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segunda-feira, 6 de março de 2006

Organização e criatividade

O meu texto anterior salientava a disciplina de que os peões de Kitzbuhel davam mostra quando, mal tocava o alarme de passagem do comboio, faziam uma fila que ninguém transgredia, demorasse o que demorasse o impedimento da passagem de nível.
Houve alguém que comentou que os austrácos são uns "chatos"!...
A observação austera das regras tem um enorme valor no funcionamento das sociedades organizadas, mas é algo que anda longe dos hábitos portugueses.
À organização e às regras nós preferimos a espontaneidade, o instinto, a criatividade de momento, o “desenrasca”, até o “salve-se quem puder”.
Somos mais alegres, andamos mais bem dispostos, acabamos por resolver as situações, mas a produtividade é baixa.
O que é difícil é encontrar o meio termo.
Deixo outro exemplo da organização austríaca, recolhido muma outra deslocação para esquiar.
O grupo no qual, então, me incluía, era composto por umas dezoito pessoas.
Logo à primeira refeição, e vendo que nos colocavam em mesas separadas, pedimos para as juntar, de modo a comermos conjuntamente.
Com toda a simpatia, disseram-nos que não, que era impossível.
Não concordámos, já que não faltavam nem mesas nem espaço. Insistimos, insistimos, mas nada feito, tendo-nos dividido por 3 mesas.
Descobrimos depois a incontornável razão da negativa.
É que cada mesa era servida por três empregados e os pratos vinham cobertos por uma campânula para se manterem quentes.
Colocados que estivessem os pratos diante de cada hóspede, logo os empregados retiravam, no mesmo preciso momento, as tampas de cada um deles. Cada um tirava simultaneamente duas tampas, utilizando cada uma das mãos para o fazer.
Como a norma era três empregados por mesa e nenhum tinha mais que duas mãos, nenhuma mesa podia ter mais de seis hóspedes, sob pena de não ser possível cumprir o cerimonial.
Para nós, portugueses, seria uma alteração facílima, mas tal modificação de ritual revelava-se totalmente impensável para os nossos amigos austríacos.
O que é facto é que prosperam!...
Andam longe da nossa “criatividade”, o que pode significar que poderemos ir longe quando soubermos aliar à criatividade um mínimo de organização!...

3 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Na minha vida profissional já tive oportunidade de trabalhar em equipa com malta desses países "organizadinhos", caro Pinho Cardão. Suspiravam de alívio quando os tugas arranjavam (a única) solução (óbvia) quando surgia um problema de excepção.

São prósperos, são...

Mas são chaaatos. Irra!

;)

João Melo disse...

Esse comentário foi o carissimo cmonterio que o fez.eu na altura subscrevi o dito cujo.E explico porque.Quando acabei o curso fui fazer um estágio,para a polónia.Confesso que os estérotipos eram muitos."Povo Frio,distante,etc,etc.."Bom,algumas dessas premissas verificaram-se e outras confesso que não.Mas no geral confesso que sentia a saudade deste rectangulo á beira-mar plantado.sentia falta daquela intimidade ,de falar de futebol ,do benfica, de passar de forma caótica na passadeira (mas porque raio eles ficavam parados na passadeira quando não vinha nenhum carro!!!),de rir alto na rua com os amigos sem olhado que nem um maluco.Quando estamos três meses num pais estrangeiro ,pensamos muito na nossa relação com o nosso pais ,como ele podia melhor.E é muito estranho.Se por um lado ,pensamos:"temos de ser alemães!eles são organizados!são bons!vejam como são ricos!"por outro lado pensamos "eh pá mas eu sou português!posso ter muitas coisa más!mas também o meu pais também tem coisas boas!e se calhar essas coisas más ,por paradoxal que pareça fazem-nos melhor!"julgo que este post do caro pinho cardão mostra esta reflexão que cada português de certa maneira já fez sobre o seu pais

Suzana Toscano disse...

Quanto aos pratos com campânulas, parece-me uma ideia engraçada,mas depois do cerimonial podiam muito bem ter deixado juntar as mesas...!