Contra toda a expectativa (minha, inclusive), a
informação hoje divulgada pelo BdeP relativa à posição das contas externas
no corrente ano, até ao final de Setembro, revela uma considerável
melhoria face aos valores registados em igual período de 2013.
Concretizando, temos os seguintes valores:
- Um saldo positivo da Balança Corrente de € 895,4
milhões, que compara a € 391,4 milhões no mesmo período de 2013 (+ 129%);
- Um saldo positivo da Balança de Bens e Serviços, de
€ 2.170,8 milhões, que compara a € 3.015,6 milhões em 2013 (- 28%);
- Um saldo negativo na Balança de Rendimentos (primários),
de € 2.194,8 milhões, muito inferior ao de 2013, que foi de € 3.276,2 milhões,
ou seja uma melhoria de 33%;
- Um saldo positivo na Balança de Rendimentos secundários
(que inclui as transferências de Emigrantes), de € 919,4 milhões, superior (em 41%9
ao registado em 2013, que foi € 652 milhões;
- Um saldo positivo da balança de capital, de €
1.743,8 milhões, quase inalterado em relação ao de 2013 (€ 1.777,6 milhões);
- Um saldo dos saldos, ou seja Balança Corrente +
Balança de Capital, positivo, de € 2.697,3 milhões, superior em 28,4% ao observado em
2013 (€ 2.101,1 milhões).
3. A partir dos valores atrás indicados, fácil é
concluir que a inesperada melhoria verificada no corrente ano é em boa parte explicada
pela redução do défice na Balança de Rendimentos primários, a qual será
certamente devida à expressiva redução que tem vindo a verificar-se no nível
das taxas de juro que o País paga ao exterior pela enorme dívida que acumulou (para alguma coisa serviu a "maldita" Austeridade)…
4. Mas, mesmo no plano da Balança
Comercial, de Bens+ Serviços, a diminuição assinalada no saldo positivo, de
28%, pode ser considerada pouco expressiva se atentarmos na significativa
recuperação da procura interna que se tem vindo a verificar, em especial do consumo privado, que, como se
sabe, tem contribuído para um forte aumento das importações (sobretudo de bens
de consumo duradouro).
5. Não deixa de ser curioso notar que assistimos,
na semana passada, a mais um incompreensível exercício de lamentação colectiva,
por parte da generalidade dos "media" bem como de boa parte dos "opinion-makers", a
propósito do anúncio do agravamento do défice comercial ( de Mercadorias, não
considerando os Serviços, que também fazem parte do saldo comercial) até
Setembro…
6. Lamentação incompreensível
(para dizer o mínimo), pois esses mesmos "media" e "opinion-makers" de há muito vêm
acusando o Governo de seguir uma cartilha neo-liberal, minimizando o Estado
Social e não apoiando suficientemente o crescimento (leia-se injectando mais
dinheiro na actividade) – posições críticas que, a serem seguidas, teriam
provocado um défice ainda maior na dita Balança de Mercadorias!
7.
Vivemos, efectivamente, num universo mediático em que a mais rematada incoerência
e a falta de conhecimento dos assuntos tratados dão as mãos para informar o público
da forma mais desastrada e (naturalmente) causadora da maior confusão…
8.
Mas uma coisa é certa: assim vamos continuar, pelos tempos mais próximos, para
louvor do Redondismo e do Esquivacionismo…