Li algures num jornal este fim de semana uma notícia escandalizada sobre um almoço de um grupo de quadros de uma grande empresa agora nacionalizada no furacão da crise. O almoço terá sido num local de luxo e custou uns milhares de euros, ou dólares, já não sei bem, destoando de modo cru do ambiente geral de colapso e das súbitas dificuldades da empresa onde trabalharam até agora.
A notícia e o modo sibilino como era apresentada, como se fosse uma teima descarada dos desvarios que conduziram a este estado de coisas, deu-me que pensar. Essas pessoas, provavelmente técnicos qualificados a quem a empresa pagava muito bem porque rendiam o suficiente para isso, viram-se de um dia para o outro sem emprego, sem glória, sem futuro. Devem ter ouvido desde que aprenderam a juntar duas letras que o trabalho garante o sucesso, que os melhores se conheciam pelos seus resultados, devem ter aceite e se calhar proposto objectivos cada vez mais ambiciosos. Devem também ter sentido olhares críticos e ameaçadores quando, porventura, alertaram para a impossibilidade de os atingir. Devem ter gasto milhares de dias e horas a fazer formação, a ser treinados em equipas de sucesso, a acreditar nos resultados prósperos da companhia, devem ter participado em acções de “team building” para criar espírito de grupo e aprenderem a lutar todos pelo êxito da sua empresa Devem, talvez, ter-se esquecido de passar por casa a tempo de ver os miúdos ou mesmo de ter guardado um tempo fora do trabalho para conhecer a pessoa dos seus sonhos. Eis que, de um dia para o outro, lhes dizem que estava tudo errado, que os objectivos eram imorais, que a empresa era predadora, especulativa sei lá mais o quê, e que tudo o que lhes gastou as energias valia zero, ou menos que isso. Devem ter olhado as instalações em open space, os computadores cheios de informação partilhada, de cálculos e relatórios para a administração, para os auditores e para as entidades supervisoras, muito melhores do que os dos anos anteriores. Devem ter vistos lucros fabulosos que foram entregues ao accionistas nos últimos anos, à medida que a empresa subia vertiginosamente nos rankings do sucesso empresarial.
E decidiram ir jantar todos juntos, uma última vez, já que em milhões e milhões de dólares que a eventual sobrevivência da empresa exige não há-de fazer grande diferença um momento de despedida em honra dos velhos de tempos de ontem. Chocante? Talvez, mas não deixa de ser um sinal de protesto perante a injustiça que cada um deles deve ter sentido ao verem desaparecer como fumo a vida de desafogo e sucesso que acreditaram poder conquistar.
A notícia e o modo sibilino como era apresentada, como se fosse uma teima descarada dos desvarios que conduziram a este estado de coisas, deu-me que pensar. Essas pessoas, provavelmente técnicos qualificados a quem a empresa pagava muito bem porque rendiam o suficiente para isso, viram-se de um dia para o outro sem emprego, sem glória, sem futuro. Devem ter ouvido desde que aprenderam a juntar duas letras que o trabalho garante o sucesso, que os melhores se conheciam pelos seus resultados, devem ter aceite e se calhar proposto objectivos cada vez mais ambiciosos. Devem também ter sentido olhares críticos e ameaçadores quando, porventura, alertaram para a impossibilidade de os atingir. Devem ter gasto milhares de dias e horas a fazer formação, a ser treinados em equipas de sucesso, a acreditar nos resultados prósperos da companhia, devem ter participado em acções de “team building” para criar espírito de grupo e aprenderem a lutar todos pelo êxito da sua empresa Devem, talvez, ter-se esquecido de passar por casa a tempo de ver os miúdos ou mesmo de ter guardado um tempo fora do trabalho para conhecer a pessoa dos seus sonhos. Eis que, de um dia para o outro, lhes dizem que estava tudo errado, que os objectivos eram imorais, que a empresa era predadora, especulativa sei lá mais o quê, e que tudo o que lhes gastou as energias valia zero, ou menos que isso. Devem ter olhado as instalações em open space, os computadores cheios de informação partilhada, de cálculos e relatórios para a administração, para os auditores e para as entidades supervisoras, muito melhores do que os dos anos anteriores. Devem ter vistos lucros fabulosos que foram entregues ao accionistas nos últimos anos, à medida que a empresa subia vertiginosamente nos rankings do sucesso empresarial.
E decidiram ir jantar todos juntos, uma última vez, já que em milhões e milhões de dólares que a eventual sobrevivência da empresa exige não há-de fazer grande diferença um momento de despedida em honra dos velhos de tempos de ontem. Chocante? Talvez, mas não deixa de ser um sinal de protesto perante a injustiça que cada um deles deve ter sentido ao verem desaparecer como fumo a vida de desafogo e sucesso que acreditaram poder conquistar.
4 comentários:
Este texto, cujo conteúdo é pertinente a tudo o que compõe a actualidade social e empresarial, é contudo a revisitação a um assunto velhíssimo.
É! Eu sei que não é fácil ser levado a sério naquilo que escrevo, é uma sina, não ha nada a fazer senão fingir que não percebo.
Por isso, cá vamos partir para uma nova "esqueirada", que é como dizem na província quando um daqueles miúdos irrequietos que andam sempre a correr, se espalha, ao comprido, levanta, esfrega os joelhos com o anti-séptico natural e recomeça a corrida.
Mas antes de iniciar a breve história que desejo contar, pretendo colocar uma pequena questão relativa ao conceito do "team building", aos resultados e objectivos alcançados pelo mesmo team. Existe um "limite", ou melhor, propõem-se esses "jogadores" a atingir um limite, quando se formam, quando se projectam, quando confirmam o êxito das suas acções? Ou os seus limites... não conhecem limites?
Ou acontece-lhes o mesmo que a Einstein que a dada altura foi obrigado a ultrapassar os limites daquilo que de início, ele não vislumbrava limites?
Bom, a história que desejo contar, mas que todos conhecem, é daquele miudo que nasceu na noite de 25 de Dezembro, ha precisamente 2008, vai fazer dentro de 2 meses, em Belem, na Judeia.
Dizia-se que era filho de Deus. Aliás, já tinha sido anunciado o seu nascimento, por uns profetas, séculos antes. Esse miudo, nasceu entre palhas, no seio de uma família muito pobre. Cresceu demonstrando possuir uma estranha personalidade e uma aptência imensa para entender o mundo e quem nele habitava. Esse conhecimento, levou-o a tentar demonstrar que todos poderiam viver muitíssimo melhor, se alterassem a forma de se relacionar, ou seja, em lugar de se auto-explorar, passarem a valorizar a auto-ajuda. Estes conceitos e demonstrações fizeram com que ganhasse a estima daqueles que, mais humildes e nobres de alma, o fossem seguindo. Resolveu então o rapaz, ensinar de uma forma mais abrangente e, montou uma empresa and build a team, twelve people follow him anywhere he goes. Passados poucos anos, verificava-se com satisfacção que os accionistas aderiam cada vez em maior número, a empresa crescia, os objectivos eram sempre projectados num horizonte mais abrangente, mas, passados uns vinte anos de sucessivos sucessos, ha um membro da "team build" que se passa para a concorrência e... decorreu o tal jantar de despedida, em que o "administrador" se despediu de todos sem contudo não deixar de fazer sentir ao tal que roeu a corda, que estava decepcionado com o jogo sujo do artista, mas que pronto, perdoava-lhe e os outros que continuassem, porque o mundo era vasto e ainda havia muita obra para ser feita.
Há uns dias comentei que a palavra "ganância" era a actualização de uma outra muito em voga há 1 ano atrás: "ambição", ou até "arrojo".
De nada vale o linchamento dos executantes, se o que falhou, em determinado momento, foi o respeito por alguns valores básicos, que existem até na Economia. Ninguém se quis dar conta de que os Rendimentos já não tinham tradução no Produto.
Olhemos para a frente, ainda que devamos aprender e fazer exames de consciência.
Gostei das medidas ontem tomadas.
Para um leigo como eu é difícil compreender e muito menos aceitar que os danos causados por estes gestores possam ser mitigados num qualquer manjar de nababos.
Percebo que os accionistas tivessem imposto objectivos de ganância aos gestores, mas certamente que não os obrigaram a praticar acções que conduzissem os “seus”próprios bancos a colapsar da noite para o dia… A não ser que estejamos perante um “polvo organizado” para extorquir dos bancos centrais o pagamento dos custos sociais do crédito mal parado e assim sim, este manjar tem toda a razão de ser pois os objectivos foram cumpridos duplamente: por um lado os accionistas receberam os milhões de euros de dividendos e por outro lado o estado paga o risco associado ao sector!
Seria interessante acompanharmos o futuro profissional de todos estes gestores…certamente que não vão acabar a limpar as ruas.
Caro Bartolomeu, então não levamos a sério o que escreve? Ora essa!Já temos aqui no 4r uns largos palmos de prosa que o caro Bartolomeu suscitou, e sempre com muito espírito e muita curiosidade se bem que, há que reconhcê-lo, às vezes desconcertantes, como é o caso desta associação que faz. É que dá mesmo que pensar, uma leitura "actualista" da vida de Jesus, a aplicação dos nossos conceitos tão modernos à actividade que forma e modifica as sociedades, a conquista dos outros para uma causa e as "lutas de poder", os discípulos, o exemplo, os milagres da transformação, as traições. E os que não desistem e levam as suas ideias para lá das dificuldades.Interessante, a sua perspectiva, sem dúvida.
Pois, caro Manuel, já vimos que muitos conceitos são relativos, depois da evidência há que apontar os culpados, como se não tivessem sido muitos os que não viram e deviam ter visto.
Cato jotac, o jantar foi de quadros técnicos e não dos que tinham poder de decisão (embora muitos desses também possam, com razão, sentir-se injustiçados e estivessem a fazer o seu melhor), pelo menos foi o que entendi e por isso reparei na notícia, foi dos que acreditaram que estavam a fazer o seu melhor.
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