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sexta-feira, 12 de maio de 2006

Um olhar para a China

Tenho a percepção de que entramos numa fase de algum delírio colectivo, quando me dou conta das acrobáticas tentativas do marketing oficial para contrariar os efeitos da onda de notícias económicas negativas que, nas duas últimas semanas, dominou os títulos da generalidade dos órgãos de comunicação.
Tenho a percepção de que este não é o melhor processo, de tentar iludir a realidade, mas quem sou eu para emitir juízos a este respeito.
Acho este ambiente pouco interessante e motivador, pelo que me parece boa altura de voltar os olhos para uma realidade diferente.
Ficará para daqui a mais uns dias o próximo “Para onde vamos?”.
Hoje uma curta referência ao que se vai passando com a economia chinesa e para alguns aspectos curiosos que escapam aos habituais comentadores.
Apreciei muito recentemente a nota de um estratega de investimento de um Banco internacional, a propósito da evolução da economia chinesa, no qual ele realçava o facto de existirem actualmente cerca de 300.000 milionários na China (menos de 0,3 por mil da população) e que este número cresce a uma taxa de 14% ao ano.
Se assim for, em 2010 haverá cerca de 500.000 milionários e, dentro de uma década, poderão ser muito acima de 1 milhão.
Estes milionários chineses exibem requintados hábitos de consumo, visíveis em áreas mais desenvolvidas da cidade de Xangai, por exemplo, onde proliferam as lojas de produtos ocidentais de marcas bem conhecidas.
Também mais de 1000 arranha-céus foram construídos na mesma área em pouco mais de uma década, não sendo de excluir que dentro de alguns anos ultrapassem os 6 mil da ilha de Manhattan, New York.
Mais importante ainda, sublinha aquele especialista, adivinha-se a emergência de uma nova fase no crescimento económico chinês, na qual o consumo privado terá um papel muito mais relevante, bem como o crédito ao consumo até agora pouco expressivo.
Esta evolução será acompanhada de um significativo crescimento de uma classe média chinesa – para já num sentido estritamente material, não com as implicações sociais e políticas que no ocidente se associam à emergência de uma classe média - o que criará imensas oportunidades para as industrias ocidentais de produtos de consumo, sobretudo de consumo duradouro.
Entretanto, as reservas em divisas ocidentais da China (USdólares, euros e ienes sobretudo) vão crescendo para níveis quase astronómicos, devendo ultrapassar no corrente ano um milhão de milhões (um trilião) de US dólares, tornando possível uma expansão do crédito à economia em escala significativa.
As taxas de investimento continuam das mais elevadas do mundo, contribuindo para uma taxa de crescimento do PIB que se mantém em torno de 10%.
Sem dúvida, uma interessante oportunidade para certos produtos portugueses procurarem aquele mercado designadamente o vinho do Porto e talvez os vinhos de mesa. E porque não uma promoção a sério da nossa oferta turística?

5 comentários:

trainzeiro disse...

o crescimento económico é uma invenção para explorar os recursos e as pessoas.
A Europa e os EUA já estouraram. Aseguir serão os asiáticos e deposi os africanos.
Depois a inxistência de energia para alimentar esta trampa toda, dará cabo do resto.
Por mim, vou comer uma favada enquanto as há.

Anthrax disse...

Sabe de uma coisa Dr. TM, em 1991 - quando eu entrei para a Universidade - já se falava na emergência da China e nós, que na altura até tínhamos Macau, nunca fizemos nada (ou fizemos muito pouco), para lá promover o nosso País.

É impressionante a quantidade de oportunidades que se perdem por falta de visão, ou por falta de estratégia.

Às vezes, ponho-me a ouvir as reclamações de alguns amigos ou famíliares que gerem os seus próprios negócios. As expressões mais utilizadas são: "É difícil", "O negócio vai mal", "Não há dinheiro", "São uns gatunos!", "Não me pagam!", "Já estou farto disto!", etc. E eu fico a olhar para aquilo e só vejo cifrões e oportunidades.

Normalmente, fico caladinho e não digo nada porque os "gestores" são eles e se eu abro a boca, saltam-me em cima com grandes teorias económicas que eu não percebo (mas que tudo bem resumido são, no meu entender, apenas justificações rebuscadas para não andar para a frente).

E estas coisas como a questão da China, ou a questão da refinaria, ou outra coisa qualquer, são um bocado isso também. É quase como se todas essas teorias servissem de sustentação racional para algo que, na realidade, é só uma espécie de míopia estratégica.

CCz disse...

A McKinsey num dos relatórios de 2006 sobre tendências, prevê que em 2015 existam na China 100 milhões de famílias (300 milhões de consumidores) com um rendimento médio semelhante ao rendimento médio da UE.

Tavares Moreira disse...

Carríssima Clara Carneiro, a razão pela qual o Pinho Cardão procurou "bouleverser" a sua iedia de venda de pudim Abade de Priscos para a China é perfeitamente entendível para quem o conhece bem.
O Pinho Cardão é um apreciador feroz desse pudim e receia - com alguma razão - que uma vez iniciadas as exportações para a China já nada sobrasse para ele.
Como vê, não existe qualquer maldade por parte do PC mas apenas a defesa de um hábito de consumo dos primeiros da sua lista de preferências.

Tavares Moreira disse...

Sugestão que não posso adiar: criação imediata da Confraria do pudim Abade de Priscos, tendo como primeiro Presidente o Pinho Cardão, a Clara Carneiro como Madrinha, eu ofereço-me para participar no jantar de lançamento da iniciativa.
Aceitam-se inscrições para a assembleia constitutiva.