Uma jovem estudante confidenciou-me o seu nervosismo quando soube que o seu namorado, adepto de uma seita religiosa, lhe afirmou que os homens são como são porque Deus assim os criou. Tal e qual! Apesar de ser estudante de história da arte ficou perplexa perante tão inusitada atitude, e não é para menos. Este facto avivou-me os recentes debates sobre a evolução dos seres humanos.
Discute-se muito se o homem está a evoluir ou não. Há quem afirme que terminou há
A descoberta de dois genes envolvidos no desenvolvimento do cérebro, de aparecimento recente, um deles há 14 mil a 60 mil e o outro entre
A sobrevivência da espécie depende hoje mais da tecnologia do que dos genes.
Dentro dos diferentes tipos de evolução, a selecção natural, segundo alguns autores, já não é tão importante. Hoje em dia, mais de 99% dos recém nascidos chegam à idade reprodutiva, enquanto há poucos séculos nem 50% conseguiam atingir esta fase. Este facto permite, para alguns, que os genes não purgados possam manifestar-se ameaçando uma reversão da selecção susceptível de diminuir as defesas favorecendo o aparecimento de doenças.
O carácter particular da Sida em África, prevalência e letalidade elevadas, determinou o aumento da frequência de um determinado tipo de gene que confere alguma protecção contra o HIV-1. Afinal, os genes ainda podem fazer a diferença entre a sobrevivência e reprodução.
O mundo actual é caracterizado por altas taxas de migração, cruzamentos inter étnicos, satisfação fácil do desejo sexual, factos que permitem recombinar os nossos genes a uma velocidade louca. Se juntarmos a tudo isto, o “assortative mating”, facilidade de cruzamentos em função da inteligência, dos traços de personalidade, do estado mental, da saúde física, da urbanização, do nível de educação, nunca a humanidade teve oportunidade de retirar vantagens das novas mutações e de as fixar. Sendo assim o que é que irá acontecer nos próximos mil anos? Ignoramos, porque a evolução não é uma ciência preditiva. De qualquer modo, há quem afirme que as pessoas serão mais belas, mais inteligentes, mais saudáveis e emocionalmente mais estáveis.
Só faltam 40 gerações, mas será que são suficientes para alguns que andam por aí?
5 comentários:
Bem, penso que no sentido da boa evolução da espécie vai a sua aluna a "arrumar" esse namorado de vez...:)
Mas já parece relativamente óbvio que o Darwinismo puro morreu.
Quanto ao namorado, estamos de acordo, é mesmo caso para o Prof. Massano Cardoso a aconselhar. Quanto à espécie, seremos hoje "mais belos, mais inteligentes, mais saudáveis e emocionalmente mais estáveis" do que há mil anos atrás? Sempre era uma esperança para daqui a 40 gerações...
emocionalmente mais estáveis ?
bem, se acharmos a capacidade de fazer mal aos outros de propósito uma características humana, então temos alguma estabilidade.
Mas já a tínhamos !
E pelos visto, vamos continuar a ter ...
caro bota, temos a capacidade de fazer mal como temos a de fazer bem, são precisamente características humanas. O modo como estes dois conceitos evoluem ao longo dos tempos e dos lugares é um bom índice do progresso das civilizações...
Caro Prof. Massano,
Parabéns por este seu post, gostei imenso de o ler.
É claro que tenho de confessar que estou perfeitamente de acordo com o amigo Tóni. A bem da evolução da espécie, o ideal seria que a sua aluna oferecesse uns patins (daqueles de supermercado mesmo, visto que são muito mais baratinhos), ao seu namorado. Por outro lado, não é menos verdade que, em nome da "Tolerância" inter-religiosa, esta não era uma boa forma de promover o "diálogo ecuménico" ou seja lá que diálogo for que anda por aí. Mas paciência, ninguém é perfeito (embora eu me esforce bastante).
Voltando ao seu post, caro Professor, gostei bastante do seu último parágrafo porque me fez lembrar um programa que vi, há tempos, a propósito da beleza. E diziam no dito programa que a evolução dos meios de comunicação deu cabo da estabilidade das relações humanas (incluindo a parte emocional). Ao contrário do que acontecia antigamente (em que se tivéssemos de ficar presos a um estafermo, pois que remédio), de hoje em dia isso já não é bem assim (basicamente, só fica preso a um camafeu quem quer), daí a facilidade com que se salta de relação em relação.
Pessoalmente, não me parece que esta evolução traga mais estabilidade emocional porque, há tanto por onde escolher (quer ao nível nacional, quer ao nível internacional) que, às tantas, uma pessoa baralha-se. Mas, lá está, eu não sou entendido na matéria, nem sei se há estudos cientifícos que apontem nessa direcção. É só a minha opinião.
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