Para muitos, para mim, o Natal constitui talvez a maior e mais grata
memória de criança. Misto de saudade e de nostalgia, de mistério e de
claridade. Tempo de ternura, como todo aquele em que se contempla um
menino no berço, de mais a mais um menino que, nos era dito, vinha para
nos salvar e proteger.
Tempo em que colocar o sapato na chaminé da lareira significava dúvida e esperança, mas certeza, na manhã seguinte, de que o Menino, tão bom e tão terno, se tinha lembrado de nós.
Tempo em que as prendas eram lembranças do Menino Jesus, que nos acompanhava e que gostava que também nos lembrássemos dele. Tempo em que o Pai Natal substituía o Menino em casos de grande cansaço, ou quando o seu braço pequenino não alcançava as altas chaminés.
Tempo de fazer o presépio e de o decorar com o musgo fresco e molhado colhido nos muros que corriam à beira dos caminhos.
Tempo em que a árvore de Natal era um pinheiro e os pinheiros floresciam e cresciam, porque a terra era habitada e o mato e o tojo do pinhal eram colhidos para adubar as próximas colheitas.
Tempo da consoada, mais pobre ou mais rica, mas alegremente vivida por toda a família.
Tempo do caminho para a Missa do Galo, no escuro da noite iluminado pela “pilha” de mão, ou pela luz do luar, e da Igreja gelada, mas cheia de calor humano. Tempo da pequenada inquieta e dos rostos velhos e encarquilhados, mas radiantes da Boa Nova que se anunciava. Porque o homem precisa de esperança e o ritual de Natal a todos irmanava na esperança de dias melhores que o Menino traria para todos.
Tempo de beijar o Menino, sem medo de vírus portadores de novas doenças e calamidades, mas como agradecimento do bem já recebido ou penhor do bem a receber.
Tempo das canções das Janeiras, que entravam dentro de casa e eram momento de convívio e festa, à roda da lareira, do salpicão ou do chouriço assado e do vinho novo que vinha directamente do espicho.
Tempo em que o Natal era todo ele um ritual único que fazia vibrar o mais íntimo das pessoas, tinha forma, e cor e espírito e por isso se recorda.
Esse espírito que os grandes poetas e escritores cantaram em hinos de verso e prosa, o espírito gravado na pedra e na tela por modestos artesãos e insignes artistas, o espírito que nos legou as verdadeiras obras-primas dos presépios italianos e de Machado de Castro, o espírito que inspirou a grande música dos corais da natividade e a sentida e sublime harmonia da Stille Nacht, era o espírito que condensava o simbolismo bem presente no Natal.
Desaparecido o símbolo, por razões do politicamente correcto e em nome de uma estúpida e falsa inclusão que até eliminou o presépio dos postais de Boas Festas, logo o espaço foi ocupado pelo marketing agressivo que tudo vende, mercadoria e preconceitos e reduziu o Natal às renas importadas do norte gelado, aos Pais Natal feitos consumos correntes ou às prendas que se tornaram triviais, hoje recebidas, amanhã abandonadas, senão mesmo criticadas.
Por isso, não vejo que Natal poderão os pequeninos de agora um dia recordar. Faltar-lhes-á para sempre a terna e mágica referência do velho, simples e puro Natal português.
Tempo em que colocar o sapato na chaminé da lareira significava dúvida e esperança, mas certeza, na manhã seguinte, de que o Menino, tão bom e tão terno, se tinha lembrado de nós.
Tempo em que as prendas eram lembranças do Menino Jesus, que nos acompanhava e que gostava que também nos lembrássemos dele. Tempo em que o Pai Natal substituía o Menino em casos de grande cansaço, ou quando o seu braço pequenino não alcançava as altas chaminés.
Tempo de fazer o presépio e de o decorar com o musgo fresco e molhado colhido nos muros que corriam à beira dos caminhos.
Tempo em que a árvore de Natal era um pinheiro e os pinheiros floresciam e cresciam, porque a terra era habitada e o mato e o tojo do pinhal eram colhidos para adubar as próximas colheitas.
Tempo da consoada, mais pobre ou mais rica, mas alegremente vivida por toda a família.
Tempo do caminho para a Missa do Galo, no escuro da noite iluminado pela “pilha” de mão, ou pela luz do luar, e da Igreja gelada, mas cheia de calor humano. Tempo da pequenada inquieta e dos rostos velhos e encarquilhados, mas radiantes da Boa Nova que se anunciava. Porque o homem precisa de esperança e o ritual de Natal a todos irmanava na esperança de dias melhores que o Menino traria para todos.
Tempo de beijar o Menino, sem medo de vírus portadores de novas doenças e calamidades, mas como agradecimento do bem já recebido ou penhor do bem a receber.
Tempo das canções das Janeiras, que entravam dentro de casa e eram momento de convívio e festa, à roda da lareira, do salpicão ou do chouriço assado e do vinho novo que vinha directamente do espicho.
Tempo em que o Natal era todo ele um ritual único que fazia vibrar o mais íntimo das pessoas, tinha forma, e cor e espírito e por isso se recorda.
Esse espírito que os grandes poetas e escritores cantaram em hinos de verso e prosa, o espírito gravado na pedra e na tela por modestos artesãos e insignes artistas, o espírito que nos legou as verdadeiras obras-primas dos presépios italianos e de Machado de Castro, o espírito que inspirou a grande música dos corais da natividade e a sentida e sublime harmonia da Stille Nacht, era o espírito que condensava o simbolismo bem presente no Natal.
Desaparecido o símbolo, por razões do politicamente correcto e em nome de uma estúpida e falsa inclusão que até eliminou o presépio dos postais de Boas Festas, logo o espaço foi ocupado pelo marketing agressivo que tudo vende, mercadoria e preconceitos e reduziu o Natal às renas importadas do norte gelado, aos Pais Natal feitos consumos correntes ou às prendas que se tornaram triviais, hoje recebidas, amanhã abandonadas, senão mesmo criticadas.
Por isso, não vejo que Natal poderão os pequeninos de agora um dia recordar. Faltar-lhes-á para sempre a terna e mágica referência do velho, simples e puro Natal português.
(Texto publicado no 4R em 22 de Dezembro de 2009. Como o tempo passa!...)