Afinal não são só os homens que têm a estranha capacidade de liquidar os membros da sua espécie. Os chimpanzés também são capazes.
Não se conhece mais nenhuma espécie que tenha sido capaz de organizar a violência ao ponto que conhecemos, e logo a mais inteligente! O facto do chimpanzé e dos seres humanos serem descendentes de um antecessor comum, há cerca de sete milhões de anos, leva-nos a pensar que há algo entre as duas espécies. A violência é uma delas.
A violência faz parte de uma estratégia evolutiva. Quando os conflitos não são resolvidos de forma não letal, os seres humanos e os chimpanzés “desligam” a empatia, desumanizando e “deschimpanzando” o inimigo. Em seguida fazem aquilo a que já estamos acostumados a ver: violência letal. Na base desses conflitos encontramos problemas demográficos e vários tipos de recursos, económicos, culturais, religiosos e acessos às bananas. Quando tinham que lidar corpo a corpo as coisas não eram tão graves. Talvez daqui tenha nascido a frase “quem vai à guerra dá e leva”. Mas a partir do momento em que aprendeu a matar à distância, as coisas tornaram-se mais sofisticadas. A princípio devia ser à pedrada, depois com o arco e flechas e mais tarde com as armas de fogo. A estratégia era correr menos riscos de morrer e ser capaz de matar o máximo dos outros. O terrorismo actual ilustra bem esta estratégia.
Matar membros da própria espécie de um forma tão organizada e violenta é um drama, mas quando ocorre dentro do mesmo povo, entre irmãos, então não sei como adjectivar.
A guerra civil espanhola foi uma tragédia que ocorreu às nossas portas. Os relatos históricos causam, ainda hoje, verdadeiros arrepios. Recordo de histórias ouvidas em miúdo que, mais tarde, através do acesso ao que aconteceu de facto acabaram por corroborar o drama. Quando comecei ir ao pais vizinho pensava sempre se não haveria ressentimentos escondidos entre os espanhóis. Afinal, não tinha sido há muito tempo. Ainda não tinha passado o tal século e meio para que o “esquecimento” se instalasse.
Os espanhóis estão a mexer em feridas que muitos pensavam estar em vias de cicatrização e até de restitutio ad integrum.
O juiz Garzón desencadeou diligências sobre a repressão franquista. A Igreja veio a terreiro afirmando que “Às vezes é preciso esquecer”. Entretanto, não esqueceu os 498 espanhóis considerados mártires das perseguições religiosas ocorridas durante a guerra civil, agora beatificados. Até ao momento já atingiram aquele status 977 e pode não ficar por aqui. Cerca de 10.000 podem vir a ser considerados como mártires, “Mártires do Século XX”. "La sangre de los mártires es el mejor antídoto contra la anemia de la fe", declarou há um mês Juan Antonio Martínez Camino.
As razões subjacentes à beatificação serão indiscutíveis na perspectiva católica, e não se discutem. O mesmo não se pode dizer sobre a necessidade de esquecer a outra parte, que foi, também, vítima de massacres e perseguições, mas por parte dos franquistas. Nestes deverão haver muitos que reúnem condições para ser “beatificados” ou receber um status idêntico em termos de “santidade”. Não tenho dúvidas, a santidade e o diabolismo estariam repartidos por ambas as facções. O melhor, para ajudar a curar os males, seria que cada parte reconhecesse a “santidade” das vítimas de ambos os campos e denunciasse os seus próprios diabos.
Vai ser difícil conseguir atingir este objectivo. A violência continua latente e os interesses de base não desapareceram. Somos seres humanos e partilhamos a violência com os nossos primos chimpanzés que, por enquanto, ainda não invocam razões politicas ou religiosas, ainda andam nas disputas das bananas, mas se evoluírem lá chegarão. Enfim, ainda há a esperança de podermos expressar mais as facetas dos bonobos, primatas mais pacíficos e com costelas tipo hippies...
Não se conhece mais nenhuma espécie que tenha sido capaz de organizar a violência ao ponto que conhecemos, e logo a mais inteligente! O facto do chimpanzé e dos seres humanos serem descendentes de um antecessor comum, há cerca de sete milhões de anos, leva-nos a pensar que há algo entre as duas espécies. A violência é uma delas.
A violência faz parte de uma estratégia evolutiva. Quando os conflitos não são resolvidos de forma não letal, os seres humanos e os chimpanzés “desligam” a empatia, desumanizando e “deschimpanzando” o inimigo. Em seguida fazem aquilo a que já estamos acostumados a ver: violência letal. Na base desses conflitos encontramos problemas demográficos e vários tipos de recursos, económicos, culturais, religiosos e acessos às bananas. Quando tinham que lidar corpo a corpo as coisas não eram tão graves. Talvez daqui tenha nascido a frase “quem vai à guerra dá e leva”. Mas a partir do momento em que aprendeu a matar à distância, as coisas tornaram-se mais sofisticadas. A princípio devia ser à pedrada, depois com o arco e flechas e mais tarde com as armas de fogo. A estratégia era correr menos riscos de morrer e ser capaz de matar o máximo dos outros. O terrorismo actual ilustra bem esta estratégia.
Matar membros da própria espécie de um forma tão organizada e violenta é um drama, mas quando ocorre dentro do mesmo povo, entre irmãos, então não sei como adjectivar.
A guerra civil espanhola foi uma tragédia que ocorreu às nossas portas. Os relatos históricos causam, ainda hoje, verdadeiros arrepios. Recordo de histórias ouvidas em miúdo que, mais tarde, através do acesso ao que aconteceu de facto acabaram por corroborar o drama. Quando comecei ir ao pais vizinho pensava sempre se não haveria ressentimentos escondidos entre os espanhóis. Afinal, não tinha sido há muito tempo. Ainda não tinha passado o tal século e meio para que o “esquecimento” se instalasse.
Os espanhóis estão a mexer em feridas que muitos pensavam estar em vias de cicatrização e até de restitutio ad integrum.
O juiz Garzón desencadeou diligências sobre a repressão franquista. A Igreja veio a terreiro afirmando que “Às vezes é preciso esquecer”. Entretanto, não esqueceu os 498 espanhóis considerados mártires das perseguições religiosas ocorridas durante a guerra civil, agora beatificados. Até ao momento já atingiram aquele status 977 e pode não ficar por aqui. Cerca de 10.000 podem vir a ser considerados como mártires, “Mártires do Século XX”. "La sangre de los mártires es el mejor antídoto contra la anemia de la fe", declarou há um mês Juan Antonio Martínez Camino.
As razões subjacentes à beatificação serão indiscutíveis na perspectiva católica, e não se discutem. O mesmo não se pode dizer sobre a necessidade de esquecer a outra parte, que foi, também, vítima de massacres e perseguições, mas por parte dos franquistas. Nestes deverão haver muitos que reúnem condições para ser “beatificados” ou receber um status idêntico em termos de “santidade”. Não tenho dúvidas, a santidade e o diabolismo estariam repartidos por ambas as facções. O melhor, para ajudar a curar os males, seria que cada parte reconhecesse a “santidade” das vítimas de ambos os campos e denunciasse os seus próprios diabos.
Vai ser difícil conseguir atingir este objectivo. A violência continua latente e os interesses de base não desapareceram. Somos seres humanos e partilhamos a violência com os nossos primos chimpanzés que, por enquanto, ainda não invocam razões politicas ou religiosas, ainda andam nas disputas das bananas, mas se evoluírem lá chegarão. Enfim, ainda há a esperança de podermos expressar mais as facetas dos bonobos, primatas mais pacíficos e com costelas tipo hippies...
3 comentários:
Caro Professor, é certo que algumas espécies de símios, evoluíram para a disputa pela banana, outros porem, como é o caso daqueles que pontuam na selva de S. Bento, mantêm-se na fase do amendoím.
Parece-me que ha ainda demaisada "gente" que necessita sangrar, para confirmar de ainda está viva...
É curioso o modo como nos mostra que há muitas maneiras de continuar ou de reacender as guerras. Afinal, há sempre quem queira que a paz não seja mais do que um cessar fogo! Concordo plenamente consigo, a insistência na beatificação tem como reverso a medalha a abertura das valas comuns...
Não deveria escrever "A ser verdade que os humanos e os chimpanzés são descendentes de um antecessor comum", ou temos certeza da teoria da evolução? Ver Twelve Myths of Modern Science
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