Continua novela
dos Panama Papers. Óbvio que que os off-shores escondem capitais criminosos, de
branqueamento de capitais, tráfico de armas e de droga, de financiamento do
terrorismo, de favores políticos, de
corrupção, etc, etc. E óbvio que escondem também fugas ao fisco. E que também escondem capitais
legalmente obtidos, mas que, por uma razão ou outra, o dono não quer revelados.
A divulgação dos Panama Papers deve-se a um Consórcio
Internacional de Jornalistas de Investigação e foi feita com grande
sensacionalismo, como resultado, dizem, de investigação de um ano de trabalho.
Todavia, pelo que li, a descoberta não se deveu a qualquer iniciativa ou trabalho do Consórcio, mas a uma oferta de alguém que teve acesso aos ficheiros de uma
sociedade de advogados. Depois, também a avaliar pelo que venho lendo, e no que
a Portugal respeita, não terá havido, qualquer investigação digna desse nome. Pois uma investigação não se reduz e traduz em indicar meia dúzia de nomes, e indiciando apontar outros, mas deixando-os a todos na mesma nebulosa, não distinguindo entre situações criminosas, ilícitas, ilegais ou legais e éticas ou passíveis de algum julgamento ético desfavorável. Por outro lado, não foi feita qualquer distinção entre off-shores puros e centros cobertos, por exemplo, por normas europeias, como o off-shore da Madeira, ou outros, onde o reporte de informação é exigido e cumprido. Tudo
foi colocado no mesmo plano sensacionalista, com nomes lançados à fogueira e
que de imediato vieram a desmentir ou a justificar os seus actos.
Esta informação indiscriminada que, só por si, parece negar qualquer
investigação prévia, só serve para branquear a grave questão dos off-shores. Com
efeito, os continuados desmentidos não desmentidos pelos jornalistas ditos de
investigação que divulgaram as notícias, pelos vistos em bruto, sem tratamento,
acaba por causar o desinteresse do público que deixa de comprar o produto e,
logo, o rápido desinteresse da própria comunicação social perante um mercado já
saturado. De modo que, não tendo sido separado o trigo do joio, a novela irá terminar
abruptamente de um dia para o outro, por cansaço de todas as partes.
Descansam assim os governos que, podendo invocar a
complexidade e diversidade das situações como atenuantes, e que os cidadãos
foram “forçados” a admitir pela controvérsia estabelecida, terão tendência a
nada fazer. Ou então, na atitude mais demagógica de todas, "sancionam" os
prevaricadores, aumentando-lhes os impostos sobre aplicações nos off-shores, como se esse acto não fosse o mais estúpido de
todos. Mas tem sempre servido para enganar pategos, que os governos gostam de ver entretidos, a olhar para o balão.