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segunda-feira, 11 de junho de 2007

ESCUTAR, uma capacidade muito valiosa...

Neste fim de semana que passou, numa conversa ao serão, daquelas em que não damos pelo passar das horas, tão bem nos sentimos na companhia dos amigos e confortáveis estamos pelo fluir dos assuntos e coisas interessantes que uns e outros vão dizendo, falou-se da importância do pensar e do escutar. Escutar, coisa bem diferente de ouvir! Enfim, um assunto, à primeira vista transcendental, sem que se vislumbre para muitos alguma coisa de relevante!?
Todos concordámos que a todos faz falta mais tempo e mais disciplina para pensar e escutar e acabámos por concluir que parte desta deficiência se prende com a educação e com a falta de consciência própria de que nos faz bem pensar e escutar e aos outros também.
Pensar e escutar são capacidades fundamentais para uma boa comunicação. De facto são essenciais para todos os campos da nossa vida. Dependendo, é claro, das nossas profissões uma boa fatia do nosso tempo deveria ser dispendida a pensar e a escutar, deixando uma fracção mais reduzida do tempo para falar e escrever. Mas não é de facto assim que as coisas acontecem…
Sobre este tema transcrevo uma pequeníssima passagem de um livro maravilhoso de M. Scott Peck “O CAMINHO MENOS PERCORRIDO E MAIS ALÉM” (1997):
Muitas pessoas pensam que escutar constitui uma interacção passiva. É exactamente o contrário. Escutar adequadamente é um exercício activo da nossa atenção e, por consequência, um trabalho árduo. É por não se aperceber disto ou por não querer ter o trabalho requerido, que a maioria das pessoas não escuta bem. Quando nos dispomos a escutar e comunicar de forma adequada, conseguimos dar um passo extra ou fazer um quilómetro suplementar.
Escutar exige igualmente total concentração sobre outra pessoa, e constitui uma manifestação de amor no sentido mais lato da palavra. Uma parte essencial da escuta é a disciplina de saber fazer um parêntesis, desistir ou pôr de lado temporariamente os nossos próprios preconceitos e quadros de referência e desejos, por forma a experimentar o mais possível o mundo da outra pessoa a partir do seu interior, colocando-nos no seu lugar
.”
Tudo isto exige energia e paciência e a maior parte das vezes porque não as temos ou porque não as queremos ir buscar, não escutamos ou então escutamos aquilo que mais nos interessa ou simplesmente ouvimos.
Tantas vezes que damos connosco a procurar acabar com a conversa o mais depressa possível ou então a direccioná-la pura e simplesmente para onde nos dá mais jeito porque nos recusamos a ouvir aquilo que não queremos! Pelo contrário se escutarmos conseguimos, com maior probabilidade, avançar na compreensão de um processo ou de uma ideia, na fundamentação e conforto de uma decisão, na percepção e significado de vários pontos de vista, etc. E seremos, por certo, mais compreendidos e respeitados pelos outros.
A capacidade de escutar é algo que se aprende e treina. Requer esforço, mas como tudo o que implica empenho vale bem a pena. Porque vale sempre a pena fazer as coisas bem feitas. Enriquece-nos em todos os sentidos…

11 comentários:

Suzana Toscano disse...

Este tema é muito interessante e sempre oportuno. Conversar é confluir, intergir, e é uma capacidade que tem que estar sempre presente, seja no trabalho seja na família ou com os amigos. Nada mais deprimento do que participar numa reunião de trabalho (e se há muitas!...)em que se chega à conclusão que não se aprendeu nada, em que todos estiveram a falar com os seus botões com o décor de uma plateia de cabecinhas silenciosas. Só tem capacidade de escutar quem souber falar, quem tem o cuidado de perceber a quem se dirige e de querer captar a sua atenção. Mas o que se nota é que as pessoas vivem cada vez mais nos seus mundos fechados, procuram informação sozinhas, distrem-se sozinhas a ver televisão ou a navegar na net, sente-se cada vez menos dependência de ter quem oiça e de ser ouvido. De modo que a arte de conversar - dizer e escutar, emissor e receptor - vai-se tornando uma raridade. A boa notícia é que não morreu, como mostra o sucesso dos blogues e a adesão espontânea aos que conseguem essa maravilhosa arte de suscitar o interesse de ler e de participar, alargando o círculo a quem não se conhece, mas cuja carta de apresentação é exactamente a mesma vontade de conversar.Mas é um facto que é cada vez mais difícil criar esse ambiente, exige esforço e disponibilidade mental e de tempo, mas é sempre um tempo muito bem empregue!

Suzana Toscano disse...

Desculpem as gralhas, devia ter revisto antes de carregar no botão...;)

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
Nos anos sessenta, iniciou-se entre nós a então chamada formação profissional acelerada, sistema de origem francesa que fez a sua época e que ainda formou,não acredito que continue a formar, tais as voltas que o ensino técnico tem sofrido, para diversos ramos de actividade industrial, mão-de-obra qualificada, em diversas também, especialidades. Mas vem isto a propósito que um dos pilares desta nova pedagogia de então, era exactamente o dom de escutar, pelo que na formação de professores e monitores, era-lhes inculcada e bem , a indispensabilidade de ao transmitirem os seus conhecimentos aos estagiários terem sempre em boa conta a faculdade de se fazerem escutar e não ficarem apenas pela simples e banal acepção do que se entende por ouvir, tal a aleatoriedade que o conteúdo desta expressão significa.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
É verdade que as televisões e as nets trouxeram coisas boas e é inegável que constituem uma conquista da sociedade moderna. Hoje é impensável pensarmos que poderíamos viver sem a sua presença. Um pouco como acontece com os telemóveis. Com seria se não existissem, interrogamo-nos. Mas já houve tempos em que vivíamos sem eles. Mas nessa altura não faziam falta.
Como em tudo na vida, os excessos não são bons. Os excessos das televisões e das nets levam as pessoas a centrar a comunicação através dos ecrans. Assim se têm perdido hábitos de falar, conversar, escutar, contrapor e argumentar. Com efeitos negativos nas faculdades de pensar, ler e escrever.
Diz-se que com as televisões e as nets há mais acesso a informação, que as crianças hoje em dia são mais espertas, e por aí fora...
Mas informação não é necessariamente conhecimento. Escutar é sim um investimento em conhecimento. São coisas diferentes.
Aqui no 4R sabemos escutar, aprendemos muito e ganhamos em conhecimento. Conhecemos pessoas muito interessantes e trocamos com profundidade e elegância as nossas opiniões. Um bom exemplo do que é ESCUTAR...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro antoniodasiscas
Velhos e afinal bons tempos. Pena que se tenham perdido essas preocupações de incutir nos formadores e monitores a necessidade de escutar.
Para sermos escutados temos, também, de saber escutar. Na transmissão do conhecimento é essencial escutar. Escutar também se aprende. Valeria a pena investir nesta vertente, fazendo desta "arte" uma permanente exigência ao longo da vida escolar...

Bartolomeu disse...

Este, é mais um dos deliciosos textos a que me habituou.
Delicioso em diversos aspectos, mas principalmente, porque convida ao exerício da reflexão. Concordando com o que expõe e o que cita, apresenta-se-me um comentário: em jeito de complemento às suas considerações, sou convícto de que também é importante o exercício de dizer, que pode tambem ser diferente de falar. Escrever, de forma a estabelecer uma corrente de pensamento e de interacção, considero que será em alguns aspectos a sublimação dos dois exercícios, escutar e dizer.
Porem, e para concluir, quem lê aquilo que alguem escreve, deseja sempre, através da escrita, encontrar a imágem. É no meu ponto de vista um exercício que requer extrema capacidade de concentração, treino e habito de leitura, que por razões diversas, não são habituais na nossa cultura. Por isso consideramos excelentes aqueles escritores que conseguem magistralmente criar imagens e conseguem ainda o prodígio de inserir o leitor dentro dos ambientes que criam.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Gostei muito de o “escutar”. É para mim muito agradável e estimulante partilhar neste espaço do 4R pensamentos e olhares de natureza mais sociológica. Dos outros também gosto, mas gosto especialmente daqueles porque fazem bem à alma – à minha fazem - e ajudam a compreender melhor a vida e o mundo.
Sem dúvida que o escutar e dizer são complementares e que é na escrita que encontram a sua sublime expressão.
Muito interessante o seu apontamento de que “…alguém que escreve, deseja sempre, através da escrita, encontrar a imagem”. E acrescentaria, que deseja também que essa imagem seja encontrada pelos outros. Afinal, quando nos expressamos, escutando, falando, dizendo, escrevendo, lendo, procuramos uma imagem de nós próprios e que os outros a entendam como tal ou que nela reflictam a sua própria fantasia. É fantástico que através da escrita e da sua leitura consigamos desenhar as imagens, como quem está a percorrer um caminho ou uma história ou um filme ou uma sequência de fotografias …

Great Houdini disse...

Cara Margarida, bem já se torna repetitivo, ma com um carambas está muito bom ... Faz sempre a malta, meditar um poucadito =)os post da cara e estimada Margarida é por assim dizer um ginásio mental.

Escutar esse sentido esquecido da comunicação, como diz muito bem escutar seja com os ouvidos ou com os olhos nunca é um acto passivo.

Como diz o caro Bartolomeu “alguém que escreve, deseja sempre, através da escrita, encontrar a imagem”, mas a imagem transmitida é uma, e cada um vai encontrar uma diferente. Aí está a magia de escutar é a criação do nosso mundo, do nosso entendimento, quanto melhores ouvintes melhor vai ser o mundo construído.

Daí um escritor, já não me recordo de quem, dizer os meus livros não são meu são de quem os lê. Logo faz todo o sentido dizer que o bom livro é também em parte criado pelo bom leitor e a boa conversa pelo ouvinte capaz.

Bem já falei muito num post para meditar, para se ouvir ...

Massano Cardoso disse...

Escutar é uma das artes mais difíceis. Pode-se aprender a cultivá-la de facto, mas os poucos cultivadores devem, por qualquer razão, nascer com esta propensão.
Quando ouço falar sobre este tema, recordo de um amigo, que já morreu, a quem devo muito. A sua principal característica? Saber escutar. Quando falava era sempre para rematar de uma forma surpreendente. As suas frases sintetizavam o seu pensamento, com a particularidade de não mais as esquecer. Estou convicto que dentro das inúmeras pessoas com quem convivi e aprendei, foi, com toda a certeza, um dos que mais me marcou. Ainda hoje recordo, com uma nitidez impressionante, as suas frases e pensamentos. Afinal, falar pouco e saber escutar marca muito, mas mesmo muito...
Talvez um dia escreva a seu propósito...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Great Houdini
Não tinha ainda pensado na imagem do "ginásio mental". "Carambas" é mesmo engraçada...
Deixo-lhe ficar esta citação de François Mauriac que simboliza bastante bem a empatia que se obtém quando duas pessoas se sabem escutar:
"Diz-me o que lês, dir-te-ei
quem és", é verdade, mas
conhecer-te-ei melhor se me
disseres aquilo que relês.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Sem dúvida que escutar é uma arte. Não será errado dizer que é um dom. Quem não o tem pode, de certa forma, aprender a cultivá-lo. Mas não é comum, até porque as pessoas não sabem da sua existência adormecida ou desistem de o fazer porque não chegam a começar.
Escutar é uma vantagem de que todos podem beneficiar. Mas quem escuta ganha em clareza e em confiança, o que lhe pode proporcionar uma posição ímpar!
"Talvez um dia escreva a seu propósito...": escreva porque vamos com certeza escutar...