A vida vai-se desenrolando em fases sucessivas e muitas vezes levamos tempo até perceber que se deixou para trás uma delas e se está já a viver em pleno a seguinte. Ou porque andamos muito ocupados, ou porque nos isolamos, ou porque ficamos contrariados com a juventude que foge e os filhos que se vão embora, ou seja lá pelo que for, o facto é que de repente percebemos que andávamos desfasados e enrodilhados em dúvidas próprias dessa transformação. Conforme a fase da vida, chama-se a isto crescer, amadurecer ou envelhecer, em qualquer caso é bom que aconteça da maneira certa ou seja, ajustando-nos.
Vem isto a propósito de um serão com amigos de longa data, daqueles que achamos que sabemos tudo uns dos outros porque partilhámos de perto partes fundamentais da nossa vida mas que acabámos por ver só de quando em quando, aniversários, Natal, casamentos, conversas de fugida e pouco mais. Reparamos agora que temos mais tempo para voltar a estar juntos, descontraídos, que as nossas casas voltam a ter espaço e sossego para longas conversas sem filhos a chamar, ou obrigações que medem o tempo, mas que ainda não sabemos aproveitar devidamente essa nova liberdade, depois de cumprida uma parte muito exigente da vida. Podemos encontrar-nos mais vezes, marcar em cima da hora, aparecer sem cerimónias enfim, recuperar o gosto da intimidade e da confiança mútua que tem umas raízes tão fundas que só o tempo e a permanência podem criar. E é sobretudo com esses amigos que é mais fácil perceber a transição.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que de repente descobrimos que somos sogros. Sim, isso mesmo, sogros. Surpreendemo-nos a falar da vida dos nossos filhos com a mesma perplexidade com que os nossos pais e sogros falavam da nossa, sentimos aquela tentação de os avaliar de acordo com o nosso próprio modelo de entendimento ou de organização de vida e eles são diferentes, não os compreendemos ou tememos pela sua felicidade com os respectivos pares. O facto é que aceitamos mal que eles tenham querido e sabido aceitar o que em nossa casa não aceitavam, os rapazes não mexiam uma palha e agora são diligentes e prestimosos pais de família, as raparigas sabem definir o seu espaço profissional e não têm remorsos nem os sentimentos de culpa que nos atormentavam, mil e um detalhes que comparamos e discutimos, como se constituíssem problema e fonte de preocupação. Até que começámos a lembrar episódios com as nossas próprias sogras e mães, o que nos criticavam, o irritante que era darem sentenças sobre a nossa vida, aquela sogra que ia lá a casa e tirava a roupa toda das gavetas, voltava a lavar e a passar a ferro porque só ela é que sabia passar as camisas do filho. Ou a que mandava comida feita com medo que a nora deixasse os netos morrer à fome por ser má cozinheira. Ou a mãe que abanava a cabeça por a filha chegar tarde do trabalho, não sei como é que o teu marido atura isso… Enfim, já quase no fim do serão fez-se luz no nosso espírito e desatámos a rir: estamos sogros!
Nada como um excelente serão com amigos para aprendermos a aceitar a realidade e a saber viver com ela da melhor maneira para todos.
Vem isto a propósito de um serão com amigos de longa data, daqueles que achamos que sabemos tudo uns dos outros porque partilhámos de perto partes fundamentais da nossa vida mas que acabámos por ver só de quando em quando, aniversários, Natal, casamentos, conversas de fugida e pouco mais. Reparamos agora que temos mais tempo para voltar a estar juntos, descontraídos, que as nossas casas voltam a ter espaço e sossego para longas conversas sem filhos a chamar, ou obrigações que medem o tempo, mas que ainda não sabemos aproveitar devidamente essa nova liberdade, depois de cumprida uma parte muito exigente da vida. Podemos encontrar-nos mais vezes, marcar em cima da hora, aparecer sem cerimónias enfim, recuperar o gosto da intimidade e da confiança mútua que tem umas raízes tão fundas que só o tempo e a permanência podem criar. E é sobretudo com esses amigos que é mais fácil perceber a transição.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que de repente descobrimos que somos sogros. Sim, isso mesmo, sogros. Surpreendemo-nos a falar da vida dos nossos filhos com a mesma perplexidade com que os nossos pais e sogros falavam da nossa, sentimos aquela tentação de os avaliar de acordo com o nosso próprio modelo de entendimento ou de organização de vida e eles são diferentes, não os compreendemos ou tememos pela sua felicidade com os respectivos pares. O facto é que aceitamos mal que eles tenham querido e sabido aceitar o que em nossa casa não aceitavam, os rapazes não mexiam uma palha e agora são diligentes e prestimosos pais de família, as raparigas sabem definir o seu espaço profissional e não têm remorsos nem os sentimentos de culpa que nos atormentavam, mil e um detalhes que comparamos e discutimos, como se constituíssem problema e fonte de preocupação. Até que começámos a lembrar episódios com as nossas próprias sogras e mães, o que nos criticavam, o irritante que era darem sentenças sobre a nossa vida, aquela sogra que ia lá a casa e tirava a roupa toda das gavetas, voltava a lavar e a passar a ferro porque só ela é que sabia passar as camisas do filho. Ou a que mandava comida feita com medo que a nora deixasse os netos morrer à fome por ser má cozinheira. Ou a mãe que abanava a cabeça por a filha chegar tarde do trabalho, não sei como é que o teu marido atura isso… Enfim, já quase no fim do serão fez-se luz no nosso espírito e desatámos a rir: estamos sogros!
Nada como um excelente serão com amigos para aprendermos a aceitar a realidade e a saber viver com ela da melhor maneira para todos.
13 comentários:
Não conseguia imagina-la, já em idade de poder ser sogra, cara Drª. Suzana.
Talvez tenha sido mãe muito jovem...
Cara Dra. Suzana Toscano:
Permita-me que lhe recorde, William Shakespeare:
“O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.”
O último parágrafo (não sei bem porquê!...), assenta-lhe perfeitamente…
Bem, caro Bartolomeu, isto sou eu a falar em geral :)
Obrigada, caro jotac, pelo lindo complemento (e cumprimento) que juntou ao meu post.
Sorte Suzana de quem a apanhar como Sogra!
Mas o que verdadeiramente importa é que cada idade tem os seus encantos. Temos que os saber aproveitar e tirar deles o maior proveito possível. À medida que a vida vai avançado, vamos como que descobrindo que temos coisas novas para valorizar. É, mesmo, a melhor forma de nos adaptarmos a mais uns anitos que vão passando...
Margarida, a propósito de sorte com genros e com sogras, o pai de uma amiga minha tinha vários genros e um deles um dia perguntou-lhe se não achava que a filha tinha escolhido bem o marido e o sogro respondeu-lhe. " se você é ou não um bom marido para a minha filha eu só lhe poderei dizer daqui a vinte anos". Os sogros são assim, sempre de pé atrás...
O pai da sua amiga, cara Dra. Suzana, não chegou até sogro a dormir, não!...
Estou de acordo com ele, só não sei bem se são precisos 20 anos...
Sogras?...depois… avós?
Instala-se o pânico!
Como o tempo acelera.. Faço uma correlação próxima entre sogra e avó! Embora a imagem de avó se tenha modernizado imenso nas últimas décadas.. continua a ser intimidante! Ainda não tinha pensado bem nesse grau de parentesco por aqui...
Esse seu post, cara Suzanna, quase que me obrigou a uma introspeção imediata! Hmm : )
Pânico, minha Amiga Catarina?
Não estaremos antes a participar activamente na renovação e sustentação da vida, garantindo o futuro?
Aliás, nem consigo descobrir outro desígnio que nos caiba melhor, que o da procriação, transmitido de geração para geração ininterruptamente ;))))
Vejamos, tudo aquilo que é a nossa acção no mundo, tem como única finalidade a manutenção da espécie.
Alimentamo-nos, produzimos para nos alimentar, melhoramos as condições de vida, criamos conforto, para garantir as melhores condições possíveis para a procriação e a dessiminação da espécie.
Temos nos genes o viros da procriação-compulsiva.
No entanto, vivemos sob o gume afiado e desafiante do pânico de extinção. Passamos o tempo a medir os níveis demográficos e a estaticizar os aumentos e decréscimos da natalidade e da mortalidade.
O compositor Checo Viktor Ullman, que morreu no campo de concentração nazi de Auschwitz, compôs um concerto para piano, cujo acto final "III Finale" começa no andamento "Moderato".
Bá, oubide-lo por obséquio:
http://www.youtube.com/watch?v=gdiLxRCKgiE&feature=related
O Senhor Viktor, executou ao piano, no campo de concentração esta melodia do "Final dos Tempos", mas com um espírito diferente... o do renascimento, da renobaçõe.
Renobêmo-nos entõe!!!
;))))
(Isto... quando um tipo não toma os comprimidos...)
O desígnio da humaninade é procriar, é construir, mas não deixa de ser a maior destruidora da vida humana, ultrapassando as calamidades da Natureza... vamos lá entender!
O ciclo da vida apresenta-nos fases – que se não estivermos atentos – surgem de forma inopinada, e - se não estivermos preparados – nos pode amedrontar, essencialmente, a nós e a todos os Peter Pans que proliferam por aí.
Temos que estar abertos a constantes mudanças, evoluções de forma a conseguirmos o tão almejado equilíbrio emocional.
Gostei de ouvir Viktor Ullmann que “criou um paradigma intemporal de como através dos poderes positivos da humanidade a desumanidade de qualquer regime tirânico pode ser superado”.
Pois... quando não se tomo o tal comprimido...
: ) : )
;))))
Não me referia a "esse" comprimido, mas... lá virá o dia. Parece que cada vez mais, ha "coisas" falíveis...
;)))
Catarina, creio que esse poder positivo é simplesmente o desejo de liberdade, o que move revoluções, rebeldias e acots de coragem ou que leva até à morte, como aconteceu ainda há dias com o dissidente cubano que cumpria 36 anos de prisão...
Quanto à correlação sogra-avó lamento mas não será a Catarina a ter poder para o apressar ou impedir, é aguardar serenamente e preparar-se para a normal evolução da vida, de preferência cheia de alegrias.
Caro jotac,mesmo vinte anos não é nada seguro...cada dia é que conta.
Tem razão, caro Paulo. Mães exigentes, avós babadas.
Faz parte do ciclo da vida... E mesmo que, ao pensarmos nessa perspectiva, nos sintamos apreensivas (e não necessariamente por motivos egoístas), é bom que tenhamos mais tarde... ou mais cedo... essa experiência, sinal que estamos vivas e somos capazes de assumir esse novo papel.
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