Se me perguntassem hoje o que é que eu queria ser “quando for grande” responderia inequivocamente: físico! Aos 56 anos dizer isto parece ser uma sensaboria que contrasta com o que dizia quando era miúdo.
Recordo que quando me fizeram pela primeira vez essa pergunta – presumo que a fazem a todas as crianças – ter respondido: policia sinaleiro!
Quando ia à cidade ficava fascinado pela aquela figura imponente ostentando capacete pontiagudo, cinturões, luvas e armações brancas nos braços e pés que, no alto de um palanque, gesticulava, dançava, mandando parar ou avançar os carros e peões apitando de forma prolongada e estridente. Sentia um grande fascínio ao ponto de o imitar em casa ou na rua com os meus amigos e carritos. Mas as vocações evoluem e, um pouco mais tarde, não muito, substitui esse desejo pelo bombeiro. As razões prenderam-se com o fascínio causado pelo facto da “Bomba” da altura, descapotável com os assentos dos bombeiros ao redor da bomba localizada na parte central do veículo, passar a “100” à hora, com o bombeiro ao lado do condutor a tocar a sineta, sinalizando a sua presença (não havia sirenes), mas também do episódio de ter assistido ao funeral de um familiar afastado cuja urna foi transportada na mesma, ao contrário da habitual carreta puxada a braços. Fiquei de boca aberta e não compreendi todo aquele ritual de bandeiras, bombeiros fardados a rigor e a “Bomba” a ser utilizada para aquele fim. Disseram-me que só os bombeiros tinham direito a ser transportados daquela forma. Fiquei triste porque os que não podiam ir na “Bomba” tinham que ir na velha e horrorosa carreta preta. Argumentei de imediato: - Mas o que vai ali não era bombeiro! Então como é? Responderam-me: - Não era bombeiro mas era sócio. Ah! Os sócios também podem ir! Cheguei a casa e pedi de imediato para ser sócio dos bombeiros. Ficaram surpreendidos pelo meu pedido e perguntaram-me qual a razão. Disse: - Assim, quando morrer já posso ir na “Bomba”. Ficaram de boca aberta. Nunca lhes disse que tinha horror à maldita carreta preta que um dia levou a minha melhor amiga.
Passados todos estes anos a velha relíquia continua a exercer estas funções.
Confesso que gostaria mesmo de “ser” físico. Considero que são uns “privilegiados” porque estudam, analisam e compreendem os fenómenos que ocorrem a todos os níveis, em todos os tempos e dimensões.
Uma das áreas mais sedutoras é a área da mecânica quântica. Faço todos os possíveis para a compreender, mas não consigo ir mais além do que desejaria. De qualquer modo, a ideia de que certas partículas poderem existir numa multiplicidade de estados contraditórios “colapsando” numa das opções quando são observadas é espectacular. Esta reflexão resulta da leitura de um artigo em que o autor tenta explicar a natureza da consciência numa perspectiva quântica. Perante uma imagem ambígua – possibilidade da leitura de duas interpretações – o cérebro não consegue lê-las simultaneamente, “optando” por uma. Afirma o autor que existirá uma “consciência potencial” e uma “consciência actual”. A primeira representará o estado em que o cérebro recebe as imagens simultaneamente como se tratasse de uma “função de onda”. A segunda corresponderá à fase quando a tal “função de onda” “colapsa” passando o cérebro a reconhecer apenas uma das duas imagens.
Achei deliciosa esta interpretação sobre o “funcionamento da consciência” que alguns consideram como plausível e merecedora de atenção enquanto outros, naturalmente, põem em causa.
De qualquer modo, vou reter o conceito de “consciência potencial” e “consciência actual”. Mas a pergunta que gostaria de ver respondida é a seguinte: o que é que determina o momento do “colapso” levando à percepção de uma imagem e não da outra, apesar de serem as mesmas?
Se me perguntassem o que é que gostaria de ser “quando for grande” responderia: físico! Pois é! Tenho que me contentar com as memórias de querer ter sido polícia sinaleiro ou bombeiro. Afinal não fui nem uma coisa nem outra! A minha “consciência quântica” não deve ser lá grande coisa...
Recordo que quando me fizeram pela primeira vez essa pergunta – presumo que a fazem a todas as crianças – ter respondido: policia sinaleiro!
Quando ia à cidade ficava fascinado pela aquela figura imponente ostentando capacete pontiagudo, cinturões, luvas e armações brancas nos braços e pés que, no alto de um palanque, gesticulava, dançava, mandando parar ou avançar os carros e peões apitando de forma prolongada e estridente. Sentia um grande fascínio ao ponto de o imitar em casa ou na rua com os meus amigos e carritos. Mas as vocações evoluem e, um pouco mais tarde, não muito, substitui esse desejo pelo bombeiro. As razões prenderam-se com o fascínio causado pelo facto da “Bomba” da altura, descapotável com os assentos dos bombeiros ao redor da bomba localizada na parte central do veículo, passar a “100” à hora, com o bombeiro ao lado do condutor a tocar a sineta, sinalizando a sua presença (não havia sirenes), mas também do episódio de ter assistido ao funeral de um familiar afastado cuja urna foi transportada na mesma, ao contrário da habitual carreta puxada a braços. Fiquei de boca aberta e não compreendi todo aquele ritual de bandeiras, bombeiros fardados a rigor e a “Bomba” a ser utilizada para aquele fim. Disseram-me que só os bombeiros tinham direito a ser transportados daquela forma. Fiquei triste porque os que não podiam ir na “Bomba” tinham que ir na velha e horrorosa carreta preta. Argumentei de imediato: - Mas o que vai ali não era bombeiro! Então como é? Responderam-me: - Não era bombeiro mas era sócio. Ah! Os sócios também podem ir! Cheguei a casa e pedi de imediato para ser sócio dos bombeiros. Ficaram surpreendidos pelo meu pedido e perguntaram-me qual a razão. Disse: - Assim, quando morrer já posso ir na “Bomba”. Ficaram de boca aberta. Nunca lhes disse que tinha horror à maldita carreta preta que um dia levou a minha melhor amiga.
Passados todos estes anos a velha relíquia continua a exercer estas funções.
Confesso que gostaria mesmo de “ser” físico. Considero que são uns “privilegiados” porque estudam, analisam e compreendem os fenómenos que ocorrem a todos os níveis, em todos os tempos e dimensões.
Uma das áreas mais sedutoras é a área da mecânica quântica. Faço todos os possíveis para a compreender, mas não consigo ir mais além do que desejaria. De qualquer modo, a ideia de que certas partículas poderem existir numa multiplicidade de estados contraditórios “colapsando” numa das opções quando são observadas é espectacular. Esta reflexão resulta da leitura de um artigo em que o autor tenta explicar a natureza da consciência numa perspectiva quântica. Perante uma imagem ambígua – possibilidade da leitura de duas interpretações – o cérebro não consegue lê-las simultaneamente, “optando” por uma. Afirma o autor que existirá uma “consciência potencial” e uma “consciência actual”. A primeira representará o estado em que o cérebro recebe as imagens simultaneamente como se tratasse de uma “função de onda”. A segunda corresponderá à fase quando a tal “função de onda” “colapsa” passando o cérebro a reconhecer apenas uma das duas imagens.
Achei deliciosa esta interpretação sobre o “funcionamento da consciência” que alguns consideram como plausível e merecedora de atenção enquanto outros, naturalmente, põem em causa.
De qualquer modo, vou reter o conceito de “consciência potencial” e “consciência actual”. Mas a pergunta que gostaria de ver respondida é a seguinte: o que é que determina o momento do “colapso” levando à percepção de uma imagem e não da outra, apesar de serem as mesmas?
Se me perguntassem o que é que gostaria de ser “quando for grande” responderia: físico! Pois é! Tenho que me contentar com as memórias de querer ter sido polícia sinaleiro ou bombeiro. Afinal não fui nem uma coisa nem outra! A minha “consciência quântica” não deve ser lá grande coisa...
8 comentários:
Caro Salvador Massano Cardoso,
Toda a realidade que tem uma incerteza intríseca é passível de uma explicação "quântica". O primeiro passo para essa compreensão da natureza quântica de um qualquer fenómeno é assumir essa incerteza como sendo parte integrante da prórpia natureza, fazendo deus jogar os dados, como Einstein tanto repudiava. No fundo, a resposta quântica ao fenómeno cerebral que descreve é que o cérebro vai escolher uma das imagens com uma probabilidade associada a cada uma mas que a imagem real é a sobreposição das duas. Fim de explicação porque a realidade é essa mesma.
Para os economistas que acham que economia não é uma ciência exacta, também lhes faria bem passar pela macênica quântica para entenderem que a economia é uma ciência exacta sim, os fenómenos é que têm uma incerteza intrínseca.
Caro Professor Massano Cardoso
Muito gira a sua reflexão sobre aquela pergunta que nos fizeram quando éramos pequenos e que nós também fazemos às crianças do nosso tempo de adultos: o que é que queres ser quando fores grande?
Engraçado olhar para o que leva uma criança a querer ser polícia sinaleiro e, de seguida, bombeiro. Actividades diferentes mas ligadas, parece-me, pelo fascínio dessas figuras e pela espectacularidade do seu desempenho, ainda que sem qualquer consciência das condições e exigências do exercício das respectivas funções.
Engraçado olhar também para o que leva um adulto a afirmar o que gostaria de ter sido ou que ainda poderá ser, sinal de uma certeza dessa escolha, mesmo sendo e fazendo o que realmente gosta. Já não será tanto o fascínio a funcionar, mas antes uma sedução, como que uma atracção, provocada pela consciência e pela prova obtidas ao longo da vida do interesse e do gosto pelas matérias ou conhecimentos envolvidos. E assim surge o "físico" médico.
Na verdade, na idade adulta, podemos ter a sorte de descobrir que para além das competências profissionais de que dispomos, dispomos também de talentos que nos levam a gostar e a desejar fazer outras coisas. Talentos que se podem tornar com o tempo cada vez mais "talentosos".
O Professor Massano Cardoso tem portanto o talento de "físico", que o leva a responder que quando for grande quer mesmo ser "físico"!
Caro Tonibler
"Assim fala o físico". Simples e directo.
Já aprendi um pouco mais de "quântica". Confesso que deve ser mesmo aliciante. E o seu campo de aplicação estende-se por áreas inimagináveis...
Querida Margarida
Sabe bem desejar fazer outras coisas. À medida que os anos vão passando o desejo de fazer mais e diferente aumenta de uma forma exponencial. O problema é que as perguntas acabam por serem superiores às respostas obtidas. A uma resposta corresponde no mínimo a duas novas perguntas...
Coloquei muito cedinho um comentário a este extraordinario post. Ainda o galo não havia cantado e já estava para aqui a escrevinhar, mas quis "qualquer coisa" que ele (o comentário) não aparecesse. Obviamente nãovou "lutar" contra ssa evidência, bastou-me constatar e, como escrevo sempre de acordo com a fuidez dos pensamentos, é-me difícil reescrever.
Dizia um filosofo, não me lembro do nome... (adoro filosofias, precisamente porque, a partir do momento em que nos são apresentadas assim, esfarrapamo-nos todos, para fazermos com que coincidam com um pensamento inédito e incontestável), mas, dizia o tal filosofo que ... um falhado (referindo-se àqueles que se consideram assim)não é aquele que fez mal, mas sim o que deixou de fazer aquilo que gostaria de ter feito.
Bom, receando que o caro professor interprete o meu propósito de modo diferente daquele que desejo transmitir, ressalvo a inutilidade da minha citação naquilo que respeita à sua personallização.
56 anos caro professor?
Então?
Ainda lhe restam 56 anos para que possa "embrenhar-se na física quântica, que não é de todo incompatível com a actividade de bombeiro... sinaleiro é que já é difícil, estão extintos, mas bombeiro... sem dúvida e... com direito a, daqui a 56 anos, "viajar" na "bomba".
Os Viking eram lançados ao oceano com o seu manto de pele de urso, o escudo e a espada, dentro de um barco perparado com lenha para, quando a uma determinada distância, os guerreiros que o acompanhavam da costa, disparavam umas flechas incendiárias, aquela lenha, juntamente com o barco, incineravam o corpo, a que, préviamente tinha sido colocada uma moeda sobre a testa, sabeis com que finalidade?
Ói!
Eu não quero parecer chato mas... eu vejo as duas imagens ao mesmo tempo (e eis que o camarada Tóni tem razão sobre a questão da realidade ser composta pela sobreposição das 2 imagens).
Tirando a desvantagem de uma pessoa se sentir um pouco vesga quando olha para o boneco, o mais complicado é decidir qual é a imagem que quero ver. Daí que a Suzana Toscano tenha acertado na mosca quando no post seguinte cita Karl Popper (brilhante autor note-se).
Conclusão: o livre arbítrio é uma coisa tramada.
Com que finalidade, caro Bartolomeu? A de poder recomeçar uma nova vida no além?
Antes de mais, compete-me fazer uma rectificação: a moeda não era colocada sobre a testa, mas sim sobre a língua e destinava-se a pagar ao barqueiro que transportaria o guerreiro morto na grande travessia até ao mundo mágico onde já se encontravam as almas dos seus ancestrais.
(algo mais ou menos por aqui)
Se por cá se praticasse este ritual fúnebre, o nosso (amigo) Sócrates coadjuvado pelo sempre habil ministro das finanças, já tinham arranjado forma de tributar o barqueiro, o ministro dos transportes regulamentáva no sentido de que o batel observasse os requisitos exigidos aos transportes públicos e o ministro do mar iria colectá-lo pela utilização de águas territoriais... não sei se me esqueci de algum. Pelo que, uma moeda sobre a língua não iam ser suficientes, talvez cartão de crédito fosse mais eficaz.
;))
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