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domingo, 4 de dezembro de 2005

Os limites do laicismo

Citei anteontem, na minha Nota “Burrice Laica”, a opinião do colunista João Miguel Tavares na coluna de opinião do Diário de Notícias de 2 de Dezembro.
Recebi alguns honestos e legítimos comentários, contrariando a opinião expressa.
Mas esta questão da laicidade parece ter geometria muito variável…os seus limites são de acordo com as conveniências…
Segundo o artigo 120 da Constituição, o Presidente da República “representa a República Portuguesa…e garante a unidade do Estado…”, laico, como se sabe.
Atentaria a unidade do Estado e repugnaria ao laicismo que o Presidente da República (pessoa a quem todos, normalmente, adoram…) pudesse ter no Palácio de Belém, residência oficial, um quadro, estou a falar de mera hipótese, como a Adoração dos Magos, de Grão Vasco, excelente pintor português?
Ou que a Assembleia da República, “representativa de todos os cidadãos portugueses”, segundo o art. 147 da Constituição, (e em que todos os Presidentes se sentem no céu…) pudesse ter no Palácio de S. Bento um quadro como, por hipótese, a Assunção de Nossa Senhora ao Céu, de Rúbens?
Ou que na Residência Oficial do 1º Ministro (um verdadeiro “Cristo”, a quem todos atiram pedras…) pudesse estar dependurado um quadro como, por hipótese, Cristo na Cruz, de Velásquez, de ascendência portuguesa?
Custar-me-ia a acreditar que tal não pudesse acontecer, por razões de laicidade!…
Como parece estar longe qualquer contestação aos feriados de natureza religiosa cristã, como o Natal, a Páscoa, o Corpo de Deus, a Assunção de Nossa Senhora, a Imaculada Conceição ou o Dia de Todos os Santos!...
Há alguma ruptura na sociedade portuguesa por causa disso?
E, então, se nas paredes de uma escola, em vez de um crucifixo vulgar, estivesse uma dos Cristos de Bual?
Retirava-se também, por atentado ao laicismo? Ou por atentado à cultura?
Enfim, quais os limites do laicismo, é a minha pergunta honesta?

7 comentários:

Tonibler disse...

Se metesse o mesmo quadro nas salas, certamente contrariava o laicismo do estado. Aliás, contrariava muito mais coisas...
O limite do laicismo são as pessoas, igual ao limite de tudo o que diga respeito ao estado.

Carlos Monteiro disse...

Caro Pinho Cardão,

Mas como os putos não vão para as aulas no Palácio de Belém...

Mário Almeida disse...

Eu penso que o limite está na imposição ao convívio com os símbolos. Escolas, Hospitais (que ninguém fala), etc.

No entanto, concordo que esta questão foi impolada até mais não. Tanto quanto eu sei, não passou de uma comunicação interna dada pela Ministra, em virtude de queixas de pais.

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Um crucifixo numa sala é equipamento! É aquilo que o estado fornece para que a relação de educação se inicie, entre professores e alunos. Isto é uma sugestão de exclusão a todos os que não podem ver o símbolo à frente, que são muitos...

Se todos quiserem, o professor leva uma cruz para a aula e todos estão bem. Mas deixe-me adiantar que já existe. Chama-se Moral e Religião Cristã, penso, e há para quem quer.

A semana passada estive a ver uma sala do St. Julian's, o colégio inglês de Carcavelos que segue o sistema de ensino inglês. O estado inglês não é laico e os símbolos que vi nessa sala foram Carl Sagan, Albert Einstein, Niels Bohr e Steven Hawking. Só para reflectir...

Anthrax disse...

Estou "besta"!

Crucifixos nos hospitais?!! Mas que coisa tão absurda! E que sítio mais estupido para se ter um crucifixo! Aliás, se há coisa que os hospitais não são, são sítios de fé (seja ela qual for). Falando nisso, devia-se acabar com as capelas nesses locais também. Friamente comparando, os hospitais são assim como os talhos e também ninguém vê crucifixos pendurados nos talhos.

Tal como já disse anteriormente, quer no meu blog quer fora dele, essa ideia de mandar tirar os crucifixos das salas é idiota e imbecil. Como diz o Nuno Martins, preocupante é haver pais que não consigam educar os seus filhos a saber conviver com esses símbolos. Isso é sinal de intolerância.

Concordo também com o Pinho Cardão e porquê? Porque ou bem que as coisas se fazem como deve ser, ou então é melhor não fazer. E se é para fazer as coisas como deve ser e o Estado deve ser o exemplo do laicismo, então porque não começar com a abolição dos feriados religiosos? Até teria a sua piada verificar quanto tempo o governo se mantinha em funções depois de uma decisão dessas, afinal nós só temos o exemplo do que é que aconteceu quando não quiseram dar o dia de carnaval.

Carlos Monteiro disse...

Presumo que uma gravura ou as escrituras do profeta na parede não traga grande controvérsia pois não?

Allahu Akbar

(para quem não sabe "Deus é Grande")

Tonibler disse...

Caro Anthrax,

Eu pergunto porque não sei, mas como se ensina as cruzadas e a inquisição a crianças judias e muçulmanas, com um crucifixo por detrás?

Vou dizer aos meus filhos que não foi por causa desse símbolo que Galileu Galilei foi espezinhado pela ignorância? E Charles Darwin?