Não
sou empresário, mas fiquei ontem a saber que sou “ignorante”. Porquê? Porque,
apesar de ser economista (e de ter, portanto, obtido aprovação bem para lá do primeiro
ano da licenciatura), não concordo com a medida relativa à TSU – felizmente,
entretanto, abandonada. E esta minha discordância – que tive oportunidade de
expressar há duas semanas atrás na SIC Notícias – foi manifestada em devido tempo
(há anos atrás), em resultado do muito que tenho investigado sobre esta
matéria.
Resumidamente,
se a chamada desvalorização fiscal (e que, na verdade, devia ser conhecida como
desvalorização orçamental, do inglês fiscal
devaluation) tivesse ido por diante, estar-se-ia a privilegiar a utilização
ainda mais intensiva do factor trabalho (que ficaria, de facto, mais barato) pelas
empresas – quando o que interessa a Portugal é atrair mais capital: o nosso
rácio de capital investido por trabalhador fica bastante abaixo da média da UE-27
e, como a literatura científica bem documenta, a melhoria da produtividade é
travada. Ora, sem melhorarmos a produtividade de forma continuada, não seremos
capazes de criar sustentadamente nem mais riqueza nem mais emprego (melhor e
mais qualificado emprego, e não emprego pouco qualificado e assente em salários
em média baixos, modelo que continua a caracterizar a realidade Portuguesa).
Pode-se
argumentar que, conjunturalmente, a desvalorização orçamental poderá fazer
sentido numa altura, como agora, em que evitar a destruição de empregos (e o
aumento do desemprego) é a prioridade. Até posso concordar – mas nunca com a
forma de financiamento proposta, extraordinariamente recessiva, até porque foi
apresentada como “permanente”. Logo, os potenciais (embora acredito que muito
reduzidos na actual conjuntura) efeitos para o emprego resultantes da descida
da TSU para as empresas seriam mais do que compensados com a subida do
desemprego resultante da retracção da procura (daí que, em geral, os
empresários se tivessem manifestado contra uma medida que, em teoria, os
beneficiaria).
Acresce
que nunca uma desvalorização orçamental de magnitude semelhante à proposta foi
testada em nenhum país do mundo (muito menos com esta forma de financiamento).
Sim, os modelos teóricos até podem produzir resultados muito interessantes –
mas a verdade é que, neste caso, nem um exemplo real pode ser apontado… porque
não existe. Ora, em minha opinião, o momento que Portugal atravessa é pouco
dado a experimentalismos deste género…
São
estas as razões que me levam a discordar da entretanto-metida-na-gaveta medida da
TSU. E que, portanto, fazem de mim “ignorante”. Mas, mesmo sendo “ignorante”, o
que penso é que a criação de clivagens na sociedade Portuguesa num momento tão
delicado como o que atravessamos é o contrário do que efectivamente precisamos.
As dificuldades são enormes, os sacrifícios que ainda vamos todos ter que fazer
são imensos e, sem um mínimo de consenso, quer político, quer social, temo que
não cheguemos a lado nenhum. Além de que, salvo melhor opinião, são os
empresários que investem e, assim, potenciam a criação de riqueza e emprego…
Pelo que, insultá-los e tê-los como adversários não me parece, definitivamente,
ser o melhor caminho. Finalmente, não devia dar que pensar que quem potencialmente
beneficiaria com uma medida esteja contra ela (como aconteceu, em geral, com os
empresários em relação a esta medida da TSU)?!... Mas isto sou eu, que sou “ignorante”,
a pensar…