Confesso que estava à espera de um episódio destes.
Relata-se que a Ministra da Educação teve de abandonar Fafe onde se deslocou oficialmente perante uma manifestação de alunos e professores que gritaram palavras de ordem e atiraram ovos à governante.
Pelo que li e ouvi gritado e cantado por alguns professores na manifestação do passado de semana, não me custa a imaginar o teor das palavras de ordem. Como igualmente acho normal que os alunos se sintam estimulados pelo lastimável exemplo dos seus educadores.
Sei que aqui virão alguns escrever que a culpa é da ministra. Mas não é. É da falta de educação que nenhum ministro, por mais competente que seja, pode dar a quem a não tem. Mas é também e sobretudo da falta de vergonha de alguns.
E já agora: é tão fácil perder a razão!
17 comentários:
A crise, a desconfiança, a incerteza das pessoas quanto ao futuro, estão a fazer vir ao de cima o pior de todos nós...
Estou convicto que, chegados a este ponto, basta um pequeno pretexto para tudo descambar nestas situações que são de todo reprováveis.
Toda a razão. Sou estudante e estive na manifestação de dia 5. Uma das coisas que se dizia era: "uuuuuuuuuuuuooooooooooooohhhhhhhhhh PUTA!" (perdoe o palavrão). Fiz questão de não acompanhar o grupo nesses momentos. Apenas descredibiliza quem se manifesta e torna "coitadinho" o alvo da manifestação.
abraço,
TMR
Estou de acordo consigo.
É indesculpável.
Independentemente disso, sem que seja a menor sombra de qualquer desculpabilização, convém perceber por que razão se chega a este ponto.
Será bom lembrar que a estratégia do Governo (quer com os professores, quer com os juízes, quer com os funcionários públicos e sempre com algum fundo de verdade) foi uma estratégia de desconsideração. E no caso dos responsáveis deste ministério essa estratégia tem sido levada muito para lá do razoável.
Penso que a Correia de Campos, ministro pouco popular, isto não aconteceu (podia ter acontecido, mas sempre foi bem menos provável).
Estou de acordo consigo que esta violência estúpida é expectável neste caso e que é a maneira mais rápida de se perder a razão.
Mas à Ministra cabia aguentar, como fez Mário Soares na Marinha Grande, por exemplo, e não fugir.
À GNR cabia evitar se possível, reprimir se necessário.
Quem semeou ventos pode queixar-se ao colher tempestades mas não pode surpreender-se com isso.
Mesmo sendo verdade que estas tempestades são indesculpáveis e que os sindicatos, os partidos da oposição e outras formas organizadas de defesa dos interesses das pessoas envolvidas, deveriam estar a fazer a pedagogia da civilidade, que não estão.
henrique pereira dos santos
É, realmente vergonhoso, mas era esperado.
Há nesta coligação sindicatos-professores-alunos-oposições, uma convergência de interesses que só pode terminar um dia destes com a desistência da ministra e a nomeação de um outro são sebastião.
Porque, até hoje, e já lá vão três dezenas de anos, nenhum ministro da educação conseguiu sair-se airosamente da incumbência. E de cenas destas ou parecidas já estamos servidos quanto baste.
O problema da educação, que todos concordam ser nuclear na viragem que o nosso país precisa, só terá solução se o objectivo a perseguir for mais e melhor educação.
Para que tal objectivo se atinja é forçoso que se trabalhe mais e melhor. Com mais exigência, portanto.
Ora não há exigência sem avaliação, um conceito que faz arrepiar muitos professores, muitos alunos, muitos pais, com grande regozijo dos sindicatos e das oposições.
Se o governo fosse PSD, a história seria exactamente a mesma, trocando o papel de oposição com o PS.
Assim, definitivamente, não vamos lá.
Caros amigos
1 Já não se lembram do que é desconsideração. Desconsideração foi vaiar Durão Barroso na inauguração do Estádio da Luz (25 de Outubro de 2003), no Coliseu do Porto (no dia da abertura do Porto 2001, quando apoiava o protesto dos comerciantes) ou na comemoração do 25 de Abril em 2004. Desconsideração foi, também, a vaia ao PR Cavaco Silva, em Coimbra, em Janeiro deste ano, ou a Rui Rio (em Novembro de 2004, no Coliseu; em Junho de 2007, na reabertura do Rivoli; em Campanhã, em Setembro de 2005; etc.). Desconsideração foi a rábula do porteiro do Hospital de Faro que pediu o BI ao PM Cavaco Silva, vai para 15 anos, e não o deixou entrar. Desconsideração é o que a Sra Ministra tem feito repetidamente aos professores. Lembro-me de todas estas desconsiderações terem merecido o aplauso abrutalhado de destacados dirigentes e de simples simpatizantes de um certo partido que me dispenso de nomear.
2 O que aconteceu hoje em Fafe à dita senhora, eu não aprovo e nunca o faria.
3 Uma avaliação mal feita, como esta, não promove exigência, nem boa qualidade, no domínio da educação.
Totalmente de acordo, José Mário. Nada pode justificar o indecoroso comportamento dos alunos, a não ser a falta de educação a que se chegou. A educação está de rastos.
Para o caro JM Ferreira de Almeida quem insulta a Ministra revela má educação, quando a Ministra insulta os professores ou os deputados nada diz. Sintomático.
Acho engraçado fazer a seguinte afirmação: "perante uma manifestação de alunos e professores", esteve presente em Fafe? Como sabe que foi uma manifestação de alunos e professores? Não terá sido uma manifestação de alunos e respectivos pais? Ou será que não foi uma manifestação apenas de alunos?
É também deveras interessante verificar a inclinação do seu texto, subentendendo qua culpa dos ovos lançados à Ministra é culpa dos... professores!
É tudo culpa dos professores. Um dia ainda ouviremos alguém descobrir que a culpa da queda do Meteorito em Tunguska se deveu aos professores.
Triste país que tão mal trata os seus professores.
Eu, por acaso, acho que nos faz falta mais episódios como este.
A propósito da má educação de quem vaia, vejam isto:
http://br.youtube.com/watch?v=W9mU22TOLfs
Meu caro Fartinho da Silva:
Quando se tem "inclinações", como lhe chama, só se lê o que se quer ler, e é então inevitável a interpretação dominada pelo preconceito.
Não tenho qualquer preconceito quanto aos professores e aos seus legítimos protestos.
Mas parece não ser o seu caso, a medir pelo ocmentário que fez.
Se quiser ter a bondade de clicar no sublinhado do post, verá que verti para o texto as informações que constam de uma notícia.
Como reparará, a notícia refere-se a professores e a alunos. Não a vi desmentida. Mas estou pronto a corrigir se o meu Amigo tiver estado lá e me garantir o contrário.
Outro preconceito em que o meu caro labora no seu comentário: a de que só critico os professores. Engana-se redondamente.
Censuro aqueles que, investidos na situação de professores, se comportam como os vi comportarem-se na manifestação, fazendo do insulto um argumento.
Esses, meu caro, tiram razão à mais que justa motivação dos demais para se manifestarem. Mas também em relação a esses não ouvi da parte de quem tinha obrigação de censurar, uma palavra de censura.
Por isso, meu caro Fartinho, estas condutas, para além de lamentáveis, só enfraquecem a razão de quem a tem.
Espero ter clarificado o que escrevi
É a realidade de hoje, de ontem e infelizmente do nosso amanha. Não apenas em Portugal mas lá fora também se fazem destas coisas.
Os educadores que a tanto custo muitas vezes têm de por ordem numa sala de aula, perder facilmente a noção de como agir. Parecem crianças. Tristes, amarguradas e capazes de qualquer coisa mesmo saberem ao certo porquê.
Muitas vezes quando faço o retrato da nossa sociedade, refiro-me a centenas de pessoas que se juntam, no comboio, metro ou até no autocarro e começam um dialogo. Dito dialogo são reproduções à letra e sem qualquer tipo de filtro do que viram ou ouviram nas noticias e cada um no seu canal.. A pessoa da Sic com a da Tvi ou Rtp e assim diariamente, ainda que possam estar a contradizer a noticia do dia anterior. Falam por falar. Falam porque alguém falou assim.
Nos professores, não no seu todo mas em grande parte ocorre um pouco o mesmo. Ouvem que têm de reclamar, não sabem ao certo do que porque para muito até é indiferente.. mas vamos armar o barraco e ver o que acontece, até "nos baldamos a umas aulas e tudo". Parecem crianças.
É o vale tudo. Com atitudes destas, acham que não deviam ser avaliados?
Deviam e devem (devemos), antes e depois deste acontecimento. De preferência, bem avaliados, porque há boas prácticas que estão estudadas há muito tempo e nada se deve fazer amadoristica e incompetentemente.
Obviamente que perdem a razão. Isto é uma demonstração que na educação, o que está mal não é só a avaliação dos profs.
A educação é constantemente agredida por todos: Alunos, Profs, Tutela, Pais.
Assim, não se augura nada de bom para o futuro.
Caro JM Ferreira de Almeida, agradeço os seus esclarecimentos.
Em relação à sua fonte, apenas tenho a dizer que poderia ter escolhido as seguintes:
- http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1349665&idCanal=58;
- http://www.tvi.iol.pt/i-nformacao/noticia.php?id=1011992;
- http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/450284;
- http://sic.aeiou.pt/online/noticias/pais/Estudantes+de+Fafe+atingiram+o+carro+de+Maria+de+Lurdes+Rodrigues.htm;
- http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=358417;
- entre outros.
Nenhum fala em "manifestação de alunos e professores", no máximo referem a presença de alguns professores.
Seja, meu caro Fartinho da Silva. Corrijo: "a manifestação foi coordenada por alunos da Escola Secundária de Fafe, mas contou com a presença de alguns professores, que aproveitaram para protestar contra a política do Ministério da Educação", como se diz num dos sitos que indicou.
Mantenho, porém o sentido que escrevi no post e do que procurei esclarecer no comentário ao seu comentário.
Sempre agradecido pela colaboração neste espaço.
Caro JM,
o que eu vi e o que ouvi na manifestação do passado Sábado nada tem a ver com o que viu e ouviu nas televisões, porque eu estive lá (outra vez e com grande sacrifício físico). Eu vi muitos rostos cansados, tristes, abatidos e ouvi muito silêncio, em comparação com a manifestação de 8 de Março. Não estou a duvidar que tenham existido excessos mas nem eu os percepcionei, nem os senti.
É fácil pegar nuns quantos exemplos de slogans mais "lastimáveis", para usar as suas palavras, e fazer disso a caracterização da manifestação (como é fácil pegar no exemplo de Fafe e escrever que facilmente se pode perder a razão). O difícil é ter estado lá, chegar a casa à uma e meia da manhã, doente e no dia seguinte entrar no 4R à procura de alguma espécie de espelho e encontrar uma caixa de comentários onde proliferam as mentiras, onde não interessa saber, de facto, se a implementação deste processo de avaliação está a trazer qualquer melhoria às escolas do nosso país. Senti uma vontade enorme de responder, ainda abri o word para começar a rebater ponto por ponto mas depois faltaram-me as forças e pensei que não valia a pena. Só para dar um exemplo: já aqui escrevi em tempos todas as formas pelas quais fui avaliada (como todos os outros professores) desde que comecei a dar aulas: a licenciatura e o estágio que concluí, os relatórios de avaliação que entreguei, as acções de formação que frequentei, as classificações que aí obtive, o curso de mestrado que fiz. No entanto, isso não interessa para nada: "durante 30 anos os professores deste país nunca foram avaliados"; "os professores o que querem é não ser avaliados"! Isto é só um exemplo. E ao contrário do que referia o Dr. Pinho Cardão em post anterior, não me parece que o problema esteja no emissor da mensagem (os professores) mas no receptor (a opinião pública) ou no "ruído".
Eu poderia falar do processo de avaliação de desempenho em si; das fichas de avaliação dos Presidentes dos Conselhos Executivos cujos vinte e tal parâmetros de avaliação se multiplicam por quatro ou cinco descritores; da existência de uma equipa responsável pelo apoio à implementação do processo junto das escolas (o que comprova a existência de problemas); das dúvidas que ficam por responder quando as perguntas dizem respeito ao âmbito da operacionalização; que não há formas nem fórmulas técnicas de ultrapassar determinados problemas deste processo; da percepção que todos os que lidam realmente com o processo têm de que a única solução para tudo isto é política... Mas venho aqui e sinto que não vale a pena. Se realmente alguém quisesse ter conhecimento real do que se passa era só procurar determinados blogues de professores e ler as fichas ou pedi-las por mail que qualquer um de nós as enviávamos ou os meus relatórios de avaliações anteriores ou as minhas classificações obtidas no modelo de avaliação anterior... Mas não vale a pena... O "combate", como alguém hoje à tarde na minha escola dizia, tem de ser outro. É mostrarmos que assim não. Custe isso o que custar, porque eu não posso desenvolver na minha escola um projecto pela memória do Holocausto e tentar mostrar aos meus alunos a importância da democracia, da intervenção cívica e o perigo da observação passiva e depois nada fazer quando está em causa a educação no nosso país. Assim, é que era fácil perder a razão.
Neste caso, quem semeia ventos colhe tempestades.
Não sou professor, mas tenho conhecimento do ambiente que se vive nas escolas. Aquilo que os alunos de Fafe fizeram à ministra não se coibem, também, de o fazer aos seus professores.
No meio dessa atitude, há um aspecto positivo. A ministra tem a oportunidade de acompanhar, "in loco", como funciona o estatuto do aluno na punição deste tipo de atitudes.
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