Servindo mal os cidadãos, muitos serviços públicos, nacionais e comunitários, ainda nos tratam, ou impõem que nos tratem, como verdadeiros atrasados mentais. É o caso daquelas alminhas do Serviço de Protecção Civil, que nos mandam agasalhar, quando está frio, vestir roupa leve, quando está calor, ou usar guarda-chuva, quando chove. Mas os exemplos multiplicam-se.
No passado fim-de-semana, ao tomar o pequeno-almoço num hotel do Porto, deparei com um aviso na torradeira, em português e inglês: CUIDADO, PODE QUEIMAR-SE. Ao que me disseram, é obrigatório o Aviso!...
Ontem, numa oficina, e enquanto esperava, distraí-me a olhar, com alguma atenção, o livro de instruções do meu carro: um enorme calhamaço, talvez tão grande como a Constituição, 480 páginas, formato 18 x 14 cm!... Fiquei espantado: praticamente todas as páginas incluíam conselhos, sinais vermelhos de advertência e de perigos de acidentes vários... A acreditar, o meu carro era uma verdadeira máquina de espalhar terror!...
Segundo o Manual, utilizar o carro, mesmo antes de o colocar em marcha, traz perigos iminentes. Daí os alertas, bem a vermelho, para o perigo de entalar os dedos, ao fechar a porta, ou de ferimentos, ao ajustar o banco. Apenas dois exemplos de uma numerosa lista!...
E se tiver ousados acompanhantes, eles nem sonham as armadilhas e perigos que os espreitam, o menor dos quais é poderem ficar com o pescoço entalado, se fechar o vidro sem pré-aviso. Se tiver amigos distraidamente a conversar cá fora, sou alertado para a enorme probabilidade de ficarem entalados, se fechar rapidamente a mala. Também me dizem que não devo ainda deixar a chave no carro, sobretudo quando nele estão crianças. Ah! E que o transporte de pessoas deve ser feito apenas nos bancos!... E que, antes de iniciar a viagem, devo libertar todos os vidros de neve, porque prejudicam a visão. Temendo ainda pela minha saúde, avisam-me que devo pegar no isqueiro apenas pelo botão, pois, de contrário, posso queimar-me!...Por fim, dizem-me que não devo substituir uma roda senão por outra de tamanho igual!...
Quando tive o carro pronto, e mostrando-lhe o livro, resolvi perguntar ao Director se era actividade lícita colocar carros assim perigosos nas mãos dos clientes.
Normas da CE, Sr. Dr. Pinho Cardão. E, por outro, o fabricante não pode correr riscos, respondeu-me!...
Pensei então que, nunca como agora, centenas de milhares de carros recolhem anualmente às oficinas, para substituição de peças com defeitos de fabrico, resultante das reduções drásticas de custos que os fabricantes impõem aos fornecedores, prejudicando a qualidade e podendo provocar, aqui sim, acidentes muito graves!...
No entanto, os fabricantes, bem ajudados pelas bem iluminadas burocracias comunitária e nacional, preocupam-se com o facto de eu, atrasado mental, poder chamuscar o dedo, por não saber pegar no isqueiro!...
No passado fim-de-semana, ao tomar o pequeno-almoço num hotel do Porto, deparei com um aviso na torradeira, em português e inglês: CUIDADO, PODE QUEIMAR-SE. Ao que me disseram, é obrigatório o Aviso!...
Ontem, numa oficina, e enquanto esperava, distraí-me a olhar, com alguma atenção, o livro de instruções do meu carro: um enorme calhamaço, talvez tão grande como a Constituição, 480 páginas, formato 18 x 14 cm!... Fiquei espantado: praticamente todas as páginas incluíam conselhos, sinais vermelhos de advertência e de perigos de acidentes vários... A acreditar, o meu carro era uma verdadeira máquina de espalhar terror!...
Segundo o Manual, utilizar o carro, mesmo antes de o colocar em marcha, traz perigos iminentes. Daí os alertas, bem a vermelho, para o perigo de entalar os dedos, ao fechar a porta, ou de ferimentos, ao ajustar o banco. Apenas dois exemplos de uma numerosa lista!...
E se tiver ousados acompanhantes, eles nem sonham as armadilhas e perigos que os espreitam, o menor dos quais é poderem ficar com o pescoço entalado, se fechar o vidro sem pré-aviso. Se tiver amigos distraidamente a conversar cá fora, sou alertado para a enorme probabilidade de ficarem entalados, se fechar rapidamente a mala. Também me dizem que não devo ainda deixar a chave no carro, sobretudo quando nele estão crianças. Ah! E que o transporte de pessoas deve ser feito apenas nos bancos!... E que, antes de iniciar a viagem, devo libertar todos os vidros de neve, porque prejudicam a visão. Temendo ainda pela minha saúde, avisam-me que devo pegar no isqueiro apenas pelo botão, pois, de contrário, posso queimar-me!...Por fim, dizem-me que não devo substituir uma roda senão por outra de tamanho igual!...
Quando tive o carro pronto, e mostrando-lhe o livro, resolvi perguntar ao Director se era actividade lícita colocar carros assim perigosos nas mãos dos clientes.
Normas da CE, Sr. Dr. Pinho Cardão. E, por outro, o fabricante não pode correr riscos, respondeu-me!...
Pensei então que, nunca como agora, centenas de milhares de carros recolhem anualmente às oficinas, para substituição de peças com defeitos de fabrico, resultante das reduções drásticas de custos que os fabricantes impõem aos fornecedores, prejudicando a qualidade e podendo provocar, aqui sim, acidentes muito graves!...
No entanto, os fabricantes, bem ajudados pelas bem iluminadas burocracias comunitária e nacional, preocupam-se com o facto de eu, atrasado mental, poder chamuscar o dedo, por não saber pegar no isqueiro!...
8 comentários:
Precisamente, caro Dr. Pinho Cardão, é esse o ponto fulcral de toda a questão. Para que o meu amigo, não venha a cometer a veleidade de processar a marca por danos fisicos que lhe sucedam devido a falta de informação, eles pespegam-lhe com o volumoso manual. Para evitar ainda que o caro Dr. os processe por acidentes de viação, ocorridos devido a deficiência de peças, os "artistas" escudam-se nos contratos com os fornecedores das mesmas. Isto equivale a dizer que, se o caro Dr. se "estampar" com o pópó (o diabo seja cego, surdo e mudo) vê-se em palpos de aranha primeiro que consiga encontrar o verdadeiro responsável pelo fabrico da peça defeituosa.
às tantas o fabricante da peça, transfere a reponsabilidade para o fornecedor da liga metálica, ou para o fabricante da máquina que moldou, ou que fundiu a peça, ou para a empresa de construcção civil que construiu a fábrica e não deixou o chão nivelado, ou... ou... ou...
A propósito caro Dr. Pinho Cardão, qual é a marca do carrinho?
Só para estar prevenido...
Não, não, desculpe não me fiz entender. Não é para estar prevenido na compra de um igual... é para não me aproximar da estrada quando aparecer algum da mesma marca... foge!!!!
;)))))
Ah ah ah ah ah ah!!! :)
Bom post, Dr. PC!
Falando de coisas inteligentes, no outro dia a minha mãe levou o carro à inspecção e a viatura foi chumbada.
Então quais foram os problemas detectados na mesma. Em 1º lugar a direcção estava desalinhada (ok, devia estar alinhada porque pode ser mau). Em 2º lugar, os pneus não eram aqueles que constavam do livrete (curiosamente eram os que vinham com o carro quando ele veio da fábrica da Mercedes) e finalmente, a 3ª falha foi porque o amarelinho da matrícula traseira estava desmaiado.
Fiquei a olhar para ela, sim... o amarelinho desmaiado é muito perigoso. Aliás, sempre que o amarelinho desmaia é o pânico generalizado na segurança rodoviária. Não sei se a Protecção Civil não devia ser avisada cada vez que há um amarelinho que desmaia.
Portanto, Dr.PC, fique alerta se o seu automóvel já é uma máquina de espalhar terror, imagine a calamidade que não é se ainda por cima ficar a braços com o amarelinho desmaiado.
É por essas e por outras que tenho o hábito de não ler as instruções. Carrego nos botões e logo se vê! Só em caso de "desespero é que vou ler o respectivo capítulo...
Estou a lembrar-me também, caro Cardão, da "literatura" que acompanha certos medicamentos - a chamada bula. Prenuncia habitualmente tais desgraças que, ao doente, só resta pôr imediatamente de lado o remédio, não vá morrer da cura.
Por mim, deixei de ler tão aterradores manifestos, só assim tendo passado a cliente feliz da indústria farmacêutica.
Um abraço (cheio de saúde).
Caro bartolomeu:
Pois não tem por onde fugir, que carros como o meu já são mais que muitos!...
Caro Anthrax:
Então não vê que é o perigo amarelo!...
Caro Professor:
Sempre inteligente!... Professor é Professor!...
Caro Torquato:
Ora aí está um "doente" exemplar:confiança ilimitada nos médicos e desconfiança total nos prospectos dos medicamentos!...
Li este post e, embora compreendendo e concordando com a lógica que lhe deu origem, ponho-me também a pensar na sociedade actual. Sobretudo desde o pós-guerra, a vida dos cidadãos ocidentais tornou-se cada vez melhor e mais facilitada. E isto é de louvar, claro. Porém, estas maiores facilidades, tiveram um efeito pernicioso que foi as pessoas deixarem de pensar. Dada a maior facilidade em obter bens, serviços, tudo aquilo de que se necessita normalmente, o cérebro ficou embotado, as pessoas deixaram de estar alerta, quase diria até que o ser humano ocidental perdeu o instinto de sobrevivencia e deixou de pensar em coisas óbvias, precisamente porque não precisa pensar nelas normalmente, não está desperto. Ora, do deixar de pensar nas coisas mais comuns a deixar de pensar em tudo foi um pequeno passo e eu, de certa forma, compreendo esses avisos todos nos manuais de tudo, desde a torradeira ao automovel. Muita gente sabe intuitivamente que, se calhar, deixar as mãos na porta antes de a fechar dará mau resultado. Mas não duvido que haja muitos iluminados que pensem que como tem as borrachas se calhar o perigo não é grande e não se sentirá mais do que uma pressão na mão sem consequências de maior. E, no caso da torradeira, não serão poucos os que acharão que só está calor dentro dela, não por fora.
A minha confiança na capacidade de discernimento do ser humano é muito limitada e, com o passar dos anos, cada vez mais.
Uma última ressalva. Eu por mim prefiro fazer o mesmo que o Professor Massano Cardoso. Primeiro carrego nos botões. Depois logo se vê. Por isso é que não há nada como os equipamentos electricos antigos. Robustos, resistentes e sobretudo simples. Muito simples. E até fazem melhor serviço que os actuais!
Muito bem visto caro Zuricher, muito bem visto.
Eu, por acaso, sou daqueles que lê as instruções de tudo (e algumas são de muito má qualidade e terrivelmente mal escritas).
Eu também leio de um modo geral todas as instrucções, principalmente aquelas que se reportam ao essencial...
Quanto às restantes, também as leio sim senhora, mas depois chamo o técnico para executar o que li!?
Porque será?
Será que sou burro!... E diz o técnico: não é não senhor, são 80 aéreos!
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