Cumprem-se 100 dias de governo e tornou-se hábito fazer um balanço do arranque do novo executivo após este tempo. O que melhor caracteriza estes 100 dias? Por um lado a oposição a algumas políticas do governo anterior. Por outro, uma preocupante continuidade no que é essencial para o País.
O caso mais evidente de oposição ao governo anterior é o da educação. Com uma nova ministra, e apesar do primeiro-ministro ser o mesmo (numa versão todavia mais soft) que meses antes jurava firmeza nas medidas aprovadas em conselho de ministros e nos múltiplos e quilométricos despachos da anterior equipa ministerial, em menos de um fósforo lá se foi a convicção sobre a justeza da alteração das carreiras ou sobre o modelo de avaliação dos professores.
Na justiça afinal a questão das férias judiciais - que a par da venda de medicamentos fora das farmácias constituiram as medidas com que o governo anterior anunciou a sua vontade reformista inabalável - cedeu lugar à compreensão pelo desgosto de alguns actores judiciários e, mais semana menos semana, lá se verá o regresso ao passado, com o mapa judiciário (essa anunciada mãe das reformas judiciárias) esquecido.
Na agricultura o esforço é agora desfazer o desastre que foi a passagem pela pasta do anterior titular, ensaindo-se com charme uma aproximação aos agricultores que contrasta com a postura do anterior ministro que parecia admitir a existência de agricultura sem agricultores.
Nas finanças o ministro assume que afinal o déficite é um problema e a dimensão da dívida soberana uma dor de cabeça.
Nas obras públicas o ministro manda parar (ou sujeita-se à ordem para parar) a hemorrogia do betão e para o TGV Porto-Vigo e - suprema condenação do discurso anterior - julga insustentável o nível de endividamento de algumas empresas públicas do sector.
Depois, existem as marcas impressas ao longo de 5 anos de governação PS, que se mantêm, e essas são essenciais. Hoje o governo quis dar um sinal de que na essência é coerente. Esse sinal foi a pompa e circunstância com que anunciou o lançamento da primeira pedra do novo museu dos coches, obra que custará uns largos milhões num contexto em que já ninguém duvida que o empobrecimento do País se acentua a um ritmo que as políticas de novo-riquismo dos últimos tempos iludiram. Haverá simbolo mais acabado da tendência para o sumptuário do que esta obra que só pode ser entendida como a celebração do despautério das finanças públicas que caracterizou uma das piores fases da I república?
3 comentários:
Caro Ferreira d'Almeida, acho que há primeiras pedras espalhadas por esse país fora...não sei quanto pesam no orçamento, se forem pesadas uma a uma.
Pesam seguramente demais neste momento, Suzana. Creio que o País acorda lentamente para essa certeza.
Está mesmo certo de que são 100 dias, caro F. Almeida?
Não serão 100 anos, a avaliar pelo estado de desanimo que se instalou na opinião pública?
Enviar um comentário