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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma réstia de esperança...

Dois artigos escritos no mesmo dia dão que pensar. No Público, o escritor israelita, Amos Oz, afirma que “Israel deve defender os seus cidadãos”. Segundo o pacifista, “O bombardeamento sistemático dos cidadãos israelitas é um crime de guerra e um crime contra a humanidade”. Antecipa que vai haver muita pressão sobre Israel mas nenhuma sobre o Hamas, que é um gang, ao contrário de Israel que é um país e que para os primeiros, “cínicos e pérfidos”, “se morrerem israelitas inocentes, isso é bom; se morrerem palestinianos inocentes, é ainda melhor”.
Senti vontade de vomitar!
Mercedes Lezcano, escreveu no El País um artigo intitulado “Por qué se permite?”. Com o coração destroçado, acabada de chegar da Cisjordânia, a articulista descreve o seu sentimento de “impotência e de dor ao ver como a realidade é distorcida”. Para a senhora, Gaza “é um campo de concentração assediado por terra, mar e ar por Israel”. O Hamas ganhou as eleições, mas parece que “os resultados eleitorais só são aceites se quem ganha for do nosso agrado”. É certo que os seus dirigentes são de baixa qualidade e patéticos, mas os lideres israelitas não lhe ficam atrás.
No ano em que se comemora os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Estado de Israel, constituído na sua maioria por judeus, povo vítima do Holocausto, tem tido uma postura “genocida” com a complacência obscena do mundo ocidental. Entretanto, os feridos e mortos de árabes, entre os quais inúmeras crianças, amontoam-se, num demonstrar perfeito da baixeza humana.
Senti vontade de chorar!
Para aquelas bandas Paz é uma palavra que não existe nem mesmo no alvor de um Ano Novo. Hoje à noite, larguíssimas centenas de milhões de pessoas vão desejar boas novas, saúde, amor e muita paz, entre passas e flutes de espumante ou de champanhe. Eu também espero comemorar o acontecimento, mas vou levantar o meu copo, desejando boas novas, saúde, amor e muita paz aos palestinianos e israelitas desejosos de viverem em segurança e com respeito uns pelos outros
Sinto vontade de ter uma réstia de esperança...

Uma nota de optimismo

Faltam escassas horas para o nascimento de um novo ano.
Um só desejo, sincero: que no final de 2009 possamos concluir que eram afinal infundados o receio e o pessimismo com que terminamos 2008.

Economia: camisa de forças aperta cada vez mais...

I. Recordo-me do tempo em que as crises da economia portuguesa, traduzidas num grande desequilíbrio entre despesa e produção, se resolviam em 2 anos, mais ou menos, mediante uma receita quase infalível: subida dos juros e forte desvalorização da moeda, algum aperto orçamental.
II. A procura interna contraía, bem como as importações, aumentavam as exportações, ou seja...reequilibravam-se despesa e produção, a situação voltava ao normal, até à crise seguinte...
III. Assim sucedeu nas crises de 77/78, de 83/84, de 92/93...até que chegamos ao Euro em 1999! Convencemo-nos então, ou pelo menos os tambores oficiais disso nos quiseram convencer, que os períodos de crise tinham ficado definitivamente para trás...como agora bem sabemos, não é verdade?
IV. A situação actual da economia em Portugal é extremamente complexa:
(i) Enorme desequilíbrio entre despesa e produção, reflectido no maior défice
externo da zona Euro a seguir à Grécia;
(ii) Elevadíssimo grau de endividamento de todos os sectores, Estado, Famílias,
Empresas;
(iii) Grande dificuldade de acesso ao crédito externo por parte de quase todos os
agentes económicos, incluindo bancos, com excepção (por enquanto...) do Estado;
(iv) Necessidades de financiamento externo crescentes pois, apesar do elevado
endividamento o défice externo não para de crescer (+ 35% segundo os
últimos números divulgados, para o período Janeiro-Outubro);
(v) Produtividade dos factores em contínua perda, incapaz de contrariar a
tendência de agravamento dos desequilíbrios que se vão acumulando ano
após ano;
(vi) Moeda que tem vindo a fortalecer em relação às restantes divisas,
agravando seriamente o problema da já de si precária competitividade dos
produtos e serviços com origem em Portugal;
(vii) Para cúmulo, uma política económica que, justificada oficialmente pela
necessidade de “resposta” à crise, na prática traduz-se na promoção de um
tipo de despesa publica que agravará ainda mais o desequilíbrio
insustentável que arrastamos...
V. Ontem mesmo o INE dava conta de uma tendência que explica parte dos nossos problemas e tem sido tema de amplo debate aqui no 4R (merecido destaque para as claras posições de Pinho Cardão): a carga fiscal em 2007 atingiu o máximo de (pelo menos) 13 anos, tendo subido continuamente nos últimos 3 anos, 2005-2007.Para que não restem dúvidas... é de fonte oficial!
VI. Estamos metidos numa camisa-de-forças de que não vejo processo de nos libertarmos...a velha fórmula desvalorização/subida dos juros/aperto orçamental pertence ao passado, não pode mais funcionar.
VII. Reli ontem por coincidência um artigo de Medina Carreira, na edição do PUBLICO de 17 de Junho último, “O declínio inequívoco de Portugal” e receio que este corajoso Cidadão, de opiniões sempre desassombradas e grande independência, esteja cheio de razão...
VIII. Confesso que não contava, no último dia do ano da graça de 2008, estar sob tão “sombre mood”...mas depois do que tem acontecido parece-me insano extrair conclusões optimistas a partir do quadro acima descrito.
IX. Apesar da camisa-de-forças que nos aperta cada vez mais, os mais sinceros votos de Bom Ano Novo aos nossos ilustres Visitantes!

Com serenidade aguardemos o Ano Novo ...

Os últimos dias do ano são normalmente momentos em que se fazem balanços e se advinha o futuro do Ano Novo que aí vem. É um tempo de festa porque mais um ano se completou e outro ano vem a caminho. É também um tempo em que desejamos aos outros o melhor que o mundo tem para dar e fazemos votos de muitas felicidades, muitos sucessos pessoais e profissionais, com saúde, amor e paz.
A esperança enche-nos o coração e por momentos vivemos intensamente a felicidade, a felicidade do mundo, como que nos alimentando dela para o Novo Ano que se inicia. A esperança de um Bom Ano Novo vai-se instalando à medida que os ponteiros do relógio vão avançando. No meio da euforia que nos é imposta, há sempre tempo para um balanço, para alguma serenidade.
Lembrei-me de um conto do livro de contos “O JARDINEIRO” em que o autor (Grian) nos conta uma história sobre a felicidade. Uma reflexão simples mas cheia de sabedoria que nos fala dessa essência preciosa que buscamos para as nossas vidas e que repetidamente desejamos em cada Ano Novo que acontece.
Então, reza assim o conto do jardineiro:

O que devo fazer, jardineiro, para alcançar a felicidade? – disse a bela jovem. O jardineiro deixou escapar um sorriso inocente.
- Não a procures – respondeu.
A rapariga ficou confusa.
- Como é possível que me digas uma coisa dessas? – perguntou, um tanto incomodada com o seu sorriso. – Toda a gente procura a felicidade…
- … E muito poucos a encontram … - interrompeu-a o jardineiro ainda a rir-se.
A irritação da impulsiva jovem ia crescendo, o que só fazia aumentar o divertimento do homem.
- Repara… - Continuou o jardineiro, tentando acalmá-la. – Toda a gente procura a felicidade. Uns procuram-na na pessoa amada, outros na acumulação de dinheiro e bens, outros na confirmação dos seus sonhos… Toda a gente passa a vida a perseguir um sonho por realizar e, quando o consegue, alcança uma felicidade que julga que durará eternamente. Mas passado um tempo, volta a monotonia e a desilusão, e toda a gente volta a procurar um novo sonho por cumprir, até que o consegue e volta a cair na desilusão e, assim sucessivamente.
- Queres dizer que não é possível alcançar uma felicidade duradoura? – voltou a interrogar a rapariga.
- Oh, não! Não quis dizer isso.
- Então, como se alcança a felicidade duradoura? – insistiu a jovem, dando mostras de invisível impaciência.
O jardineiro fez um gesto para que se acalmasse.
- Não se alcança – respondeu-lhe. – Não é possível alcançares algo que tem estado sempre contigo.
- Jardineiro, estás a enlouquecer-me. Se tem estado sempre comigo, como é possível que não a sinta?
- Acaso sentes a flor que levas nos teus cabelos? – perguntou o jardineiro.
- Quando me detenho a pensar nisso, sim – respondeu levando a mão à flor.
- Acaso não te dás conta que eras feliz, quando te deténs a pensar no passado?
- Bom… Sim… - balbuciou. Mas…
- Pois então detém-te a pensares na felicidade que sentes agora – interrompeu-a o jardineiro. As pessoas comportam-se todas como aquele homem que passou o dia à procura dos óculos, e que acabou por se aperceber que os tinha postos.
“Temos que ser felizes, mas só nos damos conta quando passou o tempo, e a distância nos permite ver a totalidade do que se viveu.
“A felicidade tem estado sempre em ti, nunca te abandonou. Nem sequer quando a vida te fez passar pela dor e a amargura. Apenas não a vias, a tua obsessão por a encontrares e por fugires da dor não te deixava vê-la.
“Presta atenção à tua vida, ao que te rodeia, ao que sentes… e descobrirás que já és feliz, neste momento, que a felicidade faz parte de ti, porque é como uma pradaria verde onde a vida baila as suas danças de vida e morte, de amor e solidão”.
E acariciando a face da rapariga, disse-lhe com ternura:
- Não procures a felicidade. Se desejas procurar algo… procura a vida.


A todos os autores do 4R e a todos os comentadores e leitores que animam o 4R desejo as maiores felicidades para o Ano Novo que não tarda já chegou!

Chocalhar o “velho”!


Aproxima-se o fim de ano e, como é habitual, começam a chover mensagens de desejos de Bom Ano nos telemóveis com os seus irritantes toques a anunciá-las em catadupa.
Fim de ano sem barulho não é fim de ano. Gritos, música em altos berros, assobios, foguetes, tiros de garrafas de espumante, cornetas, assobios, enfim, ruído e sempre ruído como que a exorcizar a morte do ano e o nascimento de um novo.
Não sei quantos anos tinha quando me apercebi deste tipo de festividade, mas recordo-me ter estado de cama, devido a uma daquelas doenças que atingia a miudagem. Estava em casa da minha avó e havia alguma azáfama. À noite, deitado na cama, ouvia a ribeira a contorcer-se de dores, porque, quando chegava aos Aldrogãos, tinha que contornar algumas pedras e furar debaixo de uma velha passagem de pedra. Pelo tipo de barulho conseguia calcular o caudal que, consoante aumentava ou diminuía, se transformava em múltiplos cantos. Os daquela noite eram sugestivos de um caudal já apreciável, até, porque tinha chovido nos dias anteriores. Sabia, também, que o frio ondulava lá fora entre a ribeira e o céu estrelado. Enquanto as ramagens do arvoredo se esfregavam umas contra as outras na esperança de se aquecerem, eu pensava que coisa era essa de acabar um ano e começar outro. A minha mãe, sentada na beira da cama, dava os últimos retoques numa camisola que deveria vestir no dia seguinte. Perguntei se a mudança de ano era feita sempre de noite e com tempo frio. Que sim, o fim de ano ocorre no Inverno e por isso é frio. De noite, porque o começo de um novo dia inicia-se sempre à meia-noite. – E há sempre festa? – Há! Com mais ou menos arraial e com mais ou menos comezaina. Pensei e, naturalmente, perguntei se não poderiam alterar a mudança do ano para o Verão, para o meio-dia, assim as crianças podiam participar nos festejos. Olharam para mim com ar meio surpreendido, abanando a cabeça ao jeito típico dos adultos quando ouvem disparates infantis. Enquanto ia deambulando por estas cogitações, começo a ouvir uma berraria dos diabos, e ruídos de tachos, panelas e muitos chocalhos, misturados com os sons da ribeira. Assustei-me. Soerguei-me de repente e perguntei o que é que se estava a passar, porque é estavam a gritar e a fazer barulho. – É por causa do velho! – Do velho? – Sim vão a correr atrás do “velho” para o afugentar. E eis que de repente ouço de uma forma muito distinta: - É o velho! É o velho! Foge velho! Vai-te embora, velho! Os ruídos tornaram-se ensurdecedores, mas havia um que me chamou a atenção: o som de um chocalho que eu conseguia distinguir perfeitamente. – Ouçam! Eu conheço aquele som. É do chocalho pequeno que está atrás da porta da cozinha. Como é que ele anda ali? – Foi a avó que o emprestou! Não gostei nada que o tivesse emprestado, as menos podia ter emprestado o grande que estava na adega, mas este era pesado demais para andar na borga. – Mas andam atrás de um velho? Enquanto fazia a pergunta, imaginava um velhinho trôpego de barbas brancas a fugir daqueles gabirus que se entretinham em persegui-lo aos gritos, ainda por cima com o meu chocalho. Não gostei mesmo nada do que lhe estavam a fazer. Aperceberam-se da minha preocupação, dizendo que era uma brincadeira, um faz de conta, porque o ano velho estava a acabar e tinham que o afastar para que o novo pudesse entrar. – Brincadeira, faz de conta, pessoas crescidas a comportarem-se daquela maneira! Não estava a encaixar muito bem, mas, de repente, o sino da torre começa a badalar, instalando-se um silêncio, e, ao fim de doze toques bem sonoros, regressaram os gritos e os ruídos mas com outra sonoridade, mais alegre, entre os quais se destacava o som característico do meu chocalho. Pensei: um dia também quero ir chocalhar ao velho e dar as boas vindas ao novo. Anos mais tarde corri atrás do velho com o chocalho pequeno em cima da passagem de pedra dos Aldrogãos, indiferente aos gemidos da ribeira e ao ondular da brisa fria.
Há décadas que eu não sei onde pára o chocalho. Se o tivesse à mão, aproveitaria para chocalhar o “velho”. Não o tendo, vou fechar os olhos e regressar à primeira noite em que me disseram que os anos também morrem e nascem e vou ouvir o meu chocalho…

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Oposição precisa-se. Urgente!

Ouvi na rádio o anúncio de que o Conselho de Ministros aprovou hoje um decreto-lei que estabelece medidas excepcionais de contratação pública, a vigorar em 2009 e 2010, destinadas à rápida execução dos projectos de investimento público considerados prioritários.
Fui espreitar que medidas excepcionais eram essas que a crise justificaria. Nem mais nem menos do que estas:
  • A possibilidade de ser escolhido o procedimento de ajuste directo, no âmbito de empreitadas de obras públicas, para contratos com valor até 5 150 000 euros e, no âmbito da aquisição ou locação de bens móveis ou da aquisição de serviços, para contratos com valor até 206 000 euros;
  • A redução global dos prazos dos procedimentos relativos a concursos limitados por prévia qualificação e a procedimentos de negociação de 103 dias para 41 dias, ou de 96 para 36 dias quando o anúncio seja preparado e enviado por meios electrónicos.
Quando um governo não sente o menor dos rebuços em divulgar que uma menor competição no mercado e a falta de transparência nas adjudicações de obras e fornecimentos públicos são soluções de combate à crise; quando aprova medidas de excepção a princípios indiscutíveis de direito interno e comunitário, é a falta de oposição que sobressai acima de tudo.

Firma na hora

Precisa de constituir rapidamente uma empresa? Não resiste à tentação de ser sócio ou accionista de uma sociedade comercial depois de ter dobrado o cabo das ´Novas Oportunidades´? Então dirija-se a um dos vários balcões onde é hoje possível criar a 'Empresa na Hora'. Poderá constituir aí, num sopro, uma sociedade unipessoal, por quotas ou anónima. À escolha. O processo não pode ser mais simples: opta por um contrato de sociedade e uma firma pré-aprovados, de um cardápio que lhe disponibilizam. Escolhe, e já está! Se fosse insuflável não era tão simples!
Não sendo todavia missão do 4R, não recusamos dar o nosso contributo para o serviço público, divulgando as denominações sociais disponíveis, aliás consultáveis pela net.
Quer V.Ex.cia uma empresa com um nome, vejamos... começado pela letra F? Aqui tem alguns exemplos de firmas à disposição:
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FADAS E NINFAS
FADAS E PIRATAS
FALA FLUENTE
FANFARRA AO RUBRO
FANTASIAS DIVERTIDAS
FANTASIAS ESPECIAIS
FANTASMAS DO PASSADO
FANTÁSTICA & IRRECUSÁVEL
FANTASTICEIA
FARELO AZUL
FARRADIVERTIDA
FARRAPUSADO
FARTURA & ASSIM
FASCINANTES & OBSCUROS
FASES & POSIÇÕES
FEIÇÕES DE REALCE
FEITO PARA SEDUZIR
FERVENTE CUME

Está mais inclinado para escolher uma firma iniciada pela letra P? Então pode escolher que o mostruário é generoso em quantidade e de inquestionável imaginação e qualidade. Aqui vão alguns exemplos:

PRÁTICAS FANTÁSTICAS
PRÁTICOS TALENTOS
PRAZER IMEDIATO
PRAZER VIÁVEL
PRECISÃO SURPREENDENTE
PREOCUPAÇÃO DE RIGOR
PREPARO REAL
PRESENTE ETERNO
PRESENTES P'RO DIA
PRESERVAR MEMÓRIAS
PRESO POR UM FIO
PRETÉRITO REAL
PRETO SEDUTOR
PRIMEIRA CENA
PRINCESAS E DUENDES
PRINCIPAL INFLUÊNCIA
PRÍNCIPES & RABINOS

Certamente lhe foi fácil escolher entre um destes nomes para a sua nova empresa. É só acrescentar mesmo L.da ou S.A. ao nome escolhido. Por exemplo, FERVENTE CUME L.DA ou PRAZER IMEDIATO, SA. Não? Então nada como visitar o site da ´Empresa na Hora´ e percorrer o alfabeto. Divirta-se.

Desnorte

Discordo da reacção do PSD/Açores quando, ao mesmo tempo que se congratula pela promulação do Estatuto Político-Administrativo responsabiliza o PS por futuras sequelas negativas no que respeita à autonomia regional. Está visto que esta como outras reacções dos partidos revelam que não se entendeu o que está em causa. É precisamente por não existir qualquer questão, política ou constitucional, sobre as autonomias, que assiste ao Presidente da República toda a razão.
Mais um tiro ao lado...
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A degradação em termos absolutos!...

Fosse o Presidente da República da mesma laia dos políticos que votaram favoravelmente o Estatuto dos Açores ou o deixaram passar, sem o recusar, e hoje a Assembleia da República estava dissovida.
A conjuntura não o recomendava e o Presidente teve o comportamento de estadista que lhe é próprio. Que contrasta com o oportunismo saloio e politiqueiro da Assembleia Regional, do Governo nacional, dos Partidos políticos e dos Deputados que elegemos.
Degradação em termos absolutos!...

Em cheio!

Acabei de ouvir a declaração do Sr. Presidente da República.
Inicialmente, fiquei surpreendido pela veemência das palavras.
"Interesses partidários".
"Falta de lealdade institucional".
"Um sério revês na qualidade da nossa democracia".
"Afecta o normal funcionamento das instituições da República".
Só faltou a Cavaco Silva declarar que se recusava a promulgar o Estatuto dos Açores.
Foi o mais duro pronunciamento de um Presidente da República relativamente ao nosso Parlamento.
O mais duro, o mais violento e o mais certeiro!
Cavaco Silva tem toda a razão.
Este Estatuto dos Açores é um indignidade democrática e um absurso institucional.
Esperemos que os Senhores Deputados tenham percebido.
Em especial os da maioria.

A dialética do ano III

-"Tenho com o Presidente da República uma relação institucional absolutamente impecável"- José Sócrates
-Porque no te callas?

Dar música...

Pelo andar da carruagem torna-se imprescindível criar um novo sistema de medidas, desta feita relacionado com a saúde. Se olharmos com o mínimo de atenção para as notícias dos jornais, das revistas, de certas reportagens e, até, de algumas campanhas publicitárias, tudo o que nos rodeia começa a ser relativizado em “faz mal à saúde” ou “faz bem à saúde”! Primeiro de forma dicotómica, mas, lentamente, transformando-se de uma forma contínua em fazer muito ou pouco “bem” ou “mal”.
Dar importância à saúde é positivo e estimular comportamentos que a protejam é aconselhável, mas temos de ser razoáveis, ou seja, a doença faz parte das nossas existências e à medida que vamos envelhecendo o risco de adoecer é cada vez maior. Como tal, temos de a aceitar e conviver com o novo estado. No entanto, as descobertas científicas, e as novas tecnologias que começam estar ao nosso dispor, dão a impressão de que é possível ser-se saudável até aos cem anos, para aqueles que lá chegam, como é óbvio, porque os outros já morreram de doenças antes disso. Existe ainda uma corrente que quer transferir as responsabilidades de adoecer para o próprio indivíduo. Se nalgumas circunstâncias esse facto é mais do que evidente, na grande maioria dos casos não se pode e nem se deve responsabilizar os doentes. Mas há os que se aproveitam dessa busca incessante da saúde. É tão evidente que começa a saturar. Mas dá resultados, porque vende e bem. Indústrias altamente lucrativas.
Águas minero-medicinais, vinhos, cervejas, licores, chocolate, soja, pão, tofu, frutas, vegetais, café, chás, spa(s), ginásios, dietas, suplementos vitamínicos e alimentares, ginásios, música, dança, meditação, religiões, cheiros, cores, cristais, astrólogos, telenovelas, ar engarrafado, charlatães africanos e promessas ministeriais, só para citar alguns, utilizam rótulos garrafais de que “faz bem à sua saúde”.
Um estudo publicado numa importante revista médica afirma que dançar “heavy metal” pode provocar lesões: acústicas e graves perturbações músculo-esqueléticas devido às “batidas” das cabeças. O ritmo é, em média, da ordem das 146 batidas por minuto, segundo dizem os entendidos, e podem provocar lesões a nível do pescoço quando o movimento é superior a 75 graus. Quando li esta notícia recordei-me de uma outra segundo a qual o colesterol sérico aumenta quando se ouve música “heavy metal”, contribuindo, quem sabe, para que num dia destes seja incluído na lista de factores de risco cardiovascular e constituir mais uma proibição por parte do médico, a par de tantas outras: não comer gorduras saturadas, não comer enchidos, não abusar de molhos e de ovos, não comer manteiga, não ouvir “heavy metal”, blá, blá, blá. Mas se ouvir Bach, Beethoven, Quim Barreiros ou Tony Carreira, então o seu colesterol, até, poderá diminuir, pelo menos quanto aos primeiros dois, os outros são especulação minha. Quanto à dança, parece que é muito útil, pelo menos devido ao esforço físico e ser uma forma de relaxamento. Não sabia que o tango podia prevenir e amenizar doenças cardíacas, parkinsonismo e a doença de Alzheimer! Nem mais. Mas já agora, quando se começar a prescrever o tango, é preciso ver se as articulações estão boas e recomendar que deverá fumar um cigarrito, pois!, o tabaco previne o parkinsonismo e beber uns copitos, pois!, o vinho protege da doença de Alzheimer. E até não fica nada mal. Dançar tango, num ambiente de fumo e regado com álcool deverá proteger os cultivadores de alguns tipos de doença.
Dar “tanga” está na moda. Basta ver os discursos dos políticos, dos comentadores, dos analistas, dos “assaltantes de bancos”, não do tipo do “El Solitário”, mas dos outros (os de dentro), e constatar que conseguem fazer com que os portugueses continuem a dar “batidas” ritmadas com as suas cabeças, de cima para baixo e de baixo para cima. Se ultrapassam os 75 graus? Não sei. Mas, pelo sim pelo não, o melhor é colocar ao redor do pescoço um colar cervical, sobretudo quando estão a ser entrevistados ou a discursar. Em seguida saia de casa e vá “tangar” mas não de tanga…

Provérbios do jardim


Um dos presentes de que mais gostei este ano trouxe-me a minha filha da Holanda, é um livrinho minúsculo que cabe na palma da mão, muito bem encadernado de verde e que se chama “Provérbios do jardim”. A acompanhar a miniatura, um pacote de bolbos de fritilária e outro de túlipas de várias cores, vamos ver se consigo fazê-los florescer neste nosso clima tão ameno porque estas flores precisam de Invernos muito frios para saírem aos primeiros raios de sol, lá para Março. Também veio um kit com instrumentos muito engraçados, um ancinho, uma pequena pá e um cone para enterrar os bolbos na profundidade certa, próprios para meter no bolso das calças de jardinar e assim deixar de os deixar perdidos na relva à medida que vou avançando os canteiros. Os nórdicos são muito práticos…
Quanto ao livrinho, é pequeno mas cheio da sabedoria das coisas simples, tão simples que ficamos surpreendidos por muitas delas terem sido esquecidas, abafada por teorias gongóricas que pintaram a realidade com as cores mirabolantes do excesso e da fantasia. Aqui ficam alguns desses provérbios ditados pela natureza:
-Por mais alto que um pássaro possa voar, é sempre na terra que procura o seu sustento
-Tudo é bom na estação própria
- Inverno frio, colheita abundante
- Se o Verão não produzir nada, também nada haverá no Outono
- Basta uma nuvem para encobrir o sol
- Se quiseres ser feliz toda a vida, planta um jardim
- Não há jardins sem sementes
- Os jardins não se fazem ficando sentados na sombra
- Cada pessoa já tem o suficiente que fazer se cuidar do seu próprio jardim
- O pé do jardineiro não estraga o jardim
- Quem planta árvores é capaz de amar para além de si próprio
- Assim como semeares assim colherás
- Quando as raízes são fundas não há que temer a ventania
- Um mau trabalhador reclama sempre das ferramentas
- Só nos sonhos é que as cenouras são tão grandes como os ursos
- A maçã nunca cai longe da macieira
- O jardim deve ser primeiro preparado na alma ou nunca florescerá
- Não escaves onde nunca plantaste
- A colheita não chega cada dia mas apenas em cada ano
- Mais vale comer legumes e não temer os credores do que comer pato escondendo-te deles
- Todos os desgostos pesam menos se há pão
- O amor não é como a batata, não se pode atirar janela fora
No meio desta enorme confusão em que vivemos, às vezes o segredo está em voltarmos a olhar as coisas mais simples…

domingo, 28 de dezembro de 2008

A criança...que se aguente!...

Esmeralda analisada por psicólogo de Leiria, noticia hoje o DN.
De pedopsiquiatra em pedopsiquiatra, de psicólogo em psicólogo, de assistente social em assistente social, de tribunal em tribunal, de decisão em decisão, de contradição em contradição, de família em família, assim é a vida desta criança.
Que a reles burocracia e a miserável tecnocracia instaladas acham ser a melhor forma de a proteger.
Todos lavam as mãos como Pilatos, em nome do politicamente correcto.
E, de análise em análise, a criança que se aguente!...

"La aventura colonial"

No El País de hoje, Mario Vargas Llosa escreveu um artigo que merece ser lido. Fala do "Holocausto" africano, no ex-Congo Belga, protagonizado pelo rei dos belgas Leopoldo II. De facto, são poucas as pessoas que têm conhecimento deste fenómeno. Mas convém recordar e, até, porque não, denunciar. E já que andamos em maré de pedir perdão, pergunto porque é que aquele pequeno país não se penitencia face a África e ao Mundo?

A dialética do ano!... II

-O Orçamento para 2009 "é um orçamento sério, de contas transparentes e certas..." -José Sócrates
-Porque no te callas?

sábado, 27 de dezembro de 2008

A dialética do ano!...I

- "...Criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação..."-José Sócrates
-"...Porque no te callas?..." -Zé Povo, parodiando palavras de D. Juan Carlos

"Depois de casa roubada trancas à porta"...

(versão inglesa do cartoon de Patrick Chappatte divulgado no jornal Expresso)
***
Pessoalmente não acho graça alguma àquelas gracinhas que se fazem à custa da desgraça dos outros. Não é bonito brincar com o quotidiano ou as tragédias que provocam sofrimento, dor, destruição, horror ou temor. Mas as brincadeiras de mau gosto são hoje um traço comum de muitos programas, diversões e outro tipo de entertainment que movem milhões. E os cartoons não fogem à regra.
Embora a crise financeira mundial seja muito séria e grave e se prevejam efeitos na economia real que podem perigar o bem estar de milhões de pessoas, o cartoon de Chappatte sobre a crise financeira mundial que motiva este post é especialmente gracioso, imbuído de um humor muito bem apanhado. Faz-me lembrar aquele ditado "Depois de casa roubada trancas à porta"! E depois com o passar do tempo, a confiança vai-se ganhando, as trancas vão sendo retiradas, a normalidade vai-se restabelecendo, até à próxima...
Esperemos que desta crise financeira sejam retiradas as necessárias lições e sejam colocadas trancas de aço à prova de mentira, ganância, egoísmo, corrupção, manipulação, inovação sem limites e ficção, negligência e leviandade!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O novo toque de Midas

E as eleições aqui tão perto...

No livro dos mitos está escrito que em tempos existiu um rei que, como recompensa dos deuses, recebeu o dom de transformar em ouro tudo quanto tocava.

No mesmo livro se registará um dia a não menos extraordinária capacidade daquele primeiro-ministro de um país pequeno, da zona euro, que em época de crise conseguiu o que em tempo algum os governos de países de economia de mercado conseguiram: baixar as taxas contratuais de juro dos empréstimos para aquisição de habitação.

Próximo de tal feito, só mesmo o do seu colega britânico que a si mesmo se atribuiu o papel de salvador do mundo.

Brincamos!...

É crime entrar num Banco e ameaçar as pessoas com uma arma, seja ela verdadeira ou de plástico.
É crime entrar num restaurante e ameaçar os donos, empregados e comensais, com uma arma, seja ela verdadeira ou de plástico.
É brincadeira um aluno ameaçar a professora, na sala de aula, com uma arma, seja ela verdadeira ou de plástico.
Claro que, sendo brincadeira de escola, será divertimento legítimo e puro na vida de todos os dias!...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O Menino Jesus, hoje


Como seria Jesus se viesse hoje à terra, perguntou ontem o Público a um conjunto de pessoas, católicos, evangélicos, muçulmanos, judeus, ateus, agnósticos. Melhor ou pior fundamentada, cada qual deu a sua interpretação. Mas duas foram de um mau gosto atroz.

“Seria mulher, negra e lésbica. Mas também podia ser um ser andrógeno, que fosse imperceptível ser homem ou mulher…”

"...Ele não gostaria de ver o seu movimento profético, mais ou menos freak, mais ou menos new age transformado no Estado do Vaticano. Nem o modo como trata melhor os cães do que as mulheres e os homosexuais…E como o negócio de extraterrestres sempre acontece nos Estados Unidos e em inglês, o mundo ficaria estarrecido com o seu fortíssimo sotaque de Brooklyn”.
Contrastante, a sucinta, bem observada e ponderada resposta do neuropediatra Nuno Lobo Antunes:
“Não creio que a mensagem fosse muito diferente. De resto, é a sua intemporalidade que faz com que a celebremos todos os anos. Não creio também que em 2000 anos se tenha modificado a condição humana, pelo que, no essencial, a história se repetiria”.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Natal todos os dias...

Tenho grande admiração e gratidão pelas pessoas e instituições que carinhosamente cuidam das pessoas mais carenciadas, muitas delas fazendo dessa dedicação uma verdadeira causa.
Tenho um especial carinho pelas pessoas idosas cuja condição de velhice, associada a problemas de saúde e decadência física e mental, solidão e abandono, dificuldades de acolhimento e assistência familiar, é tantas vezes aliviada, e ainda bem, pelo aconchego de um novo “lar” disponível para as receber.
Fiquei comovida com a lembrança que recebi de uma instituição de solidariedade social por ocasião da animação de Natal preparada para proporcionar às pessoas idosas aí residentes um tempo para bem recordar. É um calendário do Ano 2009 composto por doze páginas a que correspondem os doze meses do ano, cada uma delas decorada com um desenho pintado alusivo às estações do ano. Até aqui tudo normal. O que é extarordinário é que os seus "artistas", doze também, têm idades compreendidas entre os 90 anos e os 102 anos. É verdade, tive a sorte de conhecer duas senhoras de 102 anos, muito velhotas fisicamente, mas intelectualmente válidas e bem vaidosas dos seus talentos.
São realmente espantosos os resultados do carinho, da ajuda, do esforço e da persistência colocados na vida destas pessoas tão idosas, ocupando-as e estimulando-as em actividades que alimentam a sua auto-estima e que apesar da velhice avançada têm afinal talentos escondidos para desvendar.
Por sermos mais novos, por estarmos longe dessa velhice ou por não contactarmos com ela no nosso dia a dia, não nos lembramos e não valorizamos o extraordinário trabalho que muitas instituições de solidariedade social desenvolvem nesta área. Longe das crispações políticas, longe das crises financeiras e económicas e do reboliço do consumismo, mas atingidas nos seus efeitos, estas instituições reúnem um enorme saber a cuidar de pessoas que a sua condição de velhice retirou do mundo lá fora em frenética combustão. Lá dentro, o tempo tem outro tempo, a atenção e o esforço de quem aí trabalha têm uma forte componente humana, na busca de minorar sofrimentos e proporcionar qualidade de vida às pessoas idosas que estão à sua “guarda”. A responsabilidade é grande e os meios nem sempre são os necessários e adequados para a fazer cumprir. Não descurando da importância dos bens materiais, mais relevante para estas missões tão difíceis e trabalhosas é a dimensão humana - o carinho, a amizade, o amor, a tolerância e a humildade - que faz toda a diferença no bem estar dessas pessoas que na fase final das suas vidas merecem viver com esperança.
Viver o Natal também passa por nos lembrarmos e alguma coisa fazermos para que estes “lugares”, que um dia quem sabe se não serão também os nossos, vivam todo o ano um Natal Feliz. Tudo o que acontece depende de nós, das nossas vontades e dos nossos desejos. Acreditar que podemos fazer melhor também é Natal!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Money for nothing - suficiente para afastar "monstro" da deflação?

1. Estamos a chegar ao ponto em que a política monetária – pelo menos no caso dos USA e do Japão – parece estar a atingir o seu limite, com as taxas de juro dos Bancos Centrais para cedência de fundos aos bancos próximas de zero.
2. Na curiosa frase do canal Bloomberg, na noite em que foi anunciada a descida da taxa repo do FED para 0,25%, trata-se de uma política de “Money for nothing” – cedência de fundos (quase) sem custo para os bancos que tenham em carteira activos elegíveis para acesso às linhas dos bancos centrais.
3. O BCE e o Bank of England ainda lá não chegaram...mas não surpreenderia que, a confirmarem-se receios de uma contracção mais pronunciada em 2009, estes dois bancos centrais, ainda há pouco tempo tão incomodados com a inflação – o BCE subiu os juros para 4,25% em Julho último – venham a aproximar-se do “Money for nothing”...
4. Atingido o ponto de “Money for nothing”, duas perguntas ocorrem:
- Será a política de “Money for nothing” suficiente para estimular economias neste momento em recessão e em risco de depressão?
- Poderão os bancos centrais fazer algo mais para estimular as economias?
5. A resposta à 1ª questão é dificílima. Inclino-me a dizer que essa política, neste contexto, não será suficiente...especialmente nos casos, como o de uma economia “nossa muito conhecida”, em que os níveis de endividamento, de todos os sectores, são já muito elevados.
6. Outros tipos de estímulos – certamente não mais despesa pública a não ser a que resulta dos estabilizadores automáticos - serão necessários, nomeadamente um vigoroso choque fiscal que tenha o condão de alterar as expectativas das empresas e dos consumidores.
7. Todavia, no quadro de interdependências – tb chamado Globalização - que hoje existe, fazem pouco sentido respostas apenas nacionais, em especial no caso das economias mais pequenas e muito abertas.
8. Mostra-se indispensável uma abordagem da cooperação internacional que leve os países altamente superavitários – em especial Alemanha, Japão, China, Índia, países do Golfo – a adoptar políticas de estímulo das suas economias, aceitando alterar o modelo de crescimento pelo menos nesta fase excepcionalmente complexa.
9. Sem uma eficaz cooperação internacional que distinga as políticas em função da diferente situação das economias nacionais, parece muito difícil enfrentar o Monstro da deflação. Todos a fazer o mesmo é que pode ser contraproducente...
10. Quanto à capacidade de resposta dos bancos centrais, pelo menos em teoria ela não se esgota aqui. Resta ainda o recurso ao “Helicóptero do dinheiro” ou “Helicopter Bem”, na curiosa metáfora usada por Martin Wolf no seu interessantíssimo artigo do F. Times de 17 do corrente...
11. Quem tiver curiosidade em saber como funciona o “Helicóptero do dinheiro”, sugiro então que pesquise esse artigo no site do F Times. E não deixem de prestar atenção aos riscos do Helicóptero!

Os lampiões de inverno


Apareceram em força este ano. São folclóricos e atraem pela cor... mas dão muito pouca luz...
Normalmente, atingem o maior brilho no momento em que não são precisos... no verão, por alturas do defeso!...
E no inverno apagam-se, quando os donos menos o esperam!...
Mas que importa, se o marketing é poderoso!...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vai bonita a brincadeira!...

O Governo teve que intervir nos Bancos, porque estes emprestaram dinheiro e fizeram aplicações sem critério, em operações de grande risco (deixando de lado as fraudulentas, claro...). Utilizando, não recursos próprios, mas fundos provenientes dos depositantes e de credores.
Efectuada a intervenção, volta a acusar-se os Bancos, agora por não concederem crédito. Acusa o Governo e acusam os directamente interessados.
Pelos vistos, passou a ser dever dos Bancos emprestar dinheiro à toa e sem critério. E já não interessa que ele seja dos depositantes ou dos credores!...
Certamente para que o Governo tenha que intervir de novo!...
Vai bonita a brincadeira!...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Brincar à caridadezinha

Ouvi o Secretário de Estado da Administração Pública proclamar a ajuda aos funcionários públicos em dificuldades sob a forma de empréstimo, se necessário a fundo perdido.
Não vai longe o tempo em que o governo a que pertence o jovem e magnânime Secretário de Estado, considerava os funcionários públicos como privilegiados de entre o universo dos trabalhadores. Hoje, ao que parece, só eles merecem o carinhoso amparo do Estado.
Sendo franco, não estava à espera que em ano de eleições o governo tivesse comportamento diferente ante a meticulosa gestão da sua imagem que foi fazendo ao longo do mandato com os olhos postos em 2009. O que me impressiona é a lata com que anuncia estas medidas, como se de importantes soluções se tratasse.
Razão tem Jerónimo de Sousa quando, sem papas na língua, põe o dedo na ferida: são dispensáveis estas formas de caridade. Se o Estado entende que deve apoiar quem o serve e julga que tem condições para isso (sem onerar ainda mais os contribuintes, i.e., os demais trabalhadores) então que ajuste as remunerações.
A suposta medida e as palavras de Jerónimo de Sousa trazem-me à memória aquela cantiga de José Barata Moura que acabava assim:

Não vamos brincar à caridadezinha,
Festa, canastra e falsa intençãozinha,
Não vamos brincar à caridadezinha.

Boas Festas!...

Os melhores votos de Boas Festas e de Feliz Natal ...
Para todos os autores do 4R
Para os nossos esclarecidos e pacientes comentadores
Para os leitores fixes, regulares ou ocasionais do 4R
Para os amáveis bloguistas e jornalistas que se lembram de reproduzir excertos desta quarta república
Para todos os nossos amigos e adversários
...Com muita alegria de viver, de escrever, de ler, de comentar e de citar!...

Pesada herança!...

A estranha sujeição do PSD aos Açores determinou um triste e inqualificável comportamento do partido na votação do Estatuto daquela Região Autónoma.
O líder parlamentar criticou contundentemente o Partido Socialista, acusou-o de estar a criar uma crise política para desviar as atenções da crise económica e social, mas o PSD não votou contra, tendo-se, cobardemente, abstido.
Pior ainda, segundo li, proibiu os deputados discordantes de votar contra e autorizou os deputados dos Açores a votarem a favor. Duplicidade espantosa!...
Dizem uns ter sido um avanço em relação às duas votações anteriores, em que o PSD acompanhou o PS na votação favorável, na generalidade, do Estatuto. E era preciso salvar a face.
Estranha forma esta de salvar a face e andar envergonhado a vida inteira!...
Tarefa hercúlea tem a Drª Manuela Ferreira Leite com a pesada herança de um Grupo Parlamentar que ajudou objectivamente o PS a sustentar a crise com o Presidente da República, a troco de meia dúzia de votos duvidosos. E não contrariando um verdadeiro aborto jurídico, como é o Estatuto, que ajudou a fazer passar.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Tiro o chapéu ao governo...

...pela inegável habilidade com que se serve dos media, transformando não-medidas em rotundas vitórias políticas, sabendo aproveitar a cada vez mais notória predisposição dos órgãos de comunicação social para transmitir como notícia o que lhes chega pelas vias oficiais ou pelas centrais de informação.
Vamos a um exemplo de hoje. Unânime, a comunicação social refere-se nos seguintes termos a um comunicado do MOPTC sobre o tarifário dos transportes públicos: "É a primeira vez em 30 anos que preços não são actualizados" ou "governo impõe congelamento dos preços dos transportes" (vd. por exemplo, o DN). Nada de mais irreal. Quem paga para utilizar os transportes públicos sabe bem que em Julho deste ano as tarifas sofreram um aumento substancial, incluindo os passes sociais, explicado pelo nível que atingiu o preço dos combustíveis. Não consta que nessa altura os títulos fossem "Vamos a meio do ano e é a primeira vez em 30 anos que os preços são já duas vezes aumentados" ou "governo não resiste à pressão das transportadoras". Como as cotações da gasolina e em especial do gasóleo vêm recuando para valores que já não se viam há anos, o que verdadeiramente ocorreu foi uma antecipação do aumento do tarifário, que, contas bem feitas, deveria porventura agora dar lugar a um ajustamento em baixa e não à manutenção das tarifas, proclamada como grande feito.
Porém, não faltará quem veja na coisa mais um acto de grande coragem do governo, ajudado pela reacção da ANTROP que queria mais do que obteve em Julho, e da falta de capacidade crítica ou da cumplicidade dos media.
Há pois que reconhecer o grande mérito do ilusionismo governamental aproveitando a fraca luz do palco mediático, todavia sempre disponível para o espectáculo por mais pífio que seja. Não explica, mas ajuda a compreender o menor desgaste do governo em relação ao esperado por muitos.

As papoilas saltitantes: O cartaz do próximo ano!...



Substituindo a equipa de jogadores por um plantel de advogados, tentou lá chegar, no verão passado.
O ar condicionado não trouxe melhorias e a nova equipa não escapou a outra abada.
Não sei se com equipa de atletas juristas ou de juristas atletas, lá voltou ao relvado na Taça UEFA, numa heróica campanha em que teve que defrontar os campioníssimos Olimpiakos e Galatasaray, o gigante Metalist e o formidável Hertha, depois de se ter aguentado com o terrível Nápoles, apresentado como grande campeão italiano…no tempo de Maradona!...
Infelizmente, a adversidade do sorteio e o sistema instalado ditaram o infortúnio.
Nada de muito importante, já que a UEFA não era objectivo, dizem-no os jornais do regime e os dirigentes.
O cartaz refere-se, pois, ao próximo ano!...
Nota: Podem acreditar, mas o colapso vermelho não é coisa que tivesse agradado à minha cor azul e branca. É que há mar e mar, e ir e voltar, e os pontos do ranking podem fazer falta. E, apesar de o Benfica já ter alinhado esta época sem portugueses, é um clube português.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

PSD- L&A

O PSD desce nas intenções de voto. Nem poderia ser de outra maneira. Num país doentiamente dependente do Estado, o PSD só teve o apoio da população quando se bateu por causas e essas causas serviam a generalidade dos portugueses. Foi assim, nomeadamente com Sá Carneiro, Cavaco Silva e, até certo ponto, com Durão Barroso, embora aqui o efeito cansaço de Guterres se fizesse sentir.
Sá Carneiro dizia que primeiro o país, depois a governação e, depois, só depois, o partido.
Neste momento, pese os esforços e a honestidade da Drª Manuela Ferreira Leite, nem é sequer o partido que se coloca em primeiro lugar. O que está em primeiro lugar são nomes do partido.
Para preservar a figura de Mota Amaral e a dos dirigentes sociais- democratas açorianos, o PSD tem votado a favor dessa aberração que é o Estatuto dos Açores. E hoje, mais uma vez, em lugar de votar contra, vai abster-se, depois da ameaça de cisão de Mota Amaral.
Para preservar o andar por aí de Santana Lopes, o PSD indicou-o para a Câmara de Lisboa, sem qualquer apoio explícito de Ferreira Leite. Como Mota Amaral agora, também Santana várias vezes fala de cisão, quando os ventos não lhe são favoráveis.
Nos bons tempos do PSD, a discussão ideológica era intensa e ela fazia a força do partido, e as cisões não eram a fazer de conta. Mota Pinto, Magalhães Mota, Barbosa de Melo, as personalidades que vieram a formar a ASDI e outras, saíam, quando as discordâncias eram essenciais. Batiam-se pelas suas convicções. O que não impediu o PSD de ganhar eleições.
Agora, o que está em causa são meros interesses pessoais. Satisfeitos, através da ameaça, a cisão nunca se concretiza. Discutem-se apenas lugares e imagens públicas de personalidades.
Creio que o PSD se transformou num PSD-LA, neste momento, Lopes e Amaral, ou Lisboa e Açores. Qualquer dia, será um PSD-PG&B, Porto, Gaia e Braga ou uma outra coisa qualquer.
Aos portugueses não interessa um PSD destes. As sondagens aí estão para o comprovar.

Frase do ano

Photobucket

"As desigualdades sociais têm vindo a diminuir desde 2005".
A afirmação é do nosso Primeiro-Ministro...
... que deve ter estudos muito profundos para fundamentar esta afirmação!
Confesso que esta tirada de Sócrates teve piada...
... de muito mau gosto.

O Natal da TAP...

O direito à greve é um direito inalienável. Todos sabemos. Respeitamos este direito e o seu exercício. Podemos, contudo, não compreender o porquê de uma greve e não entender a importância das reivindicações que justificam que uma greve perturbe e prejudique o dia-a-dia dos cidadãos em serviços considerados essenciais. Sabemos também que os grevistas não escolhem dias e conjunturas ao acaso. Muito pelo contrário, as greves são muitas vezes marcadas em períodos escolhidos cirurgicamente, em particular quando o seu impacto é mais significativo quanto à dificuldade de manter uma normal capacidade de prestação dos serviços.
Vem isto a propósito da greve anunciada na TAP, que envolve o pessoal de manutenção dos aviões e o pessoal de voo, abrangendo o período do Natal, num total, segundo entendi, de quatro dias a partir de amanhã. Segundo li, estão em causa reivindicações salariais.
Independentemente da difícil situação económica e financeira em que se encontra a TAP, para o que terá contribuído num primeiro momento a escalada do aumento dos preços dos combustíveis e, recentemente, a crise financeira mundial, a marcação de uma greve na TAP justamente na época de Natal é um acto de difícil compreensão. Se a memória não me falha, não é primeira vez que acontece.
A quadra Natalícia implica todos os anos um aumento de voos envolvendo os destinos de residência dos nossos emigrantes que se deslocam a Portugal para se reencontrarem com a Família e na sua terra viverem um tempo muito especial de confraternização, amizade e solidariedade. É para muitos um reencontro único.
O Natal é uma época de aproximação entre os homens, em que até a guerra faz tréguas para que os homens o possam viver em paz.
Prejudicar milhares de portugueses que querem viver o Natal junto das suas famílias constitui, pelos vistos, um incentivo para que o momento de apresentação de um caderno de reivindicações coincida com o Natal. Que outro melhor momento existiria para o fazer? Será que o Natal não fala ao “coração” da TAP?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cidadãos desesperados

Eu não percebo nada de economia nem sei como é que se gerem expectativas, que é uma forma mais elaborada de dizer que é preciso suscitar e manter a confiança das pessoas na actividade económica.
Mas o que sei, como cidadão que procura gerir os seus haveres com alguma sensatez, é que não se percebe mesmo nada dos sinais que recebemos.
Tudo isto começou com uma bolha lá longe, qualquer coisa que tinha que ver com o imobiliário na América, a valorização sucessiva das casinhas a permitir créditos cada vez maiores, até que um belo dia alguém gritou o rei vai nu, isto é tudo inventado, e pronto, o desmoronar com estrondo que se seguiu.
Em simultâneo, o preço do petróleo chegou a picos históricos em poucos meses, e o preço dos bens alimentares deu o alarme logo atribuído à escassez dos produtos, seja por causa das energias limpas, seja lá pelo que fosse.
Diziam os entendidos que era o fim da era da energia barata e dos alimentos ao preço da chuva. Frio, fome e escuridão, ao menos na próxima década, era mais que certo.
Passou-se então para a crise financeira, os bancos vendiam ou compravam valores que não valiam nada, de ficção em ficção passou-se de milhões de lucros e de exemplos de sucesso a bolsas vazias e a gestores perseguidos.
Depois seguiu-se o terramoto que ainda abana violentamente todo o sistema bancário, não havia crédito, não por falta de dinheiro mas por falta de quem o quisesse emprestar por não se saber se quem pedia tinha ou não condições para pagar.
Grande balbúrdia, cenários de catástrofe, a América a nacionalizar, a Europa a socorrer, de casos especiais passou-se a quase todos, já ninguém se lembra que o petróleo afinal está a preços históricos mas na linha de baixo, e que afinal há excesso de produção de matérias primas, que coisa estranha, o trigo e o milho a crescerem assim de um dia para o outro e ninguém sabia.
O que vale é que todos se mobilizaram para acorrer à desgraça. O pobre cidadão já habituou o ouvido ao anúncio de números astronómicos que nem consegue bem contabilizar na escala conhecida, milhares de milhões são biliões? Centenas de milhões soam mais ou menos que mil milhões? E as linhas de crédito são dinheiro ou só promessas?
Os governos lançam das alturas rios de dinheiro a ferver, como defensores de castelos a combater os invasores, mas de onde vem tanto dinheiro, para onde se escoa que não se sente?, os bancos não descolam do seu mutismo, as empresas agradecem todos os dias na televisão os apoios fantásticos que as irão sustentar em pé, mas tudo isso alterna com outros números astronómicos, milhares e milhares de despedimentos, centenas de empresas a fechar, milhões de desempregados no mundo, só na América, talvez na Europa, enfim a globalização também juntou os números, é impossível fixar a que zona se referem tantos euros a rodar e tantos pobres a crescer.
Então e o pobre cidadão?, aquele de quem esperam que vá ao banco pedir emprestado, que compra ou venda a sua casinha, que crie compromissos, enfim, que se mova, caramba, senão isto para!
Esse pobre cidadão ouve falar um dia em menos crescimento, no outro em estagnação, logo a seguir em recessão e a última novidade é a deflação, tudo acompanhado de todas as trombetas da desgraça.
E, o que é pior, tudo desmente o que foi garantido, jurado juradinho bem na véspera, quando estoiraram os foguetes das soluções concertadas, das políticas comuns, das decisões históricas que iam salvar o mundo do dia do Juízo Final.
Os juros que eram tão meticulosa e cientificamente calculados agora parecem um cão louco a morder a própria cauda. E estão tão baixos que nem vale a pena por o dinheiro no banco, não rende nada. Mas também não se pode comprar nada, porque os preços vão descer. Nem se pode consumir, porque o futuro é incerto, o melhor é mudar de hábitos, a começar já este Natal, não compre, não olhe, compre, leve, é barato, não preciso, ajude o comércio, dê aos pobres, poupe, gaste, aplique, desconfie, contrate, despeça, arrisque, prudência…
O que eu não percebo é que expectativa é que afinal querem gerir.

PSD Lisboa & Açores

O triunfo dos Directores-Gerais sobre o Conselho de Administração!...
...E como as sondagens reflectem bem a situação!...

Hipopótamo bebé

Como o amigo Zuricher, e não só, ficaram chocados com a fotografia anterior, aqui vai uma muito ternurenta, revelando a outra faceta humana. O nascimento de um hipopótamo no Jardim Zoológico de Berlim.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

150.000+100.000=250.000

Esta é a conta da criação de emprego por este governo.
Somando os 150.000 postos de trabalho prometidos antes das eleições e os 100.000 agora anunciados pelo ministro Vieira da Silva, chegaremos ao final da legislatura com 250.000 novos empregos. Arranjados pelo governo. Garantido!

Por que é que se estão a rir?

“Vai para a guerra!”

Há dias uma reportagem sobre a participação dos portugueses na I Grande Guerra começou com uma lindíssima canção entoada por um soldado português natural do meu concelho. É o registo mais antigo de uma voz portuguesa gravada por estudiosos nos campos de prisioneiros alemães. Um poema de amor. Tocou-me, porque além de uma estranha e comovente beleza, reavivou-me memórias filhas de outras memórias de gente que por lá andou. Cheguei a conhecer alguns e ouvir os seus relatos.
A participação portuguesa nesse terrível confronto marcou, de forma ímpar, a alma nacional. Basta ver os vários memoriais dispersos por vilas e cidades do nosso país. Um deles fascina-me desde miúdo. Uma mãe, humilde, de lenço à cabeça a ser abraçada pelo filho, entretanto transformado em soldado, despejando as lágrimas do desespero no seu ombro como que antevendo o seu não regresso. Quando vi pela primeira vez este monumento, em Tondela, fiquei hipnotizado. Não percebi o seu significado, nem mesmo quando perguntei o que era “aquilo”. “Aquilo”, disseram-me, é uma mãe a despedir-se do filho que vai para a guerra. – E o que é a guerra? – Onde fica? As respostas a perguntas simples feitas pelas crianças são as mais difíceis de responder e, por este motivo, terminavam, invariavelmente, com a frase do costume, “quando fores mais crescido ficarás a saber”! Tiraram-me uma fotografia junto do pedestal. A partir de então, sempre que olhava para a fotografia, entretanto desaparecida, sentia um misterioso fascínio, reforçado pelas inúmeras vezes que a vi. Não consigo, mesmo hoje, de deixar de contemplar e de admirar o mais belo monumento erigido aos sofredores das guerras. O magnetismo continua e é despertado sempre que me confronto com estes memoriais onde estão registados os nomes dos que tombaram na Flandres cujas planícies se atapetam, todos os anos, de um extenso mar de papoilas vermelhas como que a recordar o sangue dos que lá morreram.
A arca da memória, cada dia que passa, abre-se com mais facilidade. As chaves podem ser uma papoila vermelha, frágil e bela, uma voz do passado mesclada de ruído a enaltecer o amor de uma mulher ou uma notícia de resgate de dois corpos de soldados portugueses feito por um autarca de uma freguesia de Tondela em Moçambique.
Ir buscar os ossos dos que ficaram em África é uma questão de honra e de respeito para com os combatentes e para com todos os portugueses. Não é só a forma indigna do estado das sepulturas, voltadas ao desprezo, mas a necessidade de os restos mortais repousarem no nosso país. Respeitar os mortos é dignificar os vivos. Que regressem os ossos dos soldados e que sejam entregues aos familiares ou, então, coloquem-nos juntos dos ossos de muitas das suas mães que choraram nos seus ombros quando foram para a guerra...

Sorrisos para a frase do dia


"Não há nenhum engolir de sapo" - José Pedro Aguiar Branco, a propósito da candidatura de Pedro Santana Lopes à presidência da Câmara de Lisboa

Retirar garantias prestadas à banca - mas será isso possível?!!!

1. Segundo alguns media o Ministro das Finanças teria afirmado ontem que o Estado “...poderá retirar as garantias à banca...se as instituições não fizerem chegar o crédito às empresas”.
2. Li esta notícia e não quis acreditar no que estava a ler...tanto mais que a notícia era dada em tom de grande seriedade e com sinais de consternação.
3. Quer isto dizer que o Governo admite, depois de ter prestado uma garantia ao banco X, retirar unilateralmente essa garantia...já alguém pensou no que seria o resultado de tal decisão para a credibilidade externa do País?
4. É preciso não esquecer um “pequeno pormenor”: a garantia é dada não ao banco português X mas aos bancos estrangeiros que financiam o banco X...são estes os beneficiários da garantia, que aceitam financiar X supostamente em atenção à tal garantia do Estado português.
5. Assim sendo, se o Estado português POR ABSURDO, decidisse retirar unilateralmente a garantia ao banco X, a consequência seria que mais nenhum banco português teria acesso a crédito no exterior, com a garantia ou sem ela...e o sistema financeiro entraria em ebulição, para dizer o mínimo...para além de o Estado ter de pagar por inteiro o empréstimo garantido!
6. Já agora quanto à questão do crédito, creio que o Governo pode estar descansado pois os fundos obtidos com estas garantias não deixarão de ser aplicados e da forma mais eficiente: em crédito aos sectores protegidos da economia, a começar nas parcerias público-privadas do Programão em que a garantia do Estado é decisiva, às empresas públicas (EPE’s), aos institutos públicos, a alguns municípios (nem todos...) e respectivas empresas municipais, a empresas monopolistas ou quase monopolistas...
7. Quanto às famosas PME’s e em geral às empresas expostas à concorrência externa já será bem mais difícil o crédito chegar, o que não deixa de reflectir um comportamento racional dos Bancos que vêem nesse crédito um risco significativamente mais elevado.
8. Assim, no que respeita a esta caricata notícia da “retirada” da garantia só a podemos levar mesmo à conta de declaração não séria, no sentido do próprio Código Civil (artigo 245º): neste caso até inócua quanto aos efeitos, na medida em que os destinatários/bancos não podem, de todo, toma-la a sério...
9. O aspecto mais extraordinário neste caricato episódio é o ar compenetrado e solene com que certos media – veja-se o caso do distinto Diário Económico - se prestam a veicular uma notícia que é totalmente inverosímil, é acto de marketing quase infantil e mais nada...
10. Mas também admito estar a exagerar quando qualifico de extraordinário este comportamento dos media...porque se tornou comportamento quase corrente, com pouquíssimas excepções...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A crueldade da pobreza...

O Instituto de Estatística Nacional publicou ontem os resultados ao Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2007, comprovando os traços de persistência e de gravidade das desigualdades sociais em Portugal. A pobreza continua a ser um flagelo que a estatística não deixa esconder. A evolução dos indicadores é preocupante, na medida em que não há melhorias satisfatórias que comprovem que o desenvolvimento económico tenha sido suficiente e que as políticas sociais conduzidas ao longo dos últimos anos tenham sido eficazes na erradicação da pobreza.
Com efeito, a população em risco de pobreza estagnou em 18%, ou seja, são cerca de 2 milhões de portugueses que vivem com um rendimento mensal inferior a 379 euros. Segundo os dados divulgados, a distribuição dos rendimentos mantém uma acentuada desigualdade, em que o rendimento dos 20% da população com maior rendimento era 6,5% vezes o rendimento dos 20% da população com menor rendimento (em 2006, o diferencial situava-se em 6,8%). A diferença média europeia em relação a este indicador encontrava-se em 4,8%. Portugal persiste em ser um dos países da Europa com maiores desigualdades. Nos últimos dados do Eurostat, relativos a 2006, apenas a Letónia era mais desigual do que Portugal.
Os idosos são fortemente atingidos pela pobreza, situando-se a taxa de risco em 26%. Um outro dado preocupante diz-nos que 21% das pessoas com menos de 18 anos, grupo constituído pelas crianças e pelos jovens, se encontravam em risco de pobreza.
Um traço que tem vindo a marcar a pobreza em Portugal consiste nas elevadas taxas de risco de pobreza da população em situação de desemprego e da população empregada, seja por conta de outrem seja por conta própria, atingindo no primeiro grupo 32% e no segundo grupo 10%. Os baixos salários e a precariedade do emprego explicam que muitas pessoas que têm um emprego vivam no limiar da pobreza. A elevada taxa de risco de pobreza do desemprego mostra o forte impacto que a perda do emprego poderá ter no rendimento. O risco de pobreza dos desempregados é, aliás, superior ao verificado nos reformados que regista 23%. Todos estes dados dão-nos um retrato social muito negativo da situação económica que afecta a vida dos desempregados.
A crise económica que o País atravessa e as previsões sobre o seu agravamento em 2009 não auguram nada de positivo para os próximos tempos. Com a ameaça do aumento do desemprego em 2009, as medidas de apoio anunciadas recentemente pelo Governo correm o sério risco de não ser suficientes para impedir que o desemprego engrosse a população pobre.
Muito para além da crueza dos números das estatísticas e da constatação que de que existem 2 milhões de portugueses a viverem em condições “limite”, está a necessidade urgente de o País encontrar um rumo de desenvolvimento sustentável gerador de riqueza e de os nossos políticos se questionarem sobre a ineficácia das políticas redistributivas adoptadas.
Torna-se cada vez mais evidente (ou, para alguns, talvez não) que é escandalosa a desproporção que se verifica entre os problemas da pobreza e as medidas tomadas para os enfrentar, pelo simples facto de que não temos sido capazes de criar uma sociedade mais justa que possibilite a todas as pessoas desfrutarem da vida com dignidade, assegurando “o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho”. Não o fazer revela uma enorme pobreza de espírito!

O condicionamento industrial!...

Nas secretárias da burocracia amontoam-se milhares de pequenos projectos de investimento, centenas de médios projectos de investimento e dezenas de grandes projectos de investimento, muitos deles classificados por organismos do Estado como de interesse nacional. À espera de licenciamento e, muitos deles, à espera de que a corrupção os possa mover da pilha onde jazem.
Bastava que os organismos oficiais autorizassem, no tempo legalmente fixado ou, não o havendo, de forma expedita, aqueles projectos que iniludivelmente se conformam com a lei, para que houvesse uma dinamização do investimento privado e da actividade económica.
Admirável é, pois, que o Governo venha a dizer é obrigado a fazer investimento público, por falta de investimento privado, quando é ele, através dos organismos que tutela, que o impede.
Algum desse investimento pede apoios do Estado? Pois que, criteriosamente, lhos conceda, se se trata de projectos relevantes, fomentadores de produção, emprego, exportação ou substituição de importações. A sua rentabilidade para o país seria bem superior à de todos os TGVs do regime.
Assim, o Governo faz o mal e a caramunha. Condiciona o investimento privado e, depois, diz que tem que haver investimento público, porque falha o privado!...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A prova do fracasso do PRACE

No próximo ano, a despesa pública assumirá o valor mais elevado de sempre (!) face ao PIB, quer se trate da despesa total, da despesa corrente, ou da despesa corrente primária (que não inclui os juros da dívida pública).

Este facto prova o fracasso da política orçamental que tem sido prosseguida nos últimos anos, uma vez que a progressiva redução do peso do Estado na economia – de que Portugal tanto necessitava – tem sido uma autêntica miragem.

Aqui chegados, a pergunta a fazer é: em que áreas da despesa actuar?

A proporção das despesas públicas de investimento face ao PIB já foi reduzida em quase 50% face ao máximo atingido no final dos anos 90 – pelo que não parece possível continuar esta trajectória. E o peso das despesas sociais tem verificado, desde 1997, um aumento ininterrupto – quer pela tendência estrutural do envelhecimento progressivo da população, quer pela degradação da conjuntura nos últimos 7 anos, que tem elevado cada vez mais o número daqueles que necessitam de apoio social. Assim sendo, restam as despesas públicas de funcionamento, medidas como a soma das “despesas com o pessoal” e dos “consumos intermédios” (que, grosso modo, representam as despesas públicas em bens e serviços). Foi certamente com esta intenção que o Governo apresentou, nos primeiros meses de 2006, o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, o famoso PRACE – designado pelo Executivo como “a mãe de todas as reformas”, que visava emagrecer as despesas públicas de funcionamento e tornar o Estado menos burocrático e mais eficiente e útil para o cidadão.

Um programa que, recorde-se, devia estar concluído até ao fim de… 2006 – mas que nem em 2008 se encontra concretizado na totalidade!... Esta derrapagem nos prazos inicialmente fixados para o PRACE já constitui, por si só, um tremendo revés – mas a evolução das despesas públicas de funcionamento comprova, em absoluto, de forma quantitativa, o rotundo fracasso desta reforma.

Na figura em anexo, as linhas a preto mostram a trajectória que as despesas públicas de funcionamento, as despesas com o pessoal e os consumos intermédios deveriam ter face ao PIB, entre 2006 e 2009, de acordo com o Programa de Estabilidade e Crescimento 2007-2011 apresentado há cerca de um ano; as linhas coloridas revelam a realidade entre 2004 e 2009, incorporando já as previsões do OE’2009. Ora, creio que é evidente a progressiva diferença entre os resultados que o PRACE devia ter produzido em termos de poupança nas despesas de funcionamento e os números a que, afinal, vamos chegar… No total, em 2009, a diferença entre o que sucederá e o que devia ter sucedido representará um excesso nas despesas de funcionamento de cerca de 1.3 pontos percentuais do PIB (ou cerca de EUR 2.2 mil milhões). E os maiores ganhos, registados entre 2005 e 2007, resultaram essencialmente do congelamento nas carreiras da função pública (como mostra a evolução das despesas com o pessoal) que terminaram… em 2008!... Ou seja, quando os efeitos do PRACE deviam ter sido, de facto, sentidos (linhas a preto), o que resultará para as despesas envolvidas (linhas coloridas) ficará muito aquém do que tinha sido projectado, de acordo com o OE’2009!...

O fracasso do PRACE (valores em % do PIB).
Notas:
1. Despesas de funcionamento = Despesas com o pessoal + Consumos intermédios.
2. As linhas coloridas mostram a evolução das despesas apresentadas entre 2004 e 2009 (valores efectivos até 2007 e projectados em 2008 e 2009 no OE’2009); as linhas a preto mostram os números previstos pelo Governo no Programa de Estabilidade e Crescimento de Dezembro de 2007.
3. Os valores das despesas de funcionamento podem não coincidir com o somatório das despesas com o pessoal e dos consumos intermédios devido a arredondamentos.
Fontes: Programa de Estabilidade e Crescimento 2007-2011, Orçamento do Estado para 2009, cálculos do autor.

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, então creio que a figura que aqui apresento (baseada nos números do Governo) quanto aos reais efeitos do PRACE, fala por si.
E confirma que a presente legislatura terá sido, em matéria de consolidação orçamental pelo lado da despesa – aquela de que Portugal há tanto tempo necessita – um tempo absolutamente perdido. Que, como tal, e infelizmente, iremos (continuar a) pagar bem caro no futuro.


Nota: Este texto foi publicado no semanário Sol no Sábado, Dezembro 13, 2008.

Ave, Caesar, morituri te salutant!...

Avé, César, os que vão morrer te saúdam, diziam os gladiadores no circo romano!...
Sendo o financiamento escasso, cada euro a mais no programa de gastos públicos é um euro a menos disponível para as empresas privadas que querem investir no sector dos bens transaccionáveis.
Definha o país na produção de bens e serviços competitivos e inflaciona-se o país de TGVs, de auto-estradas e aeroportos para escoar o que não se produz.
Desleixadamente, imita-se o que fazem outros países, com grande capacidade competitiva e exportadora e dívida pública controlada, esquecendo que as circunstâncias são bem diferentes.
E, coisa admirável, há sempre na primeira linha um escol de "pensadores" a aplaudir.
Os que seguem sempre a mesma cartilha, qualquer que seja a situação. E que insistem em levar este país para a cauda da Europa, mesmo agora, a 27. Com aplauso geral do circo!...
Avé, pensadores do politicamente correcto!...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Dinheiro "à borla"...

A crise de confiança que tem abalado os mercados financeiros é séria, tão séria que os investidores pagam para "adquirir" dívida soberana. É verdade. Mais vale perder rendibilidade e ganhar segurança. E a solução é tomar títulos de dívida pública ao ponto de os investidores estarem dispostos a entregar ao Estado o seu dinheiro "à borla". A dívida soberana assume, assim, a função de investimento de "primeiro recurso".
Foi isto mesmo que aconteceu na passada terça feira, dia 9 de Dezembro, com uma emissão de Bilhetes do Tesouro dos EUA, a três meses, colocada com uma taxa de rendibilidade de 0,05%.
Na Europa alguns Estados estão a financiar-se a taxas igualmente baixas ou próximas de zero. A Alemanha emitiu títulos de dívida pública a três meses com uma rendibilidade de 1,47%, enquanto o Reino Unido financiou-se a seis meses ao preço de 0, 6%.
Enquanto a dívida soberana se financia a taxas de juro de zero, as empresas não conseguem ter acesso ao crédito. A crise de confiança está instalada. Poderemos estar a caminho da deflação...

Crédito bancário em Portugal e as sapatarias da velha URSS!


1. Achei muito curiosa (não digo divertida porque o caso me parece triste) a comparação feita pelo antigo Ministro das Finanças, Campos e Cunha, em artigo publicado na edição do Jornal Público da última 6ª Feria, salvo erro, no qual comparava o crédito bancário hoje em Portugal às lojas de sapatos na antiga URSS.
2. Contava Campos e Cunha que nas lojas de sapatos da antiga URSS (estatais, é evidente) os sapatos eram muito baratos…só que não havia sapatos! Os felizes cidadãos da URSS contentavam-se com a miragem de comprar sapatos baratos, tal como outros produtos, ir além da miragem provavelmente exigiria uma carreira política de muita dedicação ao partido…
3. Acrescentava Campos e Cunha que hoje em Portugal também é assim com o crédito: está mais barato – o prestimoso Diário Económico todos os dias dá grande relevo à descida da Euribor, por exemplo – mas é cada vez mais difícil o acesso das empresas ao crédito, sobretudo das PME’s…em suma, não há crédito!
4. E não é só o facto de o acesso ao crédito estar cada vez mais longínquo…também só na propaganda está mais barato, pois ao mesmo tempo que a taxa Euribor tem baixado o SPREAD sobe…ao ponto de estarmos hoje na situação caricata de a taxa base ser inferior ao SPREAD para a generalidade das PME’s que ainda conseguem acesso ao crédito…
5. Por isso em 14 de Novembro último aqui escrevi um POST (Mais linhas de crédito não, por favor!…) de crítica em relação aos milhares de milhões de Linhas de Crédito que o Governo se tem fartado de anunciar…sempre com condições excepcionalmente favoráveis… excluindo o crédito que (quase) não existe!
6. Mas pelos vistos essa praga propagandística das Linhas de Crédito não para…já depois desse POST chegou mais uma enxurrada desse material falsificado - e parece que agora, com o “programa de salvamento” da economia, serão mais umas centenas de milhões!
7. Esta situação de rarefacção e de encarecimento do crédito para as PME’s só poderá agravar-se no futuro, com a multiplicação dos “investimentos"públicos que se anunciam: basta que nos lembremos de que os recursos a gastar nos “investimentos” públicos provêm da mesma fonte que alimentaria os outros sectores da economia, ou seja do exterior…e essa fonte, além de muito escassa, prefere financiar o risco Estado então agora que o Estado está na moda!
8. Tem toda a razão o Professor Campos e Cunha no seu espirituoso comentário: temos crédito mais barato – até com o valoroso arredondamento da taxa de juro, obra muito apreciada do Engenheiro Serrasqueiro – só não temos, é crédito!…

O sistema!...

Ontem, ao ver a TVI, senti uma profunda discrepância nos meus sentidos. Pela vista, apercebia-me que o Benfica estava a jogar com outro clube; pelo ouvido, não conseguia discernir qual seria, pois só ouvia Benfica...
O Benfica está melhor… Luisão, imperial…Muito bem, David Luís…
Impressionante, o sprint de Suazo…O Benfica deve…
Ponto forte do Benfica, a subida dos laterais…Suazo arranca...
Ruben Amorim, grande cultura táctica e estratégica…Reyes, concentradíssimo…
Maxi aperta as botas…Maxi está confiante e aí vai ele…
O bloco benfiquista fechou…O Benfica está melhor…
Bom movimento colectivo…Aimar, duas faltas sofridas…Shéu, pessoa correctíssima…
Benfica consegue criar dificuldades…A forma de jogar de Bynia leva a amarelos…
Benfica mais próximo da baliza… Muito bem, Sidney…
Com a entrada de Nuno Gomes, o Benfica passou a ter um português…
O Benfica está claramente dominador…E ainda tem Cardozo no banco…
Bynia, não me lembro de o ver jogar sem um amarelo…
Cardozo e Nuno Gomes, dois golos na Madeira…Arranca Suazo…
Muito mais Benfica…Quique dá instruções...

Ainda me debatia com a dúvida se o Benfica jogara sozinho, quando me disseram que perdeu e foi eliminado da Taça.
Como é possível, se não ouvi o nome do adversário?

Jorge Luís Borges

Ao ler a descrição do memorial inaugurado na passada sexta-feira, em Lisboa, ao Arco do Cego, a Jorge Luís Borges, concluo que deve ser muito belo.
O poeta cego, que via mais do que os que vêem e que continua a ensinar-nos a ver a vida, tem um monumento entre nós. Um dos meus poetas preferidos. Um encantador. Um mágico da alma.
Na próxima vez que for a Lisboa tenho que ir dar uma mirada ao monumento do autor do “Poema aos amigos”.
Um grande amigo.

Poema aos amigos

Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas ou temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.

Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.

Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.

As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.

Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.

Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.

Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.

Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.

Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabeças
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.

E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo

Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.

Obrigado por seres meu amigo.

Jorge Luís Borges

As profecias do fim do século XX

Caiu-me nas mãos o livro, dado à estampa nos anos noventa do século passado, a versão traduzida de A Nova Idade Média de Alain Minc (ed. Difel, Lisboa, 1993), um liberal conhecido pelo seu pessimismo em relação à actual organização do capitalismo.
Lembro-me bem da sensação que me provocou o tremendismo de alguns prestigiados intelectuais, subscritores das análises catastrofistas dessa década, anunciando para o final do século o início de um declínio civilizacional, como se existisse um qualquer factor determinista que inflectiria, no dobrar dos séculos e dos milénios, a evolução da humanidade. Nunca percebi a racionalidade desses discursos ante o carácter convencional dos mapas do tempo. E no entanto, 15 anos volvidos, as interrogações de Minc sobre o declínio anunciado afiguram-se hoje estranhamente pertinentes.

  • "A procura de explicações é infinita. A liberalização dos mercados e a explosão das finanças que levaram o dinheiro a impregnar, bem mais do que anteriormente, actividades até então não comercializáveis? A desregulação que fez oscilar nos circuitos monetários actividades até ao momento menos comerciais? O individualismo que levou os indivíduos a fazerem prevalecer, perinde ad cadaver, os seus interesses pessoais? O enfraquecimento das grandes instituições - o Estado, as igrejas, os partidos, os sindicatos - que espalhavam uma moral tradicional para a qual o dinheiro oscilava entre o pior mal e o pecado? A influência do modelo cultural americano, ao qual pedimos emprestado o poderio do dinheiro, deixando de parte os contrapesos morais e religiosos, próprios do protestantismo anglo-saxão? O desaparecimento da luta de classes e dos conflitos sociais que deu lugar ao mimetismo entre categorias profissionais, ao desejo de imitação e assim às necessidades financeiras para os satisfazer? O aparecimento de personagens emblemáticos, faladores e muito ricos? A passagem quase natural do culto da empresa ao gosto do lucro e deste último à tentação de enriquecimento pessoal? O sentimento de imunidade? L´air du temps?"

sábado, 13 de dezembro de 2008

“Deputados e Nossa Senhora dos Remédios”...

Pequenas notícias, tipo nota de rodapé, chamam-nos a atenção pela singularidade ou comicidade.
Os senhores deputados têm andado numa roda viva, pelos mais variados motivos, presentemente, devido às faltas aos plenários e às comissões. Também já foram objecto de apreciação pelo facto de alguns não usarem gravata ou não estarem vestidos de acordo com a solenidade imanente ao Parlamento. Lembro-me de algumas observações a este propósito aquando da minha passagem transitória. Uma questão de feitio aliada a manifestações ideológicas que não se esgotam na retórica do discurso. Certas mensagens perderiam a sua força e carga politicas se fossem proferidas por deputados engravatados ou senhoras deputadas de tailleur. Em contrapartida há os que primam pelo uso de fatos de bom corte, tipo Armani, que, por exemplo, no caso do nosso PM, até já permitiu classificá-lo como o sexto homem que melhor veste a nível mundial. Nem mais. Quando a televisão nos mostra os senhores deputados, cá em casa, chamam-me a atenção para o facto de se vestirem quase todos de igual. Fatos azuis, com gravatas semelhantes, às vezes iguais. - Será que se vestem todos no mesmo sítio? Digo que não sei. Às tantas deve ser por causa da televisão, uma questão de ilusão de óptica, digo eu, pouco convencido.
Esta curta reflexão é fruta de uma notícia tipo nota de rodapé. Fiquei a saber que o deputado Manuel Maria Carrilho suspendeu o seu mandato. Por este motivo teve que ser substituído. A substituição recaiu em Paulo Barradas de Lamego que, deveria estar, ansiosamente, à espera de ir até a São Bento. Perfeitamente normal. Mas parece que optou por “um novo corte de cabelo e um novo fato de recorte requintado”, o que, segundo as gentes lá do burgo, foi interpretado como sendo já deputado. Muito bem. Ficamos a saber que vamos ter um novo deputado que prima pela excelência no vestir, seguindo fielmente o chefe do partido. Até vai dar nas vistas. Pelo menos já começou para as suas bandas. Mas o que me chamou realmente a atenção é que o senhor deverá ter feito uma promessa à Nossa Senhora dos Remédios, caso fosse deputado. Nem mais, nem menos do que subir, uma vez por semana, os 363 degraus da bela escadaria. Ora aqui está um belo exemplo de fé e, simultaneamente, um exercício para manter o físico. Subir escadas é o “desporto” que mais consome energia, 1.500 Kcal por hora. Desta forma, não vai correr riscos de não caber na fatiota nos próximos tempos, a não ser que Carrilho regresse novamente.
Os deputados deveriam, na tomada de posse, no caso de virem a faltar por alguns dos motivos estapafúrdios, e mais que esfarrapados, que, hoje, tive o desprazer de ler na comunicação social, a subir os 363 degraus da escadaria da Nossa Senhora dos Remédios, todas as semanas, até ao fim do mandato. E sem ajudas de custo! Desta feita, fariam uma penitência saudável para o corpo e para a alma. Vejam o exemplo do novo deputado socialista que para ser deputado fez uma promessa deste jaez. E espero que a cumpre, senão... Senão, a Nossa Senhora dos Remédios para a próxima não deixará de lhe aplicar o devido remédio...
Promessas são para cumprir, sobretudo para os políticos. Não é verdade?