Segundo ontem se apurou, a posição oficial do Governo quanto à baixa de impostos, será balizada pelos seguintes princípios:
- Nunca antes de 2010, quando o défice público se mostrar suficientemente baixo;
- Mas não abdicando de o fazer em 2009.
Trata-se de uma posição relativamente à qual, concordando-se ou discordando-se, cumpre reconhecer que se apresenta com clareza meridiana, não suscitando a menor dúvida de interpretação.
Esta claríssima posição foi expressa em duas declarações do Ministro das Finanças, proferidas nos últimos dois dias, com escassas horas de intervalo.
Avanço desde já que tenho o actual Ministro das Finanças na conta de uma pessoa responsável, embora discorde de algumas das suas opções de política.
O Ministro começou por proferir uma declaração em que afirmava o primeiro dos princípios acima enunciados – descida de impostos nunca antes de 2010- em linha com uma posição que é pelo menos coerente.
É claro que esta posição não deve ter caído bem na Central do Marketing Político (CMP) que trabalha já, com notável afã, na montagem dos melhores cenários para 2009.
Compreende-se que, após muito provável chamada de atenção da CMP, o Ministro tenha vindo corrigir o tiro, dando o dito por não dito e criando esta fórmula de quadratura do círculo.
Tenho por quase certo, após este episódio, que vamos ter mesmo descida de alguns impostos – avanço como mais prováveis o IVA e o IRS – em 2009.
É claro que essa descida de impostos será saudada por laboriosos media como o resultado da excelente consolidação orçamental (por muito precária que esta se mostre).
E será oficialmente justificada como a natural sequência do trabalho de saneamento das finanças públicas encetado em 2005 e em nome do interesse da economia nacional.
Uns e outros contradizendo posições anteriormente assumidas na matéria, mas sem qualquer problema que a memória dos povos é curta como se sabe.
O maior embaraço estará nas vestais do regime que, em cega obediência ao politicamente correcto, vêm advogando com tanta energia a insanidade que representaria uma descida de impostos - e que, sejamos objectivos, daqui por um ano muito dificilmente terão motivos suficientes para abandonar essa posição.
É capaz de ser interessante assistir a formidáveis acrobacias de algumas vestais menos pudicas, descobrindo obra de consolidação suficiente nas entranhas mais profundas das contas públicas e aplaudindo a descida dos impostos…
Outras, mais pudicas, mesmo assim resignar-se-ão, dizendo que esperam para ver…
E que fará também o PSD agora convertido, nesta matéria, ao politicamente correcto?
Vai dizer que não à baixa de impostos? Cair-lhe-á então toda a gente em cima, parece que ainda não perceberam…
Promete muito este espectáculo…Espero comentar da bancada, pode vir a ser mesmo empolgante.
20 comentários:
Bem, como daqui a um ano a despesa vai estar uns 5% acima, aposto que a descida dos impostos vai ser uma daquelas em que descem o IRS 5% e sobem os impostos do tabaco, dos combustíveis, do alcool e de mais coisas que se encontrem para aí que façam mal à saúde e ao ambiente.
Não será uma subida de impostos mas sim uma medida correctiva de natureza económica conduzente à erradicação dos efeitos nefastos que o consumo desses produtos trazem à sociedade.
Mas, já agora que o PSD percebeu que descer impostos é tão mau como subi-los, alguém já ouviu alguma proposta para reduzir a despesa para 2008 ou vai-se manter nas propostas para as contas de 2005?
Não percebi a posição ofícial do governo...
Então mas 2010 não é depois de 2009?
Ainda no outro dia ouvi TEixeira dos Santos a defender efusivamente uma não descida dos impostos. Disse que tal seria uma atitude irresponsável e que estragaria todo o trabalho até aqui feito. O CMP discorda e dá um puxão de orelhas ao menino irreverente que quer resolver o orçamento. Pelos vistos o menino não percebeu que o debate do orçamento é só para entreter. Debater o que já está decidido...
A minha carteira agradece uma descida dos impostos, o meu futuro nem por isso.
Saudações Republicanas
A proposta dos eurodeputados socialistas não é má de todo. Baixar o IVA no preço dos preservativos...
(fonte j. público)
Caro Tavares Moreira:
E se a VW resolver fechar a AutoEuropa? (Depois do que li no Público de hoje... se calhar já esteve mais longe)
Vai ser bonito!!!
Um aparte, proponho que se dividam os apoiantes da redução dos impostos em 2 categorias: a) os que acreditam que deve ser feito porque existe "margem"; e b) os que acreditam que deve ser feito, haja margem ou não, porque precisamos de mudar de paradigma.
Tonibler,
Não bata mais no PSD, homem!
Não vê que aquela boa gente nem percebeu que estar contra a descida de impostos, neste contexto, significa meterem-se num monumental sarilho daqui por doze meses?
Seja "mercy" para com o seu próximo que sofre, que até estamos próximos do Natal!
Anthrax,
Como escobriu que 2009 é antes de 2010? Onde é que isso vem explicado?
André,
Excelente a distinção entre carteira e futuro, só que não estamos de acordo...não esqueça que sou um dos "economistas" incompetentes, insensatos, que advogam, nas actuais circunstâncias, uma descida de impostos com uma finalidade patriótica - tirar espaço ao crescimento da despesa!
Ccz,
Permita-me que acrescente uma 3ª categoria: os que estão fartos de ser castigados com impostos!
Mas porque é que ninguêm advoga a descida de impostos para libertar recursos para investimento?
E não esquecer o mais importante - baixar as prestações sociais para as empresas poderem contratar pessoas.
Não vale a pena darmos mais voltas à temática do crescimento. Só estas duas medidas o poderão reactivar.
Caro agitador:
Ninguém advoga a descida dos impostos?
Nós, cá na 4R, não temos feito outra coisa!...
Convém é aos políticos profissionais que os impostos não desçam, para poderem distribuir à vontade, para sua própria honra e glória, o que esbulham aos cidadãos!...
O caro Dr. Pinho Cardão tem sido exemplar, mas gostaria de ver mais enfase no objectivo de libertação de recursos para investimento e não tanto para baixar a despesa.
É uma questão de discurso, mas é importante que as pessoas percebam que o crescimento económico está directamente ligado ao investimento e só os privados estão em condições de o fazer.
Caro Agitador,
Agite, agite, que é bem preciso...Meu caro, a descida dos impostos, para forçar a descida da despesa, tem como consequência precisamente libertar recursos para investimento produtivo...e, do mesmo passo, incentivar o investimento oferecendo melhores perspectivas de retorno do capital investido...
Não deixa de ser paradoxal que o investimento puramente financeiro tenha hoje em Portugal um tratamento muito mais favorável do que o investimento directo na actividade económica, que gera valor, cria emprego e rendimento.
Dr. TM!
Pois não sei como é que descobri isso. Acha que devíamos avisar os moços do governo? Ou guardamos o segredo só para nós?
Se calhar é melhor ficar entre nós que é para eles não pensarem que estamos a querer boicotar alguma coisa.
Ahhhhhh!... Desculpem lá, isto agora não tem nada a ver, mas a Força Aérea anda a cobrar às pessoas que salva o serviço de as terem ido salvar?... A sério, acho que devo ter ouvido mal. Esperem lá que eu tenho que ir ouvir aquilo.
Caro Tavares Moreira,
A descida dos impostos força a descida da despesa imediatamente após:
- Não se conseguir fazer EP's de serviços de ministérios;
- Não se conseguir antecipar mais proveito futuro nenhum;
- Não se conseguir diferir gasto nenhum;
- Não se deixar esquecida nenhuma factura; ou
- Não conseguirem aldrabar mais nenhuma conta.
Assim que me disserem que o governo já não tem possibilidade de fazer estas coisas, aí acredito que a descida dos impostos força a descida da despesa. Até lá tenho que suportar os custos de ter os governantes que os meus compatriotas escolheram.
ih ih ih ih ih ih!!! É mesmo verdade. A Força Aérea está a cobrar os salvamentos que faz.
Pessoalmente, estou de acordo com o Dr. TM. Não sou grande entendido na matéria, como todos sabem, mas acredito que aquilo que faz mexer a economia é - de facto - o consumo com tudo o que tem de bom e tudo o que tem de mau. E baixar os impostos é uma maneira de se reduzir a despesa (porque basicamente quem não tem dinheiro, não tem vícios e se o Estado não consegue parar de comer chocolates por si só, então há que parar de lhe dar bonbons... até porque começam a escassear).
Aquilo que se passa em termos de impostos é uma vergonha. Os tipos andam atrás de tudo o que mexe e de tudo o que pensam que mexe mas já não mexe. Parecem umas hienas esfomeadas. Eles estão numa verdadeira cruzada contra os cidadãos e contra as empresas. Não respeitam nada, nem ninguém e ainda se arrogam o direito de intervir em áreas que não lhes compete.
O mais grave é que a maior parte das pessoas é tonta o suficiente para lhes dar o amém e não conseguem ver que estamos a ir numa direcção muito errada. Qualquer pessoa normal, com um Q.I. absolutamente normal, que ande pelas ruas de Lisboa (ou por outro sítio qualquer) consegue perceber que algo muito errado está a acontecer e isso preocupa-me (mesmo quando passo a maior parte do tempo a brincar com tudo e com todos).
Caro Tonibler,
Tem razão, em boa parte. No entanto, essas técnicas que se podem abrigar no conceito genérico de entapetamento, tenderão a ser cada vez mais difíceis com o escrutínio, embora ao retardador, do Eurostat.
Por conseguinte, a redução de impostos, ao forçar os artífices orçamentais a recorrer à tecnologia do tapete - presentemente usada em grande escala, reconheço, para encobrir a tremenda fragilidade da "consolidação orçamental" - acabará sempre por produzir o seu efeito, meu Caro.
Não tão efectivo como seria desejável, é certo, mas mesmo assim algum.
Anthrax,meu Caro,
Julgo que devemos guardar bem este segredo, não vá o ataribunal de Contas descobrir...
Então queria que as criaturas fossem salvas sem nenhum contributo para o erário público?
Isso não seria próprio de um regime socialista, concordará...
Tem razão, o fisco anda de cabeça perdida, numa caça demencial ao contribuinte. Julgo que se estão a cometer atrocidades, com sistemáticos atropelos à lei e isto vai certamente dar mau resultado...espere para ver.
Camarada Anthrax,
É o princípio do utilizador-repagador. O contribuinte só paga a possibilidade de vir a ter esse serviço. Quando necessitar dele vai ter que pagar na mesma.
Também podemos encarar esse pagamento do serviço de salvamento no mar como uma taxa moderadora, para que o utilizador não abuse dos naufrágios....
Aquilo que não podemos fazer é questionar a razão pela qual pagámos aqueles submarinos do Portas.
Distinção sublime essa, Tonibler, que vai à essência socialismo imperante:
-Uma coisa é ter direito aos serviços públicos, para o que pagamos os "nossos" impostos;
- Outra coisa é a utilização desses serviços, para o que temos de pagar segunda vez (no momento em que utilizamos, o dinheiro dos impostos já se evaporou em despesas de utilidade superior...)
Quanto aos submarinos a que dá o nome do Caudillo do CDS/PP, a distinção nem se coloca uma vez que nunca deixaremos de os pagar, tal como em relação a outras despesas faraónicas, e não temos a possibilidade de os utilizar...A não ser que nos alistemos na Marinha, como voluntários.
Caro Tavares Moreira,
Se assim não fosse, tínhamos todos os pobretanas deste país a usar os serviços publicos de borla, o que seria despretigiante para os serviços e claramente lesivo do progresso económico e social.
Ora aí tem, meu Caro, o maior risco para o socialismo imperante seria precisamente o de os pobretanas algum dia terem a veleidade de deixar de o ser...o socialismo teria a sua missão extinta, o que seria uma tragédia...
Há que os manter em estado de permanente necessidade, através de medidas de grande alcance social como essa do utilizador-repagador, assegurando assim a perenidade do projecto socialista.
Pelo caminho vão aparecendo alguns compinchas como o famoso Caudilho por V. Exa. nomeado que, a pretexto de um heroico combate ao socialismo, acabam ao invés por contribuir para o revigoramento desse projecto.
"estão a cometer atrocidades, com sistemáticos atropelos à lei e isto vai certamente dar mau resultado...espere para ver"
o resultado será SECAR A ECONOMIA. Não haverá recursos pela inexistência dos mesmos e pela falta de disponibilidade para os empregar na tal economia que cria empregos e gera valor.
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