É verdade que vivemos tempos especialmente deprimentes, pelo menos enquanto se discute o orçamento de Estado e nos vaticinam os piores tormentos para os anos vindouros. Como se não bastasse, temos bombistas na belíssima Vila de Óbidos, programas na televisão que nos massacram com o espectro de terramotos já ali ao virar da esquina e sei lá que mais pragas do Egipto. No entanto, somos um povo ordeiro e acolhedor, somos gente de trabalho, em geral sentimos compaixão e solidariedade pelo próximo, aceitamos sacrifícios como se nunca viéssemos a ter direito à felicidade.
Os nossos jovens representam-nos muito bem quando se mudam para terras distantes e trazem-nos uma frescura especial nas suas apreciações quando voltam de visita.
Ontem contaram-me que uma jovem licenciada foi ensinar português para Belgrado, esteve lá um ano como leitora e voltou agora, cheia de planos para se fazer ao caminho outra vez. Ensinar português na Sérvia?, perguntei admirada, e tinha alunos? Que sim, tinha cerca de 120 alunos, lotação esgotada, disse que há lá uma espécie de culto por este minúsculo país à beira mar plantado por causa do filme de Wim Wenders, The Lisbon Story e porque durante a guerra os Madre de Deus deram lá um concerto, um oásis de doçura e encanto no meio da brutalidade. O facto é que se tornou uma espécie de moda falar de Portugal, saber a nossa geografia, os nossos cantares e, claro, conhecer a nossa língua. Disse ainda que é frequente os jovens indicarem como a viagem dos seus sonhos vir conhecer Portugal…
Já que visto daqui não encontramos motivos para alegrias ao menos que os que olham de fora saibam ver os nossos encantos e não se deixem ofuscar pelas nossas mazelas!
Os nossos jovens representam-nos muito bem quando se mudam para terras distantes e trazem-nos uma frescura especial nas suas apreciações quando voltam de visita.
Ontem contaram-me que uma jovem licenciada foi ensinar português para Belgrado, esteve lá um ano como leitora e voltou agora, cheia de planos para se fazer ao caminho outra vez. Ensinar português na Sérvia?, perguntei admirada, e tinha alunos? Que sim, tinha cerca de 120 alunos, lotação esgotada, disse que há lá uma espécie de culto por este minúsculo país à beira mar plantado por causa do filme de Wim Wenders, The Lisbon Story e porque durante a guerra os Madre de Deus deram lá um concerto, um oásis de doçura e encanto no meio da brutalidade. O facto é que se tornou uma espécie de moda falar de Portugal, saber a nossa geografia, os nossos cantares e, claro, conhecer a nossa língua. Disse ainda que é frequente os jovens indicarem como a viagem dos seus sonhos vir conhecer Portugal…
Já que visto daqui não encontramos motivos para alegrias ao menos que os que olham de fora saibam ver os nossos encantos e não se deixem ofuscar pelas nossas mazelas!
11 comentários:
Tenho saudades de ser “mais” jovem! : ) Sente-se mais otimismo. Há a ansiedade de se experimentar coisas novas, de se conhecer novos horizontes, a esperança de um futuro risonho faz parte integrante do ser jovem (biologicamente...). Os jovens saem de Portugual e vão experimentar novos mundos, novas vivências. Depois regressam cheios de saudades. Saudades da família, dos amigos que deixaram, do sol e da praia. Mas passados uns tempos, verificam que não dá. Lá fora é que é bom. E regressam.
É, não obstante, agradável saber que Portugal continua a ser considerado pelos jovens estrangeiros para passarem uma temporada neste cantinho ainda (?) acolhedor. Daí ter-se tornado num país multiracial ou multicultural... porque acabam por ficar... E não tenho ainda a certeza (e provavelmente nunca vou ter) se é uma coisa boa ou não... este “mosaico multicultural”. Há uns anos eu diria que sim sem ponta de dúvida.. pela novidade, pela abertura de oportunidades, alargamento do conhecimento, et cetera. Agora não tenho tanta certeza....
Gostei da imagem! : )
Catarina, já que nãopodemos (ainda) beneficiar do elixir da eterna juventude, vamos aproveitando o que já aprendemos e o que estes jovens nos podem trazer de novo, a sua visão do mundo, as suas dificuldades para não pensarmos que é só aqui que é difícil ir rompendo na vida e, claro, o que eles nos mostram que está aqui mesmo ao pé e que já nem reparávamos. A distância reconcilia-nos com muita coisa. E, já que eles se vão embora, cá estamos nós a aproveitar a largueza dos seus horizontes, também viajamos um bocadinho dessa maneira. (mas eu também sinto alguma inveja, shhhuuu)
Ahaha ... É verdade! Como diz o ditado: “Arrepende-te do que não fizeste e não do que fizeste”.. mais ou menos isso! Aprendemos, de facto, muito com os nossos filhos e com os “jovens” que nos rodeiam... mas ainda queremos vivenciar coisas por nós próprias!!!! : ) Ainda há um mundo enorme que espera por nós!.... : )
Bom... se olharmos bem, cara Drª Suzana, as nossas "mazelas", são um enjôo. São mesquinhas, piquínhas, na sua maioria com base em desconfianças sem conteúdo e suspeitas que mesmo fundamentadas, não nos conduzem a qualquer lado. Servem somente para esgotar as nossas energias. Cada um de nós sabe sempre mais e tem opiniões mais válidas que o fulano do lado (tal como agora estou a evidenciar neste escrito)e empenha-se mais em fazer ruir os alicerces alheios, que em reforçar os próprios.
Em resumo, as nossas "mazelas", comparadas por exemplo com as do povo Sérvio... são uma brincadeira de meninos.
Eu diria que esse miúdo se estaria a referir ao clima!!!! Praia e muito sol! : )
Suzana
É muito curioso que lá fora fazemos normalmente boa figura, somos apreciados e gostam de nós e ajudamos a construir uma imagem positiva do nosso "rectângulo à beira mar plantado".
Cá dentro, porém, as coisas são diferentes, embora o clima seja óptimo - o sol e a praia - quando comparado com muitos dos climas austeros desses países que sabem receber os nossos jovens.
Será que “as aparências iludem” se nos aplica?!
Pois é mesmo, caro bartolomeu, uma boa parte das nossas "mazelas" só servem mesmo para nos consumir energia, nunca se resolvem nem permitem que o lugar seja ocupado pelo que nos pode ser benéfico. Inveja, mesquinhez, mas também falta de seriedade política, de coragem, de sentido do colectivo como algo a respeitar e preservar...
Caro Paulo, aí está uma pergunta embaraçosa, mas o que é facto é que temos um mal estar difuso (enfim, cada vez mais nítido..:) que é difícil de explicar aos estrangeiros.
Margarida, já nem o clima ameno consegue fazer com que os nossos jovens queiram cá ficar, noto isso até pelo pouco tempo dos que cá estão de visita, ao fim de poucos dias estão impacientes com o que ouvem nas notícias, com o modo como se discute, com a mania de bisbilhotar na vida de cada um, com a irracionalidade com que se tratam os problemas, enfim, concluem rapidamente que fizeram muito bem em ir embora.
Caro Paulo, gosto muito da sua explicação, essa ideia de que nos ajustamos à dimensão do espaço que temos é muito interessante e, vendo bem, bastante real.
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