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terça-feira, 17 de janeiro de 2006

O porta-voz do Governo

Mário Soares quis fazer passar uma visão minimalista dos poderes presidenciais. Ao Governo PS poderá interessar ter em Belém um Presidente da mesma cor que não faça ondas nem questione a sua acção.
Abanar o espantalho do presidencialismo, classificando-o de "golpe de estado constitucional", ou invocar a "ameaça cavaquista" expressa por "interesses ilegítimos", faz parte da velha cultura política de lançar suspeição sobre o adversário, mas também revela o receio do PS e do seu Governo de ter de lidar com alguém que não controla nem se sujeita aos mesmos ditames partidários.
O que não seria previsível é o facto de Mário Soares assumir a função de porta-voz do Governo a propósito dos boatos sobre a privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Se é essa a concepção dos poderes presidenciais por parte do candidato do Partido Socialista, ficamos elucidados sobre o que desejaria o PS e o Governo e ao que se dispunha Mário Soares, a bem da boa harmonia da família socialista.
Se dúvidas houvesse ...

1 comentário:

crack disse...

Caro Professor Justino
A perspectiva em que viu o episódio difere um pouco da minha, devendo estar certa a sua, até porque o discurso de Soares aponta para essa visão minimalista que ele diz ter do papel presidencial.
Não sendo meu hábito reproduzir nestes comentários textos do meu blog, aqui lhe deixo uma parte do que escrevi sobre este lamentável episódio, que vejo como sintomático do que serão as difíceis relações de Sócrates com a presidência e com o PS, caso Soares seja eleito.
«Observado "por dentro", conclui-se que o episódio foi, milimetricamente, estudado para passar para o eleitorado a mensagem que era preciso passar, muito rapida e eficazmente - a de que Soares está disposto a vigiar e a pressionar o governo, e a obter deste uma reverente obediência, em questões de vital importância. Num momento em que as sondagens já demonstraram que o eleitorado está apetente por um presidente mais interventivo, Soares tinha que alterar, abruptamente, a sua estratégia. Fê-lo, com danos, mas, entre o deve e o haver, poderá ter ganho pontos. As sondagens dos próximos dias poderão ajudar a perceber se o resultado obtido corresponde à temeridade do gesto.
Sócrates veio dar "rede" ao seu candidato, mas a forma como o fez indicia que não deve ter estado por dentro da jogada. A relação do governo com Belém, no caso de Soares vencer, parece cada vez mais problemática. E, nesse cenário, Sócrates ver-se-á a braços com um PS que obedece a outro.»
Post scriptum - A visão de um Soares em versão minimalista não coincide, por exemplo, com o caso Emaudio, pois não?