Só agora, esclarecidas oficialmente as circunstâncias do afastamento do coordenador da PJ que até ontem conduzia as investigações da criança inglesa desparecida em Lagos, sou capaz de formar opinião sobre um assunto de que políticos e analistas fogem como o diabo foge da cruz.
Hoje, o Sr. Director Nacional da PJ confirmou o que já corria na comunicação social. O inspector foi afastado por ter desrespeitado regras de ética e de deontologia. Presumo que o Sr. Director se estava a referir à imprudente (para ser suave na adjectivação) entrevista ao DN, na qual o inspector em causa acusava a polícia britânica de proteger os pais da criança presumidamente desaparecida.
Ouço dizer a comentadores e especialistas que o senhor inspector não aguentou o stress causado por constantes atentados ao seu carácter e ao seu profissionalismo, perpretados na comunicação social inglesa.
De tudo quanto de preocupante se passou neste caso, com a especulação desenfreada, a desinformação e o mais desbragado disparate jornalístico, o mais grave de tudo foi, para mim, este episódio. É grave, muito grave, porque ele revela ou confirma que polícias com a experiência daquele que foi agora alvo do afastamento não estão afinal preparados para resistir à pressão.
Ouço agora mesmo o Dr. Moita Flores opinar, apelando à sua experiência de polícia, que o problema está no facto de existirem grupos no interior das corporações policiais que têm contactos com os “seus” jornalistas, traficando com eles a informação. Esta afirmação, ainda que feita no contexto da defesa da necessidade de os órgãos de polícia constituírem uma central de comunicação que alimente os media nos casos com maior impacto (como se os media se alimentassem ou satisfizessem com a informação oficial...), vem por a nú a grande fragilidade das entidades encarregadas de prevenir, investigar e perseguir o crime: a sua extrema e patente vulnerabilidade à opinião publicada. E à semelhança de outros poderes, também os agentes da polícia se auto-protegem rodeando-se dos “seus” jornalistas a quem tem de alimentar de informação. Que tipo de informação? Não será difícil adivinhar...
Investigar em função do main stream ou dos interesses mediáticos quantas vezes determinados pela necessidade da competição das audiências e da publicidade paga, significa viciar a justiça, condenando-a à corrosão da desconfiança dos seus órgãos e agentes e conduzindo a sociedade a uma sensação cada vez maior de insegurança. Pela elementar razão de que não há investigação de caso complexo que se faça com eficácia e rigor sob a constância dos holofotes e dos microfones. Mas também não há garantia de direitos e liberdades quando, pela incapacidade de resistir ao stress e à pressão de jornalistas e de jornais, rádios e sobretudo televisões, se acusa por receio de ser acusado de não acusar!
E esta tendência, estou em crer, não se confina ao círculo das polícias.
Por isso o episódio, pelo que revela, é grave. E é sobretudo grave porque, esquecido o episódio, ninguém extrai do caso a conclusão de que é absolutamente necessário encontrar o remédio.
Hoje, o Sr. Director Nacional da PJ confirmou o que já corria na comunicação social. O inspector foi afastado por ter desrespeitado regras de ética e de deontologia. Presumo que o Sr. Director se estava a referir à imprudente (para ser suave na adjectivação) entrevista ao DN, na qual o inspector em causa acusava a polícia britânica de proteger os pais da criança presumidamente desaparecida.
Ouço dizer a comentadores e especialistas que o senhor inspector não aguentou o stress causado por constantes atentados ao seu carácter e ao seu profissionalismo, perpretados na comunicação social inglesa.
De tudo quanto de preocupante se passou neste caso, com a especulação desenfreada, a desinformação e o mais desbragado disparate jornalístico, o mais grave de tudo foi, para mim, este episódio. É grave, muito grave, porque ele revela ou confirma que polícias com a experiência daquele que foi agora alvo do afastamento não estão afinal preparados para resistir à pressão.
Ouço agora mesmo o Dr. Moita Flores opinar, apelando à sua experiência de polícia, que o problema está no facto de existirem grupos no interior das corporações policiais que têm contactos com os “seus” jornalistas, traficando com eles a informação. Esta afirmação, ainda que feita no contexto da defesa da necessidade de os órgãos de polícia constituírem uma central de comunicação que alimente os media nos casos com maior impacto (como se os media se alimentassem ou satisfizessem com a informação oficial...), vem por a nú a grande fragilidade das entidades encarregadas de prevenir, investigar e perseguir o crime: a sua extrema e patente vulnerabilidade à opinião publicada. E à semelhança de outros poderes, também os agentes da polícia se auto-protegem rodeando-se dos “seus” jornalistas a quem tem de alimentar de informação. Que tipo de informação? Não será difícil adivinhar...
Investigar em função do main stream ou dos interesses mediáticos quantas vezes determinados pela necessidade da competição das audiências e da publicidade paga, significa viciar a justiça, condenando-a à corrosão da desconfiança dos seus órgãos e agentes e conduzindo a sociedade a uma sensação cada vez maior de insegurança. Pela elementar razão de que não há investigação de caso complexo que se faça com eficácia e rigor sob a constância dos holofotes e dos microfones. Mas também não há garantia de direitos e liberdades quando, pela incapacidade de resistir ao stress e à pressão de jornalistas e de jornais, rádios e sobretudo televisões, se acusa por receio de ser acusado de não acusar!
E esta tendência, estou em crer, não se confina ao círculo das polícias.
Por isso o episódio, pelo que revela, é grave. E é sobretudo grave porque, esquecido o episódio, ninguém extrai do caso a conclusão de que é absolutamente necessário encontrar o remédio.
1 comentário:
Perfeito, caro Ferreira de Almeida!...
Aliás, em questões de justiça, quanto maior for a discrição, melhor. Nem compreendo que se alimentem interesses mórbidos das pessoas ou financeiros da comunicação social. Os órgãos de comunicação social especularão sempre, como diz, qualquer que seja a informação que lhes for prestada.Como tal, deve ser a mínima, e apenas factual.
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