Artigo que publiquei no DN/JN/Dinheiro Vivo de 25 de Abril de 2020
Este artigo não é politicamente correcto. Mas é verdadeiro.
Desde a adesão à Europa, Portugal beneficiou de cerca de 135
mil milhões de euros ao abrigo dos diversos programas de apoio, um valor equivalente
a 65% do actual PIB português. E desde 1995 recebeu 119 mil milhões, tanto como
o PIB cresceu desde esse ano, o que evidencia, pese assimetrias de comparação, um
grave desperdício na sua aplicação. Salvou-se, até 1995, a boa utilização dos
fundos em programas estratégicos, como o PEDIP, indutores de crescimento. Para provar
o desperdício, o PIB per capita, em termos de paridade de poder de compra, regrediu,
passando de 80,8% em 1995 para 77,3% em 2017.
São
assim excessivas e infundamentadas as críticas à falta de solidariedade da UE e
às reticências de países, Holanda, Alemanha, Áustria e Finlândia, à emissão de
eurobonds, ao ponto de se dizer “ou a UE
faz o que tem de fazer (emitir eurobonds…) ou acabará”. Até porque esses países têm ainda 14 regiões
com um PIB per capita inferior à média da União Europeia, em termos ppc, regiões
onde vivem cerca de 20,7 milhões de habitantes (14,9 milhões de alemães e 5,8 milhões
de finlandeses, holandeses e austríacos) que esperam maior apoio dos seus
governos.
Todos eles são contribuintes líquidos da UE, a Alemanha com
17,2 mil milhões de euros, a Holanda com 4,9 mil milhões de euros, a Áustria
com 1,5 mil milhões de euros e a Finlândia com 700 milhões de euros (números de
2018). E Portugal é o quarto maior beneficiário líquido, com 3,1 mil milhões de
euros.
Os fundos europeus de que Portugal vem beneficiando são provenientes,
no grosso, daqueles países e também do Reino Unido, que conta com 30 zonas
deprimidas entre as 41 em que se divide, o que pode ter constituído uma razão
para a sua saída da EU. Muitos britânicos terão pensado que a contribuição dos
cerca de 10.000 milhões de euros anuais deveriam ser preferencialmente aplicados
no seu país.
Com três resgates e tanto desperdício, mal nos fica falar em
falta de solidariedade e censurar quem nos apoia.
A EU tem sido uma âncora para Portugal. É pois tempo de
Portugal procurar o caminho de melhor governação e disciplina que os povos mais
“frugais” percorreram, não delapidando os recursos suplementares de que vamos
poder dispor. A solidariedade deve ter dois sentidos.