1. As notícias financeiras dão hoje conta de que “dados do desemprego ensombram Wall Street”, a propósito da divulgação de dados oficiais que mostram um aumento superior ao esperado, na última semana, dos pedidos de subsídio de desemprego nos USA (531.000). Receia-se que o número de desempregados ultrapasse 10% da população activa no início de 2010.
2. Esta notícia é curiosa pois parece estar em contra-mão relativamente ao que tem sido o desempenho dos mercados bolsistas ao longo dos últimos 6 meses quando comparado com a evolução dos números do desemprego.
3. Uma análise atenta da evolução dos mercados bolsistas das economias desenvolvidas, que registaram nos últimos 6 meses ganhos extremamente rápidos, mostra-nos que numa fase inicial (Abril a Junho) a recuperação das cotações se deveu à percepção pelos investidores e analistas de que a quebra da actividade económica teria atingido o seu "nadir" pelo que uma fase de recuperação estaria a chegar – estávamos então numa altura em que os resultados das empresas ainda não evidenciavam melhorias mas adivinhava-se que estas não tardariam...
4. Passou-se depois a uma fase, a partir de Julho, em que os resultados começaram a melhorar e a bater nalguns casos as expectativas, com isso contribuindo para reforçar os ganhos dos índices bolsistas que se prolongaram até início desta semana.
5. No entanto e como alguns relatórios de análise técnica têm posto em evidência, as melhorias dos resultados das empresas, que têm vindo a verificar-se de forma mais visível no 3º Trimestre do corrente ano, devem-se não ao aumento de actividade – de um modo geral os dados de actividade estão ainda em queda – mas sim às drásticas reduções de custos implementadas que permitiram melhorias substanciais dos indicadores de exploração e dos resultados líquidos.
6. As reduções de custos são por sua vez resultado, "prima-facie", das poupanças realizadas ao nível da massa salarial - por redução dos efectivos em 1º lugar mas também por redução de níveis remuneratórios...
7. Pode assim afirmar-se, com segurança, que tem existido até agora uma correlação positiva entre o aumento do desemprego e a euforia bolsista que se tem verificado em boa parte deste ano...o que parecendo paradoxal numa primeira análise acaba por se perceber quando se atenta melhor na mecânica dos “drivers” das cotações...
8. Mas também é verdade que este aparente paradoxo pode deixar de o ser se, por hipótese que nos apetece rejeitar liminarmente, o desemprego continuasse a agravar-se sem saída visível...aí os chamados fundamentais da economia acabariam por sobrepor-se aos resultados das empresas e mesmos estes acabariam por inverter a marcha de recuperação...
9. Dai que estas notícias da reacção de Wall Street aos números do desemprego nos deixem nesta dúvida: estarão os mercados menos confiantes na melhoria dos resultados das empresas e no contributo que o aumento do desemprego tem dado para essa melhoria? Pensarão que o aumento do desemprego prenuncia agora um recuo da tímida retoma da actividade a que temos assistido?
10. Ou será que na próxima semana voltaremos ao "business as usual" e os resultados vão impor novas subidas das cotações?
11. Será que Nouriel Roubini vai ter razão mais uma vez?Tema do maior interesse para seguir nos próximos dias e semanas.
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