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domingo, 19 de março de 2006

Os movimentos estudantis em França

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Durante um século e meio identificaram-se os movimentos sociais em França e na Europa como conflitos portadores de modernidade e de progresso. A tradição revolucionária francesa marcou o século XIX, do Maio de 68 emergiu uma geração que marcou o último quartel do século XX. Mas das actuais movimentações estudantis não consigo vislumbrar qualquer traço de modernidade. Apenas o estrebuchar de um modelo social e a decadência de uma sociedade que não quer acordar do abastado sono do passado.

2 comentários:

António Viriato disse...

Meus Caros Amigos,

Permitam-me uma opinião algo discordante :

Curiosamente, vejo maior pertinência neste movimento de contestação, suponho, a uma futura lei laboral, descontando naturalamente os excessos de violência que temos visto praticarem-se, do que no de Maio de 68, de que guardo uma vaga memória de adoslescente atónito com a ousadia estudantil francesa demonstrada.

Nessa altura, a França vivia um período de expansão económica, com um Estado de Bem-Estar Social já em franco desenvolvimento, após a ressaca da Segunda Guerra Mundial.

Tinha então à sua frente um homem de grande visão e de autoridade inequivocamente legítima, fundada na coragem revelada nos tempos duros da derrocada civil e militar dos acomodados franceses, os que aceitaram a vergonha de Vichy e se recusaram a lutar, apesar dos apelos e da solidariedade activa de W. Churchill.

Praticamente, só De Gaulle se ergueu contra a ignomínia da desistência, arriscando-se a ser preso e condenado por traição, por exortar os franceses à continuação da luta.

O tempo se encarregaria de lhe dar razão.

De uma Nação vencida, humilhada e ultrajada, De Gaulle conseguiu fazer, no espaço de 5 anos, uma Nação vencedora, com estatuto quase idêntico ao dos outros três grandes aliados. Não é feito vulgar. Por isso, o seu prestígio e autoridade eram imensos.

A par disso, quando após doze anos de auto-afastamento, retornou ao poder, pôde traçar as grandes opções do desenvolvimento económico, militar, científico e social da França. Deu-lhe poder e presrígio militar, capacidade de desenvolver a energia nuclear, para fins civis e militares, fez a França entrar no Conselho de Segurança da ONU, afirmou-a ante o poderio americano e soviético, reforçou a Comunidade Europeia, entendendo-se especialmente bem com a Alemanha, tudo isso, sempre colocando, num plano muito alto, os interesses do seu País e os da Comunidade Europeia, contra a relutãncia de americanos e ingleses, sobretudo.

Quando, apesar disso, verificou que, afinal, uma parte importante dos franceses já não o apoiava, retirou-se, de novo, voluntariamente, na sequência de um episódio político de menor importância.

O Maio de 68 desgostara-o sobremaneira, porque não lhe sentia razões suficientes para tanta exibição de descontentamento, também então violentamente demonstrado.

Muita loucura e devaneio animava aquela gente, de repente enfurecida contra a «sociedade de consumo burguesa», afinal tão generosa, social e politicamente, como hoje muitos reconhecem.

Acresce que grande parte dos exaltados de 68 era seguidora das maiores tiranias políticas que a História Moderna registou. Felizmente que as suas preferências políticas não vingaram.

Hoje, ao contrário, parece-me que há alguma razão para o descontentamento juvenil, sem com isto pretender justificar o vandalismo exibido.

Os jovens, principalmente, vêem o Estado de Bem-Estar Social a desaparecer, os empregos precários a aumentar e as desigualdades sociais a crescer a ritmo acelerado.

Começam a sentir-se cada vez mais inseguros, sem estabilidade no Emprego e com salários modestos, mesmo quando têm a sorte de encontrar trabalho em Empresas de topo, com lucros anuais continuados.

Já sabemos que lhes dizem que aquele tipo de contratos visa facilitar a multiplicação de emprego, mas a sua falta de confiança é enorme, porque aquilo a que assistem é ao contínuo emagrecimento do Estado Social e à imposição sistemática da precariedade social. Não era essa a expectativa dos europeus.

Bem podem acenar-lhes com os exemplos da China, dos tigres asiáticos e de outros países onde, aparentemente, a Economia floresce debaixo de ligeiríssimas condições sociais, porque isso não os motiva, dado o plano em que anteriormente se situavam.

Além disso, quem faz essas propostas, normalmente, está ao abrigo delas, vive em condições de grande conforto e em permanente posperidade, não arrisca nada ou muito pouco e, por conseguinte, carece de completa autoridade moral para se fazer acatar.

Este é, a meu ver, o grande problema das actuais sociedades desenvolvidas, em particular, no chamado mundo ocidental.

Qualquer social-democrata deverá, julgo eu, sentir esta preocupação.

Será socialmente desastroso se apenas os extremos políticos se interessarem por estes problemas.

Gostaria de ouvir mais opiniões dos meus preclaros amigos e companheiros.

Tonibler disse...

Caro djustino,

Parece-me haver diferença em quem olha, não em quem faz. O facto é que a "tradição revolucionária francesa" é atractiva para quem tem 22 anos, porque sempre foi conservadora no seu âmago. Quando se pensa duas vezes, sem o atractivo de mandar uma calhauzada a um polícia (ainda por cima francês), vê-se que é o mesmo pensamento de há 100 anos.