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sexta-feira, 31 de março de 2006

Patologias

Surpreendem-me algumas reacções às recentes medidas anunciadas pelo Governo no que à tentativa de criar uma nova imagem do Estado respeita.
Dificilmente se pode entender aqueles que criticam agora quando há não muito defendiam à estafa: "menos Estado, melhor Estado".
Nem se percebem aqueles que gritam por menos governo e mais oposição.
As medidas de simplificação administrativa e de redução do volume do Estado são positivas e devem merecer a cumplicidade vigilante dos partidos que partilham do entendimento de que se torna indispensável para o nosso futuro colectivo criar uma nova relação (de confiança) entre o cidadão e a administração e fazer com que o Estado seja um estímulo de modernização e não o empecilho que tentas vezes é.
Isto de se entender que uma medida é má não porque se reconhece que não é a solução adequada para os nossos problemas mas porque é tomada por um governo de que não gostamos, é patológico.
Revela que alguma coisa há a fazer para que mudem as atitudes perante a política. Porque a política não pode ser encarada com a paixão e a irracionalidade com que se acompanha a equipa de futebol da nossa eleição.

8 comentários:

Tonibler disse...

Essa é, de facto, uma patologia da nossa vida política. Outra é a falta de exigência e achar que o que é melhor, é bom. Eu ontem ouvi que o governo ia acabar com 187 organismos públicos. Fiquei espantado como poderiam haver 187 organismos públicos. Depois é que percebi que iam fechar 187 de 550! 550???? Deve haver um organismo público a trabalhar só para a minha família! A Fundação Tonibler do Bem-Estar!
Fechar 187 não é bom, é melhor! E é isso que a oposição deve dizer, é bom mas é escasso, é insuficiente, é um trabalho mal feito! Mas dizê-lo de forma clara, dizer que a Fundação Tonibler do Bem-Estar vai toda à viola!

Eu nem vejo espaço para 50 organismos públicos, quanto mais 550...

Anthrax disse...

Eu, como parte interessada que sou no assunto, estive a ler toda a documentação que foi disponibilazada no site do governo e apesar de estar de acordo com a reforma (independentemente de me afectar ou não), quando cheguei à parte dos objectivos estratégicos fiquei um bocado perplexo.

Perplexo no sentido em que, falam, falam, falam, mas na realidade não disseram nada. Para além disso, cheguei à conclusão que a palavra "Extinção" foi utilizada, apenas para criar um efeito mediático e dar a ilusão de que houve um corte efectivo com tudo o que está para trás.

Ora isto, na realidade, até nem é bem assim. O que existia, continua a existir mas num modelo de gestão diferente. Não é bom, nem é mau, é apenas diferente e em alguns casos (nomeadamente no do meu burgo que não foi extinto), está, inclusivamente, errado (embora se compreenda que foi o compromisso possível).

Mas tirando isso, esses 187 organismos "extintos", uns são aqueles que andavam por aí dispersos e outros são aqueles que, por razões contextuais, não tinham razão de ser por si só. Agora, do ponto de vista dos recursos humanos afectados por esta mudança, penso que o impacto vai ser bastante negativo (embora vá animar as manifestações do 1º de Maio). Por exemplo, nós aqui no burgo somos contratados e quando assinámos os nossos contratos, tínhamos plena consciência que o nosso posto de trabalho não era "ad eternum". A consciência deste facto é o que nos permite lídar com a sensação de "insegurança" que, no fundo, é caracteristica a todas as situações de mudança ou transição. É óbvio que nenhum de nós aqui quer ficar sem emprego, nem ninguém gosta disso, mas desde o princípio que estamos preparados para essa possibilidade (e.g quando ontem estava a dizer que precisávamos de um advogado, não era porque estamos interessados em manter os postos de trabalho. É apenas para garantir que o "Estado" não fica com dinheiro que não é seu). Agora os funcionários públicos, na verdadeira acepção da palavra, não estão preparados para mudar de um dia para o outro. Pior, vão pagar-lhes para ficar em casa sem fazer nada?

A Administração pública está extremamente envelhecida. Cheira a mofo e a bolas de naftalina, o que é que vão fazer? Para a pré-reforma não os mandam senão o fundo de pensões vai ao ar. Vão re-qualificá-los no quê? Em jogo da malha ou tapetes de Arraiolos?

Acho que de "simplex" este programa tem muito pouco e a procissão ainda vai no adro. Notícias, a sério, serão divulgadas nos meses das férias de verão que é quando está tudo no Algarve e as probabilidades de manifestações são bem menores.

Carlos Monteiro disse...

Camarada Toni,

A ponderação quando se trata de despedir pessoas é uma qualidade que falta a muitos quando falam sobre Estado. Chega até a ser ofensivo a forma descontraída como o fazem.

O bom, é inimigo do óptimo, que não existe.

Há um mal maior imediato nas medidas que preconizas (que não sabemos quais são, mas eu imagino) e os restantes intervenientes têm razão no que dizem; Afirmar que o governo é mau neste aspecto porque não destrói tudo é demógico e sobretudo, inconsciente.

Tonibler disse...

Camarada Monteiro,

Aprecio a sua preocupação com o emprego dos funcionários públicos, mas não compreendo o profundo desprezo que dedica ao desemprego dos outros funcionários todos, consequência de estar a empenhar cada vez mais riqueza nos primeiros, enquanto a riqueza disponível para os segundos vai diminuindo.

Se deixa de haver lugar para estes funcionários, temos pena. Mas se conseguirmos chegar a mútuo acordo se calhar até nem precisamos de pagar subsídios de desemprego....

Caro Pinho Cardão,

Isto não vai de facto resolver situação nenhuma. Merece aplauso exactamente porquê, se não resolve nada?

Caro Anthrax,

Nessa mesma terra onde se situa a "Folhas", havia uma empresa metalúrgica com uns milhares de empregados cuja única coisa que sabiam fazer fundir e pintar metal. A Fundição de Oeiras era, na altura da sua morte, um empregador importantíssimo na vila de Oeiras (como o "historiador" djustino pode confirmar, se o camarada Anthrax não é tão antigo por lá como eu). Lá se desenrascou a maior parte! Uns montaram cafés, outros assaram frangos, outros são seguranças, ...Para alguém se desenrascar só precisa de precisar! Portanto, não me venham dizer que se os funcionários públicos tiverem que ir para o desemprego ficam sem fazer nada. Lá arranjarão qualquer coisa e contribuirão muito mais para a economia nacional que hoje, certamente. Basta que deixemos de olhar para eles como monos!

Carlos Monteiro disse...

Caro camarada Toni,

Nunca na vida preconizarei o despedimento de ninguém em função de dados macroeconómicos cuja análise difere consoante a "côr" do analista. No teu caso, o desemprego tem origem na quantidade de funcionários publicos malvados, o camarada cassete jerónimo tem origem nos malvados empresários gananciosos. Depende da perspectiva.

Eu digo que um despedimento é uma tragédia pessoal e acho imoral defende-lo!

Dai que quando me vêm com liberalizações de leis laborais "porque os patrões são de confiança e são eles que precisam da força de trabalho" chamo-lhe uma treta. Canto de sereia!

Demasiado comuna? Que seja...

Anthrax disse...

Amigo Capitalista desenfreado Tóni (adorei esta! Está bonita não está?),

A necessidade aguça o engenho. Sei disso. Mas... se não criarem as condições para que as empresas privadas possam prosperar, bem se podem agarrar ao Totta porque só um débil mental criaria uma empresa em Portugal.

Todos aqueles que conheço que o pretendem fazer, uns estão a trabalhar com os bancos no sentido de abrirem Off Shores e os outros, no sentido de as abrirem noutros países da U.E onde as condições são mais favoráveis.

Tonibler disse...

Camarada Monteiro,

Sabendo o meu camarada que o dinheiro não cai das árvores e que a riqueza do país não cresce, se os funcionários públicos continuam a consumir maior (cresce 4,5% ao ano) quantidade de divisas estrangeiras (isto é, euros) manda a mais elementar aritmética que se o bolo é o mesmo e há quem coma maiores fatias, então a fatia que sobra é menor.
Quer ignorar isto e mandar cada vez mais gente para o desemprego porque insiste na cegueira?

Camarada Anthrax,

Não se pode criar condições para a criação de emprego quando, como disse ao Monteiro, a fatia de riqueza consumida pelo estado é cada vez maior e o bolo total insiste em ser o mesmo. Quando tínhamos escudo, baixávamos o ordenado aos funcionários públicos pela desvalorização. Hoje não temos esse mecanismo, logo estamos em colapso.

Continua a fazer sentido criar uma empresa em Portugal mas, obviamente, tal requer uma certa "agilidade de processos" porque a lei portuguesa só deixa formar PT's.

Carlos Monteiro disse...

Camarada Toni,

Depois falamos lá em "casa" porque agora tenho um jantar. Para já fique-se com a minha língua de fora. Aqui vai:

:-P

Até logo!