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segunda-feira, 15 de maio de 2006

Gelatologia

O romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, revela uma trama acerca do não acesso a um livro, escrito por Aristóteles, que advogaria o valor e a importância do riso, pondo em causa a lei divina, que, na Idade Média, se impunha através do medo do Inferno, porque o riso é a melhor arma contra o medo.
A origem do riso remonta ao momento em que os primeiros hominídeos se separaram dos macacos. Como não tinham um desenvolvimento cognitivo nem linguagem não eram capazes das manifestações actuais. No entanto, há cerca de 2 milhões de anos, os nossos antepassados começaram a controlar as expressões faciais. Inicialmente, o riso não estava associado com o humor, só muito posteriormente é que alcançou essa ligação. Neste caso, porque é que surgiu o riso? Tudo leva a crer que se trata de um mecanismo de controlo social e forma de comunicar. É comum as pessoas rirem-se durante uma conversação normal, mesmo na ausência de humor. Há como que uma dinâmica de poder. Ao fazer com que o outro sorria revela que se encontra numa posição dominante.
As mulheres riem-se mais do que os homens, apesar destes serem os principais responsáveis pelo riso.
Rir faz bem à saúde. A tal ponto que, segundo alguns estudiosos, é o melhor remédio, aumenta a longevidade, substitui o exercício físico, já que 100 risos equivale a dez minutos de marcha numa máquina de ginásio ou quinze minutos de bicicleta, para não falar de outras virtudes, que as associações criadas para o efeito se entretêm a desenvolver, entre muitas outras iniciativas.
Devido às suas características, quase que podíamos integrar o riso no capítulo de doenças infecciosas, devido ao seu elevado efeito contagioso. Tanto é assim que, em certos programas, é habitual haver alguém a levantar a placa, dizendo à assistência para se rirem naquele momento (mesmo que não haja piada). E funciona! Os gelatologistas (não tem nada a ver com gelados!), especialistas nos estudos do riso, mecanismos e efeitos, têm muito que fazer para explicarem a fisiologia desta característica tipicamente humana.
A minha caixa de correio electrónico entope com frequência inusitada com mensagens e apresentações que focam situações humorísticas. Algumas têm piada, outras menos, ou, então, já estou a perder o sentido de humor, talvez por não achar piada a muitas coisas que andam por aí. Nem os políticos que, tradicionalmente, são objecto de humor conseguem despertar a atenção ou um sorriso, mesmo amarelo. Provavelmente, um dia destes, ainda tenho que consultar um gelatologista…

2 comentários:

Suzana Toscano disse...

De facto, é uma forma de comunicar que vai ficando um pouco esquecida, a favor dos ginásios, dos personal training e de outras formas de queimar energias sem as transmitir aos seus semelhantes (pelos menos as energias positivas, as outras podem ser consumidas num tapete rolante).

Anónimo disse...

Não está nada a perder o bom humor, meu caro Professor. Deixe lá o colega gelatologista dedicar-se a quem precisa. O problema é que cada vez há menos pretextos para sorrir, quanto mais para rir...