gaia fez uma obra relevante,das vias de comunicação ao saneamento,das escolas as 17 bandeiras azuis nas praias,da captação de vultuoso investimento estrangeiro á construção de parques industriais.
Sem esquecer as mais de 3000 habitações sociais construidas ou o ensino de inglês,musica e educaçaõ fisica nas escolas do 1º ciclo.
Se isto é populismo vou ali e já venho.
Pelo menos comparando toda esta obra com uma deslocação de oportunidade á Madeira,em busca de votos para eleições internas,aceitando um papel a raiar a humilhação pública.
Afinal quem é o populista ?
A mim,e sei que me compreende,o que interessa não é quem vai liderar o PSD a partir de 28 de Setembro.
È quem tem melhores condições para bater Sócrates em 2009 e governar bem Portugal.
Em minha opinião é Luis Filipe Menezes.Um abraço amigo e parabéns pela qualidade do vosso blog.
Caro Luís Cirilo,
Seja bem vindo, em 1º lugar
É bom ver antigos companheiros de lides políticas - e dos bons, neste caso - de visita a este blog.
Tenho a vantagem (talvez) de não estar envolvido, sob qq forma, nesta disputa partidária.
Por isso as análises que faço não estão influenciadas pelo calor que é próprio, e é natural, de quem está envolvido.
A minha tese é a de quem quer que ganhe esta disputa - Mendes ou Meneses - terá de alterar o tipo de oposição que tem vindo a ser exercida.
Por isso mesmo admiti a vitória de Meneses - as pessoas são levadas a pensar que um candidato que se apresenta com novidade oferece mais hipóteses de protagonizar uma nova forma de oposição.
Quanto ao resto, meu Caro, são opiniões pessoais que respeito como já tive oportunidade de dizer a propósito da intervenção de outro Comentador, esse adepto de Mendes.
Deixo-lhe um abraço de amizade.
Sem duvida que o populismo atrai mais as pessoas. Nao e so em politica. Ropert Murdoch e um exemplo disso mesmo. Os seus jornais fizeram socesso devido ao populismo que neles era incutido. Os medias movem com as massas, a politica tambem.
Quanto ao PSD vou ser o mais sucinto possivel. Por muito mau que Menezes seja, e impossivel ser pior que Mendes.
Como apoiante convicto do PSD fico triste ao ver que os ditos notaveis, se escondem na altura de dar a cara. E refiro-me a Manuela Ferreira Leite e Antonio Borges. Qualquer um deles ganharia o partido. Qualquer um deles seria o ideal para por o partido no sitio. Ate la temos que aguentar com o populismo de Alberto Joao Jardim. Verdade seja dita. Mexemais uma boca de jardim que um requerimento de Mendes.
Saudacoes Republicanas
Seja bem vindo, André Algarvio (ou André Americano?)!
Acutilantes os seus comentários, sem qq dúvida.
E bem observado que o fenómeno do populismo não se circunscreve à área da política.
Quanto à indecisão dos notáveis do PSD, a conclusão que se poderá tirar é de que esses notáveis - com a sua avançada formação económica, bem conhecida - avaliarão o projecto de Oposição ao Governo como de rentabilidade muito baixa, porventura negativa mesmo.
E não estarão dispostos a arriscar o capital político que acumularam.
Convém no entanto lembrar que esse capital está também sujeito a deperecimento pelo não uso ou exercício...
Quem não vai à luta não se molha, com certeza, mas pode secar em demasia...
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