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segunda-feira, 30 de abril de 2007

De Lisboa, o triste fado

Em Janeiro deste ano escrevemos este post.
Estou convencido que só prenunciámos o que a maioria das pessoas sentiu que iria acontecer. Aconteceu, infelizmente.
Com era então óbvio e agora se confirma, a crise acentuou-se com a rápida agonia de uma maioria medíocre.
Prisioneira de um sistema eleitoral que condena a dois anos de penar quem ganhar as eleições intercalares para as quais já não haverá alternativa, a oposição não menos medíocre amaldiçoa o dia do desmoronar desta desastrosa solução política encontrada antes das eleições autárquicas. Saberá Deus por que bulas foi encontrada!
E no meio desta trapalhada, de Lisboa fica o triste fado de uma cidade sem projecto e sem condições de quem, com credibilidade, coragem e confiança, o venha a protagonizar nos próximos tempos.
Os adeptos do quanto pior, melhor, exultam. Afinal, o abono de família para o Bloco de Esquerda...

De novo, métodos da inquisição


O combate à corrupção merece o apoio de todas as pessoas honestas. Mas o combate à corrupção não pode incluir o convite simples à denúncia, como transparece das regras aprovadas pelo Governo.
O exemplo do passado do convite à delação, bem evidenciado na perseguição aos judeus e na inquisição, deveria servir de bom exemplo.
Não se comparam os corruptores e corruptos de agora com os milhares e milhares de pessoas de bem, judeus ou não judeus, que foram acusados, torturados e queimados nesses tempos inquisitoriais. Mas, talvez por força de uma tradição que não foi esquecida, a delação e o espírito inquisitorial continuam muito presentes e todos os dias.
Oficializar a delação no que quer que seja, até no fenómeno grave da corrupção, é apenas o início de um processo pidesco que inexoravelmente atingirá outras áreas da sociedade.
Numa qualquer moral, os fins não justificam os meios. Pelos vistos, a moral política vigente não se afasta da moral da inquisição. Não haverá fogueiras no Rossio, mas muita gente inocente irá ser queimada, em privado, em lume brando, ou publicamente, nos autos de fé da comunicação social.
Antes, em nome da luta contra a especulação, a agiotagem, o açambarcamento ou da protecção dos ortodoxos valores religiosos; hoje, em nome de um estado de direito, onde o direito ao bom nome torna a ficar à mercê de uma denúncia que o Estado protege!...

domingo, 29 de abril de 2007

Honra ao mérito!...


O FC Porto sagrou-se hexampeão nacional de hóquei em patins, após vencer ontem o Benfica por 5-0, no terceiro jogo do "play-off" do Campeonato Nacional.
Aqui há uns anos foram também pentacampeões da mesma modalidade.

Foi o 16º título do seu historial.

Parabéns F.C.Porto!...

UFF!...

O Benfica-Sporting terminou com um empate.
Isto significa que o Porto ainda pode empatar um jogo e ser campeão.
UFF!...

Depois desta noticia, o mundo jamais será como o conhecemos...

"A Princesa Letizia teve hoje a segunda filha do casal sucessor ao trono espanhol. A bebé nasceu este domingo no Hospital Ruber Internacional, em Madrid"

sábado, 28 de abril de 2007

Um violino e onze tambores!...

Adivinhava-se. Nas segunda parte dos últimos concertos, a sinfonia azul e branca arrastava-se, desafinava, nem se sabia onde parava o chefe.
É verdade que tinha um violino perfeito, o stradivarius Quaresma, mas integrava dez músicos que o maestro conseguiu transformar em tambores.
Hoje, o violino não compareceu, o flautista Andersen só a espaços se ouviu, dado o ruído dos tambores e o harpista Helton proporcionou um belo som, só que a partitura lhe reserva poucos acordes.
O que vale é que faltam apenas 3 concertos para terminar a temporada. Mais um ou dois e a orquestra seria ultrapassada pelos sofríveis mas esforçados músicos que, a toque de bombo, entretêm o público fiel da 2ª Circular. Assim, talvez a época termine em bem. Oxalá!...

sexta-feira, 27 de abril de 2007

O desamparo da solidão...

Hoje ao final do dia, já a noite espreitava, decidi-me por fazer umas compras rápidas numa pequena mercearia já perto de casa. Uma daquelas mercearias de bairro, que vendem um pouco de tudo, em que os alimentos expostos ainda resistem ao preço electrónico. É um daqueles sítios em que fazemos uma viagem ao passado, em que o tempo parou. Mas em que encontramos o fundamental para nos salvar de uma ida ao supermercado!
Quando entrei, apressadamente, notei uma velhinha que estava encostada um pouco ao lado da porta, que me cumprimentou com "boa-noite minha menina". Senti uma certa ternura mas, ao mesmo tempo, algum desconforto porque senti naquela voz tristeza...
Ao sair, dirigi-me à pessoa para lhe perguntar se precisava de alguma ajuda. Tive então uma breve conversa, que me sensibilizou e tocou. Já há muito tempo que não sentia a solidão de forma tão nítida e o seu doloroso significado.
-- A Senhora precisa de alguma ajuda? Venho aqui de vez em quando e é a primeira vez que a
encontro.
Ficou espantada, com uma espécie de medo.
-- Minha menina sou uma velha que se sente muito sozinha.
-- A Senhora como é que se chama? Vive aqui no bairro?
Esboçou um sorriso de gratidão.
-- Chamo-me (...), moro aqui perto numa casinha junto à igreja. Sabe onde fica?
-- Conheço muito bem o sítio. A igreja é muito bonita. Precisa de alguma coisa?
-- Minha menina sou viúva e estou sozinha. Agora, com o bom tempo já posso vir até aqui à rua. No Inverno, é frio e escuro. Em casa, a solidão é maior.
-- Senhora D. (...) já pensou em frequentar um centro de dia? É um local onde as pessoas se reúnem para conversarem e estarem umas com as outras.
Transbordou um olhar de esperança.
-- Muito obrigada, há já algum tempo que espero uma resposta de uma senhora assistente social que foi ver a minha situação. Tenho que esperar, tenho esperança que me arranje alguma coisa.
(...) E a conversa continuou, envolta numa pobreza envergonhada e numa nuvem de solidão.
A solidão mais triste é a de velho. É monótona e sem esperança. A velhinha com quem travei esta conversa sofre da má solidão: do abandono, do desamparo, o que se designa por uma "vida isolada sem protecção". Quer dizer uma vida em que se perdem as relações humanas, o enquadramento social, a segurança e a auto-estima.
Se juntarmos a esta solidão a pobreza, o que temos é um duplo empobrecimento e o risco de perda de si próprio. E quando assim é, é muitas vezes o princípio do fim...
O envelhecimento não é um mal. Mal é a situação de pobreza e solidão, do alheamento e da indiferença dos mais novos, da ausência de acompanhamento - emocional, mais do que físico - e do não aproveitamento do muito que as pessoas idosas têm para dar.
É esta a sociedade em que vivemos, que temos obrigação de melhorar. São muitas as velhinhas que precisam de amparo!

Altura de dizer bem!...

Sócrates prometeu hoje uma verdadeira revolução no ordenamento do território, nos PDM,s, no licenciamento urbano e industrial, particularmente nos PINs, na burocracia. Ouvi grande parte do discurso no carro, pela manhã, e confesso que gostei.
De facto, ainda há dois dias no post Mas nunca iremos mudar, chamava a atenção para a existência do enorme volume de projectos que jaziam em filas de espera de autorização nos organismos estatais e camarários e que, só por si, daria um significativo impulso ao investimento, ao emprego e ao consumo privado, aumentando o produto e a riqueza.
A actual legislação, se é culpa de muitos Governos, integra peças determinantes concebidas e preparadas pelo Governo de Guterres, a que Sócrates pertenceu. E Sócrates é, ele mesmo, o inspirador, o pai ou o executor de algumas das barbaridades legislativas, quer em matéria de ambiente, quer de ordenamento do território. Por isso, o Ferreira de Almeida tem toda a razão quando, no post anterior, referiu que “o actual quadro legislativo é uma criatura até há bem pouco tempo defendida ao transe pelo PS.” Pudera, se foi o PS que o gerou!...
Sócrates era inexperiente na altura, já lá vão dez anos: daí muita da legislação por que é responsável.
Agora é Primeiro-Ministro, tem mais de experiência e o cargo exige outro tipo de responsabilidade.
Ainda bem que reflectiu ou foi obrigado a reflectir e, sobretudo, ainda bem que vai mudar. Estou convicto de que irá passar à acção, não se ficando, como muitas vezes, pelo discurso.
A mesma mudança possa acontecer em relação à OTA!...

As novas no ordenamento do território

Segundo a comunicação social no debate mensal de hoje no Parlamento, o Governo, entre outras medidas que visam aliviar o licenciamento da excessiva carga burocrática (o que se saúda como intenção, sendo certo que o actual quadro legislativo é uma criatura até há bem pouco tempo defendida ao transe pelo PS), pretende que as alterações dos PDM deixem de ser ratificadas pelo Executivo.
Se é assim, significa que o Governo não vai "mexer" somente no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, mas alterará também na lei de bases da política de ordenamento do território e de urbanismo, uma lei da Assembleia da República aprovada em 1998.
A comparticipação do Governo no processo planificatório visa, segundo a lei, respeitar a repartição constitucional de competências entre o Estado e as Autarquias Locais nestes domínios (está em causa a gestão do território, matéria a que não pode ser indiferente o Governo). Mas sobretudo a permitir o exercício da tutela verificativa da legalidade por parte do Governo sobre a actividade administrativa, neste âmbito, dos municípios.
Por isso me espanta que a comunicação social registe que o senhor Primeiro-Ministro tenha declarado que essa tarefa caberá de futuro exclusivamente às CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional) que emitirá para o efeito um "parecer".
Confesso a minha perplexidade porque um parecer é, por definição, uma opinião fundamentada que, salvo os casos em que tenha natureza vinculativa, não tem força executória.
Se a ideia for a de colocar funcionários a controlar a legalidade dos PDM pela via de pareceres vinculativos, junto à minha perplexidade a opinião de que se trata de uma solução inaceitável.
Por um lado porque cheira a auto-desresponsabilzação do Governo numa matéria sensível (sobre diversos pontos de vista) .
Por outro porque, a proceder essa intenção, teríamos os técnicos das CCDR a sobrepor a sua visão técnica e necessariamente parcelar, à legitimidade democrática dos órgãos eleitos das autarquias locais na escolha dos modelos de desenvolvimento local.
Quero crer que a ter dito o que vem relatado, o senhor Primeiro-Ministro não tenha intepretado bem o que para os lados da Rua do Século porventura se está a preparar em matéria de alterações legislativas. Porque se assim não for, tudo redundará em mais uma machadada na autonomia do poder local. Ainda que, numa primeira fase, alguns autarcas assim o não entendam...
Esperemos para ver.

Ainda os inquéritos parlamentares

O post anterior assinado pelo Pinho Cardão é oportuníssimo não só porque comenta um facto actual e relevante, mas porque é aqui colocado numa das raras alturas em que se começou a falar da reforma do Parlamento. Para além de ser o testemunho qualificado de quem tem experiência vivida.
Concordo em absoluto com o que nele vem escrito e gostaria de contribuir com mais umas breves notas.
O grande problema das comissões parlamentares de inquérito é exactamente o que se resume na frase "as convicções com que partiram são sempre as convicções finais".
Desconheço o que é proposto sobre esta matéria na iniciativa de rever o modo de organização e funcionamento da AR. Mas seria bom que os senhores deputados, sobretudo os que levam o parlamento a sério, refletissem sobre as razões que levam a que se dê pouco relevo à sede da democracia representativa.
A figura do inquérito é uma das razões para o desprestígio do Parlamento, em especial junto de algumas élites que sabem que, em vez de instrumento de acompanhamento e fiscalização da actividade do Executivo, se transforma sempre numa forma de as maiorias, venerandas e obrigadas, obedecerem às conveniências governamentais.
Há que sublinhar, como bem o faz Pinho Cardão, que neste estado de coisas não há inocentes, sobretudo nos partidos do arco governamental. Convém a todos.
Há muito que concordo com a opinião daqueles que entendem que a composição das comissões de inquérito não deve ser um reflexo da relação das forças partidárias na Assembleia da República. A situação actual, de maioria absoluta obediente, acrítica e bem treinada no aplauso aos membros do Governo, só vem dar razão a quem assim pensa.
Não basta, todavia, diminuir o peso do Governo nas comissões de inquérito por interposta maioria. Teria outrossim de a Oposição encarar o inquérito como modo de apurar a verdade escorreita e objectiva, e não como arma política de arremesso e de mesquinha exploração de conjunturais fragilidades. Como também seria essencial que as oposições percebessem que os assuntos a inquirir devem ter a relevância e a dignidade suficientes para uma sindicância parlamentar a este nível.
Esta sim, deveria ser matéria para preocupar os órgãos de soberania, porque tem verdadeiramente a ver com a qualidade da democracia.
Ouço em tom alto manifestações de preocupação com as festanças parlamentares do 25 de Abril que será, dizem algum, necessário alterar. Respeitável a preocupação.
Mas recordo que há uns tempos, quando alguém lançou o tema da reforma do sistema político, redesenhando o sistema eleitoral e racionalizando, por exemplo, o modelo de governo local, perdeu-se tempo e energias a discutir que cadeira ocupa o governador civil ou o bispo nas cerimónias oficiais. Temo que mais interesse despertem temas deste jaez do que a elevação do trabalho parlamentar ou a melhoria do nosso desgastado, desacreditado e preocupantemente ineficaz sistema funcional da democracia.
Sobre isso, salvo quando os partidos de maior peso se entendem sigilosa e previamente, paira sempre um (significativo) silêncio par(a)lamentar...

99,999%!...

A Assembleia da República debateu hoje as conclusões do Inquérito Parlamentar sobre o "Envelope 9".
Como em 99,99% dos Inquéritos Parlamentares, não houve acordo sobre as conclusões. E como em 99,99% dos Inquéritos Parlamentares, as conclusões seguem as maiorias, do PSD quando este está no Governo, do PS, quando este no Governo está. O que se conclui e vota é sempre aquilo que agrada ou convém ao Partido governamental.
Por isso, sempre me interroguei sobre a razão da formação de Comissões de Inquérito cujas conclusões se conhecem à partida. Pela minha experiência pessoal, aliás, constituem a maior perda de tempo que alguém possa imaginar, não só para os Deputados que são capazes de fazer coisas dignas e úteis, mas sobretudo para muitas das vítimas que são chamadas a depor. Os deputados insistem nas mesmas perguntas, questionando até à náusea matérias já perfeitamente esclarecidas para uma mente normal. E as convicções com que partiram são sempre as convicções finais.
Face à vergonha que vinham constituindo, as Comissões de Inquérito foram suspensas pelo antigo Presidente da Assembleia da República, Mota Amaral. Foram retomadas, com os mesmos vícios, na presente Legislatura.
O PSD afirmou hoje que a Comissão do envelope 9 desprestigiou o Parlamento e nunca deveria ter sido constituída.
Devem sobrar muitos dedos de uma só mão para contar as que prestigiaram o Parlamento.
Por incapacidade, demagogia, facilitismo, politiquice, praxe, avilta-se um instrumento que, com outro espírito, poderia ser uma arma poderosa para assegurar a legalidade e a transparência de actos da administração que, de uma forma ou de outra, nos afectam. Lamentável!...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

O Senhor Presidente terá razão? Duvido...

É frequente ouvir dizer “Se isto acontecesse durante os Governos de Durão ou de Santana, o que é que não diriam…Cairiam o Carmo e a Trindade…”.
Isto, como é evidente, a propósito de alguns episódios controversos, mais ou menos recentes, envolvendo figuras do Governo e situações ou medidas mais questionáveis.
E acrescenta-se que agora não é assim por causa do apoio que os órgãos de comunicação social dispensam a este Governo, em contraste com a posição muito mais crítica que mantinham em relação aos anteriores.
Aceitando que existe algum fundamento nesta observação, tenho para mim que a complacência ou condescendência (que chegam até à cumplicidade) com que a generalidade dos meios de comunicação e muitos “opinion makers” encaram a actividade deste Governo, em especial grande parte das medidas mais controversas (bem como situações pessoais) tem uma origem e uma justificação mais profundas, que justificariam uma atenta análise social e política.
Vem isto a propósito de declarações do Presidente da República hoje proferidas na sessão solene evocativa do 33º aniversário do 25Abril.
Disse o Presidente que o 25Abril não pertence em exclusivo a certos sectores políticos, não era propriedade de ninguém em particular mas de todos os portugueses.
Tenho as maiores dúvidas de que assim seja, realmente.
Julgo que a percepção que os portugueses em geral têm do 25Abril não é essa.
O 25Abril pertence, no pensamento geral, às chamadas “forças de esquerda”, a que eu chamaria “esquerdas de catálogo”, que têm cada vez menos a ver com uma real defesa dos valores tradicionalmente identificados com a esquerda.
E é por isso, em minha opinião, que existe aquela condescendência e cumplicidade em relação a medidas de política ou situações pessoais mais controversas.
Tomando como o desmantelamento do SNS a que este Governo se vem dedicando com particular obstinação e eficácia.
Este trabalho, se fosse conduzido por exemplo pelo Dr. Luís Filipe Pereira, no Governo Barroso, teria causado um tumulto geral e arrastado com certeza a demissão do Ministro ou mesmo do Governo.
Esse tumulto, no qual o PS se teria empenhado até ao limite, fazendo coro com as demais “esquerdas de catálogo”, fundamentar-se-ia, entre outras razões, nas ofensas à Constituição e a outros padrões herdados da revolução de Abril.
E isto porque a um Governo Barroso – muito menos a um Governo Santana – nunca será reconhecido, pela comunicação social e/ou ”opinion makers”, o direito de mexer, muito menos de destruir, o que não é seu: as chamadas “conquistas de Abril”.
Nas conquistas de Abril só está autorizado a mexer – “maxime” destruir, como parece ser o caso do SNS – quem delas seja “dono”, proprietário, ou nelas tenha uma quota reconhecida, como é o caso do PS.
Ninguém aceita que quem quer que seja venha mexer na sua propriedade, muito menos danificá-la ou destruí-la.
Mas todos aceitam, em princípio, que um proprietário tome a iniciativa de demolir a sua própria casa, por exemplo para construir outra diferente.
E o que é verdade no plano do exercício dos direitos reais, no privado, também será verdade no plano do exercício do poder político.
O Povo é o mesmo. Penso eu de que, Dr. Pinho Cardão...

Os donos, senhores e proprietários

Segundo hoje ouvi mais uma vez, o autêntico 25 de Abril tem donos e pertence-lhes.
Se tem donos, não pode ser de todos!...

Falar de Responsabilidade no Dia da Liberdade

A liberdade é um valor maravilhoso. Sermos livres significa a possibilidade de fazermos escolhas, de escolhermos os caminhos, de caminharmos no sentido de nos realizarmos como pessoas, individualmente e inseridas numa sociedade democrática.
Mas liberdade implica responsabilidade. A responsabilidade de construirmos uma sociedade justa, isto é, que seja capaz de criar oportunidades e de as tornar acessíveis a todas as pessoas.
Nesta data em que se comemoramos o Dia da Liberdade, seria importante que todos reflectíssemos sobre se a responsabilidade que a liberdade nos colocou nas mãos foi ou não bem exercida e se fomos capazes de criar uma sociedade mais justa. E a esta pergunta que impõe uma resposta, duas outras não menos importantes se colocam. O que estamos a fazer para substituir padrões de comportamento intoleráveis – o facilitismo, a vulgaridade, a ignorância, a mandriice, a golpada, a incompetência e aldrabice – que em muito têm prejudicado o desenvolvimento do País? E o que estamos a fazer para remover os múltiplos bloqueios que dificultam a criação de riqueza?
Felizmente existe muito de são, de honesto e esforçado, valores que constituem uma janela de esperança para o futuro. A esta oportunidade é preciso adicionar ambição. Ambição de mudar, de inovar e de fazer mais e melhor, por nós todos e pelas gerações mais novas.
É necessária uma boa dose de ambição para sermos capazes de exercer plenamente a responsabilidade que nos é legada pela liberdade.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Os Homens e o "Triunfo dos Porcos"...

"O Triunfo dos Porcos" é o título de um livro que comprei já lá vão muitos anos, mas que ainda hoje releio. George Orwell escreve neste livro uma fábula, verdadeiramente genial, a meu ver intemporal e universal.
A fábula conta a história de uma revolução. Os animais de uma quinta levam uma vida difícil, trabalham arduamente, em troca de escassas quantidades de ração. A ameaça de morte está sempre presente, seja por velhice, por esgotamento ou pelo lucro do proprietário da quinta. Um belo dia revoltam-se e expulsam o homem da quinta, movidos pelos valores da liberdade, da igualdade e da justiça. No início era tudo uma democracia e havia até um cartaz afixado numa parede que dizia: "Todos os animais são iguais". Mas rapidamente, os porcos tomam conta da quinta, menosprezando e explorando os outros animais, esquecendo completamente os ideais iniciais da revolta. Os outros animais, menos inteligentes e de menores recursos, acabam por aceitar o novo poder, confiantes na mudança. Em pouco tempo o cartaz foi alterado. Passou a ter escrito: "Todos os animais são iguais. Mas uns são mais iguais do que outros".
Uma das mensagens fortes deste livro, é que todos os objectivos se corrompem com o poder e com a mentira e que muitas vezes quem era parte de uma solução passa a ser parte dum problema.
A fábula tem inúmeras aplicações – com as necessárias adaptações e ajustamentos – relativamente ao nosso quotidiano político e social. Nesta perspectiva, cada um fará as analogias que entender, em função da sua sensibilidade e sentido de observação!

"Eppur si Muove!"

Nos dias anteriores à 1ª volta, vi uma lúcida reportagem de rua de um correspondente do nosso canal público de televisão em que, certamente por mero acaso, quase todos diziam votar Ségolène, os restantes Bayrou e ninguém votava em Sarkosy.
Passada a 1ª volta, tenho visto muitas sábias análises dos resultados obtidos: quem foram os grandes vencedores, quem foram os grandes derrotados (aqui há unanimidade no nome de Le Pen), quem irá ganhar na 2ª volta.
Mas ninguém salientou o facto de a candidata do Partido Comunista Francês, Marie-George Buffet, ter tido a impressionante votação de 1,9 %!...O todo poderoso PC francês reduzido a menos de 2% dos votos!…
As coisas mudam, em França e no mundo. Mas, como há séculos outros poderes, não há como os comentadores estabelecidos e bem instalados para contrariarem a mudança que não desejam!...
As coisas vão-se movendo...felizmente!...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"ÓRGÃOS À VENDA"


"ÓRGÃOS À VENDA" foi hoje objecto de uma pequena notícia que terá passado despercebida... Pequena no espaço que lhe foi dedicado, mas grande nas vidas que movimenta!
O tráfico de órgãos é um negócio que assume hoje proporções alarmantes e chocantes.
Com efeito, multiplicam-se nos países pobres as pessoas dispostas a vender órgãos do seu próprio corpo e crescem nos países ricos as pessoas que estão dispostas a comprar um pulmão ou um rim.
Segundo a notícia, um coração da China poderá ser transaccionado por 66 mil euros, enquanto que um fígado do Egipto pode atingir 231 mil euros! São muitos os países envolvidos, na oferta e na procura, diversos os órgãos transaccionados e variados os preços praticados. Um verdadeiro mercado, negro, bem negro!
Sabe-se muito pouco sobre a dimensão deste mercado e da sua perigosidade. E tão pouco se conhece sobre o que está a ser feito no combate ao tráfico.
"Salvar" vidas com menos vida e "salvar" vidas com a morte de uma vida não nos pode deixar indiferentes. É uma realidade tenebrosa da crua realidade de um mundo de avassaladores contrates de vida. Que mundo é este em que vivemos? Que mundo é este que estamos a construir?

Ninguém é perfeito!...

O Doutor Eng. António José Morais deu ontem uma entrevista ao DN.
Pergunta: E é aí que entra Armando Vara? Como é que se torna Assessor dele e depois Director do GEPI nomeado por ele?
Resposta: Eu era uma referência do PS em Lisboa….Em 1995 eu tinha uma carreira política. Toda a gente falava de mim. Eu era a estrela emergente do PS em Lisboa. Um putativo candidato a Ministro e não a Director-Geral. É natural que Armando Vara, quando precisou de um engenheiro se tenha lembrado de mim.
Pergunta: Foi Armando Vara que o convidou para o GEPI?
Resposta: “Fui para o GEPI, por alguma capacidade do PS de base que fez sentir a Armando Vara que um membro do Secretariado da Comissão Política de Lisboa tinha capacidade para desempenhar tarefas a nível governativo. Por isso apostou em mim…
Já sabíamos que o Doutor Eng. António José Morais era, sem dúvida, um excelente, mas muito discreto Professor de quatro cadeiras fundamentais num curso de Engenharia Civil. Discreto, mas com provas dadas, no exacto sentido da palavra.
Ficámos agora a saber que tem muitas outras qualidades.
em 1995 eu tinha uma carreira política. Toda a gente falava de mim. Eu era a estrela emergente do PS em Lisboa …
…É natural que Armando Vara, quando precisou de um engenheiro se tenha lembrado de mim…
…Fui para o GEPI, por alguma capacidade do PS de base…
…Era um putativo candidato a Ministro e não a Director-Geral…
…tinha capacidade para desempenhar tarefas a nível governativo...
Mas pareceu-me um pouco destravado e contraditório, lá isso pareceu…
Ninguém é perfeito!...

Já não há corte, só bobos...

Foi sempre para mim um mistério a razão que leva o homem público a rir-se de quem mais o ridiculariza.
Não, não é uma afirmação de superioridade como alguns dirão. É antes a rendição perante o sentimento geral que idolatra o cómico por desprezar o político.
João César das Neves opina sobre o preocupante fenómeno na edição de hoje do DN.

Mas nunca iremos mudar?

É hoje lançado o livro “Economia Portuguesa -Melhor É Possível” do Economista Mendonça Pinto, que tem feito carreira no Banco de Portugal, e foi consultor económico de Jorge Sampaio.
Pois segundo li no Expresso, o Autor diz que há duas razões pelas quais não tem havido uma estratégia de desenvolvimento económico e social em Portugal: a primeira é a deterioração do sistema político e a segunda “o peso da doutrina neoliberal, que menospreza ou subestima o papel do Estado, ao considerar que bastam as decisões livres dos agentes económicos para que a economia funcione bem…”
Li e pasmei!...O peso da doutrina liberal responsável pela falta de estratégia?
Num país em que tantas vezes a legislação é mais restritiva do que a do condicionamento industrial, em que o Estado intervém em tudo e em nada, desde o licenciamento dos grandes projectos industriais das eólicas e das centrais de ciclo combinado até aos pequenos negócios familiares, das celuloses e refinarias até às obras na própria casa, de campos de golf e construção de hotéis até à implantação da barraca de comes e bebes junto aos estádios de futebol?
Num país em que a concretização do enorme volume de projectos em filas de espera de autorização nos organismos estatais e camarários só por si daria um significativo impulso ao investimento, ao emprego e ao consumo privado, aumentando o produto e a riqueza?
Num país em que as Autoridades Reguladoras competem entre si nos dislates e demoram meses e anos para autorizar operações de mercado, o que faz que a transacção acabe por se efectuar sobre activos e passivos já muito diferenciados dos iniciais?
Num país em que os Ministros da Economia perdem tempo nas reestruturações empresariais e na escolha de parceiros ditos estáveis, esquecendo-se que, ao mais leve sopro do mercado, são adquiridos por outros e rapidamente alteram estratégias?
Mas em que país, em que tempo e em que economia está esta peregrina análise do meu amigo e colega Mendonça Pinto? Ainda quer mais intervenção do Estado?

domingo, 22 de abril de 2007

Eleições em França: grande pontaria

No meu POST da última 5ª Feira, 19 de Abril, dedicado às eleições francesas, referi os números de uma sondagem que o F. Times publicava diariamente.
Essa previsão bateu praticamente certo com a votação hoje obtida pelos 4 principais candidatos, com pequeníssimas diferenças.
Que grande pontaria a dos institutos de sondagens que o F.T. escolheu!
Vou continuar a seguir essa indicação e espero apresentar o meu vaticínio para a 2ª volta com maior antecedência do que fiz para esta 1ª volta.
Quem vai ganhar: Sarkozy que hoje obteve 30,46%, ou Segolène a partir dos seus 24,4%?
Alguém quer avançar já a sua previsão?

H.U.C.: ponta do iceberg ?

Já aqui comentei, mais que uma vez, as contas da saúde no Orçamento de 2006.
Referi, em especial, que essas contas não podiam considerar-se fechadas sem se conhecerem as contas dos Hospitais SA.
A razão é simples: na despesa do Orçamento de 2006 foram inscritos e contabilizados apenas os pagamentos efectuados pelas ARS aos Hospitais.
Mas se as despesas dos Hospitais, no mesmo período, foram superiores? Quid juris?
Se foram superiores, temos aqui um caso de desorçamentação pura e dura, despesa não evidenciada na contabilidade pública (tenho a certeza) ou na contabilidade de compromissos (quase certeza).
Soube-se este fim-de-semana que no caso dos Hospitais da Universidade de Coimbra (H.U.C.) assim aconteceu: a ARS pagou menos 36 milhões de Euros do que devia ter pago para que o Hospital pudesse cobrir as despesas de 2006.
E parece que o Presidente do C. de Administração - já nomeado por este Governo, num processo aliás turbulento de mudança de gestão - não está disposto a aceitar esta situação e deixou entender que se vai demitir.
A questão que se pode colocar é então a seguinte: se foi assim nos H.U.C., não terá sido assim também na generalidade dos Hospitais?
É muito possível que sim. Aqui 36 milhões, no Hospital X 10 milhões, mais além no Y 7 milhões, no Z 11 milhões, etc,etc.
Não seria surpreendente se, depois de tudo somado, viesse a ser apurada uma insuficiência nos pagamentos das ARS de qualquer coisa como 10 vezes o montante dos HUC. Ou talvez mais, quem sabe.
Mas se for 10 vezes, serão 360 milhões Euros, cerca de 0,22% do PIB.
É por isso que tenho dito que é essencial conhecer as contas dos Hospitais, para se ter a noção mais exacta do que foi o défice orçamental da saúde e, consequentemente, o défice orçamental global.
Conhecemos o défice formal, muito bem, mas isso não basta.
Precisamos de conhecer o défice real para então se ficar a saber qual foi a evolução da despesa pública em 2006.
Para a economia e o seu desempenho global, o que conta é a despesa pública efectuada, não apenas a que é contabilizada.
Continuo a estranhar o silêncio sepulcral da Oposição sobre este assunto.
O do Governo, compreendo perfeitamente.
Será o caso dos H.U.C. a ponta do iceberg da despesa extra orçamental na saúde?

Amizade: uma palavra pequena, muito "grande"

Recebi hoje um Livro que me deixou comovida, pela generosidade da dedicatória que o seu Autor me dedicou.
É uma daquelas situações que vão sendo raras e que por isso mesmo não estamos à espera e preparados que aconteçam, pelo simples facto de que, embora sabendo da amizade que nos une, já não é comum expressá-lo daquela maneira. De uma maneira singela, breve, com poucas palavras, mas bem escolhidas, bonitas, quentes, verdadeiras e, especialmente, do coração.
Realmente, vivemos um tempo em que o discurso da Amizade está muito ausente, quando a amizade é o essencial, o calor da vida. É nela que repousa um bálsamo essencial do nosso bem estar, porque feito de afectos, da certeza que os nossos olhares não nos enganam, que se tocam, como que numa comunhão de gostos, de sentimentos, de reflexos, de quereres e de vivências.
Mas a amizade não se busca, não se sonha, não se deseja: ela exerce-se”. Na verdade, por maior que seja o seu denominador comum – trazendo-lhes doçura e amizade – as pessoas devem dar-se conta do alto grau de tolerância e diferenciação com que têm que tratar-se. A proporção e o ritmo dos gostos e das tarefas geridas por um nunca é geometricamente ajustável aos do outro, e o tempo e a alma que um lhes dedica é, para além de quaisquer dúvidas, desigual aos do outro.
Ter esta realidade bem presente ajuda-nos a compreender a Amizade e o ganho que temos – nós e os outros – em respeitarmos as diferenças que nos unem na comunhão dos afectos.
A Amizade é uma virtude que devemos cultivar em todos os aspectos da vida. Se o fizermos saberemos decidir melhor por nós e pelos outros, com respeito, sensibilidade, verdade e afecto!
Gostaria de partilhar este pequeno e singelo conto que escrevi, num estilo de "criança", a fazer lembrar os meus tempos de garota. Sendo um conto pequenino, espelha o que me vai na alma sobre a Amizade:

Era uma vez um menino que gostava muito de ler e tinha um pisco. Sempre que lia, o pisco acompanhava-o, tão bem que virava a página do livro com o bico exactamente quando o menino chegava ao fim. O pisco voltava muitas páginas sempre com o seu ágil bico.
Viviam felizes. O menino adorava o pisco. Mas um dia o pisco, passadas horas de leitura intensa, disse-lhe:
- Estou muito cansado; podemos parar um bocadinho?
O menino estranhou. Perguntou ao pisco:
- Não compreendo; se gostas tanto como eu de ler e fazemos companhia um ao outro, porque é que estás cansado e eu não estou?
E o pisco respondeu-lhe:
- É que não somos exactamente iguais; além disso, hoje cantei muito e tive muitas coisas para fazer; os olhos fecham-se-me e tenho o bico dorido que já quase não me obedece.
O menino pensou. Tinha pena de não continuar a ler. E gostava tanto do pisco. Nunca poria em causa a sua honestidade e amizade. A culpa não era de ninguém: afinal as coisas eram assim mesmo.
E parou mesmo de ler. Ler sem o pisco, sempre a virar as páginas com o seu bico, não tinha tanto sentido.
Os dois continuaram nas suas longas leituras sempre felizes. Mas, daí em diante, o menino passou a conhecer melhor o pisco e a si próprio. Havia diferenças! Havia Amizade!

Assim vai a saúde: palavras e e só palavras!...




Em Fevereiro, uma pessoa idosa (87 anos) da família mais chegada da minha mulher marcou consulta médica no Centro de Saúde de Almada. A consulta foi marcada para 21 de Março.
No dia 21 de Março, a pessoa em questão não pôde ser atendida, porque o seu médico de família tinha adoecido, aliás um direito que também lhe assiste. Foi-lhe marcada nova data para 19 de Abril.
No dia 19 de Abril, também não pôde ser atendida, porque o médico tinha passado à reforma.
Foi-lhe marcada consulta para 24 de Maio!...
Isto é, uma pessoa com 87 anos precisava de uma consulta em Fevereiro e, na melhor das hipóteses, tê-la-à em Maio, isto se já houver novo médico e este não tenha qualquer percalço!...Claro que, pelo meio, já teve que recorrer a clínicos privados.
Sou amigo pessoal do Ministro, tenho por ele estima e reconheço-lhe vontade de alterar o estado de coisas.
Mas, infelizmente, e para além das palavras, o cidadão comum, do interior despovoado ou do litoral povoado, não nota qualquer progresso na prestação de cuidados médicos. Pelo contrário, está cada vez mais desprotegido. No interior, porque lhe fecham os serviços; no litoral, porque tendo serviços, lhe fecham a porta da consulta. Mas na propaganda, tudo na melhor!...

sábado, 21 de abril de 2007

Política pura e dura!...

De acordo com notícia do jornal SOL, os principais responsáveis que superintenderam à elaboração do estudo que alertou para os problemas do espaço aéreo na Ota vão ser todos substituídos.
Se os estudos contrariam a vontade do Governo, são alvejados os incompetentes que os elaboraram. A próxima versão já virá a rigor. Simplex!...

sexta-feira, 20 de abril de 2007

A incidência das coincidências

Vende-se uma televisão.
Os seus compradores são identificados em toda a Espanha como gente do Partido Socialista Espanhol.
Mas tal não passou de uma coincidência.
O Governo português que tinha a obrigação de impedir o "negócio", nada fez.
Mas isso, só foi outra coincidência.
Pouco tempo depois, a jornalista Manuela Moura Guedes deixou de "aparecer" nos telejornais dessa televisão.
Naturalmente, foi mais uma coincidência.
Agora, ficamos a saber que o Dr. Pina Moura vai presidir à administração da dita televisão.
Trata-se de mais uma coincidência.
Também sabemos que o Dr. Pina Moura é militante do PS.
Mas isso não passa de mais uma mera coincidência.
Que coincidências maldosas...

O nosso Sísifo


O magnífico post anterior da Suzana evoca a tortura de Sísifo. Parece que bem merecida, pois, para além de ofender os deuses, também sacrificou os homens. Acabou por morrer de velhice, mas não escapou ao castigo no Hades.
Os grandes crimes têm sempre o seu castigo.
Por isso, o nosso Sísifo moderno vai ser o Ministro Mário Lino.
Estou a vê-lo, despojado das suas ministeriais vestes, a carregar, sem descanso, 235.000 estacas de brita, Montejunto acima e Montejunto abaixo, num contínuo movimento.
E se Sísifo descansava enquanto a pedra rolava na descida, Lino não terá descanso: o seu lombo suportará as 235.000 estacas num infindável vai-vém; e enquanto Sísifo só teve a tortura na outra vida, Lino iniciará o castigo já neste mundo!...
Porque teve tudo e todo o tempo para corrigir os erros, mas por teimosia e soberba não o quis fazer!...

O condenado


Estamos sempre a tropeçar no mito de Sísifo, nas mil e uma vezes que nos perguntamos qual o sentido das coisas, do que fazemos ou do que vemos os outros fazer, sem que lhes vermos utilidade bastante.
Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar pela encosta acima um pedregulho imenso, até a pedra rolar pela outra encosta abaixo, para ele voltar a empurrá-la, até ela voltar a cair, assim gastando a sua vida, sem progresso aparente, sem utilidade alguma.
Há mil e uma interpretações, mil e uma lições tiradas do esforço, da submissão e da condenação de Sísifo. Mas também da sua resistência, da sua teima insensata, quem sabe? da sua maneira silenciosa de afrontar o pedregulho com todas as esforças e fazê-lo rolar à sua frente.
Talvez não tivesse importância saber se a pedra ia alguma vez ficar presa no cume.
Talvez a sua condenação fosse a de simplesmente ter que fazer com que ela se movimentasse, para que não lhe travasse o caminho, não o deixasse preso no sopé da montanha. Para não morrer, uma vez que essa era a condição dos deuses.
Se, para a subir, tinha que fazer esse esforço insensato, porque nos fixamos no esforço, e não na subida?
Porque sabemos que Sísifo sabia o fim da história, sabia que a pedra ia cair vezes sem fim, tantas quantas as que ele a empurrasse.
Sísifo foi condenado a viver sem esperança, creio que é isso que é terrível no seu castigo.
Sísifo
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga

quinta-feira, 19 de abril de 2007

À pesca no mar do PSD...

... enquanto o país está entretido com a licenciatura de Sócrates.
A campanha para a liderança do CDS-PP mostra como o PSD está frágil e como é possível a Paulo Portas passear-se pelas margens do mar do PSD e dedicar-se a pescar nestas águas.
Tornou-se óbvio o que aí vem - bem podem alguns dirigentes do PSD proclamar que fazem oposição ao PS.
O seu verdadeiro problema passou a ser o CDS...
... e Paulo Portas.

Eleições em França: o meu vaticínio a 3 dias

Faltam 3 dias para a 1ª votação nas eleições presidenciais em França.
Continuando a utilizar a sondagem divulgada diariamente pelo Financial Times, a posição dos 4 principais candidatos quanto a intenções de voto é hoje, 19 de Abril, a seguinte:

- Sarkozy 30%
- Segolène 25%
- Bayrou 18,5%
- Le Pen 13,5%

Em condições normais, estas diferenças permitiriam vaticinar, sem grande risco, a passagem à 2ª volta dos dois primeiros.
Todavia, a elevada percentagem de indecisos torna agora esse vaticínio mais arriscado.
Tem sido referida pelos comentadores, em especial, a relutância de eleitores que votam Le Pen em confessar a sua intenção de voto, preferindo dizer que não sabem em quem vão votar.
Por isso esses comentadores especulam quanto à possibilidade de uma surpresa semelhante à que se deu em 2002, quando Le Pen foi à 2ª volta, afastando Jospin, candidato socialista, contra todas as sondagens.
Embora não excluindo que os resultados possam diferir bastante destas sondagens quase finais, vou arriscar que os dois primeiros, Sarkozy e Segolène, vão desta vez passar à 2ª volta.
Se me enganar, cá estarei para reconhecer esse engano.
Curiosamente, as sondagens apontam, para esse cenário de 2ª volta, um empate técnico entre os dois candidatos.
Quer isso dizer que haverá eleitores mais à direita que não votam Sarkozy, preferem Segolène ou abstêm-se. Quem diria...
Parece pois que vamos ter emoção até ao fim, ou seja até 6 de Maio.
Convém não esquecer que antes disso teremos um Benfica - Sporting, para se ficar a saber quem será o campeão nacional (à especial atenção do Pinho Cardão).
Neste caso vaticino, sem grande problema, uma vitória do SCP, que assim poderá conseguir aquilo a que se tem chamado a “dobradinha”.

O novo mapa demográfico do País

Há dois dias ouvi um frente-a-frente onde Helena Roseta mostrou o actual mapa demográfico do País e salientou que dois terços do território estavam em risco de desertificação, com a migração massiva para o terço da orla costeira, simultâneamente com o fenómeno de "morte" anunciada dos centros históricos das grandes cidades e concentração nas suas periferias.

Veio-me à ideia o Concelho do Seixal, por força da minha presença na Assembleia Municipal.
Quando "cheguei" a este município, que desde o 25 de Abril é de gestão do partido comunista, quase que instintivamente fui levada a imaginar que as condições mínimas que asseguram os direitos sociais estão cumpridas.
Mas não!

Estamos às portas da Capital, a 20 kms., num Concelho com significativos índices de desenvolvimento, com uma elevada taxa de fixação das populações e, maioritariamente, com população jovem. (estamos no tal terço do território com migração massiva)
E como está assegurado o direito à habitação?
Como se instalam as famílias no concelho do Seixal?
Com que celeridade correm os processos de realojamento e de reconversão urbanística?
Como evolui a taxa de alojamentos segundo a sua forma de ocupação; que populações ainda vivem sem electricidade, sem água domiciliária ou esgotos através da rede pública, sem cozinha, sem instalações sanitárias...?

Pois bem, 20% da área total do concelho são clandestinos!
Nos últimos 10 anos de censo (1991-2001) as barracas cresceram 50%!
Os alojamentos familiares improvisados cresceram 337%, os móveis 500%, e os "outros" (também rudimentares) cresceram 540%!
Enquanto, neste decénio, os alojamentos familiares clássicos cresceram 37%, os não clássicos cresceram 138%!

O PER (Programa Especial de Realojamento) lançado no âmbito das políticas de apoio à habitação social, pelo ministro Ferreira do Amaral e pelo primeiro-ministro Cavaco Silva, está, nesta Câmara comunista, a menos de metade da sua execução!!!
...e ainda nos é sistematicamente transmitida a ideia de que as preocupações sociais são característica marcante dos partidos de esquerda...

Como eu aqui escrevi, na altura, bem fez o Presidente da República ao visitar o Seixal no seu roteiro para a inclusão.
Não foi por acaso!
No optimo post da Margarida sobre o "compromisso cívico para a inclusão" lá vem citado que 20% da população vive abaixo do limiar de pobreza; o Seixal cumpre exactamente este padrão; este padrão está a ser cumprido no terço da orla costeira que Roseta falava.
Não chegam as obras de solidariedade social, não chega a mobilização de vontades e a generosidade; politicamente tenho estado interessada em desmascarar o que, durante mais de 30 anos, uma Câmara comunista não fez...
... embora apregoe até à exaustão uma máxima "exclusiva" de preocupação social!

O verdadeiro défice-Finanças sem economia II

Nota: trata-se da 2ª parte de um artigo publicado no Expresso de 14 de abril de 2007.
Para além dos efeitos perversos na economia, a teoria e a prática de aumentar impostos para reduzir o défice só tem levado ao aumento da despesa pública.
Comparando os valores constantes do Relatório do OGE para 2007, a despesa pública orçamentada é superior em cerca de 2 mil milhões de euros às estimativas para 2006, por curiosa coincidência os mesmos 2 mil milhões que representa o acréscimo dos impostos. Isto é, não só não se prevê que a despesa diminua, mas é decidido que aumente. E é previsto um aumento da carga fiscal idêntico ao acréscimo da despesa.
O que, nas circunstâncias, se reveste de toda a lógica. Porque o único efeito de qualquer aumento de impostos é a possibilidade de acomodar mais despesa, como vem sendo abundantemente praticado.
Para dominar o défice, a alternativa válida é actuar sobre a despesa, diminuindo-a. E a diminuição da carga fiscal a terapêutica mais eficaz, porque força o emagrecimento pretendido.
É forçoso, pois, mudar de paradigma para equilibrar o orçamento, alterando o primado das finanças sobre a economia, baixando impostos, para diminuir a despesa. A conjugação dos efeitos positivos sobre a economia com a austeridade na despesa trarão o desejável equilíbrio.
Os factos provam-no: Portugal foi o país da Zona Euro que mais aumentou impostos nos últimos dez anos, mas é o que maior défice apresenta e dos que menos cresceu!..
Adenda: Artigo completo no Quarto da República

O verdadeiro défice I

Nota: trata-se da 1ª parte de um artigo publicado no Expresso de 14 de abril de 2007.
Dizem muitos, e também o Governo, que Portugal não vai crescer enquanto tiver este défice orçamental. E daí geralmente concluem que não existe margem para baixar impostos.
Deixando de lado o facto de considerar a premissa certa, mas a conclusão errada, o que me parece essencial é salientar uma divergência de fundo sobre a formulação da questão, por lançar um véu sobre o que verdadeiramente está em causa.
Não é o défice que impede Portugal de crescer, mas sim o nível da despesa pública. O verdadeiro défice é o enorme volume de despesa pública, cerca de 48% do PIB. A formulação de que Portugal não vai crescer enquanto tiver este défice orçamental é perigosa e redutora, realçando apenas o facto de se exigir um equilíbrio das contas públicas, a conseguir ou por uma diminuição da despesa ou por um aumento de impostos, em termos de aparente igualdade e valia. É por isso que o corolário tem sido o de não se poderem baixar impostos.
Mas a questão essencial é que os efeitos na economia são muito diferentes.
Com nível tão elevado de despesa pública, a economia não cresce, por exigir uma contribuição fiscal desproporcionada dos cidadãos e das empresas, com efeitos perversos sobre o investimento empresarial e o consumo, e assim sobre o produto nacional.
Estes meios, caso não fossem assim subtraídos às empresas e às famílias teriam uma aplicação muito mais racional. Porque não se pode dizer que os efeitos económicos do investimento e do consumo público sejam similares aos do investimento empresarial e do consumo privado. Parte significativa daquele, justificado embora por finalidades sociais geralmente difusas, não tem qualquer base de racionalidade, servindo apenas a glória de quem o promove. Como também não a tem boa parte do consumo público, limitando-se a manter sistemas obsoletos, mas reivindicativos. Numa conjuntura em que o investimento privado vem decrescendo e em que se exigem esforços adicionais em tecnologia e organização, seria prioridade política estimular o investimento das empresas, em vez de o amarfanhar com mais impostos.
(Continua)

quarta-feira, 18 de abril de 2007

O espanto não foi só meu!...

Como é sabido, o Governo vem exaltando de toda a maneira possível a enorme redução do défice orçamental. E tendo apelidado de manigâncias o recurso de governos anteriores a receitas extraordinárias, jurou não mais utilizar tal processo para o diminuir artificialmente, segundo dizia. Para marcar bem a fronteira, transformou mesmo o défice de 2,9% em 2004, em 5,2%, por não considerar as receitas extraordinárias. E foi esta a base que definiu como partida para a governação das finanças públicas.
Embora observador destas coisas, porventura nem sempre bem atento, nunca me passou pela cabeça que o Governo iria, em relação a 2006, calcular o défice por um método que tanto condenou, quando aplicado por governos anteriores. Mas foi o que aconteceu e que me levou a escrever, em 12 de Abril, o post A minha alma está parva, focando a minha estupefacção pelo facto de o défice de 2006, sem receitas extraordinárias, ter sido de 5,3%, superior ao de 2004!…Obviamente que não estou contra as receitas extraordinárias; o que eu digo é que, para ser coerente e haver progresso, o Governo deveria ter apresentado um défice bem menor. O post teve algum impacto na blogosfera e bastantes foram os blogs que o citaram. Por ordem alfabética, aqui deixo a menção dos que pude registar: a arte da fuga, blasfémias, classe política, gazeta lusitana, lusitânea, o divã de maquiavel, o insurgente, o juízo do ega, mais actual, vila forte
Os meus agradecimentos e os do 4R pela subida distinção!...

Nota: Segundo o DN de 15 de Abril, a Drª Manuela Ferreira Leite afirmou na véspera em Portalegre que “o défice não se situa nos 3,9%, mas sim nos 4,9% ou 5%...”, não incluindo as receitas extraordinárias, claro. Foi generosa, pois fez um ligeiro desconto…

terça-feira, 17 de abril de 2007

Portugueses com saudades do Escudo

Li na imprensa de hoje que os Portugueses (60%) são, logo a seguir aos gregos (70%), o povo europeu que maior desejo exprime de voltar à moeda nacional que o Euro substituiu.
Terá sido essa a conclusão de um estudo recente de um grupo de reflexão britânico Open Europe.
Apenas 31% dos portugueses se mostram satisfeitos com a nova moeda.
A vontade de voltar à anterior moeda é maior entre os portugueses que entre os alemães (54%) – pasme-se, face à enorme relutância que os alemães mostraram inicialmente em abandonar o Marco – e também do que os espanhóis (51%).
Os irlandeses são os mais satisfeitos com o Euro (77%), seguindo-se a Eslovénia, membro mais novo, o Luxemburgo e a Finlândia, todos com 59%.
Não me parece surpreendente esta conclusão no caso português.
Recordo-me de a entrada no Euro ter sido celebrada entre nós, no início de 1999, como se de um grande triunfo se tivesse tratado, e um triunfo daqueles que na altura se encontravam no poder na altura – esquecendo, lamentavelmente, aqueles que para esse desiderato muito trabalharam e contribuíram, só porque não vestiam a camisola política da ocasião.
Para além disso, a entrada no Euro foi anunciada como o início de um período de prosperidade sem par – e pior, sem esforço.
Deram-nos a entender que tínhamos o bem-estar garantido para sempre, podíamos gastar tranquilamente.
O Estado até deu o exemplo lançando-se numa campanha despesista sem precedentes, que ainda hoje estamos – e vamos continuar por muitos anos – a pagar bem caro.
Quando chegaram as dificuldades, com as quais tivemos de nos habituar a viver já lá vão mais de 5 anos, os cidadãos tendem, naturalmente, a associa-las à nova moeda.
Isso não é correcto, a culpa não é da moeda, é do mau uso que dela foi feito e da incapacidade/falta de vontade dos políticos da época para perceberem o que significava a adesão a uma Zona monetária.
Mas as pessoas não entendem bem isso, vá de responsabilizar o Euro e de ter saudades do Escudo.
Para os Irlandeses e para outros que perceberam desde o início o que significava a mudança de regime económico que a nova moeda implicava, não existem estes saudosismos.
Como será daqui a 5 ou 10 anos? Não correremos o risco de os 60% de agora passarem para 80 ou 90%?
Sinceramente, espero que não. Por uma questão de realismo e pragmatismo, não acredito que o abandono do Euro nos resolvesse os problemas de que nos queixamos.
A solução desses problemas, tal como a sua causa, não tem a ver com a moeda, tem sim a ver com as políticas.

“Sonhos”

A avidez do nosso cérebro estende-se ao seu próprio funcionamento. Cada dia que passa, avolumam-se conhecimentos sobre o modo de pensar, de agir, de conhecer e de sonhar. Relativamente a este último aspecto, sabe-se, desde há mais de um século, que as lesões de certas zonas cerebrais se acompanham da perda da capacidade de sonhar conjuntamente com problemas na visão. O quadro ficou conhecido pela síndrome de Charcot-Wilbrand.
Recentemente, foi possível identificar a parte do cérebro onde os sonhos são “criados”.
A síndrome é rara e mais ainda quando atinge apenas os sonhos.
A necessidade de sonhar é uma realidade, embora se discuta muito como são criados os sonhos e qual a utilidade dos mesmos. Há quem afirme que se trata de uma forma de alerta e de “aprendizagem”, com interesse evolutivo, reforça a memória, enquanto outros abordam-nos na esfera psicanalítica de que é testemunha a célebre obra de Freud, ”A Interpretação dos Sonhos”.
Seja como for, presumo estar perante uma das palavras mais utilizadas pelos seres humanos. Quem é que nunca falou dos seus “sonhos”? Quem é que nunca os teve? Quem é que nunca desejou “bons sonhos”? Todos. Até mesmo os assassinos de sonhos!
Também há os sonhos maus, os pesadelos. Alguns persistem ao longo da vida, reemergindo, em determinadas circunstâncias, com a mesma aparência e intensidade, criando angústia e mal-estar. Claro que há também os outros, belos, apetecíveis e reconfortantes. São tão desejados ao ponto de um empresa japonesa inventar uma máquina que permite às pessoas criarem os seus próprios sonhos. Ainda está numa fase experimental, mas, quem sabe se um dia o “Yumeni Kobo” (fábrica de sonhos) não se tornará uma realidade, disponível como um vulgar micro-ondas? Interessante aquisição para efeitos de uma eventual campanha eleitoral. Aos sonhos prometidos pelos candidatos ficaria sempre “assegurado” a produção de sonhos, à vontade do eleitor!
A par dos sonhos biológicos, os outros “sonhos”, sinónimo de aspirações, são muito fortes, ao ponto de dois em três jovens homens, de acordo com um inquérito realizado no Reino Unido, afirmarem que trocariam as suas namoradas pelo carro dos seus sonhos! Os dados não podem, nem devem, generalizar-se a outros povos, porque britânicos são britânicos, como é óbvio!
Diz o poeta que “o sonho comanda a vida”, e ainda bem. O que seria de nós se perdêssemos essa capacidade. No entanto, na prática, podemos constatar que muitos dos nossos concidadãos começam a perder a capacidade de sonhar, adoecendo de um mal social, equivalente ao citado síndroma de Charcot-Wilbrand, o que é mau, mesmo muito mau. As discrepâncias e as desigualdades sociais, aliadas à diminuição de expectativas de futuro para os mais jovens causam angústia, mal-estar, inibindo a capacidade de sonhar.
A este propósito, ao ler a obra do chileno Luís Sepúlveda, “ O Poder dos Sonhos”, confrontei-me com a seguinte passagem: “Creio que não há sonho mais belo do que um mundo onde o pilar fundamental da existência seja a fraternidade, onde as relações humanas sejam sustentadas pela solidariedade, um mundo onde todos compartilhemos da necessidade de justiça social e actuemos com coerência”.
Ainda vale a pena sonhar, mesmo que “Life is but a dream within a dream”...

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Padre Francisco Costa, Abade de Trancoso, um exemplo para todas as ocasiões!...

No domingo passado, passeando pela Beira Alta, resolvi almoçar em Trancoso. Logo a seguir à entrada das muralhas, à esquerda, um restaurante, Museu de seu nome, bem implantado numa casa antiga, com dois andares e escada exterior, cardápio à porta, chamou a atenção.Já sentados, chega-se uma empregada, espevitada e faladora. Os Senhores já cá vieram antes? Conhecem a casa? Não conhecem? Então vou contar...A história foi um excelente aperitivo!…
Ficámos a saber que tinha sido a casa do Padre Francisco Costa, Abade de Trancoso, nas últimas décadas do século XV. Da descrição, fiquei com uma admiração imensa pelo santo homem. É que o Padre Francisco Costa foi um trabalhador emérito: teve 275 filhos (alguns dizem 299…) de 54 mulheres!... Cumprindo escrupulosamente o lema bíblico "crescei e multiplicai-vos, foi, ao que se sabe, o maior progenitor nacional!...
Como os homens de Trancoso se desgostassem do feito, que atentava fortemente contra a sua honra, obtiveram a condenação do atarefado prior, uma sentença cruel: “…degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos…”.
Mas D. João II, um Rei sábio, “perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo…”.
Aqui vai a descrição existente no Restaurante e cópia dos Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7:
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.Total: duzentos e setenta e cinco, sendo cento e quarenta e oito do sexo feminino e cento e vinte e sete do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e quatro mulheres". "El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo”.
Mais que um herói de Trancoso, devia ser um autêntico herói nacional, para mais em tempo de tão fraca natalidade!...Valeu bem a pena ter almoçado em Tancoso!...

domingo, 15 de abril de 2007

Rui Vilar lembrou os três grandes passos de inclusão

Na Conferência realizada em Santarém, de que a Margarida faz aqui uma excelente síntese, a intervenção de Rui Vilar focou os três grandes momentos em que o nosso País se confrontou com a necessidade de "incluir” grande número de pessoas e dos diferentes contextos em que o fez, ou está a fazer.
Vale a pena, muito resumidamente, lembrar o retorno em massa dos portugueses que voltaram de África, na sequência da descolonização, e que foi preciso acolher e integrar, dando-lhes os apoios de que precisavam para reconstruir aqui a sua vida. Lembrar a muito rápida passagem de um país em que a agricultura era uma actividade que ocupava uma parte muito significativa da mão de obra, para o abandono das actividades agrícolas, levando à deslocação de milhares de pessoas dos campos para as periferias das cidades. Lembrar ainda o mais recente fenómeno de imigração, que em poucos anos transformou o país de “exportador” para” importador” de mão-de-obra, conduzindo a uma súbita heterogeneidade cultural e étnica.
Os múltiplos reflexos destes grandes movimentos de integração incluem a heterogeneidade nas escolas, o crescimento de bairros periféricos, a ruptura grave no sistema de transportes suburbanos, a pressão nos serviços de saúde, o aumento da marginalidade, o ajustamento mais ou menos difícil da 3ª geração.
O mais recente e ainda em curso movimento, o imigratório, está associado ao grave envelhecimento da população e, como disse o orador, é uma oportunidade para equilibrar a crise demográfica mas é também um desafio difícil para se encontrar as respostas que a sua integração plena não deixa de colocar.
Acresce que qualquer destes grandes movimentos se operou em contextos externos muito diversos, ou seja, em ambiente de fortes mudanças que, só por si, trariam a necessidade de nos reajustarmos. Primeiro, a descolonização, depois a integração europeia e, agora, a globalização.
Quando estamos embrenhados a detectar dificuldades, ou a fazer comparações com o que outros países conseguem fazer mais depressa e melhor que nós, se calhar vale bem a pena parar um pouco para ouvir falar das coisas com uma perspectiva diferente, sempre traz alguma luz e, porque não?, algum ânimo quanto à capacidade de enfrentarmos os problemas que nos angustiam.

"Compromisso Cívico para a Inclusão"


O Presidente da República promoveu ontem uma conferência subordinada ao tema "Compromisso Cívico para a Inclusão", no âmbito do Roteiro para a Inclusão. Estas duas iniciativas tiveram o grande mérito de mostrar as magníficas obras de solidariedade social que existem por este País fora, os exemplos de mobilização de vontades e de recursos, as provas de responsabilidade e empenho, a extraordinária generosidade de tantos portugueses que se reúnem em torno de um objectivo superior: o combate à pobreza e exclusão social. Tiveram o dom de também evidenciar que a pobreza é uma realidade esmagadora, que não nos pode deixar indiferentes.
Estas iniciativas ocorreram num momento em que há uma consciência cívica e política e em que existe um sentimento generalizado e consensualizado de que o País necessita de "voltar de página". A prioridade do investimento deve agora centrar-se na competitividade e na coesão social. Acabou o tempo e a "febre" dos investimentos em maciças infra-estruturas, muitas delas faraónicas, totalmente desadequadas das realidades económicas e sociais locais, sem qualquer viabilidade de sustentabilidade. Acabou, por assim dizer, o tempo da "quantidade", agora é preciso trabalhar para a "qualidade".
A pobreza e a exclusão social são a outra face da moeda do progresso e da modernidade. Sabemos que a erradicação da pobreza só será possível com crescimento económico e com ganhos sustentáveis na qualificação. Mas enquanto tal não acontece – como não tem acontecido no passado ido e mais recente – é fundamental que os governos se empenhem eficazmente em políticas sociais activas que fomentem a inclusão.
A situação da pobreza em Portugal é dramática. As estatísticas mais recentes do Eurostat apontam para que em Portugal cerca de 20% da população esteja em risco de pobreza, ou seja, mais de dois milhões de portugueses estão abaixo do limiar de pobreza. E grande parte das famílias pobres tendem a permanecer nesta situação por longos períodos de tempo, o que revela a existência de problemas estruturais graves, pese embora o crescente aumento da despesa social, através das crescentes transferências sociais do Orçamento de Estado e do aumento das pensões, quer na base – mais beneficiários – quer em montante médio disponível.
Segundo um estudo apresentado pelo Prof. Carlos Farinha Rodrigues sobre distribuição do rendimento, desigualdade e pobreza em Portugal – apresentado na Conferência ontem realizada – Portugal tem o índice de desigualdade mais elevado da Europa e a distância que separa o rendimento médio dos 20% dos mais pobres do rendimento médio dos 20% dos mais ricos está acima da média europeia, ou seja 8,2 vezes mais em Portugal contra 4,9 vezes mais na União Europeia! Ainda segundo o mesmo estudo, no conjunto da União Europeia, as transferências sociais permitiram reduzir a taxa de pobreza de 26 para 16%, enquanto que em Portugal só permitiram passar de 26 para 20%!
O papel desempenhado pela solidariedade social num quadro tão desolador ganha uma relevância acrescida. Por isso somos todos chamados a contribuir para lutar contra a chaga social da pobreza, cada um e todos de acordo com a sua disponibilidade e os seus talentos e saberes, na certeza de que também no voluntariado temos que ser capazes de nos organizar de uma forma estruturada, para sermos mais produtivos e para que a nossa generosidade se concentre no essencial – as pessoas – e não se perca num mar de problemas de gestão e de organização.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Um adeus a Odete Santos...

Todos os grupos parlamentares aplaudiram Odete Santos naquele que foi o seu último discurso na Assembleia da República, ao fim de 26 anos de uma intensa vida parlamentar. Os deputados olharam embevecidos para a deputada Odete Santos, que teve direito a intervenções de despedida de todos os grupos parlamentares e do Presidente da Assembleia da República.
Todos eles elogiaram a sua franqueza e lealdade política, a sua combatividade e a qualidade do seu trabalho parlamentar. Um testemunho merecido!
Gostemos ou não das suas convicções ideológicas e das suas atitudes muitas vezes algo “delirantes”, Odete Santos vai deixar um espaço muito singular, algo "pitoresco" da nossa bancada política, que não será substituível. Que não se esquece. Porque Odete Santos é realmente única!

Ocorre-me perguntar:

Porque é que tantos jornais disputam o espaço deixado vago pelo falecido Independente?

A minha alma está parva!...

Como ando com as leituras atrasadas, só agora li no último Expresso que, de acordo com informações prestadas pelo próprio Ministério das Finanças, as “receitas extraordinárias” de 2006 ascenderam a mais de 2.121 milhões de euros, a saber: antecipação de impostos sobre o tabaco(300 milhões), vendas de património(439 milhões), dividendos extraordinários e antecipados(REN-60 milhões), dividendos extraordinários (GALP-124 milhões), recuperações de créditos líquidas de adicionais da operação de titularização(1.198 milhões).
Estas receitas extraordinárias equivalem a 1,4% do PIB!...
Não fossem essas receitas extraordinárias, que Sócrates e os Socialistas tanto criticaram a Manuela Ferreira Leite, e o défice de 2006 seria 8.176 milhões de euros, correspondentes não a 3,9%, mas a 5,3% do PIB.
Este valor é superior ao valor apurado para 2004, era Bagão Félix Ministro das Finanças, que foi de 5,2% (2,9% com receitas extraordinárias)!...
Perante este quadro, e por muito que custe à propaganda e comentadores oficiais, conclui-se que não melhorámos nada em relação a 2004, o que até a mim me espantou, e que o progresso no défice não se deveu à contenção da despesa.
A segunda conclusão, já a sabia; quanto à primeira, a minha alma ficou parva!...

Gravatas

A história recente da gravata tem a ver com os mercenários croatas que, ao serviço do rei de França, no decurso da Guerra dos Trinta Anos, usavam curiosos xailes de vários tipos ao redor do pescoço.
Rapidamente, os franceses aderiram “à moda croata”, espalhando-a pelo mundo. Daqui, a designação “cravate”, oriunda da expressão “à la croate”, transformando-a num símbolo de cultura e de elegância.
Hoje em dia, é ainda muito utilizada, sobretudo em determinadas circunstâncias, mas há os que se opõem ao seu uso, quer por uma questão de gosto pessoal ou, então, por motivos ideológicos. É certo, e sabido, que determinadas correntes esquerdistas, invariavelmente, se recusam a colocar aquele adereço que, nas suas opiniões, são típicas da “burguesia” e dos “direitistas”.
Tive a oportunidade de constatar, aquando da minha passagem no Parlamento, que certos deputados não usavam gravata, facto que lhes devia ser particularmente gratificante, sobretudo no decurso do Verão, em que o maldito ar condicionado teimava em não funcionar, impedindo neutralizar os calores dos holofotes e dos debates. Mas, também, havia alguns que, não sei se por manifesta falta de gosto, ou com intenção provocatória, faziam preceder, nas suas entradas tardias, garridas gravatas, tipo amarelo torrado com bolas vermelhas, descansando em camisas azul eléctrico.
Também há os que, não gostando nada destes adereços, têm, por motivos sociais, que os usar em certos momentos. Mas encontraram uma solução universal para o efeito. Usam sempre a mesma gravata, sacando-a do bolso do casaco, onde permanece em períodos variáveis de hibernação. Dão-lhe uma ou duas esticadelas e colocam-na à volta do pescoço, e, assim que termina a cerimónia, passa imediatamente para o seu recanto. Anda nestas bolandas uma vida inteira.
Social e profissionalmente muitos homens têm que a usar, muitas vezes por imposição das administrações, mas, ao longo dos últimos tempos, tem sido possível descartá-la às sextas-feiras.
As empresas da “Nova Economia” foram as principais responsáveis pelo abandono dos códigos de vestuário, aliviando a tensão dos dias precedentes, prevendo o desejado fim-de-semana, e possibilitando uma interacção mais intensa entre todos. Estamos a falar do “Casual Friday”, verdadeira moda que nasceu nos finais da década cinquenta e cultivada em muitas empresas.
Claro que a facilitação introduzida também levou os que têm interesse nos negócios das roupas a “exigirem” o regresso à tradição, demonstrada pela afirmação recente do porta-voz do Círculo de Economia: - “Voltamos à gravata!”-, numas jornadas realizadas na Catalunha.
Por vezes, estes problemas até sobem aos tribunais, como aconteceu no Reino Unido, onde o uso de quase verdadeiras fardas era uma tradição exigida aos súbditos de Sua Majestade. Considerando uma forma de discriminação, face às mulheres, acabaram por ganhar na justiça o direito a usar as roupas que mais lhes convém.
Se avançarmos para a análise das criticas ao seu uso, na maioria das vezes por questões ideológicas, podemos dar mais alguns argumentos tais como o facto de contribuir para a perda de visão (aumentando a pressão intra-ocular) ou, no caso dos médicos, poderem contribuir para transmitir microrganismos aos doentes. Levar com uma gravata de um médico pode ser perigoso! Mas há mais vantagens, nomeadamente a nível ambiental. Não usar gravatas pode contribuir para a redução do aquecimento global. De facto, os japoneses foram convidados a trocar o ar condicionado pelo não uso de gravatas e de casaco no local do trabalho, sujeitando-se, no entanto, a trabalhar com 28, ou mais, graus centígrados. Curiosamente, esta medida foi proposta pelo próprio primeiro-ministro japonês que deu o exemplo, num pais onde foi assinado em 1997 o famoso Protocolo de Quioto. A medida, numa escala de 1 a 10, situa-se no 6, é de aplicação imediata, e acompanha-se de boa sensação com um elevado 9. O que é certo, é que num Verão, foi possível reduzir a emissão de CO2 em 71.700 toneladas!
Entre nós, já começamos a ver alguns dirigentes políticos de direita, em público, sem gravata. Não sei se é por quererem contribuir para o não aquecimento global ou se é devido ao aquecimento que as palavras e actos desencadeiam entre os beligerantes. Mas também não é preciso chegar ao ponto de andar a alardear os pelos do peito...

O Socorro, de Millôr Fernandes

"Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofício que amava, percebeu que cavara de mais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora o cemitério estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «O que é que há?»O coveiro então gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!». «Mas coitado!» - condoeu-se o bêbado. - «Tem toda razão de estar com frio.Alguém tirou a terra toda de cima de você, meu pobre mortinho!». E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela"
In "Pif-Paf".
Nota da Redacção: cada um identificará nesta estória o mortinho da sua simpatia :)

Democracia, poesia e prosa n[a barriga de um arquitecto]

Há blogs que qualificam a blogosfera. [a barriga de um arquitecto] é um desses. Pela sensibilidade estética que transmite, pela riqueza de conteúdos e de algumas reflexões. Esta é um bom exemplo.

Eleições em França: incertezas e anti-europeismo

A pouco mais de uma semana da 1ª volta das eleições presidenciais em França, prevalece a incerteza não só quanto ao resultado final mas também quanto aos candidatos que são capazes de passar à 2ª volta.
A única certeza que se pode ter, nesta altura, é de que haverá 2ª volta. Com efeito, afigura-se extremamente inverosímil que qualquer dos candidatos consiga atingir os 50% para ganhar à 1ª volta.
Duas notas dominantes se podem retirar, neste ponto.

A primeira, quanto às hipóteses dos quatro principais candidatos, Nicolas Sarkozy, Segolène Royal, François Bayrou e J. Marie Le Pen.
Nesta altura, Sarkozy à frente nas sondagens, e Segolene em segundo, parecem em melhor posição para chegar à 2ª volta.
No entanto, a margem de indecisos é muito grande, andará pelos 40%.
Nestas condições é muito arriscado dizer que os 5 pontos que Segolene tem de vantagem sobre Bayrou são suficientes para vir a conseguir um lugar na segunda ronda.
E mesmo Sarkozy, com os seus 10 pontos sobre Bayrou, pode não estar seguro.
E até nem se pode garantir que Le Pen, 10 pontos atrás de Segolene, esteja já arredado de uma 2ª volta.
Convém não esquecer a surpresa das eleições de 2002.
Estes dados são de uma sondagem que o F. Times tem vindo a actualizar diariamente na sua página on-line sobre a Europa.

A segunda quanto ao tom manifestamente euro-céptico de todos os candidatos, com menor intensidade no caso de Bayrou.
Especialmente visado tem sido o BCE, com as suas decisões quanto às taxas de juro, que os candidatos não se cansam de “fustigar”, sugerindo como cura a criação de um “governo económico europeu” – um governo federal parece-me, embora com competência limitada à área económica – cuja autoridade se sobreporia, ou pelo menos equilibraria a do BCE na lógica das ideias expressas pelos candidatos.
Este aspecto do euro-cepticismo dos candidatos aparece tratado com bastante graça num artigo de um dos habituais comentadores do F. Times, Gideon Rachman, intitulado “How the French are falling out of love with the eurozone”, publicado na edição escrita de 10 do corrente.
Tomo a liberdade de recomendar, vivamente, a leitura desse artigo.

Chover no molhado!...

Marque Mendes pediu a investigação de uma Entidade Independente à licenciatura de Sócrates. Não percebi!... Então já não houve uma Entidade Independente, para mais sendo uma Universidade, que se pronunciou, atribuiu e confirmou o diploma?

Inamovíveis e Venerados!...

Segundo ouvi hoje na rádio (não pude ver a entrevista de ontem à RTP), José Sócrates admitiu diminuir os impostos antes de 2009.
É bom que tenha mudado de opinião e congratulo-me com isso.
A partir de hoje, vou começar a divertir-me, vendo como circunspectos comentadores e doutorados professores começarão a mudar a agulha do seu finíssimo pensamento em matéria tributária, actualizando as suas posições de acordo com a nova pauta de Sócrates.
Não tarda, não tarda, passarão a ser os campeões da nova ordem fiscal, como o têm sido de muitas voltas e reviravoltas analíticas, alguns de há vinte ou trinta anos a esta parte!...
E sempre inamovíveis e venerados!...

Alma Lusa

Pronto! Finalmente ...o País teve 90 minutos de verdadeiro serviço publico ( RTP+Antena1 ).

Quando se quer falar à Nação não se vai ao Parlamento; fala-se através de "canais do Estado", recupera-se um simbolismo austero, uma pseudo proximidade, uma "conversa em Família".

Nós, latinos, gostamos!
Trucidamos, farpeamos, enterramos...mas quando chega a hora da verdade e ouvimos "a vítima" no difícil papel de demonstrar que é falso tudo aquilo que não foi provado existir como verdadeiro... recuamos em toda a linha e esticamos o tapete vermelho para que decorram vários outros temas, à vontade.

Tenho a certeza que os portugueses dormiram bem esta noite, este "assunto" está arrumado; em linguagem cinegética "esta lebre está corrida"!

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Património histórico: um potencial turístico



Governo quer uma Expo e um Euro por década
Organizar um ou dois megaeventos em cada década, à semelhança do que aconteceu com a Expo'98 e o Euro 2004, é a grande ambição do turismo português. Este ambicioso desígnio consta no Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) que ontem foi publicado em Diário da República. Fonte da (…)
- Diário de Notícias, 5.04.2007 -
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Não há dúvida que o turismo, em termos de futuro, e na perspectiva do desenvolvimento do nosso País, será porventura, em paralelo com a aquisição de valências em termos de qualificações académicas da população portuguesa em geral, o factor que se vislumbra como mais importante.
Quem leu a notícia Governo quer uma Expo e um Euro por década do Diário de Notícias provavelmente terá reparado numa certa incongruência com uma outra notícia imediatamente localizada abaixo desta, em que se referia que Lisboa foi em 2006 a cidade capital europeia com maior taxa de ocupação hoteleira.
Assim, se a cidade com mais potencialidades turísticas a nível nacional para acolher realizações do tipo Expo e Euro, tem os hotéis todos cheios, fará sentido promover a realização de eventos temporários, ultra dispendiosos e com resultados económicos que nos questionam sobre os seus benefícios sustentáveis?
Penso que o que fará sentido – isso sim – é o aproveitamento do nosso património histórico e monumental, de modo a criar "atracções" permanentes. Só assim se criaria um fluxo contínuo e sustentável no tempo de turistas “de qualidade”, que permitiriam um desenvolvimento harmonioso das nossas infra-estruturas, nomeadamente as hoteleiras.
Priveligiar o investimento no património histórico, estou convencida que constituiria um motor de desenvolvimento económico e social, pela actividade económica que induz, pela atracção de investimento privado e pela criação de postos de trabalho e novos pólos de atracção e animação turística, a par de um motor de desenvolvimento sustentável em que se combinam de forma coerente e planeada objectivos económicos e sociais, urbanos e ambientais, culturais e patrimoniais.
Creio que estaremos todos de acordo em considerar que a “Grande” Lisboa será porventura a região do nosso País que reúne maiores potencialidades para um turismo deste tipo e com a dimensão ajustada aos objectivos de nível nacional almejados.
Dentro desta linha de rumo, inclui-se a requalificação e revitalização da Zona Ocidental de Lisboa – “vítima” de uma acentuada degradação desde os anos 40 – recuperando os patrimónios monumentais Ajuda e Belém, Terreiro do Paço e Baixa Pombalina e espaços ribeirinhos adjacentes. E em particular, teria lugar o acabamento do Palácio Nacional da Ajuda, terminando com o pesadelo estético que são as ruínas das tentativas feitas ao longo de mais de dois séculos para completar uma construção inacabada.
Este rumo constituiria, igualmente e não menos importante, um marco no respeito e na valorização da memória histórica e do património cultural português, ao relançar duas “marcas de prestígio” que todos os portugueses conhecem e de que se orgulham: a Praça do Comércio/Terreiro do Paço e o Palácio Nacional da Ajuda.