Há seis mil anos foram enterrados abraçados um ao outro. Porquê? Quem eram?
Curiosidade? Muito mais do que isso. Uma história que gostava de conhecer. Mas se não conseguir, o melhor é imaginar...
Curiosidade? Muito mais do que isso. Uma história que gostava de conhecer. Mas se não conseguir, o melhor é imaginar...
30 comentários:
Um desafio, caro Professor Massano Cardoso?
Aceite!
;)
Ha 6000 anos atrás, um homem de 40 anos seria um velho, talvez equivalente a homem de 80 anos na nossa era, assim como uma mulher de 12 anos, se poderia equiparar a uma mulher de 24 na actualidade. Ha 6000 anos, logo que uma menina tinha o primeiro ciclo menstrual, considerava-se apta a receber homem, a acasalar, o que sucedia naturalmente, sendo entregue pelo chefe do clã a um caçador que, para além de ter sensivelmente a mesma idade, deveria possuir um "sígno" de força superior ao da menina.
A este caçador, era atribuída a responsabilidade de provir à defesa e subsistência do seu agregado familiar. à menina era entregue a responsabilidade de acondicionar e conservar alimentos que lhes permitissem a subsistência durante os longos invernos glaciares. Porém, um caçador, poderia se o desejasse, tomar para si mais mulheres, não acontecendo essa circunstância, devido ao mesmo tipo de factores que hoje determinam a formação dos casais, tais como, o sentimento amoroso. Ha 6000 anos eram determinantes para a escolha ou a aceitação da mulher, aspectos como a robustez física e o conhecimento das "técnicas" de preparação dos alimentos, a desenvoltura e a docilidade. Como em todas as sociedades, tanto homens, como mulheres adquiriam um estatuto dentro do clã a que pertenciam, sendo o de curandeira, o mais elevado que uma mulher poderia atingir, a par ou imediatamente a seguir ao de companheira do chefe.
As curandeiras recebiam o conhecimento das técnicas e das plantas empregues na medicina, por sucessão, ou seja, o conhecimento era transmitido de mãe para filha, sucessivamente e de uma forma hermética.
Neste quadro, sería possível a um homem de 40 anos ter a seu cargo, uma menina de 12 anos que tivesse tomado, 5 anos antes da sua morte e que, por se achar completamente desprotegida, tivesse preferido morrer juntamente com aquele que seria o seu "marido".
A compreensão daquela imagem, deverá ser tentado compreender à luz daquilo que a arqeologia conhece e nunca à luz dos nossos dias.
Penso eu de que...
Que imaginação. Tão rápido.
Vamos lá ver. Um homem aos 40 anos já era velho? Mais do que isso se atendermos a que esperança de vida oscilava ao redor dos 25 anos. A rapariga com 12 anos equivaleria a uma de 24 dos nossos dias? Não creio. A menarca na altura deveria ser muito mais tarde da que é observada hoje.
Já agora proponho um desafio. E que tal imaginar sob a forma de um pequenino conto o que terá acontecido, enquanto os antropólogos não nos fornecerem mais elementos?
Há seis mil anos a morte também não marcava data para chegar. A grande diferença é que ela fazia parte da vida porque se arriscava a vida de cada vez que se lutava pela sobrevivência. A caça, as lutas pela posse das fontes de subsistência, o duro trabalho agrícola, as feridas mal curadas, as doenças que as ervas e as mezinhas dos curandeiros não conseguiam curar, tudo trazia um risco de morte que a tornava tão banal e tão temida ao mesmo tempo. A vida era tão precária que a primeira grande prova era resistir à nascença e aos primeiros anos, depois tinha que ser vivida depressa para ter tempo de cumprir o ciclo da natureza, nasce, cresce, reproduz-se e morre.
A menina não queria casar. Tinha doze anos mal cumpridos e gostava da vida, de passear nos jardins do palácio do nobre seu pai, de brincar com a escrava que tinha sido sua ama de leite e que lhe dedicava um amor insensato, uma afeição exclusiva que a tinha protegido sempre de quaisquer outros trabalhos que não fossem o de olhar pela menina e a guardar de todos os perigos. Há pouco tempo a escrava começara a contar-lhe coisas da vida das mulheres, coisas que ela devia esperar com fatalidade com que cresciam os cabelos ou se alongavam as pernas, coisas que significavam também que se aproximava do fim o tempo da infância despreocupada e alegre da filha de um nobre da corte do rei.
A menina soube que a sua mãe morrera de parto no mesmo momento em que ela respirara a plenos pulmões, e soube também que esse era o destino de muitas mulheres, talvez até da maioria, tantos filhos até morrerem de parto. Do amor conhecia apenas o de seu pai, embora distante e severo, e o da sua escrava, que ela queria sempre ao seu lado, em quem confiava e com quem se sentia ao abrigo de todas as ameaças.
Mas o seu pai anunciara-lhe o noivo e a data do casamento, apenas o tempo de preparar os festejos, e ela não queria. A escrava também não. Via a sua menina casada com aquele bruto, um guerreiro rude que a ia levar para longe e tratá-la mal, ela não voltaria a vê-la e ficaria presa à servidão que por isso já lhe pesava, sempre à espera da notícia terrível da sua morte e talvez também da criança que a matara, eram isso as mulheres, um corpo que dá vida a outros corpos, um nasce outro morre, numa sucessão infinda de dores, alegrias e choros até que o mundo se acabe.
A menina não queria casar e a escrava não ia deixar que a levassem para longe de si. Nessa noite deu-lhe a beber a poção do sono mágico, a bebida que apagava as dores mais fortes, doce como o mel, amarela como o sol, densa como a morte. Deitou-a na cama docemente e vigiou-lhe o último suspiro. Depois, tomou ela a sua dose e encolheu-se ao lado da garota, tomou-a nos braços como tantas vezes tinha feito e deixou que a morte a embalasse no sonho de que nunca, mas nunca, se haviam de separar. Sonhou que as encontrariam assim e que assim as deixariam ficar na sepultura, para todo o sempre, até que os dias e as noites deixassem de se suceder.
A escrava acreditava, do fundo do seu coração, que o amor pela sua menina era eterno e que por isso mesmo os homens daquele tempo e de todos os tempos saberiam olhar com temor e respeito esse sentimento único. Morreu a sorrir, abraçada à criança, pensando que quando fossem apenas ossos e pó o seu amor estaria vivo e à vista de todos, vencendo a passagem do tempo e o vigor dos corpos e prolongando-se até à eternidade.
Talvez porque o Dia de S. Valentim se aproxima, imagino que este teria sido um amor impossível, um amor entre uma escrava e o único filho do conselheiro do Imperador, homem déspota e ambicioso que tinha já o futuro do filho delineado e de cujo trajecto não se queria desviar custasse o que custasse. Tinha em mira a filha do Imperador para o seu filho, jovem de uns 15 anos, mimada ao exagero, caprichosa e que maltrava todos aqueles que a serviam ao ponto de exigir que algumas das suas escravas fossem chicoteadas sem razão aparente. Mas o filho do conselheiro tinha-se apaixonado perdidamente pela filha de uma escrava da mãe, uma menina de uma beleza suave, meiga, tímida que mal se atrevia a olhar-lhe nos olhos, pois também ela sentia no seu coração puro e inexperiente a força de uma paixão que mal podia conter. O tempo foi passando, o amor entre os dois foi descoberto. Ambos sabiam que seriam forçados a viver separados para sempre. E foi então que decidiram fugir com a ajuda de um servo de confiança. Esconderam-se numa gruta não muito longe, de cuja existência ninguém conhecia e onde passaram os últimos dias da sua curta existência....numa comunhão de sentimentos que ultrapassou todas as barreiras...
: )
E é assim que – num espaço público, perante as expressões estupefactas de alguns leitores do 4R - a minha carreira como romancista termina sem ter propriamente começado.... : )
Em primeiríssimo lugar, devo declarar-me completamente absorvido pelas maravilhosas estórias das nossas confrades Suzana e Catarina.
O engenho para arquitecturar as cenas, suplanta largamente o rigor ántropológico.
Depois e não querendo desapontar o meu estimadíssimo amigo, Professor Massano Cardoso, devo referir-lhe que, baseado nos escassos conhecimentos que adquiri através de leituras várias, ha 6.000 anos atrás, além de a esperança média de vida ser muitíssimo inferior à dos nossos dias, o envelhecimento dos seres humanos era muito mais precoce. As meninas, daquilo que se sabe, tinham a sua primeira menstruação, sensivelmente pela mesma idade de hoje, entre os 7 e os 12 anos. O que sucedia é que naquela época, as sociedades regiam-se por ciclos e por rituais que iniciavam tanto meninas, como rapazes.
Mas voltando ao tema da explicação do achado arqueológico, foram encontrados na europa central outros casos idênticos.
Desafia-me o caro Professor a escrever uma estória... escreveria, com o maior prazer, se a inspiração me tivesse visitado, não aconteceu, por isso limito-me a abordar 2 ou 3 pontos que no meu ponto de vista podem merecer alguma reflexão.
Aos nossos olhos, a posição en que os esqueletos humanos foram encontrados, apresenta-se sedutora e inspiradora de pensamentos romanticos, amorosos. Poderíamos fácilmente imaginar que um homem de 40 anos, sepultado juntamente com uma menina de 12, poderia dever-se ao facto de ambos se encontrarem unidos em vida por laços muito fortes de um determinado tipo de amor, carnal, fraternal, espiritual, paternal, filial, etc.
Poderíamos ainda aventar o sucedimento de um acidente. Naquele tempo os humanos viviam em cavernas, que eram escolhidas na sua dimensão, conforme o número de elementos que constituíam o clã. Sabemos ainda que nessa época, ocorriam sismos com muita frequência e, o abate dos tectos das grutas era também frequente.
Contudo, se tivesse sido essa a causa da morte, os arqueólogos que fizeram a descoberta, encontraríam certamente crâneos e ossos esmagados. Ao que parece, não foi o caso.
Podemos pensar também em rituais religiosos. Sabemos que em alguns "ramos" que se expandiram através do continente europeu asiático e africano, foram adoptados rituais religiosos onde era incluído o sacrifício da vida humana. Tambem não me parece o caso, dado a posição fetalem que ambos os esqueletos foram encontrados. Resta-me ainda uma suposição, que me parece bastante plausível e a que os antropólogos e arqueólogos já chegaram em outros casos encontrados.
É a seguinte:
Naquele tempo, os invernos eram prolongados e rigorosos, as tempraturas desciam muitíssimo, atingiam normalmente os 30/35 graus negativos. Era durante a primavera e o verão, que eram curtos, que era feito pela mulher a recolha de frutos, raízes, ervas que seríam guardados para o inverno, enquanto o homem caçava e repunha as reservas de carne que a mulher cortava em tiras, secava e acondicionava.
Se imaginarmos um verão mais curto, ou com menos caça, ou porque o homem de 40 anos, já fraco demais, se viu impossibilitado de caçar o suficiente, com facilidade colocaremos a hipotese provável que aquele par, fossem casal, ou pai e filha, ou unidos por qualquer outro grau de parentesco, tenham morrido por inanição, desidratação e frio... o que não deixa de ser, ao que julgo saber, uma morte santa.
Bom…é possível que tenha sido o fim trágico de um romance vivido há muitos anos, o amor é intemporal, o abraço pode significar muito bem ser o perpetuar de uma paixão algo efémera…
Mas não vou por aí…e ao observar com mais acuidade verifico que um deles tem a perna, mais exactamente a parte entre o fémur e a tíbia, encaixada no baixo ventre do outro o que desfaz por completo a hipótese de um abraço apaixonado, pois nunca ninguém se abraçou por amor afastando o baixo ventre, mais que não seja, porque é uma posição um tanto ou quanto incómoda…
A meu ver trata-se de duas pessoas apanhadas por um acontecimento de todo imprevisível, tanto podiam ser vítimas de ataque de terceiros ou de animais, ou ainda de um cataclismo qualquer, quiçá uma avalanche de terras que os soterrou, e em sofrimento agarraram-se um ao outro a procurar protecção.
Seja qual for a verdadeira historia, di-lo-ão a seu tempo os antropólogos, o que nos chega até hoje é um abraço de dois seres humanos que comprovam, mais uma vez, que o homem apesar de atitudes muitas vezes irracionais é indubitavelmente um ser social…
Bem observado, JotaC !!!! Todavia, temos que considerar que durante os longos 6.000 anos o posicionamento do casal de certo se foi alterando .... afastando.... Não deveria ter sido a posição original !
Tem toda a razão, cara Catarina. Ao longo de 60 séculos, muitas alterações, ou evoluçãos se verificaram nas relações entre homem e mulher.
Tanto quanto se sabe (ou julga saber) os nossos ancestrais avós, utilizavam as relações sexuais com a finalidade única de procriar e sempre na posição mais primária, a mulher de joelhos e o homem por trás, numa perfeita mímica dos seus antecessores símios.
Naquele tempo, não tinha ainda nascido no homem o desejo de missionário...
Em minha opinião, perdeu-se imenso com a evolução verificada a este nível.
Hmm... sem comentários desta vez! : )
Ohhh... que pena.
Receio, ou bluff, cara Catarina?
Ambos... : )
ahahahah!!!
Seria uma resposta inteligente se acreditasse numa possivel fragilidade de argumentar, da sua parte, cara Catarina.
Vomo essa hipotese está totalmente descartada, aceito o bluff como única resposta válida.
Se estívessemos a jogar uma mão de poker, esperar para ver, seria de facto o melhor movimento.
;))))
Vamos lá, cara Catarina... "make a moove"!
You are such a teaser, caro Bartolomeu! : )
Provocador, no sentido do estímulo... espero!
Mas não suficientemente "teaser", ao que parece...
: )
Catarina:
Bem…600 anos é uma eternidade e muita coisa era com certeza diferente, mas esta de que falámos não seria assim tão diferente, muitos menos a uma distância de mais ou menos 45cm que é a medida estimada do fémur para baixotes...
;)
Caro Bartolomeu:
V. Exa. que é uma enciclopédia brilhante, diga-me por favor: o que é essa coisa do missionário, ou melhor, o que é que o missionário tem a ver com esta posição dos esqueletos!?
;)
Ainda bem que fez essa pergunta, JotaC! É que eu também não alcancei o seu significado mas achei por bem inibir-me de fazer tal pergunta! : )
Se alguma vez teria passado pelas mentes destas duas criaturas a hipótese de, seis mil anos após a sua morte, serem assunto de diálogo num blogue!...
Hmmm..
Devo então concluir que sem querer, fui elevado à condição de mestre de dois angélicos discíplos?!
Não "alcançaram" então os meus interessados alunos, o significado da expressão «missionário».
Muito bem, comungarei convosco os vastos conhecimentos que a minha brilhante enciclopédia contem.
Missionário, é a designação conferida a alguem que "abraça" uma missão, uma tarefa exigente, geralmente de carácter religioso e, parte para um local estranho, sendo portador dessa missão.
Recordam-se certamente os meus ilustres discíplos das figuras dos missionários que ilustravam os vossos livros de História.
Aqueles homens religiosos, portadores da missão de cristianizar os longínquos povos do continente africano, americano ou asiático, cobriam-se com uma simples túnica de burel e quando se apresentavam perante os gentios dos locais onde chegavam, para demonstrar a sua intenção pacífica, doce e dócil, abriam os braços em ângulo recto e voltavam as palmas das mãos para a frente.
Este gesto era demonstrativo da sua intenção de se "oferecerem" generosamente àqueles por quem desejavam ser aceites.
Para lhes facilitar o entendimento e, na impossibilidade de lhes apresentar um desenho, peço-lhes que imaginem um frango assado, desses que vulgarmente se podem comprar numa qualquer churrascaria... uma azinha para cada lado... uma patinha para a esquerda, outra para a direita... estão a ver?
Hmmm?
Marotos!!!
AHAHAH...
Caro Bartolomeu:
As coisas que eu não sei!...
Deixe-me recapitular: abrir os abraços em ângulo recto(!?)... uma asinha para cada lado e já está!...
Catarina:
Confesso que não imaginava que fosse assim tão simples, o problema é só conseguir abrir os braços em ângulo recto!?
Já estive a tentar...olhe se coseguir, por favor, diga-me antes que ganhe uma tendinite!
: ) Missionários… almas altruístas!
Bartolomeu.
Ainda não li todos os comentários. Mas aquela da posição...Há seis mil anos ainda não sabiam da tal posição? Qual quê!!! Não viu o filme A Guerra do Fogo? Pois bem, há uma passagem maravilhosa que eu nunca mais esqueci. Os antepassados do Homo sapiens, é verdade, Homo erectus, já dominavam o fogo. Na parte final do filme o macho “humano”, ao tomar a fêmea, para e vira-a ao contrário, ficando face a face. Uma delícia esta passagem, complementada por uma outra logo a seguir, quando a fêmea "humana", prenha, sentada ao lado do companheiro, olhava para a Lua enquanto este acariciava ternuramente o globoso abdómen.
Completamente cara Catarina...só um grande altruísta se deixa flagelar "uma asinha para cada lado", num assador de frangos... Livra!
:)))
Aqui o meu ângulo é raso!
Pois é, JotaC, isto de missionários e frangos no churrasco associados a esqueletos tem que se lhe diga!
Caro Professor... está então encontrado o culpado de tudo!!!
Foi esse, caro Professor, foi esse!!!
Catarina:
Claro! Vai ver, não tarda, o caro Bartolomeu vai-nos segredar que é um grande produtor avícola, e só vê galinhas enfiadas no espeto!...
:)))
Pois claro que tem de passar pelo assador, meus caros amigos!!!
Ou, pensavam que eram só rosas?
Na, na... ha que contar também com os espinhos e, para que os milagres aconteçam... é preciso resar muito, muiiiito mesmo e com muiiiita fé.
:)))
Subscrevo: : )))
Muito bem, uma vez que aclarámos a questão do missionarismo, dos frangos e das fés, despeço-me de V.Exªas, desejando-lhes uma noite descansada sem se esquecerem de recitar um bom par de orações bem "caprichadas"... antes de se entregarem totalmente aos cuidados de Morpheu.
Pela minha parte, conto cumprir com todos os preceitos...
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