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domingo, 22 de julho de 2018

“Interrogação”...

Interrogo-me frequentemente sobre muitos assuntos. Ao interrogar-me consigo despertar histórias escondidas no tempo, sabendo que muitas delas foram sepultadas em espaços conhecidos, mas também consigo ressuscitar dores e antecipar tragédias. A explosão de emoções ocorre em qualquer momento no meu cérebro desejoso de paz. Faz parte do longo caminhar do tempo. Olho para as mãos, que felizmente não tremem, e peço para dar vida ao que já morreu e ao que vai morrer. Uma espécie de oração para quem não sabe rezar, não obstante o ralhar e o admoestar de quem quis que aprendesse a ladainhar sem sentido frases e mais frases sem as entender, a não ser a sensação de cantar melodias bolorentas que para mim não era mais do que um faz de conta. Esforcei-me, mas não tive sucesso. Não estou arrependido. Olho para as mãos, que ainda vivem, e peço-lhes que escrevam. O meu medo é não conseguir dar vida às palavras e não poder saborear algo que a justifique. Escrever é isso mesmo, tentar respirar com ansiedade o prazer momentâneo de dar vida às palavras e às frases como se fossem filhos acabados de nascer. Sempre diferentes e surpreendentes. Quando passa um tempo, mesmo que seja curto, sem escrever, a angústia soma-se ao medo, provocando um terrível mal-estar, a querer imitar o que a vida me prometeu. Não sabia das suas promessas, mas sempre desconfiei. Agora que o tempo se esfarela vejo o que estava escondido. Bate certo, a vida não serve para grande coisa a não ser para atormentar e libertar a criatividade através de uma espécie de gastronomia da escrita, a descoberta de sabores que não serve para alimentar mas para compensar, através do prazer, o saber do que é viver, algo muito diferente do que me foi prometido. Bate certo. Resta-me continuar a interrogar e a tentar ressuscitar histórias sepultadas e desejosas de serem conhecidas. Devo-lhes isso. Para quê? Não sei e nem interessa, mas sempre engano o tempo, sobretudo o estranho presente.

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